Ensina-me a Viver escrita por Graziele


Capítulo 11
Melhor do que Jesse Owens!


Notas iniciais do capítulo

Big thanks to: Yara Bastos, Caiza, bonno, iarinha_tp, vanx25, leticiaredleite, LoveDimka, Marie May, Elinha.
E um obrigada mais do que especial para vanx25 e Yara Bastos que recomendaram a fic! *--*
Obrigada, flores, eu amei!
Heheheheh.
Tem alguém aí? *cri cri cri*
Não tenho nem palavras para explicar esse abandono completamente ridículo. É clichê dizer que eu estava sem tempo, mas essa era o verdadeiro motivo. Eu não estava conseguindo escrever um capítulo decente e isso estava me deixando irritada e totalmente sem inspiração. Então, com essa coisa de sempre deixar a conclusão do capítulo pro dia seguinte, o ano foi passando e acabou que eu fiquei quase um ano sem postar. A Labap (uma leitora) me disse que eu fui errada em não avisar que eu estava desistindo de escrever e eu concordo completamente mas, na realidade, eu nunca quis admitir que eu estivesse desistindo. Só que eu estava dando um tempo, e que eu iria retomar logo. Bom, não foi logo, mas eu retomei, rs.
Gente, é sério, eu não vou deixar isso aqui com teias de aranha novamente. Agora vai até o final, de verdade. Não vou deixar vocês na mão, e vou conseguir terminar a fanfic até março do ano que vem, se Deus quiser! Amém! HUAUAU
Só que, por favor, preciso, novamente, de um voto de confiança de vocês. Deixem seus reviews!
Chega de falar, né? Vou deixar vocês com o capítulo. :D



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- Eu odeio domingos – Bella reclamou, esparramando-se no sofá, ao lado do soldado.

Os dois já haviam mudado completamente a arrumação da sala, já haviam pintado a parede do porão e já haviam limpado os quartos, mas o dia não havia nem começado direito.

-Eu também – o inglês disse, se ajeitando no sofá até que Bella estivesse quase deitada em seu peito.

Eles sentiram aquela corrente elétrica e todas as outras sensações prazerosas os atacando, mas tentaram ignorar. Não houve malícia na posição na qual ficaram por minutos longos e aprazíveis, foi somente algo natural, como se já tivesse de acontecer há muito tempo.

- Nunca tem nada pra fazer – Bella resmungou depois de um tempo. Remexeu-se um pouco até que sua cabeça pudesse repousar na curva do pescoço do homem.

Pode concluir que o corpo másculo e quente dele era infinitamente melhor do que qualquer colchão. Riu baixinho com seus pensamentos, mas, daquela vez, não se importou em praguejar-se.

- Você já desarrumou e arrumou essa casa mais de dez vezes... e acha mesmo que não tem nada pra fazer? – Edward sussurrou, rindo.

Ronronou uma concordância e se aconchegou ainda mais ao peito dele, não se importando realmente ao fato de que ele, provavelmente, iria achar que ela era algum tipo de meretriz. Deixaria esse tipo de preocupação para depois, para o dia de amanhã. No momento em que vivia, nada mais importou.

- Estou feliz. – Edward confidenciou num murmúrio risonho, enquanto enfiava seu nariz nos fios escuros do cabelo dela.

- E você não era antes? – ela indagou, desfrutando da carícia que o soldado fazia.

- Não. – Respondeu ele, com tanta convicção que chegou a assustá-la. – Se fui, não me lembro.

- Isso é tão contraditório – suspirou ela. – Muitos rapazes da sua idade venderiam a alma para entrarem na Guerra.

- E tenho certeza que, se conseguissem entrar, teriam que vender outra coisa par sair. – O soldado riu sem humor algum.

Outro silêncio confortável se instalou. Aquele silêncio gostoso que só eles sabiam como fazer. As palavras não precisavam ser utilizadas, era como se não tivessem valor.

O silêncio era quebrado somente pela respiração ritmada do inglês. Bella gostava de ouvi-la. Era como se, de alguma forma, aquele som a acalmasse. Remexeu-se levemente no colo do soldado, inebriando-se de forma inexplicável com o cheiro másculo e levemente agridoce proveniente dele. Era um cheiro poderoso, que Bella sabia pertencer somente a ele.

