A Pedra da Noite escrita por luizaac


Capítulo 16
Mortes.


Notas iniciais do capítulo

Não comam meu intestino, a história ainda não acabou, rs. Bom, espero que gostem. Esse era pra ser um capítulo curto, masok.



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Narração Claire OFF.

    A porta caiu em um alto estrondo. Leon mal tinha feito esforço, era ela bem fraca. Ele encarou a sala que se tinha aberto na sua frente. Era relativamente grande, escura, úmida e estava bem suja. Pelo cheiro, tinha uma humana ali. Ele adentrou a sala, receoso do que pudesse encontrar.

    Alguém tinha raptado aquela que ele amava. E já tinha certeza mais do que absoluta de quem era. A louca. Lizzie, aquela quem Leon julgava ser quietinha e ingênua. Julgava errado, ele descobrira a pouco. A imagem da frágil, porém bem forte, Claire se contorcendo de dor veio na sua mente, inebriando seu humor. Estava certo do que Lizzie ia fazer. Ia fazer a pequena Claire sofrer, quiçá matá-la. Ele segurou a respiração por um minuto. Torcia, com toda a sua esperança, que tivesse chegado a tempo.

    Leon olhou para o chão. Quanto mais ele andava pela sala, mais sangue ele via. Sangue escuro, de cheiro forte. Sangue humano. Ele semicerrou os olhos, tentando se controlar. Seguiu o rastro de sangue pelo chão, cada vez mais receoso do que ele ia encontrar no fim do caminho.

    Cada vez que ele andava mais, mais sangue ele encontrava. Ele viu umas cordas e até um pedacinho do gesso de sua amada. Sentiu uma pontada no coração. Abaixou para pegar o pequenino pedaço. Botou-o no bolso e levantou a cabeça. E viu.

    Viu o que mais temia ver, o que mais lhe causaria dor. A pequenina Claire jogada perto de uma pilastra grossa, inanimada, com uma faca onde fica o coração. Seus olhos se embaçaram com as lágrimas. Ele foi correndo para perto dela, pegando-a pela nuca. Claire estava suada, toda suja e cheia de sangue. Ele cerrou os olhos, sentindo muita dor. Ela tinha sofrido. Muito. Leon chegou-a para perto, apoiando sua cabeça sem vida em seu peito. Lizzie tinha conseguido o que queria. Queria que ela morresse depois de muita dor, consequentemente o fazendo sofrer muito. E tinha tido muito êxito. Leon beijou o topo da cabeça de Claire, sussurrando, como se ela tivesse escutando:

    - Te amo, minha pequena. – uma lágrima correu pelo rosto dele, seguida de algumas outras. De repente, veio uma raiva forte. Vontade de vingança, vingar a morte de Claire. Ele desejou saber onde estaria Lizzie naquele momento. Apoiou a cabeça dela no chão de novo, levantou-se e vasculhou a sala. Talvez Lizzie ainda estivesse ali. E estava.

    Atrás de uma das grossas pilastras, do outro lado da sala, via-se alguns fios de cabelo castanho. A ira de Leon aumentou mais, faltava pouco para ele ir lá e matá-la sem o direito a um piu. Mas não. Ele se segurou. Se tivesse que vingar Claire, que fosse alguma um pouco mais... Ele se arrepiou com o pensamento. Era meio complicado ficar imaginando a morte daquela que cresceu ao seu lado.

    - Lizzie ? – disse, num suspiro de voz, chamando a atenção da pequena garota atrás da pilastra. Ela virou-se para a voz, abrindo o maior sorriso.

    - Leon ! – Lizzie levantou-se e, feito uma criança, veio correndo ao encontro dele, com os braços abertos. Leon recuou um passo. Lizzie o encarou, deixando a cabeça tombar de lado. – O que foi ? Por que você não me abraçou, me deu um beijo no topo da cabeça e me chamou de baixinha ? – ela colocou as mãos na cintura, como se tivesse usando uma falsa marra. – Vamos, Leon, por que tanta frieza ? Você não era assim. – Lizzie tocou na barriga dele, fazendo-o recuar, impaciente.

    - Para com isso, Lizzie – ordenou, raivoso. Ela deu um pulo para trás, completamente confusa com a reação explosiva de Leon.

    - O que foi, Le ? – ela sorriu, preocupada. Foi para trás dele e começou a massageá-lo. – Você está muito tenso, Le. Relaxa. – ele afastou as mãos delicadas da garota. “Ela deve estar brincando comigo”, pensava, irritado. Ela o encarou. – Tá, agora eu me preocupei. Posso saber o que está havendo ? – colocou as duas mãos na cintura, irritada com a falta de paciência daquele que sempre a tratara bem.

