- Pelo amor de Deus Ness, sente-se antes que faça um buraco no chão!

Encarei tia Rose com raiva, mas me sentei no sofá, ou melhor, me joguei no sofá. Eu estava nervosa oras, o quê poderia fazer? Sete dias se passaram desde o acidente, desde o dia em que eu e Nat brigamos e ela foi atropelada pra me salvar. Jacob a trouxera pra casa e Carlisle, sem nem mesmo pensar, a levou direto ao hospital. Hoje ela poderia voltar pra casa e receber cuidados aqui. Ela não poderia de verdade, mas vovô Carlisle tinha influência no hospital e, bem, ele era o “médico oficial” dela.

Eu estava ansiosa. O quê eu falaria pra ela? O quê ela falaria? Será que ainda queria ir embora? Eu nem fora visitá-la no hospital por medo dela me mandar embora. Eram tantas perguntas que minha cabeça começou a doer. Jacob sentou-se ao meu lado. Depois que ele deixou Nat em casa naquele dia, ele voltou pra me buscar. Não consigo nem descrever a cara de lobo dele quando me encontrou em um estado deplorável ajoelhada no chão e chorando. Ele ficou comigo todo esse tempo, me consolando e sofrendo comigo. Tem horas que eu odeio esse imprinting.

- Não se preocupe Ness, ela vai ficar bem. – ele disse sorrindo e eu o olhei, desolada. O pobre não sabia de metade da história, não tivera coragem de contar a ele. Na verdade, eu tinha feito pouco durante esses dias além de chorar. Toquei seu rosto e mostrei-lhe a briga que tive com Nat naquele dia. - Seja lá qual for o motivo, você vão se entender! - Toquei-lhe de novo e lhe mostrei o porquê brigamos, seu olhos se arregalaram em surpresa. Mostrei-lhe que não era culpa dele, e sim nossa. Ele ainda pareceu abatido. Eu ia lhe falar algo, mas tia Alice entrou saltitante na sala e anunciou.

- Eles estão chegando!

Levantei em um salto e fiquei olhando pra porta. Todos os meus sentidos entraram em alerta, ouvindo o carro parando, meu pai a ajudando a descer, o delicioso e suave cheiro do sangue dela. Engoli em seco e tentei me acalmar.

Não demorou muito e meu pai entrou, segurou a porta para vô Carlisle entrar com Nat em uma cadeira de rodas. Sua perna estava com gesso, sua cabeça enfaixada e com vários arranhões e roxos pelo corpo, mas parecia relativamente bem. Pelos menos sorria.

- Seja bem vinda de volta, Natasha! - disse minha vovó de forma acolhedora. - Você nos deu um baita susto!

- Eu sei. Obrigada e desculpe Senhora Cullen! - ela parecia sem graça.

- Seu quarto está arrumado. Vamos subir e descansar sim?! - disse minha mãe sorrindo pra ela.

Nat apenas concordou com a cabeça e se deixou levar quando meu pai a pegou no colo e a levou para cima até seu quarto. E foi só. Nenhum olhar constrangido, nenhum xingamento que fosse. Ela nem me olhara. Cai no sofá sem conseguir esboçar uma reação. Todos me olharam com pena e se dispersaram, ficando apenas eu e Jacob ao meu lado.

O dia transcorreu normalmente, ou tão normal quanto pode. Eu ainda não fora falar com Nat. Tia Alice a todo o momento me lançava olhares inquisidores. Mas o que eu posso fazer se ela não quer me ver? Ou será que era eu que a estava evitando?

- Você sabe que uma hora ou outra vai ter que falar com ela não é? - perguntou Jake sentando-se ao meu lado após ter ido até a cozinha pegar um refrigerante. Deitei em seu colo e ele afagou os meus cabelos. Ele parecia estar melhor depois que conversei com ele e lhe expliquei que a minha briga com Nat não era realmente sua culpa.

