Ensina-me a Viver escrita por Graziele


Capítulo 20
Volte e me abrace


Notas iniciais do capítulo

Big thanks to: LittleDoll, Jeniffas2, Laaa, Carolzinhajf, Cammy, franci2508, ivis, Lu Cullen, Miss15, Lady_Fany, sheilaalves, felini, elispreta, RM, Ena, Leticia Dos Anjos, Marianas2, bonno, Charlize, Nathalia Lisboa.



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Nagold, 01 de outubro de 1944

– Os ataques Aliados na Normandia deixaram os alemães estranhamente esquecidos da defesa contra a União Soviética, o que aumentou a pressão em Berlim. A libertação da França há dois meses pode ter frisado a virada total da guerra e o atentado contra Hitler no dia 20 de julho é o que faltava para deixar claro que nem mais os próprios alemães estão aguentando essa matança... – a voz grave e firme vinda do rádio de pilha era a trilha sonora do quarto escuro da casinha em Nagold. Alice Brandon e Isabella Swan mantinham a audição aguçada e, com os corações apertados, não se atreviam em pronunciar nem meia palavra para não se arriscarem a perder nem um segundo da entrevista com aquele comentarista, do qual elas nem se recordavam o nome, que dava opiniões sobre a guerra de um ponto de vista impessoal, não como um nazista alienado.


– As notícias estão sendo animadoras – Bella observou, sua voz soando indiferente, mas seu interior se revirando em regozijo.


– As notícias estão sendo animadoras há quatro meses, Bella – Alice bufou,
remexendo-se ruidosamente na cama. – Eu não aguento mais isso. Não aguento mais essas notícias de que está acabando! Pelo amor de Deus, eu quero ouvir notícias de que acabou!


Bella suspirou, cansada. Ela também não aguentava mais. Sentia que estava em túnel escuro e que a luz da saída nunca chegava. Às vezes, algo reluzia, mas aquilo nunca era a porta que a levaria para o fim de tudo, que a levaria de volta para os braços do seu soldado.


– Oh, Allie, o que podemos fazer, além de esperar? – apontou resignada. Levantou-se de sua cama e caminhou alguns passos cegos até a outra extremidade do pequeno quarto, sentando-se na beirada da cama da melhor amiga. – Se eu pudesse pegar numa arma e ir até Rennes pra resgatar Edward com minhas próprias mãos... – riu com a insanidade da própria ideia, nem
imaginando que Edward já se encontrava há muitos quilômetros de Rennes...


– Eu queria pode fazer isso, ou nem precisaria chegar a tanto – Alice lamuriou, os olhos azuis perdidos ao fitar o rosto da amiga, como se não estivesse realmente vendo-a ali. – Queria, ao menos, algo mais concreto do que as simples cartas que recebo há cada mês. Você tem teve sorte em ter encontrado aquele soldado que conhecia Edward.


Bella sorriu ao lembrar-se do soldado desconhecido que havia tido contato com seu soldado. As lembranças que tinha do pobre rapaz loiro que morrera tão tragicamente não deveriam despertar em si trejeitos felizes, mas lhe era impossível ter outra reação, afinal fora aquele pobre diabo que lhe trouxera informações concretas sobre Edward. E ele havia lhe dito que nenhuma guerra o derrubaria.


– Qual será a reação de Esme quando Jasper voltar da guerra e lhe pedir formalmente em noivado? – Bella perguntou, na tentativa de começar um assunto mais ameno com a melhor amiga. Afinal, fazia muito tempo que as duas não conversavam decentemente, a guerra sempre pairava pelos assuntos, fazendo-os mórbidos e saudosos.


– Se ela não aceitar, fugirei com Jasper – Alice disse simplesmente, o rosto
iluminando-se ao imaginar a volta de seu amado construtor. – Mas não há nenhum
motivo para que ela não aceite, Jasper e eu somos adultos e nos amamos... É
melhor que oficializemos isso logo, porque ela não vai conseguir nos separar de
nenhuma maneira.


– Oh, meu Deus, não gosto de imaginar o que vocês já andaram fazendo por aí – Bella riu. Não duvidava que Alice pudesse ter entregado sua virtude para Jasper na construção mesmo; de Alice Brandon, ela esperava tudo!


