“Oi pai

Posso te perguntar uma coisa...? Mamãe já me respondeu, mas ainda sim não me senti satisfeita com a resposta. Bom... Por que as pessoas vão para a guerra? Eu sei, você mesmo está aí, mas não entendo... Sabe, não entendo o por quê de você estar aí.

Guerras não são coisas boas, não são coisas felizes e nem mesmo a vitória de um País numa delas é coisa para ser contada aos filhos/netos/primos/etc, pois em uma vitória sempre há derrotas.

O mundo gira em torno da guerra, gira em torno da luta. Nas escolas quando tem uma pequena briga entre alunos sempre tem alguém (uma ou mais pessoas) que incentivam, outras corajosas separam e acabam com tudo. É tão mais fácil, não acha?

O que estou tentando dizer é que... Não precisamos dessa matança toda!! O que vamos ganhar se vencermos tudo? Pessoas mortas? Famílias sem seus entes queridos?  Namoradas sem seus amados?

Ah, você vai receber esta carta toda molhada de minhas lágrimas se continuar assim. Ok, eu te conto o que está acontecendo.

Gabriