Crônicas do Inferno escrita por Megurine Jackie


Capítulo 10
Mea Culpa


Notas iniciais do capítulo

Não se pode carregar o peso do mundo em suas costas.



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Fomos no encontrar com Ren, que estava investigando o homem que seria o alvo. 

Seu nome era Uemato Sheiko e parecia que ele tinha uns trinta e poucos anos. Me perguntei como ele havia matado o filho daquela senhora.

- Olá senhoritas. - Disse Ren se dirigindo a nós. - Pelo que parece ele é um cara comum que ha vinte e seis dias bebeu em uma festa, saiu com seu carro e atropelou um estudante que atravessava na faixa de pedestres.

Ai ouvia atentamente a história. Mas seus olhos estavam fixos no homem.

- Mais alguma coisa, Ren?

- Ele trabalha, é casado e tem um filho de sete anos. Ele está respondendo o processo pelo atropelamento, mas não creio que vá ficar preso.

Não sabia que eles investigavam a fundo a vida de quem eles enviariam para o inferno.

- Ai, posso perguntar uma coisa?

Ela olhou para mim, curiosa. Eu fiquei meio sem graça com o seu olhar.

- Se por acaso vocês descobrirem que tudo não passa de um mal entendido, mesmo assim vocês fazer o trabalho?

Ela acenou, confirmando.

- Quem decide isso é o cliente. Nós apenas executamos. 

Eu fiquei indignada! Eles nem tentavam evitar!

- Mas para que então investigam?

Ela baixou os olhos. Entendera o meu ponto.

- Maya. Gosto de conhecer a história de meus clientes e do alvo do ódio deles também. Os seres humanos são seres curiosos. Se dizem superiores das outras espécies, mas são os únicos com a capacidade de odiar.

 Comecei a entender a lógica de Ai. Nós, seres humanos somos realmente arrogantes. Mas gostaria que ela entendesse a minha lógica também. Nem todos os seres humanos são iguais!

 - Mas também existe muito amor, Ai. - Insisti. - Existem pessoas muito boas, que ajudam o próximo de forma altruísta.

Ai não disse uma só palavra. Apenas olhava para mim, como se tentasse ler meus pensamentos.

- Por que você não acredita em mim?

- Eu acredito em você, Maya. Sei que o que você está dizendo é verdade. Mas esse é o meu trabalho. Se alguém pede para eu vingar seu rancor, é isso que eu farei.

Ela ficou triste de repente. Olhou para o rapaz e disse:

- Ren, vamos voltar e aguardar a resposta da cliente.

Ele concordou e começamos a caminhar. Eu continuo confusa em relação ao que a menina pensa. Acho que não conseguirei fazer com que ela me entenda.

Ela para e chama por seu outro ajudante, que já vem na forma de carruagem. Acho que nunca me acostumarei com isso...

 - Maya, se você quiser voltar para casa agora, pode ir. - Ai, olhando bem nos meus olhos. - Assim que a cliente responder ao contrato eu lhe chamo.

Eu apenas concordei com a cabeça. Ela e Ren entram na carruagem e partem. Eu fico ali olhando a cena, ainda sem saber bem como eu agiria a partir daquele dia.

 Andei até minha casa pensando em tudo o que tinha visto. Tinha percebido que não seria fácil tomar uma decisão. Apesar de parecer que não tinha uma escolha.

Em casa já, no meu quarto, eu não parava de pensar em como resolver aquela situação.

'Queria que tivesse uma solução... '

Adormeci embaladas nesses pensamentos.

De manhã ouço minha mãe ma chamando, sua voz está mais tranquila agora.

- Anda, Maya. Vai se atrasar de novo.

- Bom dia, mãe... - Abro um olho só e olho para seu rosto. Ela está sorrindo para mim.

- O café está pronto. Vamos rápido para você poder comer.

 Começo o meu dia como sempre. Estou meio apática por causa de tudo que tem acontecido. Tento agir o mais normal possível para evitar que minha mãe se preocupe mais do que ela já está.

Assim que saio de casa vejo Ai, meio distante, me olhando. Sabia que estava na hora de ir.

- Não posso me atrasar. Tenho prova hoje... - Disse a ela, tentando parecer que estava tudo normal.

