Crônicas do Inferno escrita por Megurine Jackie


Capítulo 7
Revelação


Notas iniciais do capítulo

E a toda a verdade será revelada.



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Estava cansada de tentar lembrar. Parecia que eu não conseguiria, pois já tinha me esforçado muito para voltar à minha infância. Mas nada.

Essa era a semana dos exames, não podia deixar que tudo isso me abatesse. Precisava estudar. Resolvi que iria me concentrar mais nos estudos e pensar em toda essa história depois.

Enquanto isso, na Zona do Eterno Crepúsculo, vemos Ai e seus ajudantes tendo uma séria conversa.

- Senhorita, estamos muito preocupados com você... - Hone Onna começa.

- Sim, achamos que a senhorita planeja nos deixar. - Ren parece ter um olhar muito triste.

Wanyūdō não diz nada, apenas está de cabeça baixa, encostado em uma árvore.

- Vocês não deviam se preocupar comigo... - Responde Ai, baixinho, nitidamente envergonhada com a situação.

- Mas queremos a senhorita muito bem para não nos preocuparmos! - Novamente Hone Onna, sorrindo docemente.

Eles ficaram quietos por alguns instantes quando Ai quebra o silêncio.

- Preciso dizer que em breve eu serei substituída. Não quero mais esse trabalho. Não posso mais vingar o ódio das pessoas. É demais para mim...

- Mas senhorita! - Ren preocupado. - Não posso dizer que estou feliz com essa afirmação. A senhorita sempre foi muito bondosa conosco.

Wanyūdō resolve falar.

- Então é nesse momento que precisamos dar total apoio às decisões da senhorita!

Hone Onna parece estar muito triste em um outro canto.

- Senhorita, sua alma desaparecerá se não continuar executando esse trabalho, não é mesmo?

Ai, sempre com os olhos perdidos, diz:

- Já não me importo mais. Chega de todo esse ódio. Vou voltar ao mundo dos vivos e convencer logo a garota!

Wanyūdō já sabe o que fazer. Ele se transforma na carruagem flamejante e todos voltam ao mundo do vivos. Ai, dessa vez, tinha um olhar brilhante, cheio de esperança.

- Ah, Maya, você não apareceu, né? - Hina, com cara de brava.

- Desculpe, mas tive alguns probleminhas em casa... - Disfarcei.

Caminhamos até a escola. Prometi a mim mesma que não iria pensar mais naquilo por um tempo, mas não me vinha mais nada a mente.

As aulas passaram rápido. Hoje tivemos prova de matemática. Só a mais difícil que eu já fiz em toda a minha vida.

Na hora de ir, saí de cabeça baixa, chateada por não estar mais preparada para aquela prova.

Caminhando eu vi ao longe a figura de Ai, olhando para mim. Senti meu coração parar por um instante. Deveria estar alucinando, de novo.

Caminhei devagar em sua direção. Seus olhos me encaravam, fixamente.

- Olá Maya Higushi.

Senti um calafrio percorrer toda a minha coluna.

- Ai...

- Não tenha medo, só estou aqui para conversar com você.

Ela, nesse momento, pega a minha mão. Sinto sua mão gelada tocando nos meus dedos. Quando olho em volta vejo que não estou mais no meu caminho para casa. Estou em um lugar muito bonito, em um por do sol repentino. Tem muitas sakuras floridas e um grande lago.

- Onde estamos?

- Aqui é a minha casa. - Respondeu Ai olhando para mim. - Quero que conheça onde eu moro.

- Por que, Ai? Por que você me segue? Eu não fiz nada! 

Ela olha para mim de maneira desapontada.

- Você ainda não se lembrou, não é mesmo?

- Não! - Eu digo, tapando meus ouvidos. - Não lembrei de nada! Por favor, me deixe em paz!

- Maya Higushi, nós temos um acordo. Eu estou cansada de esperar até você decidir honrar o nosso acordo!

Nesse momento Ai faz uma expressão assustadora. Ela parece muito nervosa. Senti um grande pânico dentro de mim. Ouço uma voz feminina vinda atrás de mim.

- Senhorita, não! Por favor!

