CAPÍTULO 11 – Inesperadas Surpresas

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- Senhorita Swan. – chamou novamente o Diretor Aro Volturi. – Você tem que subir. – declamou brincalhão.

Arfei indignada e surpresa.

Este meu sonho estava ficando mais absurdo a cada segundo que passava. Porque, sinceramente, é óbvio que eu, Isabella Swan, ser coroada rainha do Homecoming é um delírio absurdo da minha mente perturbada, invejosa e doentia de adolescente, desejando chamar um pouco de atenção.

“Ok, criatura estranha.” – começou a Prazeres num tom de divertimento e censura. – “Para de ficar achando que o universo gira em torno de você! Comemore essa oportunidade, isso só acontece uma vez na vida. E mesmo que for um sonho, aproveite! Agora mova esse seu lindo traseiro de 17 anos para aquele palco. Imediatamente!” – ordenou maternalmente.

Maldita consciência de 30 anos.

Tomei uma respiração profunda, onde acabei fechando meus olhos, fazendo uma prece silenciosa para que as minhas pernas trêmulas não fraquejassem e assim sucumbissem, ou que meus lábios não gaguejassem com o nervoso aparente que sentia. Soltando o ar em uma lufada, caminhei tortuosamente até a escada de madeira compensada, forrada com um carpete cinza que levava ao palco.

Os rostos dos alunos espectadores era um borrão diante dos meus olhos. As palmas ou murmúrios – não sei afirmar com clareza – eram como trovões ou rojões para os meus tímpanos e cérebro. Tudo a minha volta não passava de algo tortuoso e manchado.

- Vamos dar uma salva de palmas para a rainha da nossa escola este ano. – escutei o Diretor pedir mais uma vez a todos. Um novo estrondo ruidoso tomou todo o ginásio da FHS.

Inesperadamente percebi que a senhora Cope veio me abraçar, assim como o Diretor, e tantos professores quanto eram possíveis estarem presentes em um baile. Minhas amigas, Rose e Alice; meu irmão Emmett, Jasper e por fim Edward.

Ah... Edward ele me abraçou.

Favor manter esse registro para a prosperidade, porque isso novamente nunca vai acontecer. Edward Cullen o futuro astro da NFL me abraçando. Vi comandando a mim mesma.

Depois do multirão de abraços, ainda me encontrava chocada e tentando absorver tudo o que estava acontecendo a minha volta. Em algum ponto eu fui coroada com a pesada tiara de strass e alumínio, feita artesanalmente pela filha da senhora Cope; e que também em algum momento colocaram um cetro brilhante e pesado em minha mão; assim como também uma faixa verde com letras douradas, indicando quem eu era naquela corte escolhida pelos alunos.

Entretanto, antes que eu pudesse me dar conta de todos estes eventos, o som contínuo e ininterrupto de um coro me tirou daquele estupor, ou daquele meu momento atônico.

- Discurso! Discurso! Discurso!

Claro. O universo me odeia, e não seria nesse sonho que isso mudaria.

Discurso? Puft! Justo eu, a criatura que odeia falar em público que apesar de ter me formado em Jornalismo escolhi trabalhar em editoriais de revista ou na imprensa escrita para evitar que a minha voz falhasse, que eu entrasse em pânico ou qualquer coisa do gênero.

Mas neste pesadelo uma multidão de alunos pedia para que eu fizesse a porra de um discurso. E agora?

Senti o nervosismo me tomando como um Tsunami, forte, inabalável e arrasador. Pressentia que em alguns segundos cairia dura e estendida completamente morta naquele palco.

- Senhorita Swan – o diretor começou me tirando parcialmente dos meus devaneios. –, seus súditos pedem, e a senhorita como Rainha eleita deles fornece. Por favor, seu discurso. – ordenou o Diretor Volturi levando o microfone que segurava em minha boca.

Se as minhas bochechas estavam rubras, elas passaram a ficar muito mais vermelhas. Eu sentia o calor da vergonha, da vermelhidão, subindo por meu pescoço me deixando da mesmíssima cor que morango maduro.

