Amor se Escreve com Sangue escrita por Marry Black, grupo_FCC


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu estou muito animada com essa fic, espero verdadeiramente que vocês gostem dela!

Boa leitura!



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“-Não abrimos exceções. – Jane disse a eles num tom de prazer. – E não damos uma segunda chance. É ruim para nossa reputação.

Era como se ela discutisse sobre outra pessoa. Eu não me importava que estivessem se referindo a me matar. Sabia que os de olhos amarelos não podiam impedi-la. Ela era a polícia dos vampiros. E, embora os tiras vampiros fossem sujos – realmente sujos -, pelo menos os de olhos amarelos sabiam disso agora.

- O que me lembra... – Jane continuou, os olhos se fixando novamente na garota humana e o sorriso se tornando mais largo. – Caius vai ficar muito interessado em saber que ainda é humana, Bella. Talvez ele decida fazer uma visita.

Ainda humana. Então, eles iam transformar a garota. Tentei imaginar o que estariam esperando.

- A data está marcada – disse a vampira pequena de cabelos escuros e voz clara. – Talvez nós os visitemos daqui a alguns meses.

O sorriso de Jane desapareceu como se alguém o tivesse apagado. Ela deu de ombros sem olhar para a vampira de cabelos escuros, e tive a sensação de que, por mais que eu odiasse a garota humana, odiava aquela vampira dez vezes mais.

Jane deu as costas para Carlisle com a mesma expressão vaga de antes.

- Foi um prazer encontrá-lo Carlisle... Pensei que Aro estivesse exagerando. Bem, até a próxima vez...

Era isso, então. Eu ainda não sentia medo. Só lamentava não poder contar mais sobre aquilo tudo a Fred. Ele entraria quase totalmente às cegas naquele mundo cheio de regras perigosas, policiais sujos e bandos misteriosos. Mas Fred era inteligente, cuidadoso e talentoso. O que poderiam fazer com ele, se um dia o encontrassem. Sejam bons pra ele, por favor, pensei para o leitor de mentes.

- Cuide disso, Felix – disse Jane indiferente, - Quero ir para casa.

- Não olhe – sussurrou o leitor de mentes de cabelos cor de bronze.

Eu fechei os olhos.”

Atordoada, eu fechei o livro e o coloquei ao meu lado, quantas vezes eu já havia lido-o? Inúmeras; mas cada vez que eu me punha a lê-lo novamente, todos aqueles segredos que os Cullens escondiam de si mesmos gritavam dentro de mim, deixando-me desorientada, inconformada, indignada.

Edward nunca podia ter escondido a verdade sobre os Volturi da família, eles brincaram com fogo, sem se quer a consciência de que iriam se queimar.

-Estúpido! – xinguei o personagem sem nem mesmo perceber. Bree tinha morrido a toa.  Tudo que ela revelou, tudo que ela sofreu, tudo que Jane fez... Nada tinha adiantado. Edward deixara todos aqueles segredos morrerem com a vampira injustiçada.

Me levantei do chão e comecei a andar pela sala vazia. – Alguém deveria contar a verdade à eles! Toda a verdade! – grunhi ainda irritada. – Como pode uma família tão unida quanto essa pode ter tantos segredos entre si? – minha mente já não pensava mais apenas em Bree, mas em cada mentira, cada meia-verdade que aquela história expunha. Não era certo mentir.  Não era certo enganar tanto sua família, seja pelo pretexto que for.

Já dizia o poeta “É melhor sofrer por uma dolorosa verdade do que viver numa doce mentira.” – Se minha família estivesse viva eu jamais... – parei a frase abruptamente, assim como meu caminhar.

Minhas mãos voaram nervosas para meus cabelos e meus olhos se fecharam dolorosamente. Eu estava fazendo de novo. Me infiltrando dentro de um romance qualquer, falando como se eles fossem reais, utilizando um livro para viver o que eu não tinha mais.