Edward sorriu quase que imperceptivelmente e estreitou a alemã ainda mais em seus, mantendo-a protegida,da forma que ele ansiava. Perto de si.

Aquilo que faziam – ainda que inocente – era uma coisa feita somente por pessoas que já tinham algum mínimo de comprometimento com a outra, mas a intimidade psicológica entre ambos era tão intensa e verdadeira que, certamente, superava todo e qualquer casamento arranjado ou com pouca afeição daquela época.

- Como você sentia? – a alemã sussurrou por final. – Naquele lugar.

Edward sentiu um arrepio perpassar por sua coluna ao se lembrar de seus assombrosos dias no Exército. Não queria recordar-se daquilo novamente, mas sabia que, contando a alemã sua vida anterior, a confiança – já tão presente ali – seria triplicada.

- Eu não me sentia – respondeu simplesmente. – Era como se... eu não tivesse permissão para ter esperanças de algum dia sair de lá. Sabe... Como se eu não tivesse perspectivas de algum dia toda aquela matança acabar... Ainda acho que não acabará.

- Por que acha isso? – perguntou ela em um sussurro cauteloso. – Não houve fim da primeira vez?

- E não houve um recomeço? – perguntou ele retoricamente, sorrindo sem humor. – Se acabar, vai começar novamente. É um ciclo, alemã. O mundo permanecerá em guerra, porque os humanos são burros. É simples. – Edward só não quis mencionar que o culpado de toda essa carnificina era o país dela.

E Bella ouviu tudo, calada. Com os olhos absortos, fitava o teto, não realmente vendo a madeira pintada com tinta branca, mas sim um bando de crianças desesperadas e desamparadas, chorando e gritando com o horror de bombas sendo explodidas. Lembrou-se das próprias crianças que corriam e gritavam em sua rua, mas por motivos longinquamente diferentes. E agradeceu por isso.  Pegou-se agradecendo por não ter presenciado nenhum horror da Guerra e por a mesma parecer somente um boato assustador em seus ouvidos.

- Você... matava pessoas? – Bella indagou, com a voz levemente trêmula.

O homem engoliu sua saliva ruidosamente.

- Não diretamente.

Edward sentiu a alemã mexer a cabeça levemente, num ato que demonstrava que havia entendido.

O soldado lembrou-se do bombardeio do qual participou na capital daquele país, há alguns anos atrás, e sentiu como se um montante de feno lhe tivesse sido empurrado garganta abaixo. A culpa o corroeu sem piedade, e ele teve vontade de sair correndo daquela casa, daquele país.

Não merecia estar ali. Não merecia a confiança que Bella depositou nele. Não merecia nada.

- Mas agora acabou – disse, mais para si mesmo. – Não vou voltar.

- Nem quando você tiver que... voltar pro seu país? – Bella sentiu a garganta fechar ao pronunciar aquela frase, mas fez das tripas ao coração para não transparecer.

- Eu não sei se quero voltar – confessou o soldado, sincero.

Bella levantou-se subitamente, sentando-se no pequeno sofá bege, de modo que fosse possível fitar os olhos dele.

- Não pode ficar aqui pra sempre.

-Não tenho motivos para voltar... – O inglês penetrou seu olhar profundamente no de Bella, fazendo com que ela sentisse que estava sendo despida por ele. – Embora tenha motivos para ficar. – Sussurrou por final.

A alemã conseguiu sustentar o olhar apenas por mais alguns segundos – tempo suficiente para que as palavras proferidas por ele penetrassem em seu cérebro. Nesse momento, desviou os olhos para um canto qualquer da sala e deu um sorriso tímido.

Sutileza mandou lembranças, pensou com divertimento.

- Não pode continuar na minha casa.

- Ora, e nem pretendo! Talvez eu possa... comprar alguma casa na cidade... Vi ótimas que estão a venda. – Terminou com uma piscadela.

- E sua família? – a pergunta que Bella fazia a si mesma internamente, era por quê diabos estava arrumando tantos empecilhos para que o homem continuasse na cidade. Afinal, se ele saísse de sua casa, não ia ser mais seu problema.

