Capítulo 6 – Quem é Bella Swan?

Acordei completamente frustrada. Eu odeio a minha vida, eu odeio os meus pais, eu odeio o meu namorado, e eu amo meus amigos.

É hoje, pensei enquanto me vestia para ir à escola. É hoje que eu dou um pé na bunda merecido no Jacob, estou pouco me lixando se meus pais me deserdarem ou o diabo a quatro, esse inferno eu não vivo mais!

Desci pra tomar café e, como sempre, meus pais ignoraram o meu “bom dia”. Sabe, isso magoava até um ano atrás, mas agora eu já me acostumei. Eu queria fugir disso tudo, queria esquecer que eles existem e seguir minha vida ao lado de alguém que me amasse... Porém, eu ainda não havia achado essa pessoa, e do jeito detestável que eu sou, acho difícil achar algum dia.

Eu sei, isso ficou horrorosamente depressivo, mas o que eu posso fazer? Ninguém me ama além da Rose e do Jazz! Ninguém! E todo mundo sabe que essa é a mais pura verdade! O pior é que eu nem ao menos poderia dizer que o resto do mundo estava errado em não me amar. Eu mesma não me amaria se fosse tão insuportável como sou com os outros. Foda-se.

Ontem à noite eu havia ligado para a Rose, que é uma ÓTIMA mecânica. Alguém precisava olhar o meu Vovol e, se pudesse, consertá-lo. E ontem à noite mesmo ela me trouxe ele de volta, e o meu bebê está ótimo! Pelo menos algo de bom nessa vida.

Fui para a escola e enquanto entrava, vi os Cullen. Os meninos estavam de bicicleta e Alice a pé. Eles pareciam bem, riam e se divertiam. Suspirei, estacionando o bebê ente a BMW da Rose e o Lamborghini de Jazz. Ambos estavam encostados no conversível vermelho encarnado.

–Hey, Bells. –Jazz me cumprimentou. Dei um sorriso de lado, sorriso esse que tenho certeza que não chegou aos meus olhos.

–Ih, já vi que brigou com o Edward de novo, né? –Perguntou Rose Eu arqueei minhas sobrancelhas numa pergunta muda.

–Posso saber o motivo da suposição? –Ela revirou os olhos, como se estivesse realmente óbvio para se dar ao trabalho de me responder, então Jazz me esclareceu.

–Sempre que vocês brigam, ou você fica com um humor do cão, ou fica muito triste. –Eu pensei um pouco, e não é que ele tinha razão? Merda!

–É, eu sem querer fui até ao barzinho do pai dele ontem e tive a infelicidade de encontrá-lo lá. –Disse, omitindo os acontecimentos da noite. Contaria para os dois depois da aula. Eles riram um pouco e deram de ombros.

–Falando no diabo... –Jazz falou, acenando com a cabeça para a entrada do colégio, de onde Edward me olhava mortalmente, Alice olhava boba para Jazz, o que era imitado por ele, e Emmett também olhava Rose assim, o que TAMBÉM era imitado por ela.

Ah Deus, estou perdendo meus amigos para os inimigos!

Eles passaram por nós e foram para uma rodinha de pobres, onde eles sempre estão. Nesse momento, Jacob chegou à escola de moto, e veio em minha direção. Todo o resto dos baba ovo juntaram-se a ele. Fala sério.

–Oi, minha linda. –Antes que eu pudesse responder, Jacob já se engraçou querendo me dar um beijo.

–Cai fora, Jacob. –Virei a cara para ele. Eu simplesmente não suportava esse babaca, mas era diferente do jeito que eu não suportava o Edward. O Cullen eu queria ter por perto, o Black não.

O QUÊ?! Não. Os dois poderiam morrer. Fim.

–O que foi, Isabella? Ainda está brava por ontem?

–Já disse para não me chamar de Isabella, droga! E aliás, Jacob, esqueça de mim, meu nome, meu apelido, esquece de tudo que tenha a ver comigo! Vê se desencana! Não somos mais namorados, se é que algum dia fomos! –Gritei e não esperei por sua reação ou resposta. Com certeza ele teria uma conversa com minha mãe mais tarde. Saí correndo para dentro da escola. Por algum motivo, Jacob me chamar de Isabella desencadeou alguma coisa dentro de mim, foi como se fosse a gota d’agua, e eu percebi que minha vida era uma mentira.

