8 Cartas para Você escrita por NoOdle


Capítulo 14
14º capítulo - As Cartas


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um - doloroso - capítulo... mas fiquem calmos, tudo ainda pode melhorar....
tomara que gostem!
Beijos, oa leitura haha
:)



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“Oi pai

Sim, acho que as coisas estão melhorando. Não faltei mais em nenhum trabalho e estou tentando seguir minha vida. Agora, com 17 anos, tenho que ser mais prestativa.

Bárbara foi embora segunda feira. Nos contou, no sábado à noite, que tinha recebido uma oferta de emprego em uma cidade mais ou menos perto daqui, e que era uma boa chance de tentar se virar sozinha. Foi muito triste sua partida, mas mamãe ficou bem orgulhosa. Agora divido o quarto com Jonas.

Depois de uma segunda feira pesada, a terça tinha que ser mais leve... Passei um tempo a mais no piano, treinando e tocando, foi maravilhoso. Júlia ficou lá comigo... Na quarta trabalhei de tarde e de noite, na quinta foi meu aniversário.

Sei que devia estar animada com isso, mas continuo não sentindo aquele impulso de sorrir novamente. É claro, continuo rindo das coisas engraçadas, mas parece que meu sorriso verdadeiro se foi.

Tenho que me acostumar com tudo isso. Hoje mesmo falei com minha mãe sobre minha opção de frequentar a outra igreja, não a católica. Ela ficou meio nervosa, mas acho que levou na boa no fim.

Pai, preciso de você aqui. Não aguento mais, você é a única pessoa com quem falo abertamente e quem me ouve com atenção, pelo menos até agora. Vou entregar estar carta ainda hoje, espero que receba, viu?

Beijos, se cuide aí... Agora vou me cuidar melhor, já tenho 17 anos...!
                                            
Para sempre sua: Isa.”


Isabela arrancou a folha do caderno e a dobrou, colocando em um envelope meio amassado. Grudou o selo enquanto seu irmão pulava no colchão perto do seu, sem sono.

“O que você escreveu aí, Iss?” Perguntou ele, parando quieto. Ela sorriu, passando a mão no cabelo dele.

“Nada de mais, só contei o que aconteceu de legal nessa semana.” Respondeu, sentando. “Contei que Baba foi trabalhar e que foi meu aniversário. O que mais poderia falar?”

“Ah, tinha que dizer que estou dormindo com você agora!” Ele deu um grande sorriso. “Sou adulto o suficiente para ficar aqui!”

Sua irmã riu, mas parou brutamente quando ouviu um grito de exclamação vindo do andar de baixo. Arregalou os olhos e desceu em um pulo, preocupada. “O que foi, mãe?!”

A mulher fechava a porta, segurando muitos envelopes em sua mão direita, chorando muito. Não conseguia dizer nada, nenhuma palavra concreta saída de sua garganta, nada mais que choros e grunhidos eram identificados. Isabela e seu irmão terminaram de descer a escada, indo até ela.

“O que aconteceu, me diga!!” Pediu mais uma vez a menina, agora desesperada. Loane só esticou os braços, entregando todas as milhões de cartas para a filha.

Ela passou os olhos com rapidez, tentando entender, enquanto Jonas sentava ao lado da mãe, abraçando-a.

O queixo de Isabela foi caindo aos poucos quando começou a perceber do que se tratava. Aquela letra miúda, o mesmo endereço que lembrava corretamente, pois escrevia toda sexta à noite, o mesmo remetente e a mesma pessoa. Eram suas cartas, todas elas.

“Mãe, o que quer dizer isso!? Por que tudo isso está aqui!?” Ela perguntou, com um nó na garganta, as lágrimas inundando os olhos castanhos.

“Isa, eu...” Tentou falar, mas seus soluços não deixavam. “Seu pai, ele...” Foi cortada novamente. Jonas já começou a chorar, entendendo o que estava acontecendo. A menina mexeu novamente nas mãos, agora encontrando um memorando da polícia.


“Comunicado:


Venho, a partir desta carta, comunicar à família Bitencourt o falecimento do doutor M. L. Bitencourt, atingido em guerra.

Apreciamos muito os serviços do falecido, enviamos uma quantia em euro em forma de agradecimento.

Esperamos que  esteja bem;

Academia de Polícia.”


O coração dela bateu mais rápido. Aquilo não podia estar acontecendo, não era real, estava sonhando. Ele não estava morto, não podia estar morto!