- Não sei se ainda a tenho – murmurou ele, com pesar. As imagens de sua pequena irmã com tristeza estampada no olhar e de sua mãe com os olhos azuis cheio de lágrimas gordas, invadiram-lhe a mente sem que a permissão fosse concedida. Junto dessas, vieram as suas próprias fantasias de sua casa modesta e simplória no interior da Inglaterra sendo massacrada por bombas jogadas por homens que tinham a farda manchada de sangue de outras tantas pessoas.

Isabella olhou-o de esguelha e viu os olhos maravilhosos dele com aquele sombreado negro e medonho que ela tanto odiava. Tinha tocado no assunto errado, anuiu.

Teve vontade de confortá-lo e dizer que todos estavam vivos, mas não encontrou coragem que balanceasse com essa vontade. Então, apenas levantou-se do sofá e encaminhou-se para a janela, dando o assunto por encerrado.

Cruzou os braços rentes ao peito e ficou a observar o movimento da rua. Os garotos aproveitavam o sol tímido e medroso que rompia pelas nuvens para deixarem o futebol em dia.

Todos corriam descalços pelo asfalto esburacado e gritavam para que a bola fosse passada.

O soldado levantou-se do sofá também, parando há alguns centímetros de sua alemã, espaço suficiente para que conseguisse sentir seu doce aroma.

Seguiu o olhar de sua alemã e deu um imperceptível sorriso ao ver as crianças. Tão inocentes.

Mal faziam ideia de como o seu próprio país estava fazendo mal a outros. De como estavam prestando adoração a um presidente que mandava matar culpados e inocentes sem nem pensar duas vezes.

Fitou sua alemã e teve pena dela. Ela, mesmo que indiretamente, era alvo de ódio de todos os habitantes daquele mundo. Seu povo era amaldiçoado, e ele mesmo já o fizera inúmeras vezes. Afinal, eram eles os culpados pela guerra. Foram eles, novamente, que haviam estourado toda essa matança.

Mas agora sabia. Nem todos os habitantes daquele lugar eram ruins. Nem todos sabiam o que acontecia.

Sua alemã era a prova disso.

Não, ela não tinha idéia de como a vida fora das fronteiras da pacata Nagold era. Isabella não sabia que seu país estava causando dor em tantas pessoas – culpadas ou inocentes.

Edward balançou a cabeça ruidosamente, afastando os pensamentos, tentando deixar a mente limpa – sem nenhum tipo de devaneio estúpido. Concentrou-se em Bella e em seus olhos brilhantes que se fixavam adoravelmente nas crianças animadas do outro lado da janela.

- Sabe, talvez esse nosso domingo não precise ser assim tão tedioso – comentou ela com a voz enigmática, um leve e encantador sorriso brincando em seus lábios, tentando desviar as atenções daquele assunto errado que havia se instalado.

Edward franziu o cenho, e seguiu o olhar da mulher, soltando um riso sarcástico logo depois.

- O quê? Quer ir lá brincar com eles? – zombou ele, o sorriso tornando-se maior.

- Por que não? – Bella retrucou, fitando o homem. Ele, por sua vez, viu naquele brilho inocentemente a sublime personificação da felicidade que tanto havia procurado durante todo aquele tempo. E ele faria de tudo para que aquele brilho para sempre permanecesse ali.

- Será que vão me aceitar? – Edward disse ironicamente, gesticulando para seu próprio corpo.

Bella deu uma pequena risada.

- Podem ficar com medo – levantou uma sobrancelha, medindo o soldado e imaginando as crianças correndo desesperadas com medo daquele homem – mas tudo funciona melhor sob pressão – deu de ombros.

A alemã pegou no braço musculoso do soldado e foi arrastando-o para fora.

- Alemã, por favor, não seja inconsequente! – Edward a repreendeu, racionalmente – não é seguro sairmos na rua tão cedo assim, alguém pode notar que eu não sou daqui.

Bella revirou os olhos, parou de andar e virou-se pra ele.

