Crônicas do Inferno escrita por Megurine Jackie


Capítulo 6
A Garota do Inferno


Notas iniciais do capítulo

Seu destino está selado. Não tem escolha.



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Acordei cansada, como se não tivesse dormido. Penso que seria melhor ter dormido.

Escuto minha mãe batendo na porta. Estranho, normalmente ela entra sem bater.

- Entra, mãe! - Sentei-me na cama.

- Queria saber como você está... - Ela parecia estar triste.

- Ah, mãe. Preciso se um tempo para assimilar isso tudo. É muita informação.

Gostava muito dela para não me preocupar. Ela sempre cuidou de mim com tanto amor, nunca desconfiei de tudo isso que ela me contou. Ela guardou tudo para si por tanto tempo.

- O café da manhã está pronto, querida. Você devia sair um pouco, para relaxar antes das provas começarem, não acha?

Concordei com ela, mas não queria sair de casa. Nem ver ninguém naquele dia. Queria poder me lembrar de tudo que minha mãe me contou...

Enquanto isso, na Zona do Eterno Crepúsculo, Ai está sentada à frente do lago. Seus olhos estão perdidos. Ela está molhando as pontas dos dedos no lago. Parece que sua mente está muito distante dali.

- Ai, chegou mais uma mensagem.

Ela olha para a casa. Não parece que ela vai se levantar.

- Já estou indo, vovó...

E continua molhando os dedos no lago. Seu olhar agora é muito triste.

- Quanto ódio mais ainda terei de vingar? - Fala para si mesma.

Em algum lugar longe dali, vemos uma jovem sentada à frente de um computador. Seu olhar é tenso e brilhante. Ela está ansiosa por uma resposta.

- Aqueles dois vão me pagar! Shinji, seu desgraçado, nunca mais vai sair com outra garota de novo!

Ela não nota Ai, que está encostada na parede atrás dela. Normalmente ela atende prontamente aos pedidos, mas faz algum tempo que ela começou a ficar cansada. Tão cansada de tanto ódio, tanto rancor.

'Esses humanos são mesmo seres desprezíveis! Eles se apegam uns aos outros, até usam a palavra "amor" para definir tal sentimento. Mas por qualquer mudança de comportamento esse sentimento se transforma em ódio, sem ao menos passar para o desprezo ou a indiferença.'

Ai já estava executando seu trabalho a quase quatrocentos anos. Ela estava pagando o preço por seus atos no passado, mas ultimamente ela passou a acreditar que sua dívida já havia sido paga. Ela estava cansada desse destino.

Há treze anos ela conheceu uma garotinha especial. Essa menina tinha a capacidade de ver alguns tipos de espíritos. Os demônios. Mas ela só tinha quatro anos na época, e Ai não pode se comunicar com ela por não lhe ser permitido falar com humanos a não ser os que se envolvessem no "contrato". Mas ela pode ver quando um demônio egoísta começou a relacionar-se com a garotinha.

Ai não pode se envolver, mas sentia necessidade de acompanhar aquela menina. Na época ela pediu para que Ichimoku Ren a observasse de perto e que informasse se acontecesse algo novo.

Ela soube quando o demônio começou a controlar a garota, usando ameaças contra a sua família. E quando soube da morte do pai da menina, Ai ficou realmente preocupada com aquela criaturinha humana. Ela não entendia essa necessidade de estar lá, apesar de nada poder fazer para ajudá-la.

Uma certa vez nessa mesma época, Ai estava na casa onde vivia, na Zona do Eterno Crepúsculo, quando sua avó lhe disse:

- Ai, você pode ajudar quem tanto a preocupa. Mas, infelizmente, você estaria quebrando uma regra importante do nosso trabalho.

- Eu sei, vovó. Por que me sinto assim? Ela é só uma humana.

- Talvez essa que a preocupa seja especial.

Ao ouvir isso, Ai teve um ímpeto de vir ao mundo dos humanos para saber como a menina estava. Ela chegou tarde. Viu seu corpo frio, quase sem vida no chão do cômodo daquela casa. Ela teve uma idéia. Chamou Wanyūdō.

