Crônicas do Inferno escrita por Megurine Jackie


Capítulo 8
Difícil Decisão


Notas iniciais do capítulo

Na vida não existem escolhas fáceis.



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Vi-me em uma situação em que eu não tinha saída. Não conseguia ver uma luz no fim daquele túnel.

‘Será que é tão ruim assim vingar o ódio das pessoas?’

Eu não sabia nada sobre essas coisas. Ódio, rancor, inveja... Claro que conhecia as definições, mas não me lembro de ter sentido nada parecido. Ou não me lembro de ter pensado a respeito dessas coisas. Sinto que estou caindo em um abismo infinitamente fundo e que não haverá saída para salvar minha alma.

Pensei também em tudo que minha mãe contou sobre o meu passado, sobre as coisas que me aconteceram. Acho que era para ser assim. Talvez eu já estivesse predestinada a ser a nova Hell Girl.

Ao pensar sobre isso comecei a chorar. Não imaginei passar a minha eternidade vingando o rancor das pessoas. Mas Ai disse que se ela não fizesse isso, haveria outro que faria. Acho que não tenho muita escolha...

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Caminho por entre cinzas, em um grande vale. O céu está vermelho e o não vejo uma só nuvem.

Olho para frente e não consigo ver a saída daquele vale, apenas o caminho em frente. Olho para trás e tenho a mesma vista que antes.

Só consigo ouvir o som do vento passando entre as gigantescas pedras do vale. Fragmentos de cinzas voam pelo ar.

Decido continuar andando, seguindo o caminho que se forma à minha frente. Mas parece que não saio do lugar, e que aquele vale não tem fim.

Me pergunto que lugar seria aquele. Não consigo imaginar...

Sinto minhas pernas cansadas como se eu não pudesse mais caminhar. Mas tenho esse desejo de sair daquele vale. Quero sair da onde me encontro nesse momento. Mas sinto em meu coração que ainda tenho algo ali que precisa de mim.

Uma folha de plátano seca passa flutuando por mim. Parece que aquilo era um sinal.

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 Acordo assustada, no meio da noite. O que será que foi aquele sonho?

Fiquei o resto da noite acordada pensando sobre aquele sonho. Estranhamente ele parecia ser um sinal.

Naquela manhã eu tinha tomado uma decisão!

Levantei-me e fui tomar o café. Hoje eu teria provas de História e Inglês.

- Bom dia, mãe! – Falei, decidida.

Ela me olhou estranhamente, pois na noite anterior eu parecia muito mal.

- Que bicho te mordeu, Maya?

- Bicho nenhum, mãe. Já vou. Tchau! – Sai com um onigiri na boca.

Tive um dia normal de aula. As provas saíram do jeito que deu, pelo fato de eu não ter estudado nadinha nesses últimos dias.

No caminho para casa eu fiquei o tempo todo pensando:

‘Aparece, Ai. Preciso falar com você!’

 Um pouco antes de chegar em casa eu ouço a voz infantil vindo de trás de mim.

- Você me chamou?

Viro-me e vejo Ai, olhando para mim.

- Precisamos conversar.

Ela se aproxima de mim e toca minha mão.

- Venha comigo.

Estamos novamente naquele lugar do lago, bonito e tranquilo, onde parece que o sol nunca se põe.

- O que quer conversar, Maya Higushi?

Ela está sentada na beira do lago, molhando a ponta dos dedos.

- Eu quero fazer um estágio antes de aceitar o trabalho. - Disse, determinada.

- Um... Estágio? - Consegui chamar sua atenção.

- Sim, quero ver como você faz o seu trabalho, quero tentar fazer sozinha uma vez também.

- Mas você não tem escolha! Se não aceitar o trabalho sua alma irá para o inferno!

- E se eu aceitar o trabalho terei de passar a eternidade vingando o ódio dos outros!

Ficamos nos olhando por um instante. Eu estava curiosa por saber o que Ai me diria.

 - Está bem. Se é assim que você deseja, você ficará comigo por algum tempo. Verá como o trabalho é feito. Depois fará sozinha uma vez apenas. Se isso lhe aprazer, você me substituirá.

 Eu sorri. Já tinha um plano em mente.

- Mas espere! Quanto tempo ficarei fora? Minha mãe irá se preocupar...

- Nosso tempo é contado diferente do seu tempo, não se preocupe. Você ficará comigo por três dias. Sua mãe sentirá sua falta por alguns minutos somente.

- Posso te fazer só mais uma pergunta, Ai?

Ela me olha com olhar de indferença.

- Por que você está nesse trabalho? O que fez para merecer tal castigo?

Ai fez um olhar vago, triste até. Parecia que não era uma coisa de que ela gostasse de falar.

- Eu vinguei o meu rancor.

Senti uma tristeza tão profunda em sua voz nesse momento. Com certeza, Ai Enma tinha uma história muito triste. Mas acho que ela não queria uma amiga naquele momento. Ela queria uma substituta.

 Ai e eu caminhamos juntas até a casa. Lá nos esperam os três que vi no outro dia.

- Esses são meus ajudantes: Wanyūdō, Hone Onna e Ichimoku Ren. Essa é Maya Higushi, ela ficará conosco por algum tempo.

Os três acenam para mim. Cada um de um jeito diferente.

 Ouço vindo de dentro da casa uma voz. Não consigo ver quem é , mas parece uma senhora de bastante idade por causa de sua voz fraca e rouca.

- Ai, chegou mais uma mensagem.

Ai olha para dentro da casa e suspira. Parece estar desanimada.

- Já vou, vovó. - Ela responde, enquanto caminha para dentro da casa.

Eu fico ali fora, com os três ajudantes. Logo sou abordada pela mulher de quimono.

- Ei, menina, não pense que vamos ser legais com você, está ouvindo! - Ela disse isso segurando meu braço com força.

- Aiiii, tá machucando... - Choraminguei.

- Isso é só o começo, se pensa que vai substituir a senhorita está enganada!

- Pare, Hone Onna! - Disse o velhinho de chapéu. - Quem decide isso é a senhorita. Então trate de se comportar.

Ela soltou meu braço, que ficou com uma marca. Ela se afastou do grpo. Eu estava bem assustada já, não precisava mais disso.

 O jovem rapaz se aproximou de mim e disse:

- Desculpe o comportamento  de Hone Onna. Ela é super protetora e gosta muitíssimo da senhorita Ai.

Eu acenei educadamente com a cabeça, mas não sorri. Não conseguia sorrir. Se eu decidisse aceitar aquele destino, os ajudantes de Ai teria que me aceitar.

 - Eu também não escolhi esse destino... - Só consegui soltar essa frase em tom de lamurio.

Ai sai da casa com um olhar determinado.

- Vamos! Temos mais um trabalho a fazer.

Ela olha para mim e diz:

- E dessa vez, Maya Higushi, você vai ver como eu faço o meu trabalho.

 Eu senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Não sei de onde saiu tamanha coragem para eu aceitar esse destino, mas acredito que vou conseguir fazer o que planejo.

E esse seria o meu primeiro dia de estágio como Hell Girl. Que Deus me ajude!


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!
Domo aregatou!