“Não!!” Gritou, apertando as cartas em sua mão esquerda. “Mãe ele não morreu, por favor, diz que não acredita!!” Chorava, desesperada. “Não pode acabar assim, não dá!!”
Loane levantou, tentando abraçar a filha, que se esquivou no mesmo momento.

“Você não entende!? Não temos por que chorar, ele não morreu!” Tentou dar um sorriso, mas as lágrimas rolavam sem sua permissão. “Na carta nem ao menos falou o nome dele, só abreviaram, pode haver outros Bitencourts no mundo!!!”

“Filha, acalme-se, vai ficar tudo bem...!” Ela disse, abraçando-a em fim. Isabela se afastou, amassando os envelopes na mão.

“Como vai ficar tudo bem!?” Gritou, fora do controle. “Mãe, NÃO VAI ficar tudo bem, já está tudo uma MERDA!” Voltou a chorar, ignorando seu irmão que se encolhia em um canto, com medo. “Bárbara não está trabalhando, tenho certeza, ela se prostituía antes de viajar, até fumava cigarro!! Eu não tenho pai, o Jonas não tem pai, nós não temos família!!”
As palavras saiam de sua boca, jogando-as na cara da mãe. Tudo que tinha guardado até agora, toda a raiva a preocupação, estava tudo vazando como água.

“Você não é uma mãe ruim, sei que faz o máximo para estar conosco, mas não é o suficiente!! Eu finalmente encontrei uma coisa que gosto, que é o piano, e não posso contar para você porque tenho medo de causar uma briga!!” Respirava rápido, sentia seu sangue esquentar, pulsando por todo seu rosto. “Não aguento mais trabalhar, viver essa vida cansativa! Você sabe o que eu quero? Quero uma vida, quero um pai, e se você diz que ele MORREU, sem nem ao menos ler NENHUMA das minhas cartas, é a mesma coisa de dizer que minha vida toda foi em vão!!! Que não teve sentido!!”

Parou, ofegando. Já se sentia tonta, sentia o mundo sumindo em sua volta. Ia cair, estava prevendo, ia voltar para seu mundo de sonhos, viver eternamente em sua fantasia.

Mas não podia fazer aquilo na frente de sua família. Tinha acabado de gritar com sua mãe, agora ia matá-la do coração!

Saiu correndo o mais rápido que pôde, sumindo da casa e apertando as cartas em sua mão. O vento raspava seu rosto e empurrava suas lágrimas, a rua escura quase a fez cair. Só foi parar quando chegou à grande árvore, respirando mais rápido do que nunca.

Fez uma coisa inusitada, algo que nunca esperava fazer na vida: entrou totalmente dentro do chorinho, os olhos fechados, tremendo bastante.

Não sabia o que tinha lá dentro, não tinha a mínima idéia se era escuro ou claro, frio ou quente, bonito ou feio. Era sua imaginação, não tinha a menos idéia do que podia acontecer agora que estava adentrando-a.

Sentiu algo reconfortante, uma coisa muito boa. Abriu um pouco os olhos e olhou em volta, tentando entender onde exatamente estava.

Via as folhas do chorinho em sua volta, estava encostada no tronco. A copa da grande árvore abrigava uma casa interna, algo bem arejado e muito iluminado, apesar de já estar de noite. Algumas criaturas se escondiam e a olhavam com seus olhos curiosos e medrosos.

O conhecido cachorro de cartola saiu de um pequeno buraco, preocupado. “O que aconteceu, Isabela?” Perguntou para a menina.

“Ah, olá, Carlie...” Ela sorriu, limpando as lágrimas. “Não aconteceu nada de mais, eu só...” Suspirou, tentando absorver a verdade. “Fugi de casa.”

Ele pareceu um pouco espantado, mas compreensivo. “Nós vamos fazer daqui a sua casa.” Sorriu com seu jeito de cachorro. “Todos nós.” Mexeu a cabeça, e logo outros animais foram aparecendo, deixando o local mais reconfortante ainda.

Podia estar desesperada, a carta podia até dizer que ela não tinha mais família. Mas tinha certeza: seu pai não estava morto.

Ele ainda estava ali.


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Notas finais do capítulo

éé... que coisa tensa...
mas será que ele morreu mesmo???
:p
e aí, mereço Reviews?
haha
beijos, beijos!