“Oi pai

Não sei o que anda acontecendo comigo. Estou meio mal, sabe, me sentindo mal. Um pouco de febre, tontura... Mas aposto que não é nada, você vai ver, na próxima carta já vou estar super melhor.

Falando em melhor, Jonas está bem agora, tirou o gesso e voltou a reclamar de tudo e todos. Mamãe falou que se ele não parar logo com isso não vai ganhar bolo de aniversário (Só faltam duas semanas!).

O meu aniversário ainda vai demorar, dá pra escrever mais umas... 8 cartas para você.

Puxa... Imagina quando você voltar e trouxer todas as cartinhas de volta!! Vou poder ler tudo de novo...

Mas não as mostre para a mamãe, ainda não tomei coragem para contar que estou fazendo aulas de piano.

Bom, se proteja aí! Cuide de muitos, mas cuide de você também!

\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t    Para sempre sua Bela”

Isabela fechou o bloquinho onde estava escrevendo, arrancando a folha e dobrando-a em um envelope. Grudou o selo e se levantou, deitando no velho colchão, tossindo.

“Vê se não morre aí, não.” Falou Bárbara, que estava no colchão ao lado, fumando um cigarro.

“Deve ser isso aí que está me fazendo mal.” Disse Isabela, apontando para a bituca acesa. “Se mamãe descobrir que...”

“Ah, cala a boca! Tem tantas coisas que eu falo que mamãe não tem nem idéia! Não pode nem imaginar!”

A menina se ajeitou no colchão, colocando a carta em cima da mesinha e prendendo o cabelo curto. “Que tipo de coisas?”

Bárbara deu de ombros. “Coisas que eu faço para ganhar dinheiro. Você é muito jovem, não ia entender.”

Isabela se estremeceu, apagando aquilo da memória. “Só espero que esteja fazendo a coisa certa.”

“E estou, agora me deixe em paz.” Falou, fechando a cortina. Isabela se levantou correndo, indo ao bainheiro vomitar.