Eu apenas suspirei sem saber o quê fazer, estava a ponto de chorar de novo. Tia Alice revirou os olhos, levantou-se de súbito e, me pegando pelo braço com força (muita força devo ressaltar!), subiu as escadas em direção ao quarto de Nat.

- O-o quê você está fazendo tia?

- Te dando um empurrãozinho! - ela abriu a porta do quarto após bater levemente. - Nat, tem alguém aqui que quer falar com você! - sem eu nem mesmo poder me defender, ela me jogou para dentro do quarto.

Adentrei o lugar aos tropeços e pude ouvir Alice fechar a porta. Olhei para Nat. Ela havia acabado de abaixar um livro e me olhou curiosa. Não consegui encará-la nos olhos. Fui até minha cama que ficava perto da dela e me sentei, encarando tão fortemente os meus sapatos que podia fazer um furo neles. Eu não sabia como começar, muito menos o quê dizer. Nat quebrou o silêncio antes que eu terminasse de pensar em algo. 

- Desculpe por estar sendo um estorvo na sua casa. Eu disse ao senhor Cullen que assim que eu melhorar eu irei embora. Não vai ter que me aturar por muito tempo. - ela dizia isso como se fosse um texto ensaiado. Não havia emoção em suas palavras.

- Nat eu...

- Tudo bem Rennesme, não precisar ser boazinha comigo. Eu errei e entendo que me odeie. Não vou ser mais um empecilho na sua vida...

- Para! Para com isso! Você nunca foi um empecilho em minha vida. Você é a minha melhor amiga, a minha companheira! Aquela que ria das pessoas comigo e me defendia mesmo quando não era preciso. Quem me acolheu e me ajudou quando precisei, que me aconselhou, que me ouviu, que me amou como se eu fosse sua irmã. Me perdoa por ter ouvido sua conversa com a Alice, eu entendo que você se apaixone pelo Jake é só que quando você falou que nada mais importava a não ser ele, eu... eu me senti traída! Mas eu não consigo Nat, não consigo ficar sem você. Por favor, Nat, eu não posso... Não posso te perder de novo.

Eu despejei tudo sem nem parar para respirar. As palavras saíram de minha boca sem eu nem conseguir escolhê-las. Talvez fosse melhor assim, despejar tudo de uma vez. Eu era uma boba. Não sabia como ainda tinha lágrimas para chorar, mas eu chorava. Eu quase a perdera uma vez e ia perdê-la de novo por um ciúme tolo e sem fundamento. Olhei pra ela que ainda encarava o livro. Ela pareceu nem ligar para o quê eu dissera. Ia me levantar e sair dali, mas ela começou a falar. Parecia atropelar os pensamentos assim como eu fizera.

- Não foi minha intenção Nessie, eu juro! Eu sinto atração pelo Jacob, mas é só isso! Eu nunca trocaria você, não há mais ninguém no mundo que me importe mais do que você. Você é a única estrela que ainda sobrou no meu céu. – eu ouvi um soluço e virei-me para encará-la, e pela primeira vez, eu vi Nat chorar. As lágrimas rolavam por sua face sem que ela pudesse controlar. Ela tentava limpá-las, mas não conseguia. Foi então que eu soube que não importava o quê houve, por quem nos apaixonássemos, nada importava. Nós sempre teríamos uma à outra. Pulei em sua cama e a abracei. Fiquei feliz por ela ter me correspondido. Depois de um tempo chorando uma nos braços da outro, ela falou com uma voz hesitante.

- Nessie.

- O quê foi Nat?

- Será que você pode sair de cima da minha perna, tá doendo!

Pulei da cama e Nat riu. Eu sentara em sua perna engessada sem perceber. Comecei a rir também e logo ambas gargalhavam. Nos encaramos de forma cúmplices, como sempre.

- Olhe só o quê você fez! - disse ela secando as lágrimas que ainda caiam. Eu também sequei as minhas e sorri pra ela. - Promete que nunca mais vai me fazer chorar?! Eu odeio chorar na sua frente!

- Só se você prometer parar de tentar salvar a minha vida! - ela me encarou surpresa e deu de ombros.

