Cansei de morar em Kyoto. Tudo o que eu mais queria era voltar a ser uma colegial de 16 anos sem preocupações alem de provas e trabalhos. Eu preciso de dinheiro, antes que me botem pra fora ou eu comece a passar fome.

E não. Meu orgulho não me permite pedir dinheiro ao meu pai.  Eu estava saindo mais uma vez para conhecer um possível cliente.Ui, falando assim até parece que esse serviço de babá ta dando algum retorno. Até parece.

A coisa piorou quando resolvi entrar em uma agencia de empregos. A proposta parecia simples demais, eu me cadastrava no sistema, e eles tratavam de procurar pra mim possíveis interessados em me contratar.

Eu já devia saber desde o caso do peru Freddy, que não se deve confiar quando a vida está fácil demais ! Já me meteram em cada roubada, que só não fui parar ainda em casa de bandido, mas qualquer dia desses...

Finalmente cheguei ao endereço. A casa era grande, e quando toquei a campainha, uma mulher veio me atender.

- Oh, você dever ser a babá da pequena não é ? Entre, vou chamar a senhorita. – Obdeci. O lugar era bem arrumado, fiquei esperando alguns minutos, e logo, uma menininha de quatro anos veio em minha direção com uma expressão assustada e começou a chorar. As crianças definitivamente não vão com a minha cara, então acho melhor pensar duas vezes antes de querer ter um filho que me odeie.

- Eu não quero uma babá ! – Gritou ela desesperadamente e a mulher a cosolou pegando-a no colo. – Quero a minha mamãe.

- A minha senhora está viajando, e não tenho tempo pra cuidar da casa e da Ayumi, por isso chamei você – Ela explicou.

- Entendo... - Olhei na direção dela – Espero que nos tornemos amigas...Ayu-chan.

E foi assim que eu arranjei um emprego descente finalmente. Ayumi não era um amor de criança, mas pelo menos não tentou me matar, ainda. Na verdade, ela passava a maior parte do tempo chorando ou sozinha em um canto brincando de boneca.

A senhora Tsukuno me contou que ela não tinha pais, e que quem estava viajando era na verdade sua irmã mais velha. Contou também que cria as duas como suas filhas há três anos, pois não tinha família.

...

- Hei Yukari...Você tem namorado ? – Akane me perguntou, enquanto conversávamos depois da aula. Eu fiquei vermelha com a pergunta.

- Por que pergunta isso ?

-Ah sei lá, é que imaginei que uma garota como você não deveria ser solteira. – Eu realmente queria saber o que ela quis dizer com isso.

- Keisuke. Esse é o nome dele, ele mora em Tókyo também, por isso faz muito tempo que  a gente não se vê.

- Será que um dia o Motoharu-kun...

- Ai Akane esquece esse cara...

- Por que ?

- Sei lá, tenho a impressão de que ele não presta.

Eu me acostumei a contar tudo pra Akane. Ela era legal e também, não podia confiar meus segredos a alguem como Hakura e Seiko.

...

Em uma noite qualquer, Yoshi me ligou de novo, e disse que eu deveria me encontrar com ele ás dez, quando acabava sua aula. De principio recusei, não estava nem um pouco afim de sair aquela hora, mas acabei aceitando. O ponto de encontro era o de sempre, a lanchonete do campus.

- Você demorou . – Ele falou ao me ver chegando. – Bem, não faz mal, o importante é que você veio...

- Sabe que não tenho outra alternativa. – Retruquei irritada.

- Quer ? – Disse me oferecendo a cerveja que bebia.

- Não bebo.

- Ah, lembrei que você sempre foi a mais certinha das três. – Zombou.

- Idiota o que quer dizer com isso ? A Ayako tudo bem, aquela mãe doida dela levou ela pro mau caminho, mas esqueceu que foi você que transformou a Tomoko em uma bêbada arruaceira?

Ele riu divertido. Era verdade, eu sempre fui a santa, a que não fazia nada de errado, e no final das contas, a que mais se metia em problemas.

- Hoje Yukari, você vai se divertir como nunca ! – Declarou.

Eu definitivamente não sei o que me fez entrar no carro dele, muito menos, sair cidade adentro com uma adolescente irresponsável em plena quarta-feira. Parecia que todas as lembranças ruins que eu tinha dele se apagaram da minha mente.

Fomos a vários lugares aquela noite. Primeiro, uma lanchonete, onde eu constatei que é possível uma pessoa ficar bêbada com um copo de batida de abacaxi, depois que Yoshi praticamente me intimou a beber. Depois, a uma boate, e no final, ficamos de bobeira andando pelas ruas da iluminada Kyoto.

- Fala sério Yukari, você se soltou naquela pista de dança nada hein ? Pensei que não dançasse nada.  – Ele disse rindo.

- Tenho meus segredinhos sabia ? – Respondi rindo alto. - Acho melhor eu voltar pra casa, já ta muito tarde.

- Para de ser besta, não é nem uma três horas, ainda tinha um lugar em que queria te levar... – Eu o olhei com uma cara feia e ele suspirou. – Tudo bem, eu te levo.

- Ótimo. – Yoshi se aproximou de mim com aquele mesmo olhar da primeira vez em que nos vimos, eu sabia que ele ia me beijar, dessa vez entretando, entreguei meus lábios. Foi um beijo diferente, quente, algo que eu nunca havia experimentado. Não era o sentimento de amor que sentia quando o Kei me beijava, era totalmente o contrario. Ele enlaçou seus braços em minha cintura, me trazendo pra mais perto.

Me afastei vermelha ao ver que a coisa já estava indo longe de mais. Mais uma vez, veio aquela sensação de que finalmente caiu a ficha de que eu estava  me agarrando com o cara que eu devia odiar mais que tudo no mundo.

Vamos...vamos embora, ta legal. – Foi tudo o que eu consegui dizer.

...

Acordei meio dia na manhã seguinte. Nem fui pra faculdade, levantei e rumei a cozinha atrás de algo pra comer e encontrei Haruka e Seiko.

- A noite foi boa ontem hein ? agente foi dormir e você não tinha chegado ainda. – Falou Seiko.

- Eu não sabia que você tava saindo com o Motoharu Yukari. Achei que era só a Seiko que andava de olho nele.

- Calem a boca vocês, agente só conversou.

- Sei...por falar nisso, seu namorado ligou viu ? Falei que você estava dormindo, não é bonito uma garota comprometida  sair por ai com outro cara e voltar de madrugada.

- ... – Peguei uma fruta na geladeira e sai .- To indo pro trabalho.

Fiquei pensando no que elas disseram. Como havia sido idiota, o Kei ta lá, trabalhando com o meu pai o dia inteiro e ainda com tempo pra ligar e ver como estou. E eu saindo com o Yoshi . Me senti horrível, e pelo jeito, até a Ayumi-chan percebeu.

- Tia, você ta triste ? – Ela perguntou me olhando. – A Ayu também fica triste as vezes, quer brincar com meu ursinho pra ficar mais feliz ?

- O que aconteceu menina? – A senhora Tsukuno me olhou compreensiva, e acabei contando tudo pra ela.