Meus olhos castanhos se arregalaram. O ar entrava pesado em meus pulmões. Minhas mãos suavam frio. Filetes de suor gélidos escorriam por minha nuca, deslizando por minhas costas quentes. Minhas pernas pareciam gelatina, moles e quase não sustentavam o meu peso. Sim eu iria cair dura, mortinha da silva em cinco, quatro, três, dois, um...

Fechei meus olhos, respirei profundamente e tentei controlar a minha respiração.

“Seja corajosa pelo menos uma vez na vida Isabella!” – ordenou como um incentivo a maldita Prazeres.

Já disse hoje que eu odeio essa maldita consciência de 30 anos? Não? Então odeio essa infeliz da Estraga Prazeres.

Soltei o ar que estava preenchendo os meus pulmões, abrindo meus olhos lentamente para encarar toda multidão que me encaravam expectantes.

- O-ob-obrigada. – consegui balbuciar com a voz trêmula.

- Ahhhhhhh... discurso! Discurso! Discurso! – pediam. Desta vez não consegui controlar meu nervoso, tremia como uma vara verde, totalmente nervosa. Senti algum braço quente me segurando, mas não fazia ideia de quem era. Estava me focando em não ter um treco.

- Ok, ok, ok – interrompeu os protestos gerais o diretor. – acredito que a senhorita Isabella Swan esteja nervosa e ainda surpresa por ter sido coroada como Homecoming Queen.  Vamos novamente saudar ela e toda a corte. – pediu novamente, com ele próprio iniciando os aplausos.

Suspirei relativamente aliviada pelo o Diretor Volturi me liberar de fazer o discurso que os meus colegas pediam. Tentando me focar em outra coisa que não fosse meu nervoso admirei a platéia. Em meio à multidão alvoroçada consegui identificar o olhar choroso e orgulhoso de Angela. O sorriso contemplativo de Ben. O sorriso e a animação de Alistair, por ver que seus esforços em minha campanha como Rainha do Baile de Boas Vindas surtiram efeito. Como também conseguia visualizar o sorriso invejoso e contrariado de Jacob Black, ou ainda a fúria doentia de Tanya que escorraçava suas sombras, as ‘plastics’.

Admirar tudo aquilo fez com que meus nervos se acalmassem. Os aplausos ainda eram incessantes, mas como tudo em um baile, eventualmente eles pararam e muitas fotografias foram tiradas em um estúdio improvisado pelo clube de fotografia da escola.

Os flashes me cegavam.

Teve foto de mim sozinha. Colocando a coroa. Sem a faixa com os dizeres “Homecoming Queen 1997”. Com o cetro. Com Rosalie e Alice. Nós três com nossas respectivas faixas. Nós três sem as faixas. Nós três de lado, de frente. Depois a corte completa, com faixa e sem faixa. Uma com cada membro da corte. E por fim uma longa seqüência com o Rei e a Rainha do Baile de Boas Vindas.

Eu e Edward.

Repetimos as mesmas poses de antes, com faixa e sem faixa. De corpo inteiro. Só de rosto. Mas para completar o conjunto das fotos do Rei e da Rainha, havia também fotos nossas de mãos dadas, abraçados, com Edward colocando a coroa em minha cabeça e vice-versa também. Com ele beijando a minha mão. Ele ajoelhado na minha frente me encarando com olhos brilhantes.

Foram tantas, mas tantas fotografias, que quando o calouro do primeiro ano que fotografava enfim disse ‘acabou’, foi inevitável que eu suspirasse aliviada.

Meus pés estavam extremamente doloridos, tudo por causa dos enormes e torturantes saltos que usava. Meu estômago doía de fome. Minha garganta estava seca de sede. Foi meio que mancando que retornei a mesa em que meus amigos estavam sentados, com Edward ao meu lado cuidando para que eu não caísse.

- Viva a Rainha! – gritou Emmett, quando nos aproximamos da mesa.