- O quê posso fazer? É mais forte que eu! - nós duas rimos. Era bom voltar ao que era antes. - Sabia que seu avô Charlie vai receber alta? Logo ele voltará pra casa.

Olhei pra ela confusa. Achei que ela quisesse ficar na minha casa! Ela deu de ombros e disse tristemente. 

- Uma hora ele teria de voltar, não é!? Mas quem sabe eu não convenço o seu pai a me deixar ficar por aqui enquanto estou debilitada?!

Sorri pra ela. Eu realmente adoraria se ela pudesse ficar conosco, mas seria complicado. Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos.

- Não é hora de pensar nisso! Por enquanto você tem que ficar aqui e receber o tratamento do renomado Doutor Cullen. – eu disse pomposamente fazendo-a rir. - Que tal um misto quente feito pela minha mãe?

- Hmm! Eu adoraria! - ela era realmente uma gulosa, ainda mais se tratando da comida da minha mãe. Sorri com gosto e desci até a cozinha para pedir o misto pra minha mãe. Era realmente bom voltar aos velhos tempos!

~*~*~*~

*Natasha PDV*

Era realmente bom voltar a ver a lua. Depois de muitas noites sem poder andar direito, o doutor Cullen se apiedou de mim e me trouxe até a varanda da casa deles. Na verdade aquilo era mais que uma varanda, afinal ninguém tem uma floresta imensa e antiga no quintal de casa! E que casa! Paredes de vidros, quartos imensos, cozinha lotada de comida!

Fiquei admirando o fraco brilho da lua minguante sobre a copa das árvores. Podia até ouvir um rio ao longe. Pensei nas coisas estranhas que aconteceram nos últimos dias em que estive parada na casa dos Cullen. Eu e Nessie sempre saíamos, por isso, eu nunca havia parado para observar a família dela. Agora que eu estou travada nessa cadeira eu tinha... tempo livre demais.

Comecei a reparar em coisas que antes me passavam despercebidas. Primeiro: eles eram muuuuuuito brancos! Todos eles eram que nem papel novo. Segundo: eram todos muito fortes, e não estou falando só pelos homens (afinal Emmett parece um urso de tão grande!), porque já vi a mãe de Nessie, e até a pequena Alice, fazerem coisas estranhas. Tipo quando elas resolveram mudar uma estante de livros de lugar e a arrastaram sem nem suar. Poxa! Tinha muito livro lá! Terceiro: eles nunca dormiam! Sério, eu acordava de noite por causa da minha perna que dói pra caramba, e sempre ouvia alguém na sala conversando. Sempre!

Quarto: eram frios. E ao digo no sentido figurado! Antes eu achava que era porque moravam no meio de uma floresta e batia muito vento, mas notei que o frio vinha deles, eles eram frios. Pensando bem, eu nunca toquei nenhum deles, a não ser Nessie, e ela tem a pele quente, tão quente quanto se tivesse acabado de sair de debaixo do sol.

Estranho, tudo muito estranho. Sem contar que eles sempre param de falar quando eu chego, principalmente o pai de Nessie. Ele parece saber o quê eu faço, o quê eu penso. E parece que eles querem que eu saia da casa deles. Apesar de me tratarem sempre muito bem, eles se incomodam com a minha presença, como se eu pudesse descobrir algo a qualquer momento.

Esse pessoal é misterioso... e eu adoro um mistério!

- Porque tá com esse sorriso bobo na cara? - perguntou Alice Borboleta chegando de repente. Sobressaltei-me e corei.

- Não é nada. Só estou feliz por poder ver a lua de novo! - ela me sorriu docemente. Fique hipnotizada por sua beleza. Outro fato muito incomum (perdi a conta já.), todos eles eram bonitos. Ou melhor... LINDOS DEMAIS!

- Então pare de sonhar e vá comer! Bella preparou um macarrão pra você! - ela pegou a minha cadeira de rodas e me guiou até a cozinha. Aliás, será que algum dia alguém, além de Nessie, comeria comigo? Como eu disse, adoro mistérios!