- Você sai de casa todos os dias para trabalhar, todos percebem as roupas masculinas mal lavadas no varal – sua voz falhou levemente ao proferir essa frase – e, principalmente, conseguem vê-lo aqui dentro! Então, se fosse para terem descoberto algo, ou denunciado algo, já teria acontecido!

- Acredito que não compreende, alemã – Edward explanou como se estivesse explicando para uma aluna. – Se virem você com um estranho, mesmo que seja conhecido, vão fazer perguntas. Suas respostas não serão convincentes e isso gerará desconfiança. E, depois disso, é apenas um passo para sermos presos.

- Como é que sabe que minhas respostas não serão convincentes, oh, senhor das desculpas convincentes? – ironizou precariamente a moça.

- Acredito que dizer que sou seu primo não seria a melhor opção – respondeu ele, revirando os olhos.

Bella bufou.

- Eu não vou ficar aqui dentro de casa mofando!

- Vamos jogar xadrez – sugeriu Edward com um sorriso torto.

- Ninguém tem nada a ver com a minha vida! E daí que eu abriguei um soldado inimigo? Eles não têm nada que ficar balburdiando isso como se fosse o fim do mundo! – explodiu a alemã, jogando as mãos pro alto.

Edward a olhou chocado.

- Jesus, Maria e José – murmurou, imitando a expressão que ela sempre soltava. – Por que é que você está tão interessada em sair lá fora pra ir jogar futebol, ou sei lá o quê? Quer ver minhas habilidades físicas? – Provocou com um sorriso malicioso bordando-lhe a face que ainda tinha as marcas daquele acidente que há tanto acontecera.

Bella corou tempestuosamente ao ouvir aquele comentário. E Edward adorou vê-la daquele jeito.

- Não! Não! – negou fervorosamente. – Eu só quero sair daqui um pouco, pelo amor de Deus!

- Nós podemos ficar aqui dentro. Tem um monte de coisa pra se fazer... Olha, que tal lermos um livro? Você tem tantos! – ele ainda relutava. Na realidade, não era nem pelo fato de poder ser notado ou sei lá o quê. O soldado estava pensado na humilhação que seria ficar brincando com aqueles pivetes. O que as pessoas pensariam ao ver um homem feito correndo atrás de uma bola furada?

- Você ficará aqui sozinho então! – teimosia deveria ser o sobrenome daquela mulher.

Bella se virou e começou a andar a passos filmes em direção a porta.

Edward revirou os olhos e sentou-se no sofá pesadamente. Ele não iria segui-la. Ela iria passar por aquela vergonha sozinha.

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Edward bufou, revirando os olhos e quase entrando em erupção por dentro.

É, parecia que a alemã exercia um poder sobrenatural sobre ele.

O soldado não queria ter saído de casa naquele dia, realmente. Muito menos para ir brincar!

Tudo bem, isso é ridículo, ele sabia. Mas ficar ouvindo as exclamações de animação que sua alemã proferia do outro lado da parede da casa enquanto ele estava deitado no sofá olhando pro teto não lhe parecia muito justo.

Então, levantara-se num átimo e, reunindo toda a coragem e cara de pau que tinha, saiu pela porta.

Agora, no entanto, sentia-se um grande pateta.

Ele bufou novamente, indignado com essa déia maluca que tivera de brincar na rua, como se tivesse dez anos de idade. Já estava indo na direção da porta daquela que estava sendo seu lar, quando sentiu um puxão delicado em sua camiseta branca.

- Haha! – uma risada irônica e vitoriosa fora acompanhada daquele puxão e Edward se estapeou internamente. Bella o viu e agora sua escapada estratégica tinha ido por água a baixo. – Eu sabia que não iria resistir!

Edward virou-se lentamente e segurou a gargalhada com a imagem que estava tendo de sua alemã. Ela não parecia aquela moça elegante e muito educada que conhecia. Aquela moça que usava chapéus e casacos jeitosos e que era sempre muito delicada. Isabella estava toda descabelada, sem sapatos, com a meia calça preta toda suja de terra, o vestido amarelo levemente amassado, o rosto suado e vermelho... e simplesmente maravilhosa. Edward nunca imaginou ver uma mulher naquelas condições tão... Desfavoráveis. E, naquele momento, o soldado a admirou ainda mais. Ela não estava se importando com o que os outros pensariam. Ela queria jogar futebol na rua e o fez. Ela queria abrigar um soldado inimigo e o fez. Simples assim. Esse deveria ser o lema da vida daquela mulher; não ligar para o que pensam os outros.