Sim, meu irmão era uma criatura estranhamente feliz e absurdamente escandalosa.

- Viva o Rei! – gritou em seguida.

Corrigindo a minha sentença anterior: Emmett está feliz e escandaloso porque está bêbado. Com toda a certeza ele deve ter se esbaldado do ponche que ele próprio batizou, com uma garrafa de vodka comprada com a sua identidade falsa em algum posto de beira de estrada ou em algum mercado em Port Angeles, já que em Forks ninguém vendia bebidas alcoólicas para o filho do Chefe quando este ainda fosse menor de idade.

- Shiii Emm. – pedi, ainda envergonhada por estar atraindo tanto a atenção. Tudo por estar usando uma maldita coroa de strass.

Meu irmão rolou os olhos.

- Qual é Bella? – protestou como um crianção. – Você se tornou Rainha da escola, o mínimo que eu como seu irmão devo fazer é comemorar, e você também!

- Emmett tem razão Bella. – concordou Alice. – Você é a nossa rainha! – proferiu estridentemente batendo palmas e praticamente pulando na cadeira que estava sentada.

- É... Rainha... yeah! – concordei fingindo empolgação.

- Credo Bella, você está com fome por isso esse desanimo? Ou é porque você realmente não gostou de ganhar? Saiba que eu fiquei imensamente feliz de passar a coroa de Rainha da Escola para você! – proferiu Rosalie. E como sempre a minha futura cunhada com o dom de me fazer sentir culpada.

- Só fome. Sede. – murmurei com um sorriso amarelo.

- Vou pegar um ponche para nós. – informou Edward, saindo à largas passadas em direção a mesa de bebidas. Retornou logo em seguida com copos de papel verdes com listras douradas, estampando as cores da escola, como tudo naquele ginásio.

Apesar do sabor marcante do cranberry e da limonada, ainda era possível sentir o gosto suave da vodka que Emmett colocou na travessa de ponche. Fiz uma careta quando engoli um gole.

- Todos estavam batizados. Emmett fez um bom trabalho. – explanou Edward, dando de ombros.

- É eu imagino. Não está tão ruim. É bebível. – afirmei, dando mais um grande gole, recebendo um sorriso enviesado de Edward que bebia um gole de sua bebida também.

Felizmente não tive que ficar muito tempo com aquele suco de frutas recheado com bebida alcoólica no meu estômago vazio, uma vez que as garçonetes do serviço de Buffet contratado começaram a entregar em cada uma das mesas os pratos com os salgados.

Eu parecia uma retirante que viajou em um caminhão aberto, atravessou a fronteira do México com os Estados Unidos que fazia dias que não comia de tão faminta que eu estava. Literalmente avancei para o prato comendo em uma velocidade enervante.

- Pelo menos a nossa Rainha tem apetite. – comentou divertido Jasper.

- Você não imagina o quanto Príncipe. – murmurei desdenhosa pegando um mini-hambúrguer e devorando-o em duas dentadas.

Como os outros já haviam comido enquanto Edward e eu tirávamos nossas fotos, o prato trazido pela garçonete foi para nós, ou quase para nós dois, já que Emmett morto de fome como sempre o atacou com extrema gulodice.

- Emmett Swan! Deixe sua irmã e Edward comer! – exclamou autoritária Rosalie, de uma maneira muito igual a que a Rose de 30 anos, casada com Emmett, fazia quando ele agia feito um esfomeado ou um crianção.

Logo eu estava absurdamente satisfeita por enfim estar com o estômago cheio, e nem mesmo o ponche batizado parecia mais tão ruim como antes. A banda que fora contratada para tocar no baile fazia um número de grandes clássicos do Pop/Rock nas décadas de 60, 70, 80 e 90, fazendo com que todo o salão se animasse e começassem a ocupar a pista de dança.

Estávamos rindo de uma piada idiota de Emmett, que eu mesma já tinha o ouvido contar umas dez vezes, quando escutei a voz aguda e anasalada de Tanya ao meu lado.

