Diário de Um Nelliw escrita por Uriu


Capítulo 10
O Amor na Decisão Final




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Hoje começarei a escrever um segundo ato. Minha obra prima. Até agora, contei como eu e Seyren nos tornamos espadachins, crescemos no meio das lutas e ascendemos à guerra. Porém, nem tudo pode ser maravilhoso, não concordam? Hoje acordei e vi que nevava lá fora, e me lembrei dos maiores acontecimentos que tornaram o mundo de hoje possível, um lugar mais tranqüilo de se viver, mas que esconde as manchas de sangue, derramadas pelos fatos ocorridos. Meu filho veio me visitar hoje, e também me lembrei do dia em que me casei com sua mãe, e depois quando o tivemos, a tristeza abateu-me com força, pois eu perdia um amigo. Não vou começar as lamúrias agora, justo quando acabaram de sair do meu quarto e voltei a ficar sozinho com meus pensamentos. Chegou a hora de começar um novo ato, a segunda parte dos relatos sobre a ascensão de Seyren, o reconhecimento que deram aos Guerreiros Fantasma e a mim, e acima de tudo, sobre o destino trágico de assolou a vida de meu senhor. Mas como eu havia dito, era inverno, e nevava como hoje, um dia cinzento e frio marcado pela vitória, uma vitória que demoraria a se apagar da memória, mas era só o prelúdio da tempestade.

Depois de voltarmos da trincheira do planalto de El Mês, que duraram dois anos e cinco meses, nossa reputação em Prontera nos precedia. Os Guerreiros Fantasma, aqueles que atacavam por onde menos se esperava, e das maneiras mais devastadoras. Minha fama como Uriu o Maldito também chegou aos meus ouvidos, afinal de contas, eu havia amadurecido muito durante aquele período, e graças aos acontecimentos envolvendo Seyren, Yuki e Kat ao meu redor, eu me tornei uma máquina de morte, temido e respeitado em batalha. Igualmente reconhecido, eram os guerreiros que lutavam comigo. Howard era o homem que sustentava as paredes de escudo e conseguia derrubar vários homens com um golpe de seu machado assustador; Eremes ficou conhecido como o volátil algoz que, quando não falava em sua filha e apanhava de sua esposa, era um ser mortal, capaz de atacar atrás de uma fronteira inimiga sem ser visto ou ouvido; Cecil era nossa mulher de ataque à distância, e o que chamava mais a atenção eram seus sentidos super aguçados, capaz de detectar um oponente a quilômetros e atirar uma flecha precisa; e por fim Kathryne, a bruxa que trazia as catástrofes mais devastadoras e poderosas, capaz de fazer qualquer homem se ajoelhar e pedir por misericórdia. E claro, não podemos esquecer Seyren, o senhor das guerras, o rei que nunca foi rei, o Demônio de olhos rubros, como o chamavam. Era capaz de segurar uma investida de um exército inteiro, e usava uma espada montante, na qual manejava como se fosse o puro vento em suas mãos. E toda essa fama lhe garantiu um status em meio ao conselho que reinava no lugar do Príncipe Tristan.

Em Prontera, aconteceram muitas coisas quando voltamos. O conselho estranhamente deu mais liberdade para os pregadores, os sacerdotes da igreja, e agora eles estavam trabalhando na cura das pessoas por meio de magia divina. A ordem gerou revolta entre os guerreiros, mas comigo no comando da guarda e com o olhar de fúria de Seyren, não passavam de meros palitos de dente esperando ser quebrados, e paravam alguns dias depois com a agitação. Eu não entendia como que Seyren conseguiu fazer o conselho aprovar aquela decisão, mas então me lembrei do que Kathryne havia me dito havia anos. “Seyren está na cama com uma Sacerdotisa”. Se aquilo fosse realmente verdade, talvez para abafar o caso, ou para proteger seu comando, a ordem foi dada e realizada. Mas não era tão ruim. Graças aos sacerdotes e sacerdotisas da Santa Igreja de Prontera, as batalhas tornaram-se menos fatais, e suas bênçãos nos davam forças para continuar. Sagart, que havia se tornado o líder dos cavaleiros de Prontera, disse-me uma vez que se não fossem eles, ele teria perdido a vida durante a guerra. Lembrei-me também de Prince, meu melhor lanceiro. Ele se tornou um guerreiro formidável na guerra e se destacava bem na parede de escudos. E naquele inverno longo começamos a nova rotina de guerra. Nos preparávamos bem cedo e saíamos pelo portão oeste da cidade, nos dirigindo até Al De Baran, e de lá seguíamos novamente para oeste, onde a grande massa se concentrava, chocando-se com as tropas que vinham de Einbroch, a cidade mecanizada. Foram longos e duros cinco anos de combates destruidores e de grandes proporções. Houve muitas perdas, muitos feridos e famílias choravam nos túmulos de alguns bravos homens e mulheres que lutaram ao nosso lado, e também, no lado da república.

