Família, Amigos e Missões escrita por VanNessinha Mikaelson


Capítulo 5
Capítulo 5. O desespero do anjo caído




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  Capítulo 5 – O desespero do anjo caído

  Samael Estrela da Manhã circulou pelo cômodo por diversas vezes. Hora o fazia de maneira lânguida, com um ar melancólico; hora andava rápido, como se quisesse esquecer algo. Tentava, inutilmente, se acalmar. As visões, ou pesadelos, porém, não o deixavam em paz. Intranqüilo, pegou um bloco com antigas anotações que julgava serem relevantes. Leu a primeira folha e o jogou ao chão logo depois. Não estava com a mínima paciência para relembrar fatos passados. E aquelas linhas, de algum modo, os retomavam de uma forma implacável. Sentou-se na cama, pensou em deitar. Mas a imagem de Cass, lutando contra o fogo e contra a escuridão do abismo não permitiram que ele descansasse. Suspirou para conter o choro.

  – Era eu que devia estar lá, Deus. Eu sei quais são os meus erros murmurou. Engoliu em seco, tamanha era a perturbação que o dominava.

  Ao se recordar de que Miguel, na visão ou no sonho – não sabia bem ao certo definir o que era –, tentava pressionar Castiel a achar um jeito de abrir a jaula, um pavor o invadiu por completo. Sorriu, contudo, ao se lembrar que a fé inabalável do anjo se mostrava cada vez maior. Seria, portanto, muito difícil que o Arcanjo o convencesse de seus propósitos.

  – Ei cara, errrrrrr... – pigarreou o loiro, enquanto batia sutilmente na porta do quarto no qual Lúcifer se encontrava. – O Bobby fez café e comprou sanduíches. Você quer?

  O ex-rebelde se levantou em um salto. Gostava da atenção que lhe dispensavam, mas ainda considerava um pouco estranho ser tido como um membro do grupo.

  – Eu já vou. Obrigado, Dean – o tom era bastante gentil, tanto que o fez engasgar e tossir logo em seguida, devido à lancinante dor que o surpreendeu.

  – Ok. Mas... Ta tudo bem? – o caçador o escutou cuspir algo. – Quer que eu chame alguém pra ajudar?

  – Não será necessário, valeu – agradeceu, enquanto limpava as gotas de sangue que expelira há pouco.

  Lúcifer ouviu passos; concluiu, então, que o Winchester mais velho se afastava do cômodo. Ele sentiu uma dor aguda no pulmão esquerdo, o que o fez cuspir o líquido vermelho. Depressa começou a pensar. Não era viável que aquilo surgisse do nada. Alguém o atacou. Virou-se para pegar um pano e uma arma na mochila preta que sempre carregava consigo, quando sentiu um golpe violento no estômago. O impacto foi tão fulminante, que o levou a fechar os olhos e a bater as costas no gélido chão. Entretanto os reabriu poucos instantes após a pancada, o que foi o suficiente para que visualizasse o inimigo.

  – Você não desiste, não é, Kasbeel? – grunhiu, insatisfeito com a desvantagem.

  – Eu só vim esclarecer quão complexa é a vida de meu maninho no maldito buraco flamejante... Ah, claro, você sonhou com isso, não é? – Samael o olhou com raiva. – Vejo que sim. E sabe por quê? Porque fui eu que mostrei tudo! O coloquei a par da situação, irmãozinho...

  – Não me chame assim – sentou e, com agilidade, segurou o braço do jovem anjo com força. – Diga logo, o que veio buscar?

  – O rapaz, Adrian Campbell! Não se faça de idiota! – gritava, em tom de exigência. – Eu posso...

  – Escute bem, você não irá levá-lo! Pode fazer o que quiser comigo, os Winchester’s estão aqui e vão cuidar dele também...

  – Você confia mesmo nesses humanos ridículos, não é? – o ex-rebelde assentiu. – Bem, então não tenho outra opção – Kasbeel riu.

  – O que diabos vai fazer, cretino desgraçado? – Lúcifer emanava ódio em cada palavra pronunciada.

  – Vou dar a você uma visão privilegiada de meu maninho... Toda noite... Até que concorde com a entrega do sujeito...

  – Adrian Campbell não é uma mercadoria! Ele tem vontade própria e liberdade! – exclamou. – E escolheu ficar junto com a família dele!

