Juno queria dizer que não. Era uma sensação engraçada. Parte dela estava confiante, mas a outra era paralisada pelo medo. Nem teve tempo de decidir a qual escutar. Brendah estava decidida e atacava freneticamente, só possibilitando para Juno a defesa. Mas esta logo foi encurralada contra a parede, ao que Brendah abre um sorriso. Por achar que a luta já estava ganha, acaba abrindo a guarda. E por tomar um chute na altura do plexo solar, forte o suficiente para fazê-la se desequilibrar e se afastar. Juno ainda desferiu um ataque, sendo defendido por muito pouco. Juno recuou um pouco e se colocou em posição de guarda. Brendah ainda pensou em atacá-la, mas se deteve. O descuido já tinha quase lhe tirado a chance de vitória. Ficaram paradas por alguns segundos, prestando atenção em qualquer movimento uma da outra.

 Impaciência. Ansiedade. Era quase possível senti-las no ar. Brendah não aguentou. Ela precisava atacar, lutar, ganhar. E sem erros agora. Talvez uma luta muito perto não fosse a melhor ideia. Concentrou-se e carregou sua adaga, logo depois a lançando na direção de Juno. Ela ainda conseguiu rebater, mas como a keyblade era de metal, acabou conduzindo a eletricidade. Com o choque, Juno caiu quase desmaiada. Brendah caminhou calmamente até onde Juno estava e fincou a outra adaga ao lado dela.

 -Parece que essa eu ganhei. – falou Brendah

 A ruiva estendeu a mão para ajudar Juno a se levantar. Embora ainda um pouco enfraquecida, ela conseguiu se manter de pé enquanto Mickey falava.

 -Boa luta, garotas. Parabéns às duas.

 -Mas.. – comentou Juno – Eu perdi. Não mereço os parabéns.

 -Não pense assim, Juno. – rebateu Mickey – Para nos tornamos mais fortes, às vezes precisamos perder. E não se preocupe. Treino é só o que você precisa.

 Mesmo assim, isso não tinha conseguido alegrá-la. Logo saíram da sala para chamarem os garotos, que estavam conversando sentados na mureta em frente à porta. Pararam no exato instante que ouviram a porta se abrir. Olharam para elas e depois se entreolharam.

 -Então, - disse Lukas, estendendo a mão – que vença o melhor?

 -Com certeza. – respondeu Nick, apertando a mão dele, selando a aposta

 Falaram um pouco com as garotas e entraram, fechando a porta.

 -O que houve? – indagou Brendah logo depois – Você parece tão chateada...

 -Por mais que vocês digam que eu lutei bem, eu não acredito nisso. – desabafou Juno – Eu quase não consegui atacar, e perdi. Acho que não sou a pessoa certa...

 -Chega de bobagem, ok?! – interrompeu Brendah – Você não ouviu o que ele disse? Você só precisa de treino. E de um pouco de confiança. Vamos nos tornar mais fortes juntas, combinado?!

 Juno sorriu. Brendah estava certa. E era muito bom ter alguém que confiasse nela.

Enquanto isso, os garotos já estavam em posição de guarda, só aguardando o sinal de Mickey. Mesmo sendo amigos havia anos, a rivalidade já estava instalada. Mickey mal falou para começarem e ambos avançaram, um bloqueando o ataque do outro. Logo recuaram e, quando Nick percebeu, Lukas já não estava mais na sua frente. Foi por puro reflexo que ele conseguiu perceber o ataque lateral de Lukas com a Oblivion e para-lo com a Way to the Dawn. Lukas aproveitou sua mão livre para dar um soco, este sendo segurado. O loiro então sorriu, aproveitando-se da guarda baixa do amigo para derrubá-lo com um chute no tórax. Mesmo derrubado, Nick conseguiu dar uma rasteira em Lukas assim que este chegou perto. Logo ambos já estavam de pé novamente, em posição de guarda.

 O barulho do encontro das keyblades ecoava pela sala. A luta seguia acirrada, sem mínima demonstração de cansaço de nenhum dos dois. Ao ver de alguém de fora, a vitória não parecia pender para nenhum lado. Mas Nick sabia que não era bem assim. Conhecia o amigo. Lukas sempre fora agitado, por vezes, até ansioso. Não aguentaria muito tempo o estado de empate em que se encontravam. Era questão de minutos até ele abrir alguma brecha para um nocaute. Dito e feito. Poucos segundos depois, Lukas deixou a guarda baixa, tomando um golpe que jogou a Oblivion longe. Distraído, foi facilmente derrubado. Ele ainda iria se levantar, se a Way to the Dawn não estivesse a poucos centímetros do seu pescoço.

 -Droga! – resmungou o loiro, sabendo que tinha perdido

 -Não foi você que disse ‘que vença o melhor’? – rebateu Nick, rindo

 Logo o garoto de olhos verdes fincou sua keyblade no chão e estendeu a mão, ajudando o amigo a se levantar. Ambos de pé, Mickey fala

 -Parece que realmente temos bons lutadores. Parabéns aos dois.

 -Algum dia poderemos lutar contigo? – indagou Lukas

 -Provável. – respondeu Mickey – Mas, por agora, acho que você quer descansar um pouco, certo?!