– Nada que você e seu soldado já não tenham feito – Alice revirou os olhos, sentando na cama e encostando-se na cabeceira.


– Ah, Alice, poupe-me dos detalhes sórdidos – Bella exorou, rindo envergonhada ao imaginar sua quase irmã fazendo as mesmas coisas que ela fez com seu soldado.


– Oi? – Alice questionou perdida. – O que há de sórdido em alguns beijos atrás da sorveteria? – Com a vermelhidão tomando conta do rosto de porcelana de Bella, compreensão passou pelo rosto de Alice. – Oh, meu Deus, Isabella Swan! Você e Edward passaram dessa fase! – explodiu, excitada como sempre ficava com informações novas.


– Ah, Alice! – Bella lamuriou, rindo nervosamente e enterrando seu rosto tingido de escarlate nas mãos. – Essa não é a hora para lhe contar coisas assim!


– Mas é claro que é! – Alice praticamente quicava. – Você foi uma péssima amiga não me contando antes, vai ter que me contar agora!


– Eu não tinha cabeça pra nada, como você queria que lhe contasse? – retorquiu Isabella. A de cabelos castanhos arrastou-se pela cama de solteiro até ficar ao lado da amiga, enfiando-se debaixo dos cobertores. A cama não conseguia suportar dois corpos, ainda que franzinos, mas as duas não ligaram para a falta de espaço; estavam juntas, perfeitamente iguais às duas adolescentes despreocupadas e fofoqueiras de outrora.


– Agora você tem cabeça e todo o tempo do mundo! Conte-me! Como foi? Aonde foi? O que ele lhe disse? Doeu muito? Ouvi mamãe dizer certa vez que parecia que estavam colocando fogo entre suas pernas... – Tagarelou a pequena, constrangendo a outra ainda mais.


– Cale-se se você quer que eu lhe conte – pediu, não contendo o riso. – Foi logo depois que ele se aliou ao Partido – começou, os olhos brilhando-se
instantaneamente ao recordar-se da noite mais linda de sua vida – estávamos
perdidos, com medo do futuro, agoniados com a certeza de que perderíamos um ao outro, mas... Foi tão lindo.


– Oh, Deus, minha inocente florzinha desabrochou!


– Começamos no sofá da sala – continuou, ignorando o comentário desnecessário e constrangedor da amiga – daí partimos para meu quarto e... Ele foi tão carinhoso... Foi de um jeito que me deu vontade de fazer pelo resto da noite... E foi o que fizemos: ficamos no chão do quarto, só enrolados nos lençóis, aproveitando cada intervalo mínimo das conversas para nos amarmos novamente... – Bella parou seu relato de súbito; as bochechas pegaram fogo novamente ao passo que se deu conta do que narrava à Alice. – Ah, chega, eu vou morrer de vergonha se continuar com isso.


– Como você é boba! Não teve vergonha de fazer, mas de contar tem! Isso é contraditório – o riso alegre de Alice tilintou pelo ambiente. – Mas espere... No sofá da sala? – indagou, horrorizada. – Oh, Deus, quantas vezes eu me sentei lá depois disso?


– Ah, tantas que nem posso enumerar – provocou Bella, divertida.


– Argh! – enojou-se a outra, fazendo uma careta engraçada. – Por favor, lembre-me de me manter longe daquele móvel.


– Se for assim, vai ter que se manter longe da casa inteira.


– Ah, meu Deus! – apavorou-se Alice. – Prendam esse soldado maldito que roubou minha amiga inocente!


– Não seja dramática, Alice – Bella riu.


– E aquela conversa de colocar fogo no meio das pernas...? – perguntou, amedrontada e insegura.


– Oh, esqueça! Sua mãe só lhe disse isso para lhe por medo e certificar-se de que você nunca faria.


– Mas não dói nem um pouco? – perguntou curiosa e Bella sentiu-se no papel da mãe que tinha que ensinar essas coisas à filha.


– Bem... Sim, no começo – admitiu, achando graça do tremor que apossou-se do corpo da outra. – Mas logo passa. E tenho certeza que Jasper a fará sentir-se bem e sem dor alguma. – Garantiu, acarinhando os cabelos ralos dela. – Depois do casamento, claro – frisou, ainda que ela própria não tenha seguido essa regra. – Agora, por favor, vamos acabar com esse assunto, isso já foi constrangimento suficiente pro resto do ano.