  – Hum... É. Realmente você se importa e já se importou tanto com essas questões menores... Principalmente com o ir e vir desses macacos insolentes – debochou. – Temos tempo, diabo – o ex-rebelde franziu o cenho ao ser chamado assim. – Vamos com calma. Enquanto isso, Castiel continuará lá na prisão...

  – Olhe bem pra mim, anjo de merda... E bem nos meus olhos – interrompeu-o. As orbes azuladas de Samael estavam escuras de raiva. – Porque eu vou matar você, e não vai demorar, acredite.

  – Ah, sim, tem toda razão – riu, com desdém na voz, Kasbeel. – Não fique nervoso, nem se desgaste; o show só começou. Toda noite você vai ver um pedacinho do espetáculo... Curta-o bem! Saboreie os momentos! – e sumiu no ar após terminar a frase.

  Deitado, de olhos semicerrados, Lúcifer procurava forças para levantar. Vigor físico não lhe faltava. Porém não dispunha de forças psicológicas. Sabia que não haveria tortura mais cruel do que a proposta pelo oponente, entretanto tinha de ser forte; devia isso aos irmãos Winchester’s e aos parceiros que conquistara no convívio diário. Remexeu-se, dolorido. Arrastou-se até um canto do quarto e fechou os olhos; permitiu-se pensar em Castiel. Pretendia, mesmo que de longe, transmitir alguma energia ao anjo, embora não tivesse condições para tal.

  A concentração era tamanha, que sequer percebeu Dean ao seu lado. O loiro – que pegou a cópia da chave do quarto com Bobby –, entrou ali com o objetivo de verificar por que o amigo estava demorando tanto para ir à sala. Atrás dele, Sam trazia um pano úmido para passar na testa do ex-rebelde, caso fosse necessário.

  – Hum... Sammy – gemeu, em um balbucio quase inaudível. – Obrigado por tudo – falou, ao sentir o toque do caçador mais jovem.

  – Viu? Ele continua o mesmo com você! – exclamou, em um tom brincalhão, o Winchester mais velho.

  – Dean... Não é hora pra isso... Porra! Ele ta ardendo em febre! – comentou, ao passar os braços pelo amigo. – Vou levá-lo para a sala. Você fica aqui e vê se descobre algo, ta bem?

  – Ok, Dr. Sam Winchester – tornou a brincar. O mais novo não pôde deixar de rir; era bom ver o irmão com humor novamente.

  Deitou, às pressas, o ex-rebelde no sofá e esperou que ele abrisse os olhos. Notou, após alguns instantes, que a febre baixara significativamente, o que era animador.

  – Valeu – iniciou, com um meio sorriso. – Eu não ia ter forças pra me reerguer – completou.

  – O que aconteceu lá? – perguntou Bobby. – Atacaram você? Quando?

  – Sim. Foi Kasbeel, agora pela manhã. Ele quer, a todo custo, levar Adrian Campbell – contou, apenas omitindo o detalhe dos pesadelos que certamente teria.

  – Então acho que é chegada a hora de partirmos – sugeriu Sam. – Assim a pequena ficará segura, Lilith poderá nos auxiliar cuidando dela e Bobby nos ajudará com informações – concluiu.

  – É, concordo. Enquanto eu vou atrás de algum demônio, deixarei incenso e óleo sagrado para que Dean, você e o jovem chamem o anjo Baltazar. Pensei em uma forma melhor de invocá-lo; e é esta; assim será mais seguro pra vocês, a fim de que não se machuquem.

  – Ta. Mas vamos com calma. Descanse um pouco. Eu vou falar com meu irmão – disse Sam. – Cuide dele, Bobby – o velho caçador acenou positivamente.

  O Winchester mais novo – com a intuição aguçada que possuía –, sabia que algo estava errado. E sentia urgência em desvendar o que era. Por isso regressou ao quarto no qual Lúcifer dormira; necessitava conversar com Dean o quanto antes, embora a exaustão da madrugada anterior – por ter dado, por intermináveis quatro horas, uma grande quantidade de sangue à Lilith com o auxílio de Adrian –, o deixasse fraco para qualquer atividade – seja física, seja mental.

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  – E então, conseguiu descobrir alguma coisa? perguntou o mais novo, enquanto o loiro observava a mancha de sangue no chão.