- Como você conseguiu fraudar essa eleição?! Você não merece essa coroa! – vociferou, enquanto suas ágeis mãos iam para a minha cabeça para afanar a coroa de strass que agora me pertencia.

- Ei! – exclamei surpresa, levando minhas mãos a minha cabeça para proteger não só minha coroa como também meus cabelos e afastando o máximo que conseguia dela.

- Me dá sua baranga! Ela é minha por direito! – brandiu avançando novamente seus braços para os meus cabelos. Antes que ela pudesse agarrar meus fios castanhos, algo que por muito pouco ela não fez, Emmett pegou Tanya pela cintura e a afastou de mim.

- Você está louca? – inquiriu em uníssono Emmett, Rosalie, Alice, Jasper, Edward e eu.

- Sua piranha! Como você conseguiu? Você nunca ganharia essa eleição! Eu... eu paguei para que essa vagabunda loira não ganhasse! – exclamou apontando o seu dedo fino e longo com unhas postiças pintadas de rosa choque para Rosalie.

Todos arregalaram os olhos diante da frase de Tanya, que havia atraído a atenção de todo o ginásio ou boa parte dele. A banda escolheu aquele momento para fazer um tempo, parando de tocar, assim possibilitando que todos prestassem a atenção no show que a loira morango dava.

- Bom – começou Rosalie divertida. – seu esforço valeu à pena. Eu não ganhei Tanya, mas a candidata que eu votei sim! – sorriu vitoriosa a futura esposa do meu irmão.

Como é que é? Rosalie votou em mim? Mentira... não pode. Não mesmo.

- Pelo voto de todos nós que a Bella se tornou Rainha. – interferiu Alice com os olhos verdes endurecidos de ódio. – Todos nós aqui votamos na Bella.

Ok, ok, ok, alguém me belisca?! Quando foi que esse Baile de Homecoming virou o Baile da insanidade? Eu havia bebido tanto ponche batizado para começar a ter visões equivocadas, ouvindo coisas irreais? Só pode.

- Mentira! – vociferou Tanya. – Vocês podem ter votado nessa bruaca, mas e o restante da escola? Eles me amam, não... não esta coisa! – brandiu ofendida, apontando seu dedo para os alunos da escola que admiravam o espetáculo.

- Olha sua loira azeda – interferiu Alistair afetadamente. -, todas as cédulas de votação estão na sala do Grêmio Estudantil. Se você quiser dar uma conferida nos votos irá notar que os únicos cinco votos que você recebeu foi o seu próprio e de suas capachos.

A loira estreitou os olhos.

- Foi você não foi sua bicha desgraçada?! – gritou, lutando novamente nos braços do meu irmão para poder avançar em Alistair.

O garoto de cabelos negros oleosos rolou os olhos.

- Nem todos jogam sujo como você Tanya. Bella conseguiu vencer por mérito próprio. – expôs Angela com as bochechas vermelha de raiva.

Tanya rangeu seus dentes, olhando vingativa para todos nós, deixando seu olhar para mim por último.

- Você pode ter mudado o jeito de se vestir Isabella, mas você ainda é aquela nerd nojenta, molambenta que era. É só uma questão de tempo que todos se afastem. Você pode ter essa coroa, pode ser uma cheerio, mas sempre, sempre será a mesma estúpida, idiota e fracassada Isabella Swan. – brandiu vingativa.

- É melhor você ir embora Tanya. – interrompeu tranquilamente Jasper. – O Diretor está vindo e você não quer uma detenção, quer? – questionou sem emoção.

A garota de cabelos loiros avermelhados olhou mais uma vez para todos nós.

- Me solta seu monstro! – exigiu que Emmett a soltasse. Rapidamente meu irmão a liberou, e por pouco ela não caiu no chão.

- Vocês me pagam! – exclamou ajeitando seu vestido e cabelos. – Principalmente vocês dois. – apontou para Edward e para mim, antes de sair marchando pesadamente.

Ficamos observando ela saindo marchando irritada, sendo acompanhada em questão de segundos pelas suas comparsas.