– Você me deixou ansiosa para experimentar – Alice riu nervosamente.


– Vamos dormir, Allie – Bella gracejou ligeiramente.


As duas dormiram na mesma cama, meio tortas com o espaço diminuto, mas felizes pela noite feminina leve e sem nenhum assunto que lhes trouxesse sofrimento. Seus corações aflitos e suas olheiras profundas precisavam daquilo.






15 de março de 1945



E o ano de 1944 foi-se embora, dando lugar ao indiferente ano novo. Repleto das mesmas notícias. Recheado das mesmas angústias e sofrimentos.


O coração de Bella apenas trabalhava por obrigação e o que o músculo bombeava para o resto de seu corpo era apenas sangue, não vida, porque viver já lhe era algo desconhecido. Nove meses sem nenhuma carta. Nenhuma notícia. E, nesse tempo, pensar que seu soldado estava bem lhe era uma tarefa mais do que árdua.


Por que ele não se comunicava? Por que não mandava nenhum um bilhete qualquer? Isabella se contentaria até com um sinal de fumaça! Qualquer coisa que lhe confirmasse que ele estava bem, que estava vivo... Qualquer coisa para apegar-se e que lhe ajudasse a sobreviver...


– Bella, querida, você não quer sair para comer? – Emilly indagou-lhe docemente. Bella estava no hospital há exatas dezessete horas, sem descanso ou pausas. Precisava ocupar sua cabeça, ainda que fizesse isso com gente quase morta.


– Obrigada, Emilly, eu aguento mais um pouco – garantiu com a voz fraca e
embargada pelas lágrimas que estavam bem mais torrenciais nos últimos meses.
Terminou o curativo na cabeça de um soldado que havia caído de cima de um
telhado enquanto atirava em inimigos e sorriu-lhe ternamente. Virou-se para o
rosto preocupado da amiga e tratou de limpar as lágrimas.


– Por favor, não temos mais leitos – Emilly brincou, ainda que inquietada com o semblante pálido e abatido de Bella. – Coma alguma coisa ou desmaiará a
qualquer momento.


Bella fungou e assentiu debilmente. Seus olhos turvaram-se de súbito e um arfar aflito foi o aviso das lágrimas torrenciais que se seguiram. Seu pequeno e
magro corpo convulsionou com os soluços lhe romperam por sua garganta e o
abraço de Emilly foi mais do que bem vindo.


– Céus, essa dor não vai passar nunca? – Bella perguntou para ninguém em especial, com o choro copioso manchando o vestido florido da amiga.


– Vai passar quando seu amado voltar – Emilly disse consoladoramente. Ela não sabia nem da metade da real história de Isabella, mas o que sabia já lhe era suficiente para ter a certeza do amor que a morena nutria por esse tal de
Edward. – E isso vai acontecer bem rápido.


– Jura? – Bella indagou, fitando os olhos verdes de Emilly e buscando promessas ali, ainda que soubesse que a moça não tinha poder algum para cumpri-las.


– Com minha alma – Emilly arrematou, no entanto. Ainda tinha seu coração sangrando pela morte do estimado marido, e não desejava aquela dor à ninguém. Nem mesmo àqueles homens imbecis que a causaram.


– Oh, eu quero acreditar... – outro soluço rompeu-lhe e Emilly acarinhou-lhe as maçãs avermelhadas do rosto – mas ele não me manda nem uma carta há meses! – lamuriou, exasperada – isso me preocupa tanto! O que está acontecendo com ele? Será que ele está morto e...


– Por favor, por favor, não conclua essa frase! – Emilly pediu afoita, fazendo um gesto no ar como que dispersando algum espírito ruim. – Tem que pensar
positivo! As cartas demoram a chegar, sabia? Pode ter acontecido alguma coisa
com as cartas, ou talvez ele nem tenha tido tempo de escrever-lhe alguma... Eu
não sei, mas ele está bem! Oh! Sabe o que pode ter acontecido? Ele deve estar
mudando de campo, ou talvez marchando de volta pra casa... Já pensou quão
maravilhoso isso seria?


Bella sorriu, animada com o discurso motivador de Emilly. Aquela positividade toda era contagiante.