E ele, então, achou que deveria pensar do mesmo modo. O que tinham a ver os outros com sua vida? E daí que seria vergonhoso jogar futebol no meio da rua junto com um bando de pivetes?

- Pois é – cedeu finalmente com um dar de ombros. – Acho que esse sol ganha daquele frio que está dentro de casa.

Bella o olhou desconfiada.

- Admita que você está louco pra brincar também! – acusou ela.

- Pelo amor de Deus, alemã, quantos anos você tem? Dez? – indagou, chocado com essa nova faceta que acabara de descobrir. – Não teve infância, não?

- Tive, mas foi tão boa que decidi prolongar! – respondeu ela. – E você deveria fazer o mesmo, soldado, está tão rabugento.

Edward revirou os olhos.

- Vamos, aproveite que você já está aqui fora e vamos brincar! Uma partida só! – os olhos castanhos suplicantes.

- Jesus amado, por favor, não use isso contra mim no dia do meu Julgamento. – Pediu ele olhando pro céu teatralmente. Foi a vez da mulher revirar os olhos. – Só uma partida! – avisou ele seriamente, mas logo teve que rir do modo que a alemã ficou ridiculamente feliz.

Ela agarrou seu braço do soldado fortemente e o puxo até o meio da rua, parando a partida momentaneamente para apresentá-lo como o mais novo membro de seu time.

- Esse é Edward, pessoal – o soldado soltou um leve sorriso torto ao ouvir seu nome sendo proferido pela primeira vez por aquela boca. Isso lhe deu uma vontade de voltar a beijá-la. Muitas vezes e de muitas formas. – Ele vai jogar um pouco e vai ensinar vocês a jogar feito profissionais! – as crianças comemoraram e Edward olhou-a de olhos arregalados.

- Mas ele não parece ser muito bom, não, hein! – um menininho mais desconfiado palpitou. – Ele tem mais cara de galã do cinema!

Edward se ofendeu. Como assim um garotinho que ainda nem desenvolveu pelos pubianos vem falando assim de seus dotes esportivos? Ta que ele não lá um “às” no que se dizia respeito a isso, mas, poxa, cadê a confiança nos novatos?

- Mas eu estou garantindo que ele é bom – a alemã reforçou. – Pelo amor de Deus, eu não vou ficar discutindo com crianças!

- Ainda não sei – o menino ruivo e cheio de sardas ainda não estava convencido. – E se a gente perder por culpa dele, hein? –indagou com a mão no queixo, pensativo.

- Eu sou um ótimo jogador – Edward resolveu se pronunciar; seu sotaque ainda perceptível. As crianças não se convenceram e o tal garoto ruivo ainda o olhava com o rabo do olho azul. – Estou falando sério! – continuou com mais veracidade. – Sou melhor que Jesse Owens nesse esporte! – Arriscou, sabendo que esse era um dos grandes esportistas americanos e que ele ganhara uma Olimpíada há alguns anos atrás... Futebol participa das Olimpíadas?

- Edward, Jesse Owens é um corredor – Bella o corrigiu em murmúrios enquanto o soldado fitava as risadas das crianças com confusão. – Não tem como você ser melhor do que ele no futebol.

- Eu sei que Jesse Owens é um corredor, não sou tão ignorante! O que eu quis dizer é que sou o Jesse Owens do futebol! – contornou, assentindo para si mesmo como que concordando com sua ótima virada.

As crianças estavam com os dois pés atrás e chegaram ao ponto de pedir que Edward mudasse de time, só que o time adversário também não o quis. Ele ficou completamente chocado com isso. Precisava que depositassem confiança nele! Quem sabe ser jogador de futebol não era seu futuro?

E o jogo finalmente começou.

Tudo bem, foi um grande desastre.

