Família, Amigos e Missões escrita por VanNessinha Mikaelson


Capítulo 2
Capítulo 2. Explicações de um jovem caçador




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Capítulo 2 – Explicações de um jovem caçador

O caminho até Dacota do Sul foi bem mais longo do que comumente costumava ser. Embora o loiro corresse a 120 quilômetros por hora, não chegavam ao destino desejado: a residência de Robert Singer. Como o clima dentro do Chevy estava péssimo após a quase discussão entre Dean e Lúcifer, ninguém ousara proferir uma palavra amais após alguns diálogos curtos dentro do negro Impala 67. Até mesmo o rock fora desligado; não havia sentido deixá-lo tocar. A única coisa que se ouvia, vez por outra, era o Winchester mais velho perguntando a Sam como se sentia, devido aos golpes que sofrera no rosto e na cabeça. O mais novo, contudo, se limitava a permanecer em silêncio; apenas fazia um sinal de positivo com o dedo indicador da mão canhota para reiterar que tudo estava em ordem, e tornava a olhar para a estrada que passava veloz.

Por escassos momentos, Sam se ateve a encarar, com o canto dos olhos, o ex-rebelde. Procurava captar, na expressão aparentemente impassível do outro, algum sentimento – seja de raiva ou até mesmo de impotência –, e porque não dizer, algo de humano nas orbes azuladas. Riu para si próprio ao pensar nisso, pois o amigo era um anjo. Jamais poderia sentir, dimensionar ou ter a confusão que os homens sentiam. Mas foi em um dado instante, que o rapaz jurou ter visto uma lágrima cair, rolar pelo rosto do ser alado. Com o objetivo de se certificar disso, Sam o observou com maior atenção. E constatou, com um olhar preocupado, que era verdade: Samael chorava quase que em silêncio, a fim de não alarmar os ocupantes do veículo.

Os soluços dele, no entanto, se tornaram mais altos e nítidos, o que propiciou a Bobby que solicitasse o seguinte a Dean:

– Pare o carro, por favor – o loiro não entendeu bem o porquê, o que o levou a contra-argumentar:

– Eu não posso estacionar aqui, esse lugar é deserto e podemos ser surpreendidos... Ou atacados por demônios...

– Eu não pedi a você para pará-lo, será que não me entendeu? Eu quero que pare a porra do carro agora mesmo!... É uma ordem! Fui claro? – assustado, o Winchester mais velho o atendeu e estacionou o Impala no acostamento. Somente quando o fez conseguiu olhar, pelo retrovisor, quão triste Lúcifer estava.

– Ei cara, o que foi dessa vez? – a questão soou em um tom impaciente e agressivo.

– Nada – respondeu, enquanto limpava os olhos com as mangas do casaco escuro que trajava. – Siga viagem.

– Nós vamos recuperar o Cass, não fique assim, tudo vai dar certo. Até porque, não adianta chorar agora que a merda toda ta feita...

– Torne a dirigir, Dean, pelo amor de Deus – Sam e Bobby falaram quase que ao mesmo tempo. E o loiro, após bufar contrariado, obedeceu.

Como não se encontravam longe de Dacota do Sul, o restante do percurso correu com rapidez. Assim que lá chegaram, Robert Singer mostrou ao jovem Campbell – que se mantivera calado durante praticamente toda a viagem –, a residência na qual a filha do garoto, Evelin, permaneceria até que tudo fosse resolvido. Em seguida eles se dirigiram à sala, onde os Winchester’s conversavam em um tom elevado de voz.

– Eu não comentei porcaria nenhuma... Muito menos pra que ele saísse de forma sorrateira, o que, aliás, ta virando rotina! Dean gritou, inconformado com o que o mais novo lhe dissera.

– Eu sei cara, só que você foi um tanto rude lá na estrada, quando o Bobby falou pra pararmos; precisa tentar ter mais cuidado, apesar de que eu reconheço que essa não é uma especialidade sua – rebateu o outro.

– Você sempre fala isso Sammy, quando diabos vai parar de me regular? – os olhos verdes do mais velho transmitiam toda a insatisfação pelo áspero diálogo que se desenvolvia. – Eu só acho que não preciso tratar com tamanho carinho alguém que pretendia destruir o planeta em um apocalipse desgraçado... Ou será que preciso? Tudo bem, ele é meu amigo e tal, mas daí a considerá-lo como da família já é demais!