Não sei por que mas achei que tinha visto um sorriso no seu rosto. Acho que me enganei. Entrei na carruagem e fomos direto onde estava o senhor Uemato Sheiko, o alvo do ódio daquela senhora.

Não imaginava o que eu testemunharia, mas estava com medo e muito nervosa. Não sabia se aquele homem merecia o destino tão cruel que estava destinado a ele. Pelo pouco que soube de sua história, para mim parecia apenas um acidente. Talvez se a senhora tivesse conversado com ele... Talvez se ele tivesse se desculpado com ela...

 Chegamos a um prédio de muitos andares. Todos escritórios. Acho que é onde o senhor Sheiko trabalha. Sinto meu corpo todo tremendo. Me lembrei cena daquela senhora vendo o inferno. Apesar de eu não ter visto nada, consegui sentir todo o terror que ela passara. Não sei como reagiria vendo uma pessoa sendo mandada para o inferno.

- Ai, e se a gente falasse com a senhora, para que ela tentasse conversar com ele...

Ela me olhou. E dessa vez eu realmente senti medo dela. Seu rosto estava assustadoramente sinistro.

- Não me atrapalhe!

Senti alguém me puxar pelo braço. Era Ren, que falou baixinho comigo:

- Não fale com ela agora. É apenas um conselho meu...

Fiquei de canto, congelada de medo. De repente os três desapareceram. Eu fiquei no canto do corredor sozinha! Estava com muito medo de chamar por alguém. Vejo o homem correndo em minha direção. Tinha a expressão de terror estampada na face. Seus olhos arregalados e sua respiração ofegante me deixaram apavorada. Ele passou por mim, como se eu fosse transparente, sumindo da minha vista, ao descer pela escada. Logo depois ouço um grito apavorante. E silêncio.

Fico imóvel, tenho medo até de respirar nesse momento. Sinto um toque suave no meu ombro e solto um grito.

- Calma, menina. Acabou. - Ren sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

- Hã... - Ofegante, com o coração na boca. - Onde Ai está?

- Ela agora está conduzindo a alma daquele homem para o inferno nesse momento. - Ele me disse calmamente.

- Já acabou? E eu não pude fazer nada? - Senti minhas pernas tremendo.

As lágrimas desciam pelo meu rosto involuntariamente. Não pude evitar que elas saíssem dos meus olhos. Eram lágrimas de tristeza, impotência. Não pude evitar que mais uma alma fosse para o inferno. Naquele momento sentia que aquela alma se perdeu por minha culpa.

- Vamos. Ai que falar com você. - Ele me segurou pelo braço.

Eu apenas caminhei. E as lágrimas ainda não cessaram.

 Chegando a casa de Ai, estavam ela e os outros ajudantes sentados na varanda. Parecia que esperavam por mim.

- Aqui está senhorita. E se posso dar minha opinião, acho que ela se saiu bem apesar de tudo. - Disse Ren de forma simpática.

Ela olhava para mim seriamente.

- Você ainda não entendeu a sua condição, não é mesmo Maya?

- Eu... - As palavras me fugiam.

- Acho que fiz mal escolhendo alguém como você para continuar meu trabalho. Mas quando te vi a primeira vez senti algo estranho. Vi em você algo que me lembrava muito... - Ela hesitou um pouco. - A mim.

Olhei para ela e vi muita tristeza. Ela era apenas uma garotinha que estava cansada de tudo aquilo. Tanto ódio, tanto rancor... Senti que devia ajudá-la. Não sei da onde saiu o impulso que me fez fazer aquilo. Eu dei um passo em direção a Ai e a abracei. Ela, estranhamente não recusou, nem se afastou. Vi que Hone Onna e Wanyūdō arregalaram seus olhos, espantados.

Voltei para meu mundo. Continuei meu dia normalmente, mas com pensamentos tão distantes...

Aquele longo dia terminou. Finalmente. E apesar de tudo, me sentia um pouco aliviada. Era como se eu conseguisse, de uma forma muito diferente da que eu esperava, tocar no coração de Ai.


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Notas finais do capítulo

Aiii, tá acabando! >.
To adorando escreve-la. E amando receber tantos reviews!
Amores, domo aregatou!