Na realidade, Edward poderia ter dormido sem essa vergonha. As crianças eram boas mesmo, e estava até meio difícil ver a bola furada para poder chutá-la. Aliás, não era esse o único serviço a se fazer; quando o soldado tocava na bola, uns quinhentos pirralhos sujos apareciam do nada e faziam de tudo para tirar a pelota de seus pés. Eles faziam barreira, empurravam, gritavam... Enfim, era uma grande confusão e, resumindo, Edward não conseguia passar da metade do percurso, tampouco enfiar a bola naquele espaço de dois chinelos que os garotos chamaram de gol.

No entanto, Edward realmente se divertiu. Muito, na verdade.

Sua barriga estava até doendo de tanto que riu; riu dos garotos caindo no chão, dos garotos pisando na bola, dele caindo no chão, dele pisando na bola... de sua alemã caindo no chão e pisando na bola.

Sentiu-se leve feito uma pluma. Deve ter sido a inocência daquela brincadeira, ou até mesmo a simples presença magnífica de sua alemã. Quando caia no chão e os risos ecoavam por toda a rua, Edward sentia-se feliz. Mais do que realizado. E quando sua alemã aparecia em seu campo de visão, estendendo-lhe a mão com um sorriso zombeteiro no rosto, ou com uma gargalhada gostosa e alta escapando-lhe dos lábios, ele sentia que não haveria definição melhor para pleno contentamento e felicidade suprema.

As pessoas que passavam por ali podiam estar em dúvida de quem era mais infantil: os meninos que corriam atrás de uma bola furada, ou aqueles dois adultos que corriam atrás dos meninos. Mas e daí? Eles estavam se divertindo e não havia nada melhor do que aquilo no mundo inteiro. E as pessoas que se danassem.

- Pelo amor de Deus, você faz de propósito! – Bella lamuriou ao ter que ajudar a se levantar novamente do asfalto, mas ela escondia um sorriso matreiro.

- Não fale assim, acho que quebrei uma costela – ele reclamou exageradamente, fazendo-a revirar os olhos. Aqueles grandes olhos chocolates que agora estavam derretidos de felicidade.

- Isso é porque você é um grande perna de pau – Bella gracejou, rindo sonoramente.

- Olha quem fala, a mestre dos jogadores. – Edward ironizou, rindo também, só que de forma mil vezes mais contida.

- Você caiu muito mais vezes que eu, soldado! – acusou ela. – Veja só como está imundo! Meu Deus, ainda bem que não sou quem lava suas roupas.

- Se ficar me zombando, vou me deitar desse jeito e deixarei os lençóis fedidos pra você lavar! – os dois falavam e riam como namorados, amantes, esposos... Como dois grandes bobos apaixonados.

- Eu disse pra você que ia ser legal. – Ela falou com a voz amaciada, deixando as zombarias de lado.

E, de repente, nada mais existia. Os gritos dos moleques sumiram, as pessoas pedindo para que saíssem do meio da rua sumiram... Tudo deixou de existir para dar espaço àqueles dois jovens tão diferentes e tão limitados por países e guerras, mas que, mesmo assim, se viam ligados por algo forte, talvez até mesmo inominável. Como duas metades que deviam se encontrar, como coisas que haviam de se completar.

Os olhos verdes brilhantes penetraram nos olhos chocolates e muitas coisas foram ditas; coisas que nem mesmo seus donos sabiam direito do que se tratava.

- Você está tão suada, alemã – o soldado sussurrou, elevando sua mão até a bochecha vermelha dela e espalmando-a ali, sentindo a textura macia e a temperatura quente. Desejando nunca mais ter de abandonar essa sensação.

- Não mais do que você. Você está parecendo um grande porco imundo. – Disse ela, tentando amenizar a grande tensão que se instalava.

Ele sorriu lindamente e esse aproximou mais, de modo que já era possível sentir a respiração quente dela fundindo-se com a sua própria.

- Então, somos dois porquinhos imundos – concluiu ele em sussurros, acariciando os lábios e fazendo-a fechar os olhos de prazer.

- Soldado, não comece... – Advertiu a alemã, mas sem muita decisão na voz. Lamentou não ter uma colher de pau por perto.

- Estamos longe deles – Edward a lembrou, já escovando seus lábios nos dela. – Ninguém vai nos ver.