  – Hum... Tô aqui pensando como Azrael seria útil agora – resmungou, ainda de costas para o moreno.

  – Por que diz isso Dean? O que há de errado? – Sam demonstrava nervosismo.

  – Aí é que ta, eu não sei. Não tenho a mínima idéia de como faço pra colher impressões digitais angelicais, se é que esses seres deixam isso por onde passam.

  – Bem, Kasbeel esteve aqui, se isso ajuda em algo – comentou. – Foi ele que atacou Lúcifer.

  – Ora Sammy, claro que ajuda! Se tivesse me dito isso antes, eu não teria pensado tanto nas possibilidades.

  – É, eu sei. Só que imaginei... E se talvez você conseguisse descobrir outra coisa? ... Sei lá.

  – Como o que, por exemplo? – o loiro se interessou pelo assunto. – Não me diga que sentiu algo diferente.

  – É. Mas não sei ao certo o que é. Só sei que nunca senti Lúcifer tão angustiado.

  – Por que você não fala com ele, então? Talvez seja mais fácil, não acha? – sugeriu.

  – É, tem razão. Mas vamos pegar a estrada e fazer o trabalho, enquanto que ele vai procurar um demônio...

  – Peraí Sammy, eu tô com um péssimo pressentimento sobre isso. Tenho certeza de que ele vai torturar alguma criatura pra obter informações...

  – Ta, e o que tem isso? São demônios, Dean – o mais velho o olhou impressionado.

  – Agora eu entendo por que você era o receptáculo de Lúcifer – comentou, o tom brincalhão.

  – E desde quando você se importa com entidades malignas, receptáculo de Miguel? – rebateu, brincando, o mais jovem.

  – É. Mas eu não tô pensando neles! Mas sim no nosso amigo. Ele vai torturar alguém, sei como isso é prejudicial.

  – Ta, eu concordo. Entendi aonde você quer chegar. Vamos fazer o seguinte então, temos tudo pronto pra invocar o anjo Baltazar. Faremos o serviço e, depois, voltamos pra cá. E eu aproveito pra conversar com Samael aqui na casa do Bobby, certo? – o loiro assentiu.

  Os Winchester’s retornaram à sala após limpar o chão sujo de sangue. Combinaram com o ex-rebelde de se encontrarem ali assim que terminassem suas respectivas missões. E começaram a se preparar para ir embora. Dean juntava as armas e tudo quanto conseguisse para levar na viagem, enquanto que Lúcifer lhe explicava o modo correto de chamar um soldado do exército angélico. Bobby, por sua vez, se ocupava em entreter Evelin com alguns brinquedos que conseguiu.

  Era a oportunidade perfeita para que Sam fosse ao quarto no qual Lilith repousava. Como imaginou que ela estivesse acompanhada, bateu à porta. Ao escutar o consentimento de que podia adentrar o cômodo, o Winchester mais novo a fechou atrás de si logo depois. Vislumbrou, um tanto constrangido, Adrian deitado ao lado dela.

  – Errrrrr... Eu... N-não... Q-quero atrapalhar vocês – a mulher e o rapaz riram.

  – Não precisa ficar assim, Sam, ta tudo ok – disse ela. – E vocês, estão bem?

  – Sim. Samael foi atacado há pouco, mas ta tudo em ordem. Eu vim avisar que vamos partir logo. E vim perguntar se vocês estão bem – os dois assentiram positivamente.

  – O seu sangue me fez recuperar toda força – respondeu Lilith. – Obrigado, Sam.

  – De nada, conte comigo. Bem, vou dar um tempo pra que vocês conversem mais um pouco. Estamos esperando você lá na sala, Adrian.

  – Ok – o jovem Campbell se levantou e segurou o caçador pelos ombros. – Obrigado por tudo – o tom era sincero e amigável.

  – De nada cara, se precisar de qualquer coisa é só dizer – o Winchester mais novo saiu do cômodo e voltou à sala para ajudar Dean a arrumar as malas.

  Cerca de uma hora depois tudo estava pronto. Os caçadores partiram de Dacota do Sul; rumavam à Califórnia, para irem ao encontro do soldado Baltazar – o responsável por trazer Adrian Campbell à vida novamente, enquanto que Samael Estrela da Manhã tomava o lúgubre caminho do inferno, em um ritual específico para tal.


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