Quando chegamos à praia, Seth já estava lá com Nat deitada na areia, inconsciente. Aproximei-me nervosa de ver Seth fazendo uma respiração boca-boca nela. Nat tossiu, cuspindo um pouco de água, e uma onda de alivio me tomou. Ela abriu os olhos e, assim que me viu, começou a rir igual uma maluca. O alivio deu lugar a raiva. DO QUE AQUELA VACA TAVA RINDO?

- DO QUE VOCÊ TA RINDO SUA AMEBA? TA QUERENDO MORRER OU TENTAR ME MATAR DO CORAÇÃO? – eu gritei com ódio da cara de pau dela. E num é que a animal continuava rindo? Não me agüentei e tive de rir junto. O riso dela era contagiante, fazer o quê?! Seth e Jacob nos olhavam confusos, mas deram de ombros pra nossa loucura. Nat se levantou com a ajuda de Seth, um pouco tonta. – Só, por favor, não faça mais isso!

- Desculpe, mas eu tinha que provar! – ela disse enquanto tentava, inutilmente, tirar a areia da roupa. - E devo dizer que é muito melhor do que você dizia!

- Ok, só eu aqui acho que ela devia receber um sermão bem grande por tentar se matar? – perguntou um Seth indignado. Nat ruborizou, mas Jake o agarrou pelo pescoço e fez um cafuné nele.

- Relaxa Seth! Tá tudo bem agora! E aí, quem está com fome?

Nat levantou a duas mãos, entusiasmada. Esfomiada!

Então, Jacob e Seth nos levaram até a casa de Emily. Devo dizer que realmente me surpreendi com o grito de ’SURPRESA’ de todos aqueles Quileutes. Eles haviam feito uma festinha pra mim e para Nat. Ou melhor, Emily havia feito! Nat pareceu tão surpresa e feliz quanto eu, tanto que lágrimas vieram aos seus olhos, mas ela as segurou, e não parou de sorrir um segundo. Recebemos muitos abraços e desejos de felicidade e, depois de eu e Nat termos trocado de roupa, cortamos um bolo gigante de chocolate que Emily havia feito.

- E então, pra quem vai o primeiro pedaço? – perguntou Billy. Eu e Nat nos entreolhamos. Todos aguardaram enquanto nos decidíamos. Jake fazia uma cara de ansioso, assim como Seth. Eu ri para Nat e ela pra mim. Era impressionante como nos entendíamos pelo olhar.

- O meu primeiro pedaço de bolo vai para a minha melhor amiga Nessie! – disse Nat me entregando um pedaço gigante de bolo. Os Quileutes aplaudiram e Embry gargalhou da cara que Seth fez!

- E o meu primeiro pedaço de bolo vai para a minha melhor amiga, Nat! – e entreguei a ela um pedaço maior que o meu. Dessa vez, Paul e Sam acompanharam Embry na risada da cara que Jacob havia feito. Tirando a parte que Nat me fez comer o pedaço de bolo inteiro de verdade, devo dizer que foi uma das melhores festas que eu já tivera!

*Natasha PDV*

Eu estava sentada na varanda tomando ar fresco. Paul e Embry decidiram competir em quem comia mais bolo em menos tempo. Devo dizer que por mais que eu tenha a minha lombriga (apelidada carinhosamente de Zuleima por Quill), eu me senti um tanto enjoada com toda aquela cena de chocolate espalhado. Então resolvi ficar ali fora, admirando o crepúsculo. Era a hora do dia mais bonita, pois eu podia ver a mudança de cor do céu do laranja para o azul escuro e estrelado. Isso quando não chovia e, quando as nuvens iam embora, as cores ficavam mais fortes.

Uma brisa soprou meus cabelos e eu fechei os olhos curtindo aquele tempo. Podia até sentir o calor dos raios de sol na minha pele. Mas estava quente de verdade...

- Tempo bonito não?! – Seth se sentou ao meu lado e ficou quieto. Então era dali que vinha o calor! Foi um momento constrangedor e bom ao mesmo tempo. Aquele era um raro momento em que eu podia estar com Seth sem discutir, chorar ou qualquer outra coisa depois de tudo. Mas é claro que o silêncio não ia durar muito. – Eu não tive a oportunidade antes. – Ele tirou de dentro do bolso do shorts um pequeno pacotinho verde claro amarrado com uma fitinha preta. – Feliz aniversário Nat.