- Não é só isso. Eu... Não quero ficar como seu brinquedo, daquele que você usa por muito tempo, mas depois esquece num canto. Não sou aquelas mulheres que... se encontra em casas de esquina.

Edward fixou seu olhar do dela.

- Eu juro pela morte de quem você quiser que nunca, na minha vida inteira, senti isso por algum “brinquedo” que iria esquecer num canto depois. – Confessou ele, com os olhos verdes e hipnotizantes reafirmando toda a sinceridade de suas palavras.

- E o que você sente? – O chocolate dos seus olhos derretera, transformando-se num mar que Edward daria tudo para poder navegar e desvendar todos os segredos.

- Sinto que quero tentar – sussurrou ele, encostando sua testa na dela.

- Tentar o quê? – insistiu ela.

- O que você quiser tentar. Se você quiser tentar ser algo mais do que uma moça que abriga soldados inimigos, eu tentarei também... Se você quiser tentar ser meu brinquedo, eu tentarei... – Sorriu torto fazendo o ar parecer mais escasso para a alemã. – E, se você quiser tentar ficar comigo, eu vou tentar também...

- E se eu quiser tentar te beijar? – Perguntou ela, tão direta e decididamente que o chocou um pouco.

- Eu vou tentar também – seu sorriso tornando-se impossivelmente maior e mais deslumbrante.

E os lábios se selaram. Loucamente, ardentemente... Apaixonadamente.

E, desta vez, não houve perguntas, dúvidas, receios, tampouco houve as crianças do outro lado da rua brincando. Houve somente Edward e Bella – simplesmente a moça alemã e o soldado inglês, aqueles que deveriam ser inimigos. Houve os suores daqueles porquinhos fedidos se misturando e mostrando como eram compatíveis, ainda que o mundo todo dissesse que não.

Houve um aperto no peito, um frio na barriga e, acima de tudo, houve aquele sentimento profundo, incompreensível e que dava fôlego para que os dois acordassem todos os dias, ansiando a presença do outro.

As mãos másculas passeando pelo corpo esguio dela confessavam em voz muda tudo aquilo que estava engasgado em seu coração e que ele não conseguia classificar para poder dizer. E as mãos femininas e delicadas que se incutiam em seus cabelos cor de bronze confirmavam que ela também queria tentar ser mais do que uma moça que abrigava soldados inimigos. As bocas, grudadas e desesperadas uma pela outra, não queriam se largar; não viam mais como viver sem que estivessem juntas.

O ar faltou e eles tiveram que se separar para pegá-lo, mas as bocas ávidas não se contentariam em deixar o outro, por isso a do soldado desceu pelo pescoço dela, distribuindo beijos carinhosos enquanto um sorriso ainda dançava em seus lábios.

Edward a estreitou em seus grandes braços, deliciando-se com o sorriso que a mulher ostentava. Ele a fitou enquanto as bochechas ficavam vermelhas e ela escondia o rosto no peito dele, envergonhada.

- Acho que agora nós podemos ir tomar um banho – ele ofereceu, vendo-a arregalar os olhos, quase que horrorizada. – Não! Não juntos! – ele tratou de se explicar, rindo da inocência dela. – Pelo menos ainda não... – Arrematou com um sorriso encantadoramente sedutor.

- Oh, pelo amor de Deus! – ralhou a alemã, batendo no ombro dele e ficando terrivelmente vermelha. – Comporte-se!

- Tudo bem! – cedeu ele, tentando se desvencilhar dos tapas dela. – Meu Deus, alemã, desculpe-me! – ele ria, inevitavelmente contagiando-a também.

Eles sorriram cúmplices um pro outro e se abraçaram novamente. E os dois ficaram ali, por horas, por dias... não viam o tempo passar. Ficaram ali, desfrutando um do outro, das carícias, dos sorrisos... da seguranças que os abraços passavam.

Não pensaram no amanhã, e nem no que aquilo tudo poderia acarretar. Eles sabiam que as consequências bateriam na porta, mas seria no futuro. Eles não pensaram naquilo. Apenas se concentraram um no outro e no fato de que iriam tentar... Seja lá o que isso significasse.


