Ás vezes eu sabia quais pessoas eram confiáveis, mesmo sem conhecê-las direito, eu só sentia. Algo falava na minha mente "Essa pessoa é de confiança". E eu ouvi isso quando ele perguntou sobre aquilo. Se eu não tivesse ouvido aquilo, eu teria dito "Não é da sua conta" e voltaria pra aula. Sim, seria um racha legal.

Mas eu só respondi aquilo, ainda olhando pra baixo, um pouco temeroso. já era um desafio olhar pra cara do professor Kress, ele tinha, sei lá, uns dois metros e pouco, agora ficava mais complicado ainda, com a droga dos gânglios no meu pescoço e meu astral ZERO. 

-Olhe para mim, Justin, quero que preste atenção nisso. - Levantei o olhar, ainda abatido. - Eu sei que é difícil pra você passar por isso...

-Como? - O fato de eu ser meio retardado impediu que a ficha caísse:

-Bom... Eu também sou. Desde que nasci. - Nossa. Isso era bem possível, eu sabia que sim, mas de qualquer maneira, me surpreendi maneiro.

-Mesmo? Não está brincando comigo?

-Não. 

-Mesmo?

-Mesmo, mesmo. 

Ok, aquilo foi bastante estanho. Mesmo. Quantas vezes já repeti essa palavra? Ok, isso não interessa agora, depois eu uso o Ctrl+F e vejo (modo simples de jogar papo fora). 

Eeh, voltando de mais de uma das minhas viagens:

-Eu só perguntei isso pra, se você tiver alguma dúvida quanto a isso, eu posso te ajudar.

-Valeu... - Eu tinha que me redimir com ele por achar ele gay... O professor Kress era até legal, percebi isso quando comecei a falar mais com ele. 

-Olha... Só vou livrar você de uma advertência por que o seu caso é mais delicado... - Ele respondeu, entre um sorriso. - Vamos, de volta pra aula.

Entramos de novo, e eu mudei de lugar. Não ia aguentar ficar no mesmo lugar, atrás do Ryan, e aturar aqueles comentários preconceituosos. Apesar dele ter ficado a aula inteira calado.

Como eu soube disso? Bom, eu não ouvi voz nenhuma na sala. Nenhuma mesmo, todos ficaram em choque. Só a voz do professor que ecoava pela sala.

Quando a aula acabou, eu demorei um pouco para arrumar minhas coisas e me levantar. Os fatos de eu ter sido chamado de depravado pelo meu melhor amigo, ter assumido na frente de toda a classe que sou soropositivo e descobrir que meu professor tinha a mesma coisa que eu estavam me incomodando.

Quando ia passar pela sala, lembrei que tinha deixado meus óculos em cima da mesa, e me virei para buscá-los. Quando virei, dei de frente com Ryan.

-Me desculpe, é sério... - Ryan gaguejou.

-Não importa. - Cortei. Desviei-me do caminho dele e fui para a minha mesa. Depois de pegar o meu óculos, coloquei-os e fui para a próxima aula. Graças aos céus Bridget Benson tinha faltado, junto com o clã das fofoqueiras que ás vezes me desciam o sarrafo. 

É sério, eu apanhava de garotas. Só por que eu não posso bater em uma... Que droga de feminismo, elas batem na gente e a gente não pode revidar!