Olhei pra ele sem conseguir dizer algo. Era o meu primeiro presente de verdade. Claro que eu já tinha ganhado coisas da Nessie, mas de mais ninguém além dela. Peguei o pacotinho e o abri delicadamente pra não rasgar. Dentro havia uma caixinha preta e, dentro da caixinha, havia um pequeno bracelete marrom com desenhos estranhos. No centro dele, facilmente perceptível, havia o desenho de um lobo uivando pra uma lua minúscula.

- É um bracelete Quileute. Os desenhos são símbolos da nossa cultura. Era... era do meu pai. Era uma jóia de família. Ele me deu quando eu era pequeno e disse que era algo pra eu nunca esquecer quem realmente era. Agora é seu.

Meus olhos marejaram e eu não sabia o que dizer. Eu queria poder falar que não podia aceitar por ser uma joia de família, mas quando olhei pra ele e vi aquela admiração, mesmo sabendo que era porque eu era seu imprintig, as palavras ficaram presas na minha garganta e a única coisa que consegui fazer foi abraçá-lo. Um abraço apertado em que eu tentava passar tudo o que estava sentindo. Toda a gratidão e todo o amor que eu queira lhe dar, mas também toda a mágoa por ele não me querer. Eu não me permiti chorar, nunca me permitia, mas era difícil, ainda mais quando ele retribuiu o abraço. Senti aquela pele maravilhosamente quente e saber que não era minha, sentir seu cheiro e saber que não o teria. O presente era perfeito, mas a melhor coisa que ele realmente poderia me dar era ele. E isso eu não teria.

A brisa se tornou vento e eu senti um arrepio involuntário com o vento gelado batendo na minha pele estando tão perto de uma ótima fonte de calor. Ele se afastou de mim e me encarou um pouco preocupado.

- Você está com frio? Nós podemos entrar e...

- Não! – eu disse depressa, me aconcheguei mais perto dele e ele colocou o braço em torno de mim. – Só fica aqui comigo. – Ele apertou o abraço e eu me senti segura. De que importava se ele dizia que não me queria? De que importava um mero imprinting? Ali, ouvindo o coração descompassado dele junto ao meu, eu tive a certeza de que não importava o que ele dissesse, eu sempre seria dele e ele sempre seria meu.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas logo ouvimos uma tosse fingida atrás de nós e lá estava Nessie e Jake com sorrisinhos estranhos.

- Então, eu preciso levar vocês de volta pra casa! – disse Jacob sorrindo maroto pra mim. Oras, de que ele ria tanto? Levantei-me e entrei na casa de Emily pra me despedir dos Quileutes.

- Nos vemos mais tarde! – disse Quill quando eu e Nessie já estávamos na porta. Como assim mais tarde? Nessie se virou pra perguntar, mas Jake a puxou pra fora e lançou um olhar feio a Quill.

- O quê ele quis dizer Jake? – perguntou Nessie curiosa.

- Não era nada. Quill fala demais. Não quer ir também Seth? –Perguntou ele se virando para o amigo. Eu o olhei e percebi que ele me encarava. Acho que queria uma confirmação de que eu permitiria. Sorri sem saber o que dizer e foi o suficiente. Eu tinha que voltar a ler mais, estava ficando muito sem palavras!

- Tudo bem! – ele sorriu pra mim e desapareceu com Jake por entre as árvores para se transformarem. Logo havia dois lindos lobos gigantes nos encarando. Nessie rapidamente montou em Jake e sorriu para mim.

- Você vai com Seth, vamos apostar corrida! – eu concordei e, timidamente, subi nas costas de Seth. Ele pareceu se arrepiar ao meu toque, mas deu um rosnado que eu considerei como uma risada.

E eles correram, e correram muito rápido! Jake e Seth pareciam duas crianças disputando um prêmio, ou talvez dois cachorros disputando um osso, o que seria uma analogia melhor! Corriam a toda velocidade, ultrapassando um ao outro sem nem ligar para os obstáculos da floresta, como se eles sequer estivessem ali. Seth às vezes diminuía o passo como que para verificar se eu estava curtindo o passeio. Eu lhe gritava para continuar e ele logo estava à frente de Jake. Estávamos próximos da casa dos Cullen, mas espera aí, não devíamos ir para o outro lado?

- Jake, você não errou o caminho? – perguntou Nessie em tom cômico. Era impossível Jake errar o caminho para a casa dela! Ele apenas rosnou divertido e continuou o caminho. Não tardou para que chegássemos não à casa dos Cullen, mas a casa dos pais de Nessie.