- Sim, senhorita. - Ele responde prontamente.

Wanyūdō, leve-me ao inferno!

- O que está dizendo, senhorita?

- Só preciso estar na porta, agora!

Rapidamente ele transforma-se em uma carruagem de fogo, transportando Ai até o Portal da Fronteira. 

- Me desculpe, senhorita. Não posso passar daqui.

Ai caminho pela parte rasa do rio, molhando seus pés.

Ela chega à porta. A grande e assustadora porta do inferno. E se lembra de quando esteve ali antes. Ela vê a garotinha caminhando em direção da porta, como se estivesse em transe.

Ai corre e, antes que a menina entrasse pela porta, ela agarra sua mão puxando-a com força.

- Hey, humana, acorde! - Sacudindo-a com força. - O que você fez é imperdoável, mas não foi sua culpa. Posso te oferecer um caminho que não esse, mas você precisa aceitar.

A garotinha despertando de seu transe, começa a chorar desesperadamente.

- Onde estou? Por que estou aqui? Quero ir para casa...

- Me escute, menina! Você quer sair daqui? - Disse Ai, gritando com ela.

Ela acenou com a cabeça, tremendo de medo.

- Você quer vir comigo então? Você precisa aceitar para eu poder te tirar daqui.

- Eu quero sair daqui... - Chorando muito. - Me tire daqui, por favor!

Ai puxa a menina pela mão. As duas entram no rio negro, até a água chegar na altura do peito das duas. Ai chama Wanyūdō novamente, que vem em forma de carruagem flamejante.

- Vamos, suba! - Disse olhando para a garota, que continuava aterrorizada.

Mas mesmo com muito medo, a menina subiu na carruagem.

- Preste atenção. Eu fiz algo que não podia fazer, agora você tem um contrato comigo. Sua alma está comprometida por toda a eternidade. Você vai voltar para sua vida normal, mas ainda terá essa dívida comigo.

A menina parecia não estar entendendo muito bem.

- Eu não entendo, por que estou aqui? Quem é você?

- Sou Ai Enma e você foi mandada para o inferno devido o que fez. Não foi serviço meu.

A menina ficou chocada com a afirmação. Por que estava no inferno? Não se lembrava de nada.

- Você voltará para sua vida, não terá mais contato com demônios de espécie alguma. Mas manterá seu contrato comigo.

- Ai Enma? Por que você me ajudou?

Ai parou para pensar por um instante. Ela também não sabia muito bem o porque daquilo tudo.

- Por que, no futuro, você irá me ajudar. Agora vá, viva normalmente. Logo nos encontraremos.

Depois disso Ai deixou a menina na fronteira do mundo dos vivos. Ela não foi visitá-la mais. Nem pediu para que Ren a investigasse mais. Mas ela sabia que aquela garotinha teria que, em algum momento, honrar seu contrato.

Ai sabia que aquela menina, que tinha sua alma comprometida com o inferno, iria continuar o seu trabalho, quando ela parasse.

Ela seria a nova garota do inferno. Era só uma questão de tempo.

De volta de seus pensamentos, Ai olha para a jovem que está sentada na frente do computador.

- Você me chamou?

Fiquei em casa o dia todo, apesar de minha mãe ter insistido muito para que eu ligasse para Hina.

Aproveitei o dia para adiantar a matéria do jornal e estudar um pouco. E minha mãe fez uma tempurá deliciosa, para me agradar.

- Mãe...

- Sim, Maya. 

- Me desculpe por tudo que fiz você passar... - Estava realmente com pesar no coração.

Minha mãe me abraçou forte.

- Não, querida. Eu que preciso me desculpar com você. Mas vamos viver nossas vidas sem culpas. Eu e você, sempre juntas. Ok?

Eu sorri para ela. Pensei em como ela era uma mulher forte e em como eu queria ser como ela quando crescesse.

E, naquela noite, eu dormi bem. E tive um sonho absolutamente normal.


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Notas finais do capítulo

Obrigada, minhas flores, pelos comentários!
Domo aregatou!