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Notas finais do capítulo

Eaeeee?
Gente, preciso dizer que amei escrever esse capítulo, rs. Ta, não saiu lá uma coisa tipo retorno triunfal, rs, mas acredito que deu pro gasto, né? Quem leu A Menina que Roubava Livros sabe de onde tirei a ideia pra esse capítulo, né... rs
Será que agora vai, meu povo? Será que esses dois engatam de uma vez? HUAUAAUA E essas saidinhas arriscadas, hein? Hmmm, acho que isso não vai acabar bem...
MENINAS. Quem já assistiu Amanhecer? :O A quem ainda não assistiu, minhas sinceras desculpas, mas eu NECESSITO comentar sobre aquele filme, haha.
O que foi aquilo, povo de Deus? :O
Vou contar pra vocês que nunca, nunquinha na minha vida, imaginei a Kristen como Bella. Ela é uma boa atriz, (quem assistiu Welcome to The Rileys ou Speak sabe como é grande o potencial dela), mas como Bella... me perdoem, mas era impossível ser mais insossa.
Em New Moon, ela até que deu uma melhorada, só que em Eclipse tava de amargar. Era uma interpretação teatral demais, com pausas enormes e desnecessárias entre as falas... Parecia que ela tava no piloto automático, sério.
Mas, meu Deus, a moça revolucionou em Breaking Dawn! *--* Da parte que ela descobre que ta grávida pro final, o filme foi dela. Nem Taylor e suas constantes tiradas de camisa conseguiram roubar o brilho daquela menina. Ela conseguiu passar toda a fragilidade emocional e física da personagem, sem contar a pressão psicológica por ter todo mundo contra ela. Na verdade, acho que era disso mesmo que ela tava precisando: um conflito decente, que desse pra ela mostrar todo o talento que ela tem. Porque aquela dúvida bobinha de fico com Edward ou Jacob não era algo que exigia uma carga dramática grande. Mas dessa vez não, né. Dessa vez era um amor maior que tava em jogo, era uma decisão maluca, era um filho.
Ai, gente, aquela parte que ela liga pro Charlie e inventa aquela baboseira de que vai pra um centro médico na Suíça e depois começa a chorar sem parar... meu Deus, deu um aperto no coração... E a parte que o Edward descobre que pode ouvir os pensamentos da criatura e ela fala: Como ele não poderia estar feliz? Eu o amo tanto... Ah, cara, acabou comigo!
Não, na verdade, a parte que realmente acabou comigo foi na hora do casamento que começou a tocar Flightless Bird, American Mouth... Ah, Bill Condon fez aquilo só pra fazer os fãs chorarem! rs
Eu vi algumas críticas que diziam que a cena da Lua de Mel deixou a desejar e que Bill tinha feito cenas de sexo melhores em Kinsey... mas ô povo sem noção, hein! rs. Kinsey é um filme adulto que, com certeza, deixou mais ~espaço~ pro Bill trabalhar com cenas mais fortes, coisa que não dava pra fazer em BD! O filme é de classificação 14 anos, tem gente que vai assistir com os pais (eu mesmo tive que ir com minha mãe, porque não achei companhia; todo mundo tinha ido na estréia,ÔÔÔÔ derrota! rs.), imagina se o Bill ia ser maluco de colocar os dois fazendo o Kama-Sutra! HAUAUAUAU Eu achei que ficou perfeita, sem tirar nem por. A hora que passa as costas do Edward se retesando... ai, Jesus, apaga luz porque a Madonna ta sem maquiagem! HAUUAUA
Enfim, é melhor eu calar a boca aqui, senão vão começar a jogar tomates, rs. Me digam vocês suas impressões sobre o filme (:
Flores, espero que tenham curtido o capítulo :D O próximo não tarda a chegar, só não vou dar prazos porque é um capítulo mais bonitinho (se preparem pra morrer de diabetes, porque o negócio ta doce! rs) e quero deixá-lo perfeito pra vocês! ^^
Mas eu prometo que vai ser logo, e que não vai ser em janeiro do ano que vem, rs. /Fazer piada com a própria desgraça, é o que há, rs.
Vejo vocês nos reviews, né? *--* Espero que sim (:
Beijoooooos, meus amores, obrigada por tudo! :***