Família, Amigos e Missões escrita por VanNessinha Mikaelson


Capítulo 3
Capítulo 3. Sentimentos ocultos




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Capítulo 3 – Sentimentos ocultos

O calor quase insuportável, numa tarde bastante ensolarada em Dacota do Sul, só podia ter uma inevitável conseqüência: chuva. E ela veio torrencial. As nuvens escuras no céu denunciavam esse fato, porém o ex-rebelde não se importava em se molhar. Ele apenas queria permanecer ali quieto, sentado em frente a residência, enquanto ouvia, sem o menor interesse, Bobby esbravejar com Dean em alto e bom som. O velho caçador falava a respeito das inúmeras palavras sem razão ditas pelo loiro há meia hora.

A água caía em grossos pingos, que encharcavam o casaco negro do anjo. Ao lado dele, com uma expressão preocupada e confusa, Sam observava o horizonte sem conseguir encarar o amigo. O Winchester mais novo sabia que o ser alado amava Cass de um modo superior ao fraternal, mas isso não o incomodava. Ao menos não tanto quanto gostaria – ou até mesmo não tanto quanto acreditava. Por um momento, há alguns meses, Sam pensou que sentiria ciúmes, que não aceitaria a inevitável reaproximação dos anjos. Com o passar do tempo, entretanto, compreendeu que não devia fazê-lo; primeiramente porque gostava muito dos dois; e em segundo lugar, porque não sabia exatamente o que sentia pelo ser que o tomara por receptáculo. Então achou por bem se ater a um motivo maior e muito mais urgente: o desespero do outro. O jovem caçador notava que, a cada treino, a cada trabalho solucionado, a cada hora, minuto, segundo ou instante que eles passavam em uma convivência diária, a situação se tornava insuportável e insustentável para Samael. E, decidido a ajudar, tocou de leve no ombro do anjo, enquanto dizia:

– Aqui ta ruim de ficar. Não quer entrar? Nós podemos reiniciar a conversa – sugeriu, sem encontrar uma forma mais adequada de lhe chamar a atenção.

– Eu não sei. Seu irmão está lá... Por que não vai até ele? – perguntou, o tom extremamente baixo e melancólico.

– Eu não acho que seja uma boa hora para sentar perto do Dean – brincou. – Bobby ta xingando ele, então não vou me meter – sorriu.

– Peraí... Não entendi – o olhou curioso. – Você quer que eu entre para quê, exatamente, se não vamos permanecer na sala?

– Para saírmos desse aguaceiro, de preferência esclareceu. – Caso contrário teremos de providenciar outras roupas para nós.

– É, tem razão. Mas eu não vou, valeu – a expressão era vazia, até bem mais do que antes. – Vá você, por favor.

– Estou tão preocupado... Não queria que tudo fosse dessa forma, só que infelizmente é... – suspirou e esperou alguma reação do outro, que se manteve imóvel; esperava a conclusão do raciocínio do Winchester mais novo. – Sinto que você precisa desabafar, que a dor não cabe mais aí dentro – apontou para o peito do amigo.

– É, mas eu não tenho escolha. Se expressar tais emoções eu irei longe demais... Não é esse o meu objetivo principal... Cass pulou no maldito buraco... E eu permaneci aqui engoliu em seco e continuou: – Esse é o pior castigo que eu poderia receber. Sei que só falo em minha dor, que posso até ser egoísta por pensar desse jeito, me desculpe...

– Não, ta tudo ok. Eu entendo por quais motivos você se refere assim ao assunto; é porque o ama – Lúcifer o olhou nos olhos. Demonstrava surpresa ao ouvir o rapaz.

– Como sabe disso, Sammy? Eu não disse nada ainda... Quis esperar isso tudo passar... – o jovem caçador sorriu, mostrando as benditas covinhas.

– Eu sinto que você o ama, e, quer saber, rezo pra vocês se reencontrarem – a expressão do anjo mudou; transmitia alívio. – Jamais pensei que estivesse me enganando. Percebo que a minha conexão com você será assim por um bom tempo, e isso me fez compreender as coisas, sem que eu precisasse ser imaturo e agir de cabeça quente...

– Obrigado... Muito obrigado – falava sincero, enquanto pegava a adaga que deixara a mão. – Corra para dentro – a frase era simples, sem deixar margem para questionamentos.

– Por quê, o que há? – Sam se levantou, como que a observar o ambiente ao redor.

– Vá, por favor. Como estamos na rua, não existe proteção aqui. E eu não quero que você saia ferido... Não dessa vez – em um movimento rápido, Samael empurrou o Winchester mais novo para o lado, ação que foi suficiente para impedi-lo de ser atingido no peito.

– Ora ora! Resolveu bancar o protetor bondoso agora? – debochou Kasbeel, que apareceu no ar com extrema velocidade. – Francamente, maninho, isso não faz nem um pouco o seu gênero – o tom de desdém era cada vez mais expressivo.

– O que quer aqui, idiota de merda, anjo filho da puta? – rosnou Dean, que assistira a cena do ex-rebelde salvando a vida de Sam. – Venha... Levante-se, Sammy, vamos entrar.

– Eu não posso deixar nosso amigo sozinho aqui... – o loiro piscou para o irmão, como se soubesse o que fazer.

Eles entraram na casa apressadamente, enquanto que Bobby explicava a Adrian que um anjo – além de Lúcifer –, estava lá fora. E que era nada mais nada menos do que aquele que matou o garoto meses antes.

– Vieram me buscar – comentou, levantando da cadeira. – Só pode ser isso. Ótimo, vou até...

– Não, sente aí, cara – Dean pediu. – Eu sei o que vou fazer. Só preciso que confie em mim.

– Ta, eu sei quão bom caçador você é, além de ser um bom sujeito; Cass não costuma se enganar... E como me disse coisas maravilhosas sobre você... Eu confio!

O Winchester mais velho sorriu largamente com as palavras ditas pelo jovem Campbell. Começava, aos poucos, a simpatizar com o novo integrante da família.

– Ok. Fiquem quietos aqui; torçam para que Kasbeel não me veja – o loiro voltou à rua, sem saber ao certo como estava tudo por lá.

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– Vou matar você, desgraçado – murmurou Samael, o ódio emanava das orbes azuladas. – Por sua culpa Castiel foi parar no...

– Ei, seu tolo! Eu não fiz nada! E além do mais, também fui prejudicado... Veja – iniciou o raciocínio, enquanto observava ao redor; parecia ter visto alguém se aproximar. – Eu precisava de Jimmy Novak. Só que não o obtive por causa do... Dele – prosseguiu, pois pensou ser impressão a estranha sensação que teve. – E então, qual vantagem obtive? Nenhuma! E agora vim até aqui para buscar o garoto... Como se chama mesmo? Adrian Campbell, não é? – fez uma pausa e continuou: – Pois bem, necessito dele para abrir a jaula; como punição à tamanha afronta de meu estimável maninho, eu tirarei o receptáculo de dentro do buraco e o deixarei lá, para que aprenda a não ser tão suscetível a emoções humanas e tão e idiota...

– Não fale assim dele! – tomado por um sentimento incontrolável de raiva, o ex-rebelde atingiu, em um corte profundo, o inimigo no braço, o que foi suficiente para que Dean fizesse o símbolo e o tirasse do local.

– Ainda bem que funcionou! – o loiro respirou aliviado. – Não seria bom se o anjinho me visse aqui – foi até Lúcifer e perguntou: – Você está bem? – o outro assentiu. – Ok, vamos entrar, então?

Eles voltaram para dentro da casa. O Winchester mais velho secava, com uma toalha, as roupas que usava, enquanto que o anjo, de pé em frente à porta, pegava um pequeno frasco e fazia os outros símbolos necessários para manter os seres angelicais longe da residência.

– Como diabos você consegue? – perguntou Bobby. – Os desenhos não têm de ser feitos com sangue humano?

– Sim, e são. Cass me entregou uma boa quantia do sangue de Jimmy antes do duelo que o jogou lá juntamente com o receptáculo – contou. – É com isso que os faço.

– Mas... Não pode ser – iniciou Sam. – Jimmy estava com Cass, não poderia...

– Como foi dito, o humano escolhido por Castiel é um sujeito raro. Pode fazer várias coisas... Tem poderes inimagináveis – esclareceu, enquanto terminava os símbolos.

– E isso nos manterá a salvo? – questionou Adrian. – Por quanto tempo? Temos de pensar em algo pra fazer...

– Sim, por algumas horas estaremos livres dos chatos com asas. Mas você tem razão, temos de sair da casa de Bobby – admitiu Dean. – O lugar não ficará seguro para a pequena se decidirmos permanecer...

– Ah, agora entendeu? Eu não falei somente porque me importo com minha filha, mas porque sei o que teremos pela frente.

– Ta bem, você venceu. Partiremos amanhã bem cedo – garantiu o loiro. – Vamos atrás dos demônios, quem sabe não buscamos informações?

– Boa idéia. Assim podemos ter um ponto de partida – comentou, com um sorriso nos lábios, o anjo.

– Olhe, sem ofensas, mas como pretende iniciar a busca, se falaremos com demônios, Samael? – o Winchester mais novo quis saber.

– Tenho métodos bastante eficientes – garantiu. – E vai funcionar. Confiem em mim – Dean o observou; sentiu, pelas frases colocadas, que o ex-rebelde faria o impossível para obter qualquer notícia de Castiel. E, sem saber direito o porquê, o loiro intuiu como o outro agiria.

– Ok então... tá combinado! Como temos tempo até amanhã, sugiro que compremos cheese burgueres – falou o Winchester mais velho. – Eu tô cheio de fome!

– Então eu vou com você; não quero que se perca no caminho garoto – ironizou Bobby.

– Hum... Ta, papai! – respondeu, sarcástico. Todos riram da situação, enquanto que Sam auxiliava o ex-rebelde a verificar se havia sal em todas as frestas, portas e janelas, a fim de que ninguém adentrasse o lar.

Adrian, por outro lado, se dirigiu ao quarto onde Lilith descansava. Entrou no local sem bater à porta e a fechou logo depois. Observou bem a figura frágil da mulher e comentou, após se aproximar:

– Você vai precisar de sangue, caso contrário não vai resistir. Por que não chama Lúcifer para vir aqui? Ele não está acostumado a ajudar nesse sentido? ela se virou para contemplar o rosto do garoto.

– Eu não pretendo tornar a matar ninguém. Você sabe bem que tipo de alimento eu preciso, então não me sugira isso, por favor – comentou, após suspirar.

– Mas se não o fizer morrerá! – exclamou, alarmado. O rapaz fez uma leve carícia nos cabelos dela.

– Como pode sugerir que eu cometa essa loucura, se confiou a mim a tarefa de cuidar de Evelin?

– Porque Bobby a ajudará nisso. E além do mais, sei que você não a machucaria. A vida é feita de escolhas; você está aprendendo isso aos poucos. Mas no momento sabe que necessita do líquido...

– Por que age assim comigo, se só o auxiliei uma vez? – a mulher sorriu. Mostrava-se surpresa com a receptividade do jovem.

– Porque eu sou um Campbell – respondeu, o tom brincalhão. – Minha família tem história com demônios. Ei... Falando sério, eu devo isso a você, porque se esforçou pra me ajudar. É uma questão de justiça.

– Ta bem, você venceu. Vou esperar mais algumas horas. Se eu não melhorar, fale com Samael.

– Ok, tem duas horas – foi a vez de Adrian sorrir. – Depois desse tempo o colocarei a par da situação.

– Não acha muito pouco pra mim? Eu não vou ficar boa assim do nada... – disse, enquanto segurava a mão dele.

– Exatamente por isso – iniciou. – Se você não restabelecer as energias até lá, sei que as coisas poderão piorar. E não é o que queremos, ou é? – Lilith fez um gesto negativo com a cabeça. – Ótimo, assim ta bom. Descanse. Se precisar de algo é só chamar.

O jovem Campbell se despediu dela com um suave beijo em sua testa. Quando se virou para sair do cômodo, se deparou com Sam, que acabara de abrir a porta.

– Eu... Não tava vigiando vocês, longe disso. Apenas vim avisar que Samael buscou panquecas para Evelin.

– Ok primo, fique tranqüilo. E valeu por tudo – respondeu, enquanto saía do quarto.

– Ela ainda não ta legal? – perguntou o Winchester mais novo, que queria cooperar de algum modo. – O que há?

– Necessita de sangue. E tem de ser de crianças. É o alimento dela, mesmo que não seja mais uma demônia. A diferença é que não tem de fazer isso com a freqüência que fazia quando estava no inferno.

– Tem certeza que tem de ser de crianças? – Sam apontou para as veias em seu braço.

– Bem... Ao menos foi o que ela me disse. Por que quer saber? Há outra alternativa?

– Bem, não sei... Apenas tenho certeza que Lilith terá uma boa refeição com o meu sangue – respondeu.

– Hum... Seu irmão não vai gostar nada disso. Não quer esquecer essa possibilidade – sugeriu o jovem Campbell.

– É, eu sei disso. Mas não posso deixá-la morrer. E não permitirei que mate também. Então não vejo outra opção aqui.

– Ok. Vamos esperar; quem sabe lanchamos primeiro. Até porque, Lilith me pediu duas horas para verificar se consegue se equilibrar sem o sangue. Se não der certo, levarei você até o quarto.

– Ta bem então. Assim fica bom pra todos nós. Busque a pequena; Bobby e Dean estão chegando – o garoto assentiu.

Os caçadores, o anjo e Evelin jantaram em silêncio, devido à fome que os consumia. O loiro perguntou se a mulher não viria comer algo; e Adrian respondeu que não. Assim que terminaram a refeição, o velho Singer foi para seu quarto descansar e ler um pouco, enquanto que Dean, exausto pelo dia agitado, se acomodava no sofá da sala mesmo.

Samael, por sua vez, trocou rápidas palavras com o jovem Campbell, que embalava a pequena em seus braços, a fim de que ela dormisse. Sam, por outro lado, limpava os pratos e copos na cozinha, como que a esperar um sinal do caçador mais novo. Como o ex-rebelde se recolheu em outro cômodo, aquela era a hora perfeita para fazerem o procedimento.

– Você é bem mais parecido com Mary do que eu pensava ser, Samuel – disse o garoto, após levar a filha ao quarto de Bobby, como o velho lhe pedira minutos antes.

– Acha mesmo? Por quê? – questionou, em baixo tom, surpreso com a observação.

– Porque nós, Campbell’s, tomamos decisões um tanto inusitadas. E é isso o que você vai tentar fazer lá dentro – apontou para o cômodo no qual a ex-demônia se encontrava.

– Só não acho correto deixá-la morrer assim. Eu já a matei antes, por causa dos malditos 66 selos; preciso fazer algo para me redimir.

– Mas tinha de ser assim. As coisas deveriam tomar o rumo que tomaram – o Winchester balançou a cabeça negativamente.

– Não sei não, cara. Eu só penso que fui um besta quando acreditei na vadia da Ruby.

– É, tem razão quanto a esse fato. Mas se isso não acontecesse, vocês não conheceriam melhor o Cass, não conviveriam com Samael, e não me encontrariam.

– É, ta certo! – Sam admitiu, após refletir um pouco. – Vamos nessa, então? – perguntou.

– O sangue é seu; a decisão também; você que tem que estar pronto – brincou o mais jovem.

Em silêncio, rumaram para o local no qual Lilith repousava, enquanto que, no outro cômodo, Samael não sabia se o que o perturbava era uma visão ou um pesadelo.


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