    - Você sabe muito bem o que está acontecendo. – Leon deu uma olhadela para trás, onde estava todo o sangue e o corpo frio de Claire. Lizzie olhou também. Por um segundo, ela ficou confusa. No outro, ela já tinha voltado a si. Um brilho furtivo passou pelos seus olhos e não conseguiu segurar o sorriso. Leon percebeu que ela já tinha voltado a si e jogou-se em cima dela. – Lembrou, né ? – ele sorriu.

    - Agora sim, meu amor. – Lizzie sorriu mais ainda. Leon fechou a cara.

    - Não me chame de meu amor. – disse, entre dentes.

    - Como quiser. Só é o que eu sinto. Eu te amo, Leon.

    - Pois não parece. Quem ama, liberta, e não prende. – ele apertou mais os braços da anja.

    - Reflita um pouco e verá que tudo isso que eu fiz foi porque eu te amo. Ela não tinha nada que ter se metido, Leon. Eu te amo, e por isso que matei a Claire. Você é só meu, e ponto. – Ela sorriu.

    - Você tê-la matado só prova duas coisas : Um, você é má. Dois, você não me ama. – Leon fez um gesto rápido com a cabeça, se despedindo da “amiga” de longos anos. – Espero que tenha valido a pena. Adeus. – Ele pegou a arma que tinha em seu bolso e atirou, sem nem deixar Lizzie, que já estava de boca aberta, responder. Leon saiu de cima dela, fechou os olhos do corpo da anja morta bem na sua frente e levantou. Olhou em volta, sufocado. Estava um clima muito tenso. E ele próprio estava muito tenso. Duas mortes significativas em menos de 3 horas. E o pior : por causa dele.

    Leon voltou para o lado da morta Claire. Sentou-se e botou-a no colo, acariciando seu rosto ensangüentado.

    - Isso tudo foi minha culpa. – disse, enquanto uma lágrima corria. – Se eu não tivesse ido atrás de você no dia da biblioteca, você não estaria aqui, morta. – sua voz estava baixa, sufocada de tanta dor. – Ai, minha pequena, eu faria de tudo, de tudo, para te ter de volta. – uma lágrima caiu no rosto branco de Claire. Leon limpou e ficou olhando para ela. Acariciou seus cabelos castanhos, depois seu rosto já branco e, por fim, tocou nos lábios roxos. Fechou os olhos.

    - Leon, o que houve ? – Mason tinha acompanhado o amigo na busca de Claire. Aquela cena de Claire deitada, sem reação, no colo de Leon o fez recuar de imediato. - Ela tá...? – Leon fez que sim com a cabeça e encarou o outro lado da sala. Mason rodou e viu o corpo de Lizzie no chão. – Morta. – disse, sem muita surpresa ou tristeza. – Foi ela quem a matou, certeza. – Leon fez que sim. – Eu sempre tive certeza de que ela não era tão boazinha assim.

    - Eu não. Agora, eu tenho certeza de quem eu devo ou não confiar. – Mason fez que sim. – De sobrenatural, você é o único. O único em que eu confio. Espero não me decepcionar.

    - Eu digo o mesmo. – Mason o encarou. – Mas, então, você confia em algum não-sobrenatural ?

    - Sim.

    - Posso saber quem ?

    - A melhor amiga de Claire, Jane. – ele suspirou. – Nela, eu tenho certeza que posso confiar.

    - Espero que ela nos ajude a arrumar um meio de sair dessa. – Mason coçou a nuca.

    - Isso é verdade. – Leon olhou para Claire. – Acho que vou ligar para ela. – Mason assentiu. Leon pegou o celular de Claire do bolso, que tinha pego na rua, jogado. Fora desse modo que descobrira que Claire tinha sido raptada. Procurou o número da ruiva melhor amiga de Claire. Estava lá pela letra jota, como era de se imaginar. Ligou, nervoso com a reação dela.

    - Oi sweet heart. E aí, como foi ? Fala, fala, fala. – Jane estava muito ansiosa para saber como tinha ido com Leon. Afinal, sempre queria a felicidade da amiga e eles formavam um lindo casal.

    - Hã, Jane ? – Leon ficou embaraçado. Fazia idéia do que Jane tanto queria saber.

    - Opa... Engano. Oi Leon. Isso foi meio... Embaraçante. – ela mordeu o canto da boca.

    - Nada, não se preocupa. – ele mexeu no cabelo. Com certeza, o que ele ia falar era bem pior do que qualquer coisa que Jane tenha falado. – Er, eu preciso que você venha aqui, por favor. É muito importante.

    - O que é ? – Jane ficou apreensiva. Acontecera algo ? – O que aconteceu ?

    - Jane, por favor. Vem que a gente te explica. – Mason observava de longe Leon falando ao telefone.

