Diário de Um Nelliw escrita por Uriu


Capítulo 9
Desejos Ardentes e o Maldito




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Éramos fortes, éramos vitoriosos, éramos os Guerreiros Fantasma. Nosso título ganho em batalha perdurou por muito tempo, mas somente com a chegada de Seyren, nossa tropa estava em nível de exército de elite. Ele trouxe seus melhores homens até a nossa guarnição, e junto de nós, seríamos uma força invencível. Essa era a expectativa dos meus lanceiros e cavaleiros, que estavam dispostos a retornar para suas casas de mãos cheias de ouro e terras. Mas naquela noite em que Seyren havia chegado, eu nunca havia pensado que as notícias eram tão surpreendentes quanto o esperado.

-Uriu, nós precisamos urgente acabar com os ataques daqui. Preciso de seus homens no corpo principal do exército.

Seyren havia convocado um Conselho de Guerra com todos os grandes nobres de ambas as forças. Junto dele, estávamos eu, Howard, Eremes, Cecil, Kathryne, Sagart, e um punhado de homens do exército de Seyren que eu nunca havia visto antes. Com exceção de Haven, o imponente guerreiro que tinha um braço cheio de cicatrizes, o restante eu nunca vira. Yuki era a única que não estava ali, por que já era mau augúrio de mais um fiel como eu no meio do Conselho. Porém, ninguém contestou minha autoridade perante o comandante Lorde Seyren.

-Receio que esta situação seja desfavorecida, senhor. – Como estávamos em um Conselho cheio de nobres e grandes guerreiros, não quis conversar ao meu modo com meu amigo. Certamente, a gente daria algumas risadas, alguns socos e resolveríamos o problema rapidamente. – Porém, se tivermos seu apoio, dentro de alguns dias nós conseguiríamos até mesmo invadir Lighthalzen e derrubar a cidade.

A menção da cidade fez Seyren me olhar com reprovação. Era a cidade natal dele.

-Se derrubarmos a cidade – falou um dos guerreiros de Seyren. Era quase o triplo de minha idade, mas possuía uma voz grave e marcante, e seu argumento pesou na mesa. – o inimigo vai se sentir no direito de atacar com mais força.

-Nós só precisamos destruir a área onde nós combatemos aqui. Assim, o acesso deles será inutilizado e poderemos retornar para Prontera, como o combinado. – Seyren se dirigiu até Kathryne, que estava apoiada com o cotovelo na mesa e olhando para o céu, despreocupada. – Agora que está livre, poderia nos ajudar?

-Não aceito ordens de um homem, e tão pouco vou ajudar você. – Respondeu sem ao menos olhar para o Lorde. – Não devo nada a ninguém.

Eu conhecia o Seyren, e isso certamente o incomodava, mas não iria reagir, ainda mais contra uma mulher. Alguns dos homens do lado do lorde começaram uma inquietante murmuração, mas com um rápido olhar de Kat, a conversa logo foi abafada.

-Eu já disse que ajudarei apenas um homem. E apenas a ele eu devo meus dotes.

-E quem seria esse homem senhorita? – Seyren perguntava, sem saber, é claro, que era de mim que ela falava. Ela deu uma piscadela para mim, e eu fiquei ereto sentado no chão, um pouco ruborizado. Seyren me olhou com um sorriso maroto. – Eu devia ter imaginado. Então, lorde Uriu Nelliw, o templário do reino, você apoiará meus planos e permitirá que trabalhemos aqui?

Todo o conselho tinha olhos apenas para mim. Kat deu um sorrisinho e ficou encarando a lua, enquanto todos os outros membros esperavam por minha resposta.

-Sim senhor.

-Então está decidido. Senhorita Keyron, a partir de amanha, você irá destruir essa área, enquanto nossas tropas combinadas irão destruir os inimigos próximos e dar cobertura para a senhorita.

-Eu não me importo. – Kat respondeu com igual frieza de antes.

-Agora sim! Um pouco de ação de verdade. – Howard gritou por trás de alguns homens, animado com a idéia de uma matança definitiva. Eremes se levantou e começou a andar até onde nós estávamos.

-Antes de qualquer coisa, devo dizer que o plano é bom, porém, devemos ter cuidado. A destruição da área de rochas aqui pode ser de vital importância para parar os ataques por esta região, mas se quisermos eliminar os inimigos próximos daqui, isso levara algum tempo.

-E de quanto tempo estamos falando? Quantos homens eles tem? – Seyren parecia um pouco impaciente. Queria terminar com essa incômoda investida e retornar para Prontera o mais rápido possível, mas as palavras de Eremes fizeram essa possibilidade desaparecer. Respondi por Eremes.

-Levaremos alguns anos para derrotar definitivamente os quatrocentos e cinqüenta lanceiros, fora o fato de que mesmo destruindo o caminho, os cento e trinta cavaleiros deles são bons em andar nas superfícies rochosas.

Aquela perspectiva, para mim, era dura de encarar. Muitos guerreiros e poucos planos. Mesmo que nossa sorte tenha fosse à daqueles lanceiros serem despreparados, mal treinados e pouco eficientes, era um numero que nossas forças juntas teriam de se preocupar, porém, Seyren viu nela uma boa chance.

-Então continuemos com o plano. Levando o tempo que for. Kat, você precisa de quanto tempo?

-Em questão de semanas, essa terra será desolada. – Ela falava em um tom sinistro. Parecia hipnotizada pela lua, e suas palavras eram entoadas como se falasse pelos deuses.

-Perfeito. Fechamos esse conselho agora, e amanha, vamos travar nosso ultimo ataque aqui no planalto.

Depois que o grupo se desfez, ainda mais após um comentário sobre a filha de Eremes, o que resultou algumas gargalhadas quando Howard e Sagart o afundaram na terra, Seyren passou o braço pelo meu pescoço e saímos até onde não éramos vistos ou ouvidos pelo grupo. Ele parecia realmente animado, e mesmo com aquela grande luta que se seguiria, mas estava com aquele brilho no olhar, de quando poderia fazer algo por todos, ajudar o próximo, e como eu conheço ele, também queria voltar a velha pratica da guerra.

-Está ansioso, Seyren?

-Que nada. Eu estou feliz em ver você, e como vocês estão bem. Conseguiu resgatar a Kathryne não é?

-Foi fácil. – Na verdade, tivemos de matar muita gente inocente no caminho, e a Kat não é aquele tipo de pessoa que você quer como aliado, muito menos como inimigo. Foi uma das coisas mais difíceis de fazer, mesmo eu tendo sido recompensado por ela mesma.

-E é por isso que você será o campeão. Claro, depois que terminarmos de fazer a nossa parte.

-Eu não espero menos que isso. – E com isso, ele se despediu e foi para uma das cabanas para dormir. Seria uma noite conturbada, e nós precisaríamos nos recuperar para encarar o novo desafio, e para isso eu tinha uma cabana só minha, que estava escondida em meio às árvores e rochas do local. Não era glamorosa nem cheia de riquezas, era uma tenda montada sobre pedaços de lanças quebradas e amarradas com fios de raízes, deixando-a bem firme e cravada no solo. Tinha somente uma pequena mesa de madeira, algumas cadeiras talhadas em troncos e uma cama de palha confortável, que no exato momento em que entrei, estava ocupada. Kat estava deitada sobre ela, com um manto cobrindo seu corpo.

-Demorou muito com seu namorado.

-Você fala besteiras demais, Kat. – Eu não me ofendi. Não me ofendo com palavras, e sim com atos, e a atitude dela era inconveniente.

Kat se espreguiçou na minha cama e deixou o manto cair para o lado, mostrando toda a sua beleza nua. Eu, em respeito e por ter sido orientado por Eremes, não me deixei levar pelo desejo, mas minhas mãos estavam suando, e eu estava louco para deitar com ela. Por fim, suspirei e dei as costas para ela. Porém, ouvi passos atrás de mim e a sua voz me fez parar para olhar.

-Então, não se interessa por Kathryne?

Quando olhei para trás, vi Yuki. Ela estava vestida com um logo tecido fino, que encobria todo o seu corpo, mas era fino o suficiente para poder ver também sua beleza. Eu fiquei ruborizado, nunca tinha acontecido isso comigo. Definitivamente, era uma noite estranha. Porém, a feição da loura era séria, como se estivesse decepcionada com algo. Encarei-a por algum tempo, querendo dizer para parar com aquela brincadeira, caso fosse, mas não tive coragem. Tentei não olhar para seu corpo, mas não resisti. Como uma vez ela me disse, tinha um corpo de guerreira, mas não pude deixar de notar que possuía uma beleza natural esplendida. E ali ficamos, comigo olhando feito um bobo na abertura da cabana, Yuki de pé em minha frente e com Kat deitada nua em minha cama. Ela se levantou e dirigiu-se até a templária, segurando-a pelos ombros, deixando seus rostos próximos.

-E então? Gosta de mim ou não? Ou prefere a Yuki? – Ela falava com uma malícia inquietante. Não respondi, pois para mim, aquilo não passava de uma brincadeira de mau gosto. E o comentário grosseiro de Kat me fez parar para pensar. Yuki era uma boa guerreira, inteligente e tinha uma força de caráter que eu nunca vira antes em outra mulher, exceto talvez em Kathryne mesmo. A bruxa ficou me olhando, e quando eu ia responder, ela balançou a mão, fazendo um sinal negativo. – Não. Fique quietinho e relaxe um pouco. – Ela estendeu sua mão e espalmou. Uma força sobre-humana me prendeu no chão, estirado. Ela, com certeza havia criado um campo gravitacional em mim, mas na época, eu achava que era sua própria força de vontade. Eu não conseguia me mexer, enquanto Yuki desviava seu olhar e Kat ria de meus esforços inúteis.

Ela foi afastando o fino tecido dos ombros da loura, e com delicadeza, aquele manto de seda despencou no chão, deixando Yuki também nua. E como era de se esperar, o sangue escorreu pelo meu nariz, e o restante ficou acumulado lá em baixo. A loura parecia desconfortável, se encolhendo o máximo possível, mas mesmo assim, Kat passava suas mãos por entre a barriga, os braços, entre os seios, e olhava divertida para mim, como a me convidar para aquela horrenda seção de orgia. Ela passou novamente seus dedos nos seios de Yuki, que não eram tão grandes quanto os da bruxa, mas ao fazer isso, a loura se arrepiou um pouco. Pude ver seus olhos brilharem, mas não era de alegria, excitação ou algo do tipo, eram lágrimas mesmo. Parecia estar sendo forçada.

Kathryne lambia do pescoço até a bochecha de Yuki, e causava um calafrio tremendo na garota. Eu estava começando a sentir raiva, não só por não poder participar, mas estava começando a sentir algo que nunca pensei que teria. Ciúmes. E ao ver minha agitação, a bruxa começou a rir.

-Então, está gostando? Ou será que não? Será eu devia fazer algo pela sua querida guerreira?

-Yuki, pare com isso! Você não quer fazer isso, não é?

Eu estava ficando cada vez mais irritado, e mesmo eu falando, ela não me dava ouvidos, mas eu sabia que não era idéia dela que ela estava ali, suportando a humilhação e sendo abusada explicitamente por Kathryne. E foi quando a bruxa começou a esfregar sua mão por entre as pernas de Yuki, e eu vi em seu rosto a imagem estampada de socorro, eu pirei. Não sei de onde tire forças para levantar, mas eu levantei, e já estava ascendendo à minha Crux Magnum. A luz da cruz evocada era tamanha, que nem eu pude enxergar enquanto ela me fazia desprender do chão. Kat foi obrigada a sair do caminho, puxando o braço de Yuki, e as duas caíram no chão. Quando a luz cessou, eu fui até elas, e vi que a templária chorava, e a bruxa levantava-se calmamente.

-Parece que o efeito da minha magia acabou antes do esperado. – Ela limpava suas coxas da sujeira com uma calma tremenda, enquanto eu tremia de tanta raiva. Meus dentes rangiam enquanto eu olhava ela ajeitar-se e ir até a mesa de madeira da minha cabana, onde estavam suas roupas. – Sabe, foi divertido brincar, mas ela não faz meu tipo. Diria que você é mais pra mim.

-Sua vadia. Que pensa que está fazendo?

-Ora, foi ela quem pediu. – E essa afirmação me pegou de surpresa. – Ela queria apenas ver se você demonstraria algum sentimento, e eu só agi conforme eu achei melhor.

-Não é muito exagerado esses seus métodos? Responda Kathryne! – Eu estava fervendo por dentro, e ela apenas me olhava com um sorriso maroto. Era uma cobra traiçoeira e vigarista, mas sabia jogar qualquer jogo mental com alguém. Terminando-se de vestir suas roupas, ela pegou o manto de seda no chão e estendeu sobre a chorosa Yuki.

-É bom que você cuide dela. Ela é muito tímida, talvez eu tenha exagerado um pouco,mas valeu a pena ver essa sua cara.

Não agüentei. Com um passo apenas, me aproximei dela e dei um tapa forte que ecoou seco na noite. Ela parecia bem espantada com meu modo de agir, mas como sempre fazia, virou seu rosto e voltou a me olhar com aquela calma e seriedade maliciosa.

-Eu vou indo. Ah! Seu querido amiguinho, está indo pra cama com uma importante fiel da igreja. – Demorei algum tempo até receber aquela mensagem sobre Seyren, e vendo minha perplexidade, Kat completou. – É, seu bastardo amigo tem uma amante sacerdotisa. – E com isso, saiu da barraca.

Andei a passos firmes até Yuki, e a ergui. Estava com um misto de raiva e incompreensão. Não me conformava à idéia de que ela poderia estar interessada em mim, mas o modo como agiu, me deu repulsa. Ela ainda chorava quando eu a coloquei na cama, com o manto comprido cobrindo seu corpo. Ela cobriu o rosto com o seu vestido de seda, e eu me levantei. Estava com um aperto enorme no peito e fui sair da cabana, mas minha mão foi agarrada pela dela.

-Por favor. Eu não sei o que dizer, foi culpa minha, idéia errada... - Ela mal conseguia achar as palavras para falar, mas eu não me virei para encará-la.

-Você rebaixou-se como ela.

-Não! Não foi isso, eu falei algo com ela, mas a Kat entendeu errado e eu deixei-me levar pelos seus...

-Não me importo do que fez com ela. Agiram de forma equivocada para com minha pessoa. – Quando eu fico com raiva, eu falo bonito. Eu me lembro bem disso, mas meu ódio não tinha limites, apenas foquei para não ofender ou fazer algo estúpido. – Eu só quero que explique-se para mim com mais calma outro dia.

Depois de ouvir um suspiro desesperado, eu larguei sua mão e saí para a noite. Dormi debaixo de uma pedra enorme, o que me garantiu uma proteção contra o vento frio, e também contra a alvorada quente do planalto. Não falei nem vi Yuki ou Kat naquele dia, e depois disso, a rotina tomou conta de nossas vidas mais uma vez.

Agora a situação era a de que com Seyren ao nosso lado, patrulhávamos e matávamos cada homem sob uma bandeira inimiga que achássemos na região, enquanto as magias de Kathryne devastavam o local com poderosos e esmagadores meteoros que desciam dos céus, ventos gélidos e mortais que varriam a terra, e poderosas tempestades que fariam até mesmo um deus tremer. E durante três anos, eu me dediquei à espada, e não mais às causas fúteis. Yuki, quando me via, saia do meu caminho, e Kathryne ainda mantinha o respeito, embora quando ela fizesse alguma besteira, eu a persuadia com a sentença de ficar presa novamente. Todos notaram minha mudança, e mesmo eu acreditava nelas, pois comecei a ver o mundo com outros olhos. Durante os três anos que se passaram, Seyren refez sua fama de maior guerreiro de Rune-Midgard por lutar contra um exército inteiro, Howard sempre teve sangue farto para limpar de seu enorme machado, enquanto batíamos no travesso Eremes, que era o mais mortal de todos nós. Cecil nos brindava com chuvas de morte que desciam na forma de flechas e de seu falcão, mas eu não vi nenhum sinal de uma sacerdotisa amante de Seyren. Talvez estivesse ficado em Prontera, eu pensei, mas só poderia confirmar depois de voltarmos para lá. E foi no inverno, quando a magia de Kat devastou por completo a vegetação e os refúgios inimigos que a mensagem chegou. Foi mandada a Seyren, e pedia o seu retorno, junto da sua tropa completa e dos Guerreiros Fantasma.

-Parece que iremos para casa agora, não é? - Ele olhava entusiasmado para mim, mas eu mal vira a carta e já mandei meus homens preparem para partir. E foi a partir daí que comecei a ser chamado de Uriu, o Maldito, aquele que trás a desgraça para os inimigos, e ninguém agora ousava retrucar minhas ordens. Sob a proteção dos deuses, e sob a perspectiva de ser o melhor guerreiro dos guerreiros de Seyren, voltamos para Prontera, para começar os preparativos das duas verdadeiras batalhas na qual eu iria travar no futuro e trariam as mais adversas situações. A guerra que estava para começar, junto com o casamento de Seyren e sua desconhecida amada.


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