- Porque viemos para cá? – eu perguntei, descendo das costas de Seth ao avistar a aconchegante cabana. Mal havíamos chegado e Alice apareceu na porta, tinha um sorriso imenso e belo.

- Finalmente! Achei que nunca chegariam. Olá Jake e Seth. Vocês sabem o horário, agora podem ir! – disse espantando os dois lobos gigantes como se fossem moscas. Jake lambeu minha orelha em despedida. Foi nojento! Eu limpei a baba dele vendo-o se afastar para “falar” com Nessie, quando senti alguém bufar na minha outra orelha. Virei-me e vi Seth com um olhar de lobo indecifrável. Acariciei seu focinho e ele fechou os olhos aproveitando aquele carinho. Não havia o quê dizer, e nem saberíamos o quê falar (se bem que ele nem poderia falar já que estava transformado!). Seth lambeu a palma da minha mão e acompanhou Jake que o esperava na orla da floresta. Fiquei ali os vendo se afastar, sem nem ligar para a minha mão molhada de baba de cachorro. Credo! Limpei a mão na barra da calça em um reflexo.

*Rennesme PDV*

- Será que alguém vai me dizer por que estamos aqui e não em casa? – perguntei para Alice. Aquilo já estava começando a ficar estranho. Primeiro eles tiram Nat e eu de casa, depois pedem para Jake nos trazer até a casa dos meus pais. Muito suspeito!

- Oras, mas essa é sua casa! – disse Alice fugindo do assunto enquanto nos empurrava pra dentro. Bufei irritada e a segui com Nat em meu encalço.

- Você sabe o que eu quis dizer. Vocês parecem que estão... – a frase morreu no ar. Será que...? Claro! Era tão óbvio, como não notei?! –Uma festa surpresa?! Vocês estavam armando uma festa surpresa para nós!

Alice pareceu surpresa e admirada. Ela tentou negar, mas não havia brecha. Eu lhe lancei um olhar de “você não me engana” e ela desistiu. Levantou os braços em um gesto de derrota.

- Okay, você venceu Rennesme Cullen! Nós nunca conseguimos esconder de você mesmo! Tinha que ser filha do Edward!

- Peraí, deixa eu ver se entendi. – disse Nat rindo. – Vocês estavam fazendo uma festa surpresa para a Nessie?!

- E para você também! – disse a minha mãe aparecendo do nada. Quando ela chegou aqui?! – Afinal o aniversário é das duas! Agora vamos logo que vocês tem que se arrumar!

Elas tinham tudo planejado, inclusive os vestidos que usaríamos. A lua já despontava no céu junto das estrelas quando finalmente terminamos de nos arrumar. Eu estava com um vestido tomara que caia azul claro simples, porém muito bonito. Seu tecido era tão leve que parecia ondular com a menor das brisas. Nat estava muito bonita, seu vestido era preto de alça onde, na linha abaixo do busto, havia uma fina faixa prateada. A única coisa que parecia fora do contexto era um bracelete marrom no pulso dela, o qual fora dado por Seth, segundo ela me dissera mais cedo, com o rosto corado. Ambas estávamos com sandálias prateadas e brincos no mesmo tom.

- Aaaaaaah vocês estão tãããããão lindas! – gritou Alice histericamente e dando pulinhos. Minha mãe, pela sua expressão, teria chorado de emoção se pudesse.

- Agora vocês vão ficar aqui quietinhas enquanto eu e Alice vamos pra casa ver como vão as coisas. Quando tudo estiver pronto mandamos alguém vir buscá-las. – disse minha mãe já se dirigindo para a porta.

- E não amassem os vestidos! – disse Alice severa. Ela seguiu minha mãe e pude ouvir seus passos se distanciando. Virei-me para Nat que fazia uma careta por onde Alice tinha saído.

- Será que posso pelo menos me sentar?! – disse já se esparramando no sofá de um jeito que teria arrancado um grito de Alice. Nat não era acostumada com tanta coisa chic. Ela era simples, e isso era o melhor dela.

- Espero que não demore! – eu disse me sentando ao lado dela. Estava preocupada com aquela festa. Do jeito que eu conhecia Alice, ela convidaria todo mundo que pudesse, e isso me deixava inquieta. Nat era humana e com certeza haveria muitos vampiros na festa que não tinham o mesmo habito que nós. E se algo desse errado? Mesmo que os Quileutes estejam lá, Nat sempre me parece tão... frágil.