-Você precisa para de uma vez com isso Lucy! – exigi a mim mesma. Eu não podia viver assim, vivendo a vida de pessoas que nem mesmo existiam ou presa num mar de lembranças. Eles eram passado agora. Por mais que me doesse, era verdade. Então pra que ficar se martirizando sonhando com algo que você não tem mais?

Envolvi-me em um abraço, tentando me proteger, tentando juntar os cacos de minha alma, tentando não sentir o frio da solidão. Abri meus olhos e encarei a sala vazia, tudo já havia sido levado mais cedo, só havia minha mala de mão com alguns livros favoritos, meus documentos e meu laptop, o resto o caminhão já havia levado tudo.

Fazia pouco mais de um mês que eu havia decidido me mudar, depois da tragédia que havia me arrancado o que eu tinha de mais precioso, eu não vi mais sentido continuar naquela casa, estar ali só me fazia lembrar de coisas que eu queria esquecer. Doía. E quando eu comecei a viver a vida dos meus personagens favoritos, eu soube que estava me tornando insana, eu soube que precisava fugir, me afastar de tudo aquilo que pudesse me lembrar deles, antes que eu enlouquecesse de vez.

Eu esperava fielmente que me mudar, morar em outra cidade, estudar em outra escola, conhecer outras pessoas, recomeçar do zero pudesse me ajudar. Eu estava apostando tudo naquilo.  Eu estava indo para Winnett, interior de Montana, eu nem mesmo sabia porque eu havia escolhido uma cidade pequena que poucas vezes por ano fazia sol e principalmente a região montanhosa uma vez que eu morava Florence, Oregon; talvez eu já estivesse pensando em ir para Stanford quando chegar a hora de ir para a faculdade, talvez eu estivesse a fim de curtir um pouco o frio, quem sabe não passar uns tempos no Canadá ou talvez eu apenas quisesse que tudo fosse diferente da vida que eu estava deixando pra trás.

Novamente meus olhos vagaram pela sala vazia relembrando com uma riqueza minuciosa de detalhes, cada momento, cada risada, cada abraço, cada segundo em que ali vivi e em como eu havia sido feliz, e simplesmente não sabia. Meus olhos marearam e as lágrimas não tardaram a vir, percebi então que ficar para trás e ir no dia seguinte há havia sido uma tremenda idiotice, eu deveria ter ido junto com o caminhão de mudança.

Sem nem pensar duas vezes juntei minhas coisas, colocando-as na mochila e peguei as chaves do meu carro, tranquei a porta e deixei a chave em baixo do vaso de planta, como eu havia dito ao cara da imobiliária que faria, joguei minha mala no banco do passageiro e liguei o carro, olhando uma ultima vez para aquela casa, arranquei com o carro e segui viagem, parando apenas na casa de uma amiga e deixando uma carta embaixo da sua porta explicando minha partida.

Eu não havia contado a ninguém que iria embora, eu não queria mais despedidas, mas principalmente, eu não queria correr o risco de resolver ficar, eu precisava partir, e talvez as pessoas não conseguissem compreender isso.

Coloquei o CD do Evanescence no som e permiti que suas músicas tocassem minha alma e falassem por meu coração. Talvez fosse tolice ir agora, no meio da noite, sabendo que provavelmente eu chegaria em Winnett beirando o meio da manhã, mas tão pouco me importava, eu sabia que não dormiria no volante, desde.... Daquilo, eu não conseguia adormecer facilmente. Isso não seria um problema durante a viagem.

Durante todo o trajeto parei apenas para abastecer e comer uma coisa ou outra, eu não sentia necessidade de comer muito, não tinha mais fome. Vi a noite cair, o sol nascer e se fazer firme e forte, o céu se cobriu de nuvens e a paisagem foi mudando cada vez mais; liguei o aquecedor do carro quando fui me aproximando de meu destino, mesmo sem olhar placa alguma ou o GPS o frio já denunciava minha posição.

Eram quase onze da manhã quando eu finalmente cheguei em minha nova casa. Era afastada da pequena cidade, em meio a um bosque e perto de um riacho, a imobiliária havia me aviado que ali era muito mais frio que a cidade, mas eu preferi assim, eu gostava de estar em contato com a natureza, e eu não tinha certeza se estava pronta para estar sempre perto de pessoas novamente. Elas poderiam me lembrar o que eu já não tinha mais.