Olho e vejo uma mulher muito bonita, trajando um quimono. Ela caminha em nossa direção.

- Desculpe... - Disse, morrendo de medo daquilo tudo. - Mas eu não estou entendendo.

- Menina, você só está aqui por que fez um acordo com a senhorita.

Vejo um rapaz jovem que estava ali próximo. Ele tem uma expressão descontraída.

- Acordo? Que tipo de acordo?

Vejo um senhor de mais idade usando um chapéu. Ele caminha em nossa direção.

- Senhorita, por que não mostra para ela? - Ele diz.

Ai que já parecia estar mais calma, pega minha mão novamente.

Tudo a nossa volta muda novamente. O cenário agora é bem diferente. Vejo um grande rio de águas turvas. Está tudo escuro e sinto um cheiro horrível. Ouço gritos de horror.

- Onde estamos?! - Perguntei, mas, estranhamente eu já sabia a resposta.

- Você não se lembra, Maya Higushi? - Ai fala olhando para mim. - Aqui será o seu lar por toda a eternidade. E não há nada que você ou qualquer um possa fazer!

Aquela afirmação me deixou completamente em pânico. Minha alma iria passar a eternidade no inferno! Eu me matei quando criança. Meu Deus!

Ajoelhei-me ali, com as mãos no rosto. Chorava compulsivamente. Não tinha mais forças. Senti os dedos gelados de Ai tocarem minha mão.

- Você precisa honrar seu acordo, Maya Higushi.

Quando abri os olhos eu estava no meu caminho para casa. Meu corpo tremia todo. Ainda tinha na mente as visões do inferno. Aqueles sonhos todos. Todo aquele desespero. Que acordo?

- Ai, Ai onde você está? - Chamei por ela mas não obtive resposta.

Voltei para casa em transe. Não sabia o que pensar. Minha mente estava pensando sozinha, eu não controlava mais meus pensamentos.

Entrei em casa mas nem ouvi minha mãe falando comigo. Subi direto para meu quarto. Tranquei a porta.

Haveria algo que eu pudesse fazer para minha alma não ir para o inferno?

Sento-me na cama e vejo, em um canto escuro, aqueles olhos vermelhos me olhando.

- Ai Enma...

- Quer discutir os termos do acordo agora?

- Qual foi o acordo? - Já nem tenho mais forças para pensar.

- Sua alma imortal não irá para o inferno, mas você me substituirá no meu trabalho.

Minha mente já estava confusa o bastante para raciocinar com clareza.

- Qual é o seu trabalho, Ai?

- Eu vingo o ódio das pessoas. Se alguém odeia uma pessoa do fundo do coração, ela me contrata. Após o contrato ser firmado eu envio a alma da pessoa odiada para o inferno.

Tive uma iluminação nesse momento.

- Você é a Hell Girl?! Então é verdade...

- Você ainda não tinha notado? - Vi um leve sorriso nos lábios de Ai.

- Então eu teria que fazer o seu trabalho... E o que acontece com você?

- Eu... - Vejo seus olhos entristecerem. - Minha alma desaparecerá. Mas isso não importa.

- Por que você faz esse serviço? - Perguntei tentando entender toda aquela loucura.

Ai me pareceu um pouco perdida com essa pergunta. Por que fazia aquilo?

- Por que isso é o meu trabalho. Enquanto houver ódio à ser vingado, eu farei o meu trabalho. Ou quando você me substituir, você fará esse trabalho.

Ouço batidas na porta do meu quarto.

- Maya, querida! Você está bem? 

Olho para Ai, que fixa o olhar em mim.

- Quando se decidir eu voltarei. Até mais, Maya Higushi.

Fiquei ali, parada, em transe. Minha mãe entra no quarto e se senta na cama, do meu lado.

- Filha, estou muito preocupada com você. Marquei uma consulta com um psicólogo. Vamos amanhã, está bem?

Concordei com a cabeça. Não poderia nunca contar a ela aquilo tudo. Mas acredito que ninguém no mundo poderia me ajudar agora.


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Notas finais do capítulo

Eu de novo. Obrigada por todos os comentários! Vocês são demais!