    - Endereço ? – Leon passou-lhe o endereço. Isso só a deixou mais nervosa. – No meio do nada ? O que aconteceu com a Claire ? Leon, me fala.

    - Calma. Quando você chegar...

    - É o caramba, meu querido, o caramba. Pode desembuchando. – Jane levantou da cama, totalmente aflita. Tinha acontecido alguma coisa com sua melhor amiga. Absolutamente.

    - Jane, a Claire... está... – ele silenciou. Jane tinha entendido.

    - Morta – disse, com um suspiro de voz. Por um momento, ela fitou o chão, sem acreditar no que acabara de ouvir. Em outro, lágrimas começaram a rolar. Jane sentou novamente da cama, chorando igual a uma criança, inconsolável. – Por que ? – disse, entre soluços.

    - Foi... a Lizzie – Leon também chorava. Claire era uma perda irreparável para a vida dos dois. E para mais alguns.

    - Ai, eu vou matar aquela va...

    - Já está morta. – Jane se calou. Pelo menos, sua amiga estava vingada. Mas nada que pudesse reparar a dor de perder sua melhor amiga de sempre. – Você vem ?

    - Vou, vou sim. – ela secou as lágrimas. – Já estou indo. Até mais.

    - Qualquer coisa liga.

    - Tá ok. – ela desligou. Respirou fundo, tomando coragem para se levantar, passou a mão pelo rosto pra melhorar a aparência, pegou um casaco e uma sandália e desceu.

    - Aonde vai a essa hora, filha ? – perguntou a mãe, preocupada.

    - Vou... ver a Claire. – engoliu em seco ao dizer o nome da amiga.

    - Então ok. Não demore. – ela fez que sim e saiu.

    A rua estava vazia, a noite já estava no ar. Parecia que havia uma neblina. Mas talvez fosse apenas seus olhos marejados de lágrimas.

    Jane começou a lembrar dos momentos com sua melhor amiga. Tinham se conhecido há uns 12 anos, de uma maneira bem infantil. Foi só um “Você quer ser minha amiga ?”, e elas já se tornaram inseparáveis. Desde aquele dia, nunca mais se desgrudaram. Alguns outros se juntaram ao longo do tempo, como Ronnie e outros. Mas não permaneciam tanto tempo, ou não tinham tanta intimidade como as duas. Só Ronnie tinha conseguido um posto por um tempo. 3 anos.

    Ela voltou a chorar. Não era justo. Por que logo a Claire, que nunca fez mal para ninguém ? O mundo é injusto, pensava ela, furiosa. Chutou uma pedrinha que estava na rua.

    No galpão, Leon levantou, deixando Claire no chão. Ela podia passar um impressão de que estava dormindo, mas o sangue e os lábios roxos desmentiam. Os dois a fitaram, deixando a cabeça tombar de lado.

    - Ela era uma boa garota, gostava bastante dela. – Mason parecia realmente abalado – não muito, mas abalado. – Uma pessoa decidida, sabe, cabeça dura até. Não dá pra acreditar.

    - É... – a voz de Leon já se perdera a muito tempo.

    - E vocês se amavam. Eram feitos um para o outro. – Leon encarou Mason, surpreso. Fora hoje, não fazia idéia de como ele poderia saber isso.

    - Como você sabe ?

    - Fala sério, né, Leon ? Posso ser quieto, mas não sou besta. Qualquer um perceberia, tanto você quanto ela. – ele deu de ombros. Leon sorriu. Talvez Mason estivesse certo mesmo, era óbvio. Mas não para os dois.

    - Agora não adianta. – outra lágrima rolou pelos olhos de Leon. Ele limpou com as costas da mão.

    - O que vamos fazer ? Contar pra família ? Acho que eles iam sofrer muito, ia virar uma confusão.

    - Além do mais, o irmão da Claire nasceu.

    - Jura ? – Leon confirmou com a cabeça. – Puts...

    - Mas acho que eles vão descobrir alguma hora. Talvez o bebê pudesse até amenizar...

    - Talvez. Melhor esperar a amiga dela. – Leon confirmou com a cabeça.

    - Jane parece uma pessoa sensata. – ele fez uma pequena pausa. – E ficou muito abalada com a morte da amiga.

    - Era de se esperar. – Mason observou a sala. – Será que ela vai demorar ?

    - Acho que não. – Leon sentou no chão, apoiando a cabeça na parede. Pegou o pedacinho do gesso que estava no seu bolso. Lembrou-se dos momentos que passou com Claire. Sorrisos, risadas, teimosias, beijos... Ele abaixou a cabeça. E tudo se acabara...


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Notas finais do capítulo

Comentem aí, ainda estou aberta a sugestiones, rs. Aiai.