Parei o carro em frente de casa e peguei minha mala, assim como haviam prometido, os caras que trouxeram a mudança deixaram as chaves em cima da janela. Peguei-as e entrei. Todas as caixas e moveis estavam ali, esperando para serem organizados, a casa já havia sido pintada nas cores que eu havia pedido, tudo estava dentro do previsto. Larguei minhas coisas em um canto qualquer e fui ver cada cômodo, talvez procurando alguma coisa errada, talvez procurando algum conforto ou alguma felicidade em estar ali.

Com um suspiro pesado eu percebi que não seria tão fácil quanto eu havia espero, certas coisas somente o tempo iria curar. Sentindo o cansaço finalmente recair sobre meus ombros deitei um dos colchões no chão e deitei, sem me preocupar em retirar minhas vestes ou pegar algum cobertor, eu queria apenas fechar os olhos e esquecer quem eu era.

(...)

A claridade adentrava pela janela despertando-me. – Mas o que... – Revirei alguns instantes no colchão querendo fazer a luz ir embora, querendo que a cortina se fechasse, demorou alguns segundos para perceber que isso não aconteceria. Relutante, abri meus olhos, decidida a fechar a cortina e retornar para a cama quando percebi que aquele não era meu quarto.

Sentei-me no colchão e olhei em volta, confusa, tentando me lembrar onde eu estava, aquela não era minha casa... Demorou pouco mais que uma fração de segundo para que os flashs do dia anterior viessem lembrando-me de onde eu estava e porque eu estava ali.

Com um suspiro cansado levantei-me, abri uma de minhas malas e tirei uma troca de roupa limpa juntamente com minha bolsa de higiene pessoal e uma toalha, sem muito pensar me dirigi ao banheiro para tomar uma ducha.

A água quente ia de encontro a minha cálida pele, relaxando-me, silenciando meus tormentos, dando coerência aos meus pensamentos. Havia muito a ser feito, a casa precisava ser organizada, a matricula na nova escola precisava ser efetuada, compras... Era uma lista sem fim felizmente ou seria infelizmente? Tempo, eu tinha de sobra.

(...)

Os dias seguintes passaram como um borrão perante mim, em poucos dias a casa inteira estava mobilhada e organizada, a despensa estava abastecida, bem como a lenha para a lareira. Só faltava acertar a transferência para a nova escola, honestamente, eu havia tido tempo para fazer, mas não tive coragem... Em cidade pequena as pessoas gostam de falar da vida alheia, quantos cochichos teriam? Quantos olhares tortos? Afinal, eu não era igual a nenhum deles eu tinha certeza disso.

Quantas adolescentes se emanciparam para não ter que ir para um orfanato quando a família morreu se conhecia? Eram casos muitos dispersos, muito pouco comuns. As pessoas iriam falar. Sempre falavam. E eu não tinha inteira certeza se estava preparada para isso.

Decidida a evitar tudo isso mais um dia, coloquei meu casaco e decidi explorar um pouco o bosque, caminhar por entre as árvores, na beira do rio sempre me trazia uma inexplicável sensação de paz. Era isso que eu precisava no momento.

Sem nem mesmo perceber fui andando a beira rio, observando a água fluir, observando o leve roçar do vento nas folhas das árvores, permitindo que minha mente se aquietasse. Horas se passaram sem que eu nem mesmo percebesse, eu havia andado muito, com certeza já estava fora da minha propriedade a muito tempo, mas eu não tinha vontade de parar. Era bom andar. Era bom estar ali.

Aos poucos fui ouvindo o leve som de água corrente, poderia mesmo ser uma cachoeira? – Movida pela curiosidade eu prossegui, acelerando o passo, ansiosa para descobrir o que quer que eu estivesse para encontrar. Não corri mais que quinhentos metro para me deparar com um grande lago e uma cachoeira cristalina.