– Nós fomos ajudados por ele antes, quando Kasbeel aprontava pela Terra, em catástrofes muito piores. Eu sei que Lúcifer já cometeu vários erros no decorrer da história, porém eu sinto que o anjo quer arrumar as coisas, por que não podemos lhe conceder uma segunda chance? – Bobby, que se mantinha de pé no corredor que dava para a sala, suspirou, impaciente com a discussão, enquanto que Adrian sentava no chão ao lado do experiente caçador.

– Nós podemos lhe dar quantas oportunidades quiser, cara, eu não disse nada diferente disso... Só não o considero como você... É como se reeditássemos a Ruby...

– Ok, agora já chega dessa droga! – o velho Singer tomou a palavra, interrompendo uma briga sem qualquer sentido. – Já deu pra notar que o anjo não tem nada de mal, que não quer ludibriar ninguém aqui... O sujeito não é nem um pouco demoníaco, e volta e meia você retoma esses comentários ridículos, garoto – o caçador apontou para o loiro. – Sam tem toda razão. Lúcifer apenas tenta fazer a coisa certa. O ex-rebelde sente muito porque Castiel se jogou no buraco que ele deveria estar... Isso deve ser o que se passa na cabeça dele. Nós sequer sabemos de tudo que aconteceu na época na qual Cass e ele faziam parte do grupo angelical do Paraíso, então não podemos julgar as situações tão precipitadamente agora. Sei que está nervoso porque as coisas tomaram esse rumo perigoso. E, acredite, eu também estou. Não sei o que teremos pela frente... E só há um modo de descobrirmos...

– O jeito é conversarmos com o rapaz ali... Escutarmos o que ele tem a nos dizer... Sam apontou para Campbell, que sorriu abertamente.

– Exatamente. Então será que dá para os dois menininhos mimados pararem com essa discussão ridícula e encararem os fatos?

Os Winchester’s se calaram. Quando Bobby ficava irritado, não ousavam comentar nada mais.

– Ótimo. Assim está bom. Onde o anjo se meteu, então? Ele saiu de minha casa?

– Não, estou aqui, Robert – Samael surgiu por detrás de uma das portas de um dos cômodos e sentou em uma cadeira, quase que de costas para os irmãos.

– Achávamos que tinha ido embora – falou Dean, surpreso com a aparição repentina.

– E fui. Busquei Lilith, que estava no hospital e a deitei em uma das camas, num dos quartos desta casa. Voltei há pouco, o suficiente para escutá-los – apontou para os Winchester’s. – Mas isso pouco me importa; vocês sempre discutirão a meu respeito; têm esse assunto como milenar. Só que o que quero é tirar meu... Hum... Resgatar Castiel de lá – o ex-rebelde quase o chamara de “meu anjo”, um dos tantos modos carinhosos que tinha de se dirigir a Cass.

Os irmãos se entreolharam. Perceberam a decepção e a mágoa crescer nos olhos angelicais do outro, que já os considerava como grandes amigos. De fato, Sam o era; mas que dizer de Dean? O anjo compreendia a desconfiança do mais velho, apenas não conseguia deixar de expressar seu descontentamento por lhe ter sido ocultado tal sentimento. Sim, Lúcifer queria ajudar o loiro a acreditar em si, porém assim ficava difícil.

– Aproxime-se, Adrian – tornou a falar; o som musical da voz de Samael Estrela da Manhã preencheu o ambiente; parecia que o ser alado recuperara a calma habitual. – Conte-nos o que sabe, por favor – puxou uma cadeira para que o jovem se acomodasse, enquanto que Bobby sentava no sofá, ao lado dos Winchester’s e chutava de leve as canelas dos rapazes, em um claro sinal de descontentamento acerca da ríspida e desnecessária conversa dos dois.

– Bem, comecei a ter sonhos estranhos muito antes de morrer; creio que não tenho uma boa noite de sono há seis anos – iniciou, após observar minuciosamente os prováveis companheiros. – Os pesadelos não cessavam, e eu sentia que me vigiavam...

– Você sempre foi um caçador? – perguntou Sam. – Há quanto tempo está nessa vida maluca?

– Nunca deixei de matar monstros e de caçar criaturas sobrenaturais. É um negócio de família. Meu avô, James, era colega de Sammuel, avô de vocês – apontou para os irmãos. – E meu pai, John, foi criado nessa vida amaldiçoada, bem como Mary. Só que meu pai morreu cedo demais – o semblante do jovem entristeceu. – Eu tinha cinco anos quando ele foi morto dentro de casa.

– E daí pra frente você quis seguir com o maldito negócio da família? – questionou Dean.

– É, eu queria vingança. Acho que esse sempre foi o mote dos Campbell – explicou. – Quando eu soube da violenta morte de Mary Winchester, tentei descobrir tudo que podia, mas os demônios não me deixavam chegar à conclusão alguma...

– Por que você não nos procurou, para se juntar a nós? – perguntou Sam. – Podíamos trabalhar juntos...

– Porque eu sempre fui perseguido. Quando me aproximava de vocês, em uma determinada cidade, eu era alvejado por todos os lados. Azazel tentou me matar por diversas vezes, e Ruby também. Mas eu sou um bom caçador – Adrian sorriu, o que fez o loiro relembrar a mãe. – Só que não escapei de Kasbeel...

– Por quê? ... O que aconteceu com você? – Lúcifer questionou, com um ar curioso.

– Foram as tempestades. Como sentiu que não me pegaria fazendo uso da telecinésia, ele utilizou um método mais natural.

– Você também tem habilidades psíquicas, bem como eu? – Sam quis saber.

– Sim, pertenço a uma geração logo após a sua – esclareceu. – Esse também era um dos motivos pelos quais Azazel não me queria perto de vocês.

– Hum... Perfeito! Mais um paranormal pra gente cuidar – resmungou o loiro.

– Não preciso que cuidem de mim, Dean Winchester – Campbell arqueou uma das sobrancelhas e fechou a expressão; mostrou-se insatisfeito com o murmúrio do outro. – Não quero me tornar um peso para vocês, apenas sei das condições a meu favor... Eu posso ajudá-los a trazer Cass de volta.

– Ei cara... Como assim... “Cass”? De onde você o conhecia? – o Winchester mais velho estava surpreso.

– O anjo sempre teve inúmeras missões; não protegia somente você, apesar de ter tamanha predileção, o que é inegável – o loiro pigarreou, incomodado com o comentário. – Como sabia da minha possível importância, Castiel costumava me passar instruções, isso antes do apocalipse iniciar.

– E enquanto Miguel tentava me combater de todas as maneiras, o que você fez? – o ex-rebelde demonstrava um interesse cada vez maior pela história contada.

– Derrotei exércitos demoníacos inteiros com a força da mente e me ative a fugir de anjos como Zacharias – comentou. – E eu soube da atitude um tanto arrojada de Sam de pular no buraco. Tentei trazê-lo de volta também, mas quando fui fazê-lo Rafael já havia começado toda a bagunça.

– É, foi um acordo que Lúcifer conseguiu; o Arcanjo o soltou no intuito de que viesse destruir o planeta ao lado de Kasbeel, o que Samael não concordou; passou, então, a me treinar, e tentou lutar contra o líder rebelde, mas Cass se atirou na jaula antes – falou Sam, o tom carregado de culpa.

– Exato. O anjo agiu assim porque os considera demais e porque não quer que Miguel retorne a superfície – disse Adrian, em uma tentativa de confortá-lo.

– Pelo jeito você conhece bem o Cass, não é? – Dean foi malicioso, tanto no olhar quanto na frase. – E me diga uma coisa, como consegue abrir a tal gaiola assim do nada?

– Eu tenho uma inscrição em minhas costelas, que foi feita quando Baltazar me trouxe de volta a Terra; sonhei, inúmeras vezes, com as frases em enoquiano, por isso as sei de trás pra frente. Com a tal inscrição posso destrancar a prisão e tirar Castiel de lá.

– E como você pretendia ajudar Sam antes, se não tinha a inscrição? – foi a vez de Bobby lhe perguntar.

– Eu queria encontrar os anéis dos cavaleiros, até tinha pensado em procurar Dean, mas logo Lúcifer e meu primo Samuel retornaram – tornou a falar.

– Então o que você ta esperando? Porque não faz a mágica agora mesmo e tira o Cass da jaula?

– Porque não é tão simples quanto eu gostaria, Dean – comentou o garoto. – Tem que ser em noite de lua crescente, e eu preciso de que um anjo seja voluntário – sorriu para Samael, como a indicar que precisaria do auxílio dele.

– Por que necessita de minha ajuda? – questionou, o tom dócil e musical de sempre.

– Porque fui informado de que retomou sua graça... Não é? – o ex-rebelde assentiu. – Então é através dela que Cass sairá do buraco – concluiu. – Apenas preciso recitar as palavras corretas na hora certa.

– Isso não deve ser difícil – comentou o loiro. – Vamos esperar aqui, é o mais seguro...

– Não considero sensato – ponderou Adrian. – Os anjos virão atrás de mim. Baltazar, principalmente. Ele, como o bom soldado que é, não está a serviço de outro lado que não seja o celestial.

– Devem tê-lo aprisionado nesse meio tempo, por isso retornou ao trabalho – sugeriu Lúcifer.

– Com certeza. Por isso os anjos me caçam, para que eu traga Miguel de volta e o apocalipse seja iniciado. E os demônios também me querem, porque eu sei como retirar almas do purgatório e trazê-las à vida...

– Peraí, garoto, nós não estamos entendendo absolutamente nada – Sam falou. Parou, porém, ao ver a expressão de Samael, que em um sobressalto se levantou da cadeira. – Há algo errado? – perguntou o Winchester mais novo.

– Demônios não entram no purgatório. É um local para almas humanas, para que limpem os equívocos e para que possam seguir o caminho que lhes convém – explicou o ser alado. – Mas há, também, almas perturbadas; e são estas as que os demônios querem obter.

– Então não podemos deixar os anjos chegar até o garoto e nem os demônios? Ou seja, voltamos à luta de sempre: deter o Céu e o inferno... Mas e quanto ao Cass? – Dean se mostrava impaciente.

– Eu vou libertá-lo – Campbell garantiu; o tom era seguro. – Mas temos de ir embora desse local, por favor... Eu não quero que minha filha morra... Nem que se machuque...

– Ah sim! Você só pensa nela... E nós, não somos a sua família também? – o loiro se indignou.

– Dean! – gritou Sam. – Quer parar com essa atitude infantil, não percebe que ele está aflito?

– Tudo bem Samuel, não se incomode com isso. Seu irmão tem toda razão, eu penso em Evelin, sim. Porque acabei de conhecer vocês, que são o que resta da minha família, claro. Eu gostaria de comemorar por tê-los encontrado, acredite; a realidade, porém, é outra aqui. E bem difícil. Temos de lidar com ela. Se quiserem minha companhia nessa jornada, eu terei o maior prazer em ajudá-los, mas não posso forçá-los a aceitar...

– Nós vamos libertar Castiel de outro jeito, não precisamos de um garoto que quer levar uma vidinha normal – disse Dean.

– Ok, eu entendo. Se precisarem de mim, sabem onde me encontrar: em um hotel barato dessa cidade – entregou a Bobby um papel com o número de seu celular e se dirigiu ao cômodo no qual Lilith estava.

– Você tem cocô no cérebro, não é? Só pode ser, porque não há outra explicação mais plausível – Singer falou. – Dean, ele é parte de seu passado...

– O problema é exatamente esse, cara, eu não suporto ter que lidar com alguém que lembre a minha mãe.

– Só que há tempo hábil para você acertar isso. Nós temos de trazer o anjo de volta... – rebateu o velho caçador.

– É, e eu vou deixar as minhas questões para depois novamente? ... Até quando?

– Hum... Egoísta desgraçado – murmurou Samael, enquanto saía, apressado, da sala; rumava para os fundos da residência, acompanhado por Sam.

O Winchester mais velho o escutou, entretanto não contra-argumentou, porque no fundo sabia que o ex-rebelde tinha razão. Ninguém dissera que os problemas de Dean não eram relevantes, somente sustentavam que retirar Castiel da jaula era uma prioridade inadiável. E o loiro também queria salvar o anjo. Apenas estava confuso por ter encontrado alguém que fazia parte de um passado obscuro: Adrian Campbell – o jovem corajoso e destemido, que lembrava Mary em inúmeros aspectos.


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Notas finais do capítulo

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Ei, reviews, por favor, preciso saber se devo prosseguir! Valeu!