A de cabelos escuros ia responder, dizer que acreditava na amiga, mas seu nome fora gritado de repente, por uma voz animada e visivelmente extasiada. Alice. Ela reconheceria até na morte.


Bella olhou para a grande porta do hospital e deparou-se com a melhor amiga correndo afobada em sua direção, com o vestido rosa sendo agitado pela pressa e um sorriso mais do que gigante plantado em sua face iluminada. Ela estava radiante; de um jeito que Bella não via há tempos.


– Bella! Bella! – ela gritou, agitando sua mão que segurava um papel todo amassado, acenando em sua direção sem ligar para os protestos das enfermeiras que pediam silêncio.


Isabella foi de encontro a amiga, com um sorriso desconfiado, e retribuiu o abraço apertado que Alice lhe dera com confusão estampada em sua face.


– O que aconteceu? – Bella indagou. – Qual o motivo de tanta alegria e dessa visita? Achei que não suportasse o cheiro de morfina.


– E realmente não suporto! – riu graciosamente, sem nem cumprimentar Emilly que estava ali por perto. Alice não gostava muito da nova amiga de Bella, porque, segundo ela, Emilly tentava boicotar a amizade entre as duas. Bem insano, mas tipicamente... Alice. – Mas tenho uma notícia tão grandiosa para lhe dar e que o sacrifício valerá a pena!


– Diga-me de uma vez! Estou curiosa! – demandou Isabella, rindo impacientemente.


– Jasper está voltando! – Alice finalmente desembuchou, batendo palmas em pleno contentamento. Bella apenas estacou, processando a informação. – Já que a França foi libertada e a rendição alemã está sendo negociada, ele não tem mais nada o que fazer na guerra e está voltando! Chegará em uma semana!


Bella esboçou um sorriso amarelo, contente pela amiga, mas se despedaçando por dentro. Por que Jasper? Por que não Edward? Sentiu uma inveja imensa de Alice, uma vontade inexplicável de estar em seu lugar. Bateu-se mentalmente. Não podia cultivar tais sentimentos egoístas, porque logo seria sua vez de estar tão alegre quanto Alice.


– Isso é magnífico! – Bella comemorou, meio sem vontade.


Alice abraçou a amiga fortemente, derramando lágrimas de sublime felicidade, enquanto Bella apertava os olhos na tentativa de não chorar, desejando que sua vez de comemorar chegasse logo. Que viesse bem rápido.

23 de agosto de 1945



– Jasper, Jasper! Você nem imagina como meu vestido está lindo! – Esse foi o cumprimento de Alice, assim que viu o noivo entrar pela porta de sua casa; a
menina encontrava-se saltitante e alegre como um pássaro que acabara de
aprender a voar.


Jasper abraçou a amada e depositou um beijo casto nos lábios que lhe foram oferecidos, pois o olhar atento de Esme Brandon pairava sobre o casal apaixonado.


– Boa noite, senhora Brandon – Jasper cumprimentou polidamente, curvando-se elegantemente para a sogra, que retribuiu com um singelo aceno de cabeça. – Boa noite, Bella – dirigiu-se à amiga da noiva, que se encontrava sentada no sofá, tentando aparentar alguma animação. – Diga-me, então, minha querida, como está seu vestido? – finalmente indagou, os olhos marítimos transbordando de pura realização.


Alice e Jasper casariam dali há algumas semanas. O enlace matrimonial estava sendo preparado desde a volta do construtor da guerra, que ocorrera há cinco meses. Jasper Whitlock chegara manco, com um curativo num dos olhos, escoriações por todo o corpo, uma ferida infeccionada nas costas, morto de fome e com uma pneumonia mal tratada. No entanto, um mês depois, já se encontrava pronto para outra – claro que ele obteve a melhora rápida devido aos cuidados amorosos de Alice.


Então, dois meses depois, Jasper pedira a mão de Alice formalmente à Esme. O humilde construtor foi tomado por uma coragem que não tinha e que, segundo ele, fora adquirida na guerra, porque alguém que enfrenta tropas grandiosamente armadas não poderia ter medo de pedir a mão da amada em casamento para a velha e inofensiva mãe da mesma.