Como algo tão majestoso como aquilo esta ali? Perdido? Um sorriso genuíno surgiu em meus lábios depois de muitos meses, era tão belo, tão incrivelmente belo. O vento soprava tão suavemente ali, que era quase um convite para me sentar e desfrutar um pouco daquela doce paisagem.

Aproximei-me sem medo algum me sentando na beirada da água, trouxe meus joelhos para junto do corpo e os abracei, repousando meu queixo sobre eles. Era bom estar ali. Era bom não pensar e apenas desfrutar de algo tão puro.

Meus olhos vagaram por cada mínimo detalhe daquela paisagem exuberante, tentando talvez gravar ao máximo tudo que ali estava. Essa era uma lembrança que vai a pena se guardar para todo o sempre. – Mas o que...?

Assim que meus olhos vagaram para dentro da água vi algo brilhar em seu fundo, era de um azul escuro profundo, belo, seria uma pedra valiosa? Não dava para saber ao certo. Toquei superficialmente a água, apenas para comprovar o que já sabia, a água era congelante , não daria para entrar.

Mordi meus lábios, ansiosa, eu sabia que não devia, mas eu não pude resistir, aquela pedra era tão bonita, tão bela, e de alguma maneira eu me sentia atraída por ela, desejava quase como se a necessitasse. Antes que eu pudesse pensar direito, eu havia pulado no lago.

A água estava pior do que eu havia pré-suposto, era gélida demais, minha pele inteira protestava de dor, como se mil agulhas adentrassem sem qualquer piedade meu corpo. Eu sabia que devia sair o quanto antes da água, para se congelar naquela temperatura não precisava mais do que alguns minutos ali, mas eu estava tão mais perto... Agora bastava nadar um pouquinho e pegar a pedra.

Tomada pelo impulso comecei a nadar em direção ao fundo, meus braços e pernas reagindo cada vez com mais lentidão. Assustada, percebi que eu havia calculado mal, uma vez que a água era cristalina, eu não havia conseguido medir certeiramente sua profundidade; era bem mais fundo do que eu havia imaginado. O pouco oxigênio que eu havia prendido ao entra na água, provavelmente não daria.

Mas estranhamente, o desejo de pegar a pedra se sobre saía a tudo, meus olhos estavam presos nela, assim como minha mente, talvez eu estivesse insana, sim, provavelmente eu estava, mas eu não me importava, eu apenas queria a pedra.

O ar estava acabando. O frio estava me congelando. Estiquei meu braço ao máximo tentando alcançá-la, e com muita dificuldade eu consegui. Finalmente. A pedra era minha. Eu havia pegado-a.

Tentei voltar a superfície porém a pedra começou a pesar em minhas mãos, arrastando-me para o fundo, assustada, soltei o pouco do ar que ainda tinha, a superfície parecia cada vez mais longe, meus braços e pernas não mais respondiam, apavorando-me. Eu iria meu afogar... Eu sabia que sim. E por mais que meu corpo inteiro estivesse em pânico, meu instinto de auto-preservação procurando alguma saída. Meu sub-inconsciente estava tranquilo.

Que diferença faria uma garota como eu no mundo? Mas quem sabe se eu partisse eu poderia estar com eles novamente. Eu não queria morrer. Eu queria morrer. Movida por conflitos totalmente oposto eu preferi não pensar, abracei com força a pedra em minhas mãos assim que senti a inconsciência envolvendo-me, convidando-me a degustar de toda a ausência da dor, de toda a ausência da solidão.

Porque eu mentiria para mim mesma? Eu não queria mais sofrer, e se esse fosse o caminha para tão prece se concretizar, eu aceitaria de bom grado.

Meus pulmões arderam. Meu corpo não mais respondia. A escuridão se aproximou. “Que ninguém desvalorize a sorte de ter uma família.” – foi meu ultimo pensamento.


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Notas finais do capítulo

Eu sei eu sei, pode estar confuso e não explicar nada com nada, mas lembre-se, tudo se explica no seu devido tempo! =]



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