- Não se preocupe! Eu tenho uma coisa para você! – ela disse animada. Correu para o andar de cima e logo voltou com um embrulhinho nas mãos. Ela o ofereceu para mim com um enorme sorriso. – Feliz aniversário Nessie!

Peguei o embrulhinho sem saber o que dizer. Eu não havia comprado nada para ela! O que era raro, porque todo ano eu lhe dava uma lembrancinha. Abri o delicado embrulho de papel brilhante vermelho. Havia uma caixinha preta de veludo e, dentro dela, havia um colar prateado com um pingente de uma lua próxima a uma estrela tão grande quanto ela. Fiquei sem palavras por um tempo.

- É lindo Nat! – eu disse sem fôlego. E parecia realmente caro. – Você não precisava... – ela me interrompeu e fez uma cara feia.

- Você sempre me deu presentes no nosso aniversário e eu nunca pude retribuir. Esse ano eu juntei umas economias mínimas e comprei pra você. Se você devolver eu nunca mais olho pra você! –disse severa, mas riu em seguida. – Coloca, vai combinar com o vestido.

Ia entregar a ela para colocá-lo em mim quando ele caiu no chão e fez um click tão baixinho que acho que só eu ouvi. Quando o peguei, notei que a lua se separara da estrela e havia um cordão duplo. Eram dois colares que se completavam.

- Olha só! – exclamou Nat surpresa. Quando lhe mostrei os dois colares. - Isso não estava incluso!

- Tive uma idéia! – Peguei o colar com o pingente da lua e o coloquei em Nat e coloquei o que continha a estrela. Sorri para Nat que pareceu surpresa com meu gesto. – Agora nós duas temos presentes! – Nat riu.

- Combina muito conosco! – disse analisando a estrela em meu pescoço. – A estrela que sempre guiará a lua pela noite.

- E a lua que sempre iluminará a noite para a estrela. – eu disse rindo para ela também. Encaramos-nos sorrindo uma para a outra, como cúmplices.

- Pra sempre! – dissemos juntas e gargalhamos da situação. Ouvi passos lá fora e, ao me voltar para a porta, vi meu pai entrando em casa. Ele estava muito elegante com o terno preto e os cabelos penteados em um topete charmoso. Ele era sempre tão formal e sempre tão bonito. Nat suspirou involuntariamente.

- Vim buscar as duas princesas. – disse sorrindo.

Nós fomos com ele de carro até em casa. Eu lhe perguntei o porquê de tanta frescura se podíamos correr até lá, e ele disse que foi insistência de Alice que não queria que parecêssemos duas loucas com o cabelo desgrenhado depois de tanto trabalho para arrumar. Típico de Alice!

Quando chegamos em casa pude ver o jardim todo iluminado por pequenas luzinhas penduradas. Havia uma grande mesa com as mais variadas comidas e mesinha menores dispostas elegantemente. Mais ao centro havia uma pista de dança iluminada por um globo que parecia que fora pendurado magicamente. Já havia muitas pessoas ali, pude reconhecer alguns amigos do vô Carlisle, como os Denali e as Amazonas, muitos Quileutes (que estavam perto da mesa de comida) e poucos humanos, como Charlie e a família de Seth. Parecia uma festa de casamento!

- Uau! Alice fez tudo sozinha? – perguntou Nat, admirada e impressionada com tudo. Sua boca entreaberta demonstrava espanto. Eu ri de sua expressão.

- Ela teve ajuda, mas criou tudo sozinha. Ela sonha com esse momento desde que soubemos que Ness completaria o ciclo aos sete anos. – respondeu meu pai rindo. Alice devia ter estado histérica o dia todo para que tudo fosse perfeito. Pobre tio Jasper! – Vamos então? Só faltam vocês.

Descemos do carro e instantaneamente os olhares de todos se voltaram para nós, assim como uma luz que parecia vir de um holofote! Eu ia matar a Alice, ela sabe que eu e Nat detestamos chamar a atenção! Senti-me nervosa e sabia que meu coração podia ser ouvido a quilômetros de distância. Foi quando ouvi, distintamente, outro coração bater no mesmo ritmo que o meu e o reconheci como o de Nat. Segurei sua mão e lhe disse ‘Não se preocupe. Estou aqui!’. Ela apertou a minha mão como que dizendo ‘Eu sei. Vamos juntas nessa.’ Era impressionante como sempre nos entediamos sem palavras.