Durante esses cinco anos, eu havia tomado Kathryne como amante, e ela me servia bem, tanto em me proteger, quanto ao aquecer meu corpo. Ela era maliciosa, misteriosa, maligna, ela aquecia minha cama e fazia minha alma ferver, mas éramos ligados, pelo menos, era o que eu achava, pois faltava alguma coisa, ou alguém. Eu via muito pouco do mesmo grupo que eu tinha no passado durante essa grande guerra. Apenas os “quatro poderosos” é que mantinham contato comigo, mas mesmo assim, eu estava a serviço direto de Seyren, e me mantinha sempre no castelo ou na frente de uma parede de escudos, liderando o ataque, e por tanto, me tornei por honra e esforços, o campeão de Rune-Midgard. E mesmo com todo esse tempo, eu jamais havia visto a tal amante dele, e Seyren estava sempre presente ao meu lado na guerra, ou ficava horas e horas com os nobres de Prontera, em reuniões demoradas e críticas. E fazia tempo que não via a jovem e bela templária. Apenas em raras ocasiões, eu conseguia achar Yuki no meio da guerra. Sempre com sua lança, sempre séria, sempre cheia de surpresas e segredos, mas toda vez que eu a encontrava, ela fugia, e ia lutar em outro lado.

Bem, não vou chateá-los com histórias longas e cheias de romance, mas vou contar o que houve no final das contas. Em um dos grandes embates, Kat me empurrou para perto de Yuki, e enquanto ela devastava o campo de batalha com sua Nevasca, eu e a loura nos olhamos por muito tempo. Sempre soube que a bruxa me usava apenas como simples passatempo, até por que me traíra várias vezes com outras garotas, e ela sempre soube dos sentimentos da templária. E naquela hora, nós encarávamos um ao outro em plena guerra, e se bem lembro, nós nos beijamos enquanto Prince salvava minha vida perfurando o crânio de um bastardo. Foi hilário depois de algum tempo quando lembrávamos aquela cena durante as refeições da noite. Nunca me esqueço da encenação de Prince com um cabo de vassoura, que me imitava enquanto nós bebíamos e dávamos gargalhadas altas já na penumbra, e depois ouvimos um sermão de Seyren sobre a juventude do amor e aquela baboseira toda de honra no casamento. É mais que óbvio que ele falava aquilo, por que escondia que também perdeu seu coração para uma mulher, e agora, eu e ele tínhamos amantes que faziam nosso sangue evaporar.

E depois de algum tempo, viemos a firmar namoro. Isso foi no terceiro ano em Prontera, se bem me lembro. Eu e Yuki finalmente alcançamos a felicidade um do outro, e éramos abençoados. Mas nunca havia pensado que Seyren também estivesse na mesma condição, ainda mais com uma mulher como aquela. E foi somente depois de cinco anos que fui conhecê-la, quando a guerra estava tomando a marcha final e teríamos de fazer uma investida definitiva contra a cidade natal do meu senhor, Lighthalzen. E naturalmente, somente os escolhidos iriam até aquela cidade, pois era a honra e emoção de Seyren que estava em jogo.

Numa manha de inverno típica de Prontera, eu voltava para a sala do conselho, um enorme salão no castelo principal com uma mesa retangular enorme de madeira nobre, várias cadeiras adornadas com o mais refinado detalhe em cada uma delas, e cheias de almofadas de veludo e seda vermelha. Em sua parede, os escudos reais e dos nobres eram pendurados quando eles estavam presentes, e naquele dia, estavam em sua maioria. No centro da mesa sentava Seyrens, e em seu lado direito ficava o Príncipe Tristan, o diretor da Academia, o líder da guilda de Cavaleiros, o guardião da guilda da Torre de Geffen, vários nobres das famílias concorrentes dos Gaebolgs, e em uma nova cadeira sentava o alto líder da Igreja, o Bispo Caledwin, com seu serviçal, um noviço chamado Bamph. Do lado esquerdo, agora sentavam os quatro guerreiros mais poderosos de Rune-Midgad, e bem ao lado de Seyren era o meu trono como campeão do reino. Porém, um novo escudo real foi posto na parede e uma nova cadeira foi posta no extremo direito da mesa, onde sentava uma jovem e bela garota de cabelos dourados, em um vestido da igreja, mas de coloração rosa. Seyren me recebeu como sempre, com uma alegria contagiante.

-Ora, que bom que chegou meu caro amigo.