Naquele momento eu vi que eu mentia pra mim mesma, e me perguntei como Rose e Jazz me ageuntavam. Então, revendo nossos bons momentos juntos, percebi que com eles, eu era uma outra Bella, eu era a verdadeira Bella perto dos meus amigos.

Eu já estava chorando, no chão do ultimo box do vestiário feminino do ginásio. Eu soluçava e chorava tanto que meu peito doía. Era humilhante.

Eu não havia me dado conta de que era duas Bella’s diferentes, talvez eu fosse bipolar... Não, não era isso. Eu só era submissa demais aos meus pais.

Percebi com lágrimas de tristeza e inconformismo, que sempre fiz de tudo para agradá-los, até namorei por um ano com o imbecil do Jacob! E eles nunca fizeram nada para mim. Quer dizer, meu pai até tinha seus momentos, mas minha mãe? Odiava-me. O que eles me davam além do dinheiro? Nada. Nada mesmo.

Eu estava cansada de ser quem eu não sou. Agora eu queria me conhecer, saber exatamente quem era Bella Swan, Isabella Marie Swan.

Quem será que é ela? Será que ela é forte? Será que ela é fraca? Será que é boa? Será que é má? Será que é cínica e sarcástica? Será que ela é boba e ingênua?

Eu não sabia. Eram perguntas, antíteses até, sobre Bella Swan, que não podiam ser respondidas por Bella Swan.

Outro soluço me tirou de meus devaneios, eu não conseguia parar de chorar.

–Bella? Você está aí?

–Rose? –Perguntei. Por favor, que seja minha melhor amiga. Não torne isso mais humilhante do que já é.

–Não. É a Alice. –A voz sussurrada e preocupada me surpreendeu. Alice abriu a porta de onde eu me encontrava, e ao contrário do que eu normalmente faria, que seria expulsá-la dali e falar um monte de coisas ruins, eu apenas fiquei parada, sem reação. Sim, Alice Cullen estava me vendo chorar, e o pior? Eu não dava a mínima. Não mais.

–O que está fazendo aqui, Alice? –Perguntei com um fio de voz que me restava, mas fui interrompida por outro soluço.

–Eu vi que você estava chorando e decidi ver se você estava bem. –Sua voz estava totalmente preocupada comigo. E ela estava sendo... Delicada. Gentil era a palavra certa, na verdade.

–Por quê?

–Por que o quê? –Ela pareceu não ter entendido mesmo o meu questionamento. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, ela já estava sentando-se ao meu lado no chão.

–Por que está aqui, preocupada comigo? Quer dizer, você me odeia. –Eu estava meio incrédula. O pior é que ela tinha motivos mesmo para me odiar. Eu fazia a vida do irmão dela um inferno, e era detestável. Realmente detestável.

–Eu não te odeio, Bella. –Ela riu de leve. –Eu sinto que você não é essa pessoa que diz ser, essa pessoa que meu irmão odeia. –Eu balancei a cabeça chorando e me encostei no ombro dela.

–Não sou, Alice, eu juro! Minha vida é uma mentira! Eu sou uma mentira... Eu não sei quem eu sou. –E sem dizer nada, Alice me abraçou e me deixou chorar.

E naquele momento, ali, eu percebi que Alice era uma boa pessoa, honesta, confiável...

E agora era minha amiga.

(...)

–Desculpa te fazer perder a aula, Alice. –Eu disse, dando um sorriso sem graça a ela. Acontece que eu só parei de chorar no penúltimo período, e resolvemos matar a aula toda, no fim das contas. Ela sorriu.

–Não tem problema, Bella. Amigas são para essas coisas, não são? –Alice riu, meio incerta, meio envergonhada.

–Amigas? –Perguntei.

–Amigas, com certeza. –Ela estendeu a mão para mim, mas eu surpreendi a nós duas puxando-a para um abraço, num agradecimento mudo por ter ficado ao meu lado naquela hora.

É... Talvez Alice me ajudasse a conhecer a verdadeira Bella. Eu estava ansiosa por isso.