- O que ela quis dizer com isso? Quer dizer, eu nem falei nada. – defendeu-se Edward confuso alguns segundos depois.

- Esquece maninho. Uma menina como Tanya ter o orgulho ferido como ela teve não é algo que está acostumada, mas ela não fará nada. Ela não tem tanta força assim para fazer algo contra ninguém. – comentou Alice despreocupadamente, retornando o seu lugar na mesa.

- Mas por que eu? Por que a Bella? – perguntou Edward ainda confuso.

- Edward, meu querido, você realmente é só um gênio quando está com a bola de Football em suas mãos mesmo. – divertiu-se Rosalie. – Tanya está puta da vida porque você não a chamou para o Baile, mas sim convidou a Bella.

- Andam dizendo que vocês são um casal. – comentou despreocupadamente Alistair que ainda estava perto de nós.

- O quê? – perguntei meio histérica virando-me para meu amigo Jornal da Escola.

Ele deu de ombros e rolou os olhos.

- É o que dizem Bella, mas óbvio que vocês não são um casal – explanou compreensivo. – ainda. – murmurou mais para si do que para qualquer outra pessoa, mas toda a nossa mesa conseguiu ouvir, já que alguém assumindo o posto de DJ colocou uma música dançante para tocar.

- Alistair! – avisei ameaçadora, arrancando grandes gargalhadas de todo mundo.

- Chega desse assunto chato, vamos curtir nosso Baile! – brandiu Emmett, pegando Rose pela cintura e a arrastando para a pista de dança, o que logo foi seguido por Ben e Angela e depois por Alice e Jasper. Alistair murmurou algo inteligível e também seguiu para a pista de dança sozinho, deixando Edward e eu sentados na mesa.

Edward passou a mão inúmeras vezes nos seus cabelos, os puxando, fazendo uma desordem pior do que a costumeira se acumular ali. Eu que saboreava um novo copo de ponche e admirava todos dançando, observei preocupadamente meu parceiro de laboratório.

- Hum... algum problema Edward? – perguntei atemorizada por ter feito algo que ele não gostou.

- Você quer dançar? – respondeu com uma pergunta. Sobressaltei-me diante da questão.

- Hum... er... eu não danço. – murmurei incerta. Ele sorriu torto, levantando-se de sua cadeira e estendendo sua mão para mim.

- É tudo uma questão de quem conduz Bella. – replicou dando uma ligeira piscadela para mim.

Me diz, tem como resistir a esse garoto?

Sorri timidamente sentindo as minhas bochechas ficarem absurdamente rubras, mas sem hesitar coloquei a minha mão sobre a de Edward e ele me guiou até a pista de dança. Quando estávamos a postos, ele colocou seu braço em torno da minha cintura, enquanto uma de minhas mãos ia para o seu peito e a outra ele segurava firmemente com a dele.

Lentamente Edward me guiava pelo salão de lá para cá ao som de Un-Break My Heart da Toni Braxton? Tem como 1997 ser mais brega do que isso? Juro que havia me esquecido completamente que essa música tocou tanto, mas tanto nas rádios aquele – esse – ano, que não tinha uma alma na face da Terra que não saberia cantar.

“Un-break my heart... Say you’ll love me again… Un-do this hurt you caused… When you walked out the door… And walked outta my life… Un-cry these tears… I cried so many nights… Un-break my heart, my heart…” – cantou completamente desafinada e cheia de graça a Prazeres, fazendo um coro mental comigo.

Pela primeira vez nessa realidade nós duas estávamos em sintonia, nos divertindo com a breguice que só os meus anos de adolescente poderiam ter. A voz de Toni Braxton ecoava pelos quatro cantos do Ginásio, vários casais se abraçavam mais apertado, trocavam carícias, beijos.

Foi a Prazeres a primeira a rir histericamente em minha mente tamanho era o ridículo daquela cena. Sem conseguir me controlar, comecei a segui-la rindo audivelmente. Tentei abafar meus risos quando vi alguns casais me olhando feio, mas quando pela segunda vez a cantora recitou o refrão acompanhado pela voz ridícula da minha consciência não consegui me controlar.