-Milorde, com sua licença. – Eu me coloquei em joelhos e fiz uma reverencia. Era chato ter de fazer isso toda vez que eu entrava naquela sala cheia de gente esnobe e ter de fazer essa saudação penosa na frente dos meus amigos e irmãos de armas, mas agora que tinha o apoio do conselho, eu precisava ser bem visto. Sentei-me no meu lugar e fiquei apreensivo sobre a garota, enquanto eu ouvia a conversa baixa entre o lorde e o diretor, algo sobre um novo perigo de um homem de pele morena, cabelos vermelhos e tatuagens por todo o corpo estar atacando tanto o nosso exército e o da república e constantemente matando os homens de maneiras incríveis. Outra coisa que ouvi foi sobre uma tecnologia nova que uma tal de Corporação Rekember financiava para usar na guerra, e foi construída em sua cede, o laboratório de Lighthalzen, e em seu destacamento localizado em uma região remota de Juno, tendo como líder das pesquisas do doutor Kiel Hyre. Eremes sentava ao meu lado, e eu me inclinei para falar baixo no ouvido dele.

-Quem é a moça lá do fundo?

-Ah, chefinho, ela é a prometida de Seyren, uma Suma-Sacerdotisa da Igreja. – Ele me respondeu com uma surpresa, como se alegasse que eu já deveria saber. E deveria mesmo, mas meu amigo nunca me falou, ou deu chance de conversar sobre o assunto. Eu iria perguntar mais algumas coisas, mas Seyren interrompeu a conversa de todos e se dirigiu até o centro do salão, para que todos pudessem ouvi-lo e vê-lo.

Senhoras e senhores, ele começou, nós estamos em uma situação delicada, mas igualmente decisiva. Como vocês sabem Juno agora faz parte de nosso reino, e conseguimos persuadir a república de conseguir a paz com o reino e com o povo de Arunafeltz. Isso se deve ao fato de que lutamos e guerreamos durante muito tempo para provar que somos fortes, e que também somos dignos e não exigimos mais do que a paz. Porém, ainda há rebeldes na cidade de Lighthalzen, e graças a informações recolhidas pela Academia – ele fez uma reverência ao diretor – descobrimos que a corporação Rekember financiou a pesquisa do projeto Guardião. Eles são robôs de alta tecnologia, e creio que tenham forças nunca vistas antes. Os rebeldes compraram alguns desses robôs, e ainda há o homem tatuado que invade as cidades do reino e mata vários homens de maneiras incríveis. Por isso venho pedir uma última campanha.

Ele fez uma pausa, para que pudéssemos pensar no assunto, e também para que ele mesmo pudesse recuperar a consciência. De súbito, ele deu um meio sorriso e olhou para o príncipe.

-Devo lembrar que agora o vosso príncipe deverá assumir o trono, como o Rei Tristan III. – Novamente, ele fez uma reverência na direção de Tristan. Sempre gostei de Tristan. Era um garoto tímido e franzino, mas tinha uma enorme capacidade de entender a situação, além de ser muito inteligente e também treinava a arte do combate. Sem dúvida, era o homem perfeito para assumir o cargo de Rei, além de ser especialista em movimentações financeiras e diplomáticas. – Então meus serviços retornarão como o líder das tropas e guerreiro, ao lado do melhor lutador de Midgard que conheço. Uriu, nós vamos fazer uma investida final contra os rebeldes.

-Sim senhor! –afirmei convicto.

-Eu quero que você venha comigo. Howard, Cecil, Kathryne e Eremes irão junto. Nossas forças juntas serão mais que suficiente. – Ele dizia com tamanho entusiasmo que nem mesmo ele agüentava ficar parado, e andava de um lado para outro, gesticulando com movimentos poderosos. Eu não estava tão certo de que seríamos vitoriosos com tão poucos guerreiros, mesmo que toda a nossa força fosse reconhecida.

-Mas se vão somente vocês, como vão se recuperar dessa luta? Seria necessário um exército para suplantar as vossas forças. – Dizia Tristan em tom preocupado. Sempre fora assim com seus aliados, e se importava com cada habitante de seu reino. Nesse momento, a garota loura levantou-se da cadeira com um aceno de Seyren, e se dirigiu até seu lado, onde o lorde a abraçou com se braço esquerdo e sorria para nós.

-É por que teremos os deuses ao nosso lado. Margaretha nos dará toda a força que precisarmos tirar dos deuses, e não há o que temer com ela ao nosso lado.

E aí eu entendi toda a situação, e finalmente havia conhecido Margaretha Sorin, a mulher que fez o sangue de Seyren virar pó, e roubou o seu coração. Era linda, e eu estava feliz pelos dois juntos. Tão feliz, que eu me lembrei de Yuki, e que ela adoraria ir comigo. Mas graças aos deuses ela não foi, por que foi justamente naquela batalha que aconteceu o pior. Mas na hora, nós estávamos animados e prontos para a batalha final contra qualquer um que estivesse em nosso caminho. E das palavras finais de Seyren, começaria a jornada final.

-Nós atacaremos depois da aclamação do Príncipe Tristan,e do meu casamento com minha amada Margaretha.


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