 Ao que ele assentiu, os três encaminharam-se para a saída daquela sala. Encontraram Juno, Brendah, Sora e Queen Minnie conversando perto da porta.

 -Parece que a luta foi boa, não é?! – disse Sora – Alias, deixa eu apresentá-los. Meninos, esta é Queen Minnie. Minnie, estes são Nick e Lukas.

 -Minnie, pode levar os quatro até seus devidos quartos? – pediu Mickey

 Minnie prontamente assentiu, logo guiando o grupo pelos diversos corredores do castelo. Assim que eles saíram de vista, Sora perguntou a Mickey.

 -E então? O que achou?

 -Os quatro formam uma ótima equipe. – respondeu Mickey – São ágeis, tem bons reflexos e boa concentração.

 -Mas... – começou Sora, percebendo que Mickey escondia algo

 -Aquela garota... – completou – Não tenho um bom pressentimento sobre ela.

 -Quem, Brendah?! – indagou Sora - Ah, qual é... Ela é uma boa garota. Além do mais, ela nem sonha que os pais dela são nobodies.

Mesmo assim, pensou Mickey, isso não me tira essa sensação ruim...

Horas depois...

 O céu estava totalmente estrelado aquela noite. Juno o observava de sua sacada, enquanto respirava a brisa fresca que vinha do jardim, inconscientemente descansando. De tarde já tinham treinado. Mas não era por isso que descansava. A sua mente ainda girava com todas as novidades. Estava com a cabeça longe quando ouviu alguém bater na porta. Abriu e viu Lukas com uma expressão preocupada.

 -A Brendah tá com você? – indagou ele

 -Não, - respondeu Juno – pra falar a verdade, não a vejo há algumas horas.

 -Droga... – resmungou Lukas – Não consigo achá-la...

 -Já perguntou pro Nick? – arriscou Juno

 -Ele me respondeu a mesma coisa que você. – disse Lukas, com a cabeça baixa

 -Fica calmo, tá?! – falou ela – Vamos falar com Mickey e chamar meu pai e o Nick. Tenho certeza que vamos achá-la.

 Logo os cinco estavam à procura de Brendah. O tempo se arrastava, sem nenhum sinal dela. Andaram por todos os corredores, percorreram todas as salas, perguntaram a todos que moravam naquele castelo. Nada. Enquanto Sora andava por mais um corredor, encontrou Mickey.

 -Alguma pista? – indagou Sora

 -Nenhuma. – suspirou Mickey

 -Não é possível! – resmungou Sora

 -Larxene... – Mickey pensou alto

 Sora não pode deixar de esconder a surpresa.

 -Como é? Ela não tinha desaparecido?

 -Talvez não desaparecido, - rebateu Mickey – mas sim, se escondido. Esperado até uma hora em que baixássemos a guarda e ela pudesse pegar Brendah.

 -Mas por quê? – perguntou Sora

 -A garota luta bem pra caramba. – respondeu Mickey – Se Larxene conseguir convencê-la a se aliar a ela, isso será um problema...

 Sora suspirou. Sabia disso. E as chances de Brendah ficar do lado de Larxene eram relativamente altas. Perigosamente altas.

 -E como eu falo isso pra eles? – indagou Sora – Até mesmo Juno, que a conhece há pouco tempo, não gostaria nada de saber disso.

 -Ainda não é a melhor hora para comunicá-los disso. – disse Mickey – Afinal, 100% de certeza não temos...

  Dois dias depois...

 Nick estava deitado em sua cama, pensativo. Já fazia dois dias que estavam lá e, mesmo assim, sentia que não sabiam muita coisa. Algo escondiam deles. Principalmente sobre Brendah. Lukas já tinha cansado de perguntar sobre ela, ao que tanto Mickey quanto Sora davam um jeito de ignorar. Decidiu dar uma caminhada para espairecer a cabeça. Acabou chegando à biblioteca, não sendo o único. Viu Juno sentada, debruçada sobre a mesa, lendo totalmente compenetrada. Só levantou a cabeça quando ouviu Nick puxar a cadeira logo ao lado dela.

 -Ah, oi, Nick. – disse Juno, sorrindo

 Como aquela garota conseguia deixá-lo feliz só por sorrir pra ele? Puxou logo assunto, antes que ficasse corado.

 -Lendo o que?

 -Um pouco sobre as keyblades. – respondeu Juno – Mas, pra falar a verdade, nem tem muita coisa. – fechou o livro enquanto dizia isso – E você? O que faz aqui?

 -Nem sei. – disse Nick, fazendo-a rir – Só tava andando por aí. Acho que... Você me chamou pra cá.

 Juno ficou corada depois de ouvir isso. Ele também ficou. Detestava quando pensava alto. Ficaram em silêncio alguns minutos, até que Sora entra na biblioteca.

 -Finalmente achei os dois! – exclamou ele, enquanto caminhava para perto de ambos – Atrapalho?

 -O que houve? – indagou Nick, já se levantando

 -Acabam de ganhar sua primeira missão. – respondeu Sora

 Juno se levantou logo após ouvir isso. Não era mais treino. Agora era pra valer. Tudo ou nada. Sentia alegria e nervosismo ao mesmo tempo. E, lá no fundo, uma sensação muito ruim.

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Fim do capítulo IV