- Qual é a graça? – perguntou Edward rindo, contagiado pelo meu riso.

- Essa música. – respondi entre gargalhadas.

- O que tem ela? – inquiriu. – Anda tocando em todas as rádios. Em primeiro lugar em todas as listas de mais tocadas. – explicou com um sorriso enviesado.

- Eu sei. – concordei, tentando controlar as minhas risadas. – Mas é brega. Quem coloca uma música de pé na bunda para tocar em um baile de Homecoming de uma escola? – questionei divertida, controlando a gargalhada que estava prestes a sair novamente por meus lábios.

- Aparentemente o nosso DJ. – respondeu Edward, me girando para que eu encarasse Eric Yorkie com os olhos fechados e valsando sozinho próximo a parafernália de um DJ em 1997.

Desta vez, nem eu nem Edward conseguimos nos controlar e ambos caímos na gargalhada, recebendo muito olhares feios. Eu enterrei meu rosto do peito de Edward para abafar o som da minha risada, enquanto ele enterrava o seu rosto em meus cabelos também controlando a sua risada.

Os acordes finais de Un-Break My Heart soou por todo o ginásio, e antes que todos os casais se separassem já começou 2 Become 1 das Spice Girls. Assim que ouvi a introdução da música das inglesas minha risada imediatamente cessou. Meu coração inesperadamente deu um pulo e começou a bater descompassado, assim como senti o de Edward batendo mais forte, enquanto as suas mãos deslizavam de cima para baixo nas minhas costas.

Um calor estranho começou a subir pelo meu corpo a partir de onde as mãos grandes e calejadas, devido ao Football, de Edward estavam. Senti minha respiração ficando arfante, uma ligeira tontura começou a se alastrar por meu corpo, um aviso para que eu respirasse, mas quando fiz fui banhada pelo perfume de Edward. Seu aroma era amadeirado e cítrico, envolvente, sedutor, paralisante.

Com meu corpo mole, hipnotizado e deslumbrado pelos braços e pelo perfume de Edward, levantei o meu rosto que ainda estava escondido no meio de seu peito e encarei seus olhos. Os olhos verdes esmeraldinos dele estavam translúcidos, brilhantes, como esmeraldas líquidas e encarava os meus castanhos com uma intensidade esmagadora.

Engoli em seco.

Minha boca estava seca, por isto passei minha língua por meus lábios, movimento que foi captado imediatamente pelos olhos dele, e em seguida ele repetiu o mesmo gesto. A melodia da música das garotas de Londres era a trilha perfeita para aquele momento. Os olhos de Edward iam dos meus para meus lábios, e os meus repetiam o gesto.

Eu previa, eu sentia que em alguns segundos os lábios voluptuosos e bem delineados de Edward se encontrariam com o meu. Percebi ele se inclinando para frente, e minimamente eu também me inclinei. A distância era de pouquíssimos centímetros, eu podia sentir sua respiração, seu hálito mentolado batendo em meu rosto.

Fechei meus olhos esperando o contato suave de seus lábios, mas transcorrido cinco segundos ele não veio, ao invés disso surgiu uma Alice saltitando entre nós.

- O que foi Alice? – perguntou Edward ligeiramente irritado.

- Ei! Tá de TPM é Edward? – brincou, recebendo um olhar ferino de seu irmão.

- O que foi Alice? – inquiriu afastando-se completamente de mim e encarando a baixinha de sua irmã.

- Nós estamos indo embora. – anunciou. – Emmett e Rosalie querem ficar sozinhos, mas não podem sem ter ninguém com eles na casa da Rose, por isso eu e Jasper vamos fazer companhia. – suas bochechas se tingiram de vermelho.

- E por que eu e a Bella não podemos ir? – questionou o ruivo à menina de cabelos curtos espetados.