O casal foi tomado por uma realização enorme, uma felicidade que em nada lembrava os sofrimentos de outrora.


Isabella estava feliz pela amiga, é claro. Mas... E seu soldado? Onde estava?


Sua garganta fechava forte ao lembrar-se que logo faria um ano que não recebia sequer uma carta dele. Nem um sinal de fumaça. Nem uma notícia. Absolutamente nada.


Seu coração sangrava ao lembrar-se de que a Alemanha havia se rendido há mais de um mês. Que a guerra havia, tecnicamente, acabado – a não ser por batalhas esporádicas contra os japoneses.


Então... Por que Edward não voltava? Já havia passado da hora de tê-lo de volta, sua alma consternada necessitava daquilo como um habitante do deserto necessita de água.


Será que ele havia desistido dela? Será que ele decidira voltar para a Inglaterra quando a guerra acabou? Será que ele não a amava mais? Essas hipóteses a faziam perder o ar, lhe eram intoleráveis ao apenas imaginá-las... Mas ainda melhores do que as imagens horripilantes de seu soldado... Morto. Inerte e sem vida, por isso impossibilitado de comunicar-se com ela. Por isso impossibilitado de retornar.


Isabella olhou para a cozinha e sorriu minimamente com as risadas que ouvia. Pelo menos alguém estava feliz, pensou com lástima.


De súbito, levantou-se do sofá e respirou fundo. Olho no grande relógio que pendia na parede a sua frente e suspirou. Já se passava das seis. Era a hora de ir
para a estação de trem.


Isso se tornara um ritual quase que doentio. Há dois meses, Bella ia para a estação central de Nagold todos os dias, religiosamente. Saia de sua casa às sete em ponto e ficava lá na estação, sentada em um banco de frente às plataformas,
sozinha e angustiada, na vã esperança de que seu soldado desembarcasse de
alguns daqueles trens lotados, com os olhos verdes quentes e de braços abertos
para recebê-la de volta.


Nem ela sabia por que fazia isso, já que lhe trazia mais sofrimento. Porque, toda vez que ia embora sem Edward e sem nenhuma esperança de vê-lo novamente, as lágrimas já não eram mais contidas e seu coração implorava por uma pausa naquela dor contínua.


Mas ela precisava daquilo, porque queria ser a primeira a ser vista por ele quando voltasse.


E ela acreditava fielmente que isso aconteceria, embora tudo quisesse fazê-la acreditar no contrário.





As pessoas andavam de um lado para o outro incessantemente, empurrando-se mutuamente, apressadas para pegarem seus trens e chegarem logo em seus destinos. Ansiosa para chegarem em casa.


Isabella Swan estava em meio a essas pessoas, mas sem pressa alguma de ir para qualquer outro lugar. Com as lágrimas da angústia entalando-lhe a garganta, ela esticava seu pescoço por entre as pessoas que passavam, tentando, inutilmente, ver uma cabeleira bronze que se destacasse por entre elas.


Essa agonia de não saber a situação exata de seu soldado era muito pior do que a dor de qualquer morte pela qual já tivesse passado. Isso de não saber onde ele está... Se está bem... Se está passando frio, fome, se está com dor... Isso a corroia por dentro, a fazia sangrar em aflição.


Cansada e frustrada, puxou seus cabelos fortemente, tentando aplacar a angustia que a afligia naquele momento. Choramingou, sentando-se num banco que havia ali perto, derrotada.


Esme e Alice não diziam, mas tinham em seus olhos e corações o desejo de que Bella desistisse de Edward, que se conformasse que ele... Morrera. Elas sabiam o quão inútil era ir na estação de trem todos os dias, esperando que o soldado voltasse, como uma viúva amaldiçoada daquelas histórias de terror infantis. Porém, Bella não desistiria. Não enquanto não o reencontrasse... Ou enquanto não recebesse seu atestado de óbito. Porque só assim acreditaria na morte dele.


Aquele simples pensamento desencadeou uma torrente incessante de lágrimas gordas e ruidosas, que foram acompanhadas de soluços que sacudiram seu frágil e desnutrido corpo em espasmos de angústia.


Fungando, fitou o enorme relógio que pendia do teto da estação vendo que os ponteiros já marcavam o passar das nove horas da noite. Não poderia continuar ali, porque logo as estradas ficariam perigosas demais para uma dama solitária. Iria embora, mas retornaria no dia seguinte.


Já estava preparada para ir rumo à saída, mas algo a impediu no meio do fluxo de inúmeras pessoas. Primeiro, sua visão turva pelas lágrimas avistou cabelos bagunçados e de uma cor diferente, depois, vindo em sua direção, um sorriso torto tomou forma num rosto esculpido pelas mãos de querubins. Arfou,
desacreditada. Mas... Ela reconheceria aqueles olhos verdes até se estivesse
cega.


Suas pernas moles e incrédulas quase cederam, mas a alemã obrigou-as a movimentar-se, direcionando-a àquele que habitara seus maiores sonhos e seus mais temidos pesadelos.


Seu sorriso misturara-se às lágrimas – que agora eram de mais puro contentamento. Correu de forma desembestada os metros mais longos de sua vida, até cair nos braços protetores de seu soldado.


Seu soldado. Vivo. De volta para si.


Sua vida estava de volta.


Edward a abraçou fortemente, prendendo-a entre seus braços, de uma forma que ninguém poderia tirá-la de si. Sorrindo enormemente, ele aspirou o cheiro de flores gananciosamente, passando suas grandes mãos por todo o corpo pequenino que tanto amava, como se estivesse se certificando que ela realmente estava ali. Como se estivesse se certificando que tudo acabara e que nada mais os separaria. Nunca mais.


Bella pegou o rosto do homem entre suas trêmulas mãos e trouxe os lábios que tanto sentira falta para os seus, beijando-os louca e desesperadamente, da forma que ela tanto se privara de fazer antigamente.


Vorazmente, as línguas se encontraram, numa dança de saudade e amor explodido, garantindo em voz muda todos os sentimentos inexplicáveis habitantes os corações apaixonados, que batiam aceleradamente em puro júbilo do reencontro.


– Oh, Deus... – ela murmurou entre lágrimas e sorrisos. Passou as mãos pelo peito de Edward, sorrindo deslumbrada ao constatar que não se tratava de mais nenhum sonho. – Você... Deus, estou tão feliz! – ela admitiu bobamente, abraçando-o sufocadoramente novamente.


– Estou aqui... Estou aqui, meu amor – ele repetia, retribuindo o abraço sufocante da mulher e não se privando jamais de distribuir beijos por toda pele feminina que alcançava.


– Eu tive tanto medo... Tanto...


– Shh – ele silenciou-a, selando os lábios suavemente. – Acabou. Estou aqui... Oh, céus, eu te amo tanto!


Ela riu, sem nem saber exatamente do quê. Apenas queria pegá-lo, apertá-lo, amá-lo... Plenamente, como sempre ansiara.


– Eu também te amo – ela confidenciou pela primeira vez, olhando-o nos olhos e deliciando-se com o mar esmeraldino. Aquele que tanto sentira falta e que tanto temera nunca mais ver.


Os dois se beijaram novamente e nem viram mais hora passar. Bella não se preocupou mais com o fato da estrada ser perigosa para damas ou não, afinal não estava mais sozinha. Seu soldado iria embora com ela.










– Esta história é ridícula – Bella disse temerosamente, assim que Edward terminou de narrar como ocorrera seu reconhecimento por outro recruta inglês em Rennes, há tantos meses atrás. – Então, um soldado quase te mata, mas aí te reconhece e te leva, arrastando seu corpo ensanguentado por todo o tiroteio, para as linhas inglesas e te mantêm acordado te embebedando até que os paramédicos chegam?


Edward riu, assentindo.


– Oh, Deus... Pare de rir, isso não é nada engraçado – Bella ralhou porque realmente não tinha nada engraçado na parte em que seu soldado quase morrera.


Os dois estavam na pequena casa de Bella, na Rua Frieden, desfrutando da companhia do outro e matando as saudades que lhes pareciam infinitas. Estavam abraçados de uma forma que não havia espaço algum entre os corpos; as roupas jaziam de qualquer jeito no chão do quarto que estava cheirando a mofo e, nos rostos corados de felicidade, sorrisos prazerosos dançavam de forma que deixava clara a intenção de nunca mais sairem dali.


– Desculpe-me, alemã – ele pediu, o corpo nu ainda sendo sacudido por risadas tímidas – mas estou aqui com você e qualquer outro sofrimento passado me é uma piada enorme agora.


Bella sorriu emocionada, acariciando o rosto cheio de pequenas cicatrizes dele.


– Eu amo você – ela nunca se cansaria de repetir.


Edward sorriu malicioso e se projetou por cima do corpo pequenino de sua amada, já pronto para fazê-la sua novamente. Ternamente, Bella desceu suas delicadas mãos pela barriga definida dele encontrando, quase em sua pélvis, uma cicatriz que a amedrontou.


– O que é isso? – ela arfou.


Edward caiu de costas no colchão, ostentando uma careta desesperadora de dor.


– Foi aí que o infeliz meteu a faca em mim – ele grunhiu.


– E dói muito? – Edward apenas assentiu contorcendo-se. Bella mordeu os lábios, sentindo-se culpada, afinal, ele só estava sentindo aquela dor porque ela,
idiotamente, resolvera acariciar bem ali.


Cuidadosamente, ela posicionou-se com cada uma de suas pernas do lado do corpo masculino e, amavelmente, depositou beijos molhados por toda a extensão da cicatriz mal curada.


– Ainda dói? – ela indagou inocentemente.


– Um pouco – ele respondeu-lhe, os olhos verdes enegrecendo-se em luxuria.


– E agora? – perguntou novamente, descendo os beijos perigosamente.


Edward apenas gemeu, pegando pelos braços e elevando-a até que lhe fosse possível atacar os lábios sorridentes.


– Quando estava lá no hospital de Londres, eu tentei enviar cartas à você – ele confessou em meio aos beijos – mas, até que a rendição alemã fosse anunciada, me trataram como um maldito, embora eu tenha dito que não forneci nenhuma informação aos alemães. Então, se recusavam a mandar minhas cartas.


– Oh – compreendeu ela – esperei suas cartas como um condenado espera a libertação – admitiu, rindo com a analogia exagerada – mas não importa agora, porque você chegou no lugar delas. Isso é mais do que mereço.


Fitou os olhos verdes abrasadores do amado e sorriu enormemente, eliminando qualquer vestígio de sofrimento de seu coração.


Os lábios se uniram novamente, loucos de uma saudade que só seria suficientemente cessada enquanto estivessem juntos, plena e satisfatoriamente. Os corpos moveram-se juntos, pulsaram em conjunto, de forma que nenhuma sombra do passado seria capaz de entrar naquela redoma feliz.


Os corações bateriam junto até o fim, já que nenhum obstáculo – por mais horrível que parecesse – fora capaz de separá-los.



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Notas finais do capítulo

Olá, olá! *---* Nem demorei, né? o/ como eu disse nas respostas de alguns reviews, estava eufórica demais com esse capítulo para esperar até segunda, kkk
Espero que tenham gostado, eu achei tão bonitinho *oo* kk, sério, foi um dos capítulos que eu mais curti escrever. Fluiu tão naturalmente, sabe ? :')
Bom, gente, o próximo já é o epílogo D: eu tava pensando em fazer um capítulo antes, mas não quero estender muito, então que compensa mais fazer um epílogo grande, haha.
Boooom, antes que a fanfic acabe, tenho uma promoção para fazer *--* kkk. Quem recomendar a fic (quem realmente achar que a fic merece, claro rs), receberá, assim que o epílogo for postado, três cenas bônus *--* Claro, o conteúdo das cenas será surpresa e só saberá quem recomendar a fic, rs. Mas serão, em seu geral, cenas romanticas entre Bella e Edward, cenas romanticas entre Alice e Jasper, algum acontecimento importante ou engraçado no passado (ou futuro) do casal principal... Enfim, cenas sem influência no enredo geral da fic, que servirão apenas como recompensa para as lindas que fizerem meu dia mais colorido e recomendarem a história *--* rs. Ah! Claro que, quem já recomendou, já está "cadastrada". Só peço que me mandem uma MP com seu e-mail, caso estejam interessadas, porque, assim que o epílogo for postado, eu já enviarei os bônus :D
Bom, amores, por hoje é só, rs. Esperam que tenham curtido o capítulo e que comentem bastante pra eu saber suas opiniões *--*
405 beijos, lindas :***