A Mestre dos Magos do mal rolou seus olhos idênticos o do seu interlocutor, cruzou seus braços e o encarou incrédula, e depois lançou um olhar para mim.

- Emmett não quer a “irmã” dele perto. – explanou fazendo grandes aspas no ‘irmã’.

- Ah! – murmurou Edward. – Algum problema com isso, Bella? – questionou apreensivo.

Me contive para não rolar os olhos em desdém. Nestes treze anos que Emmett e Rosalie estão juntos já perdi as contas de quantas vezes os ouvi “ficando sozinhos”. Na verdade posso até confirmar os dois me expulsando do meu dormitório na faculdade para “ficarem sozinhos”.

Balancei a minha cabeça.

- Problema algum. – respondi com um sorriso.

- Ok. Eu levo a Bella para casa. – determinou Edward a Alice.

- Eu esperava isso. – a baixinha sorriu e... ela deu uma piscadela para mim?

Alice, Jasper, Rose e Emmett se despediram rapidamente de nós, e antes mesmo que eu desse um abraço nas meninas, todos já estavam longe de mim que ainda continuava parada no meio do Ginásio com Edward na minha frente e dezenas de casais dançando as melodias melancólicas que Eric estava tocando.

Edward e eu nos encaramos por longos minutos. O que quase aconteceu antes de Alice nos interromper ainda estava muito vivo em nossas memórias. Eu sentia minhas bochechas ficarem rubras de vergonha, assim como as de Edward estavam.

- Vamos? – inquirimos os dois em uníssono, rindo logo em seguida.

- Vamos, já tivemos muitas surpresas por uma única noite. – murmurei timidamente.

- Muitas. – concordou Edward, enquanto juntos, lado a lado saímos do Ginásio, parando somente na mesa que ocupamos anteriormente para pegar as nossas coisas e dar um adeus a Ben e Angela que conversavam ao pé do ouvido, rindo de algo íntimo.

Pelo que parecia, todos sairiam com pelo menos um beijo no baile de Homecoming. Todos menos eu.

O caminho da escola até a minha casa foi feito em absoluto silêncio por mim e Edward em seu Volvo prata reluzente. O único som que circulava no automóvel era a melodia extremamente calma e suave de alguma peça de música clássica. Por passar das duas da manhã, as ruas de Forks estavam pacatas e quase vazias, a não ser por um ou outro estudante da Forks High School voltando para casa depois do Baile.

Edward reduziu a velocidade, parando silenciosamente em frente a minha casa que estava completamente escura. Meus pais já deveriam estar dormindo.

- Obrigada pela carona Edward. Passei uma noite muito agradável. – murmurei já com a minha mão na maçaneta da porta para sair.

- Eu também passei uma noite muito agradável Bella, você é uma excelente companhia. – respondeu, abrindo a sua porta e saindo, vindo agilmente para o meu lado.

- Não... – ele abriu a porta do passageiro, estendendo a mão para me ajudar a sair do carro. – precisava. – murmurei envergonhada.

- Era preciso sim. – balbuciou Edward, me ajudando a sair do carro, e quando já estava fora dele, fechando a porta em um baque surdo. Os olhos de Edward estavam fitando intensamente os meus, aquilo me deixou incomodada.

- Hum... então obrigada outra vez. – disse, me preparando para me afastar dele. Contudo, inesperadamente Edward segurou minhas mãos com as suas com determinada força.

O calor que emanava delas era abrasadora. Uma corrente elétrica estranha e extremamente boa passou por todo o meu corpo, começando de onde nossas mãos estavam conectadas. Encarei aqueles intensos e perfeitos olhos verdes que pareciam ver a minha alma. Novamente senti minhas pernas fracas e minha boca seca. Inconscientemente molhei meus lábios com a minha língua, o que atraiu o olhar de Edward, que também repetiu o gesto.

- Eu preciso... – comecei, mas fui interrompida por Edward.

- Dane-se, não consigo mais me controlar.

Com uma surpresa arrebatadora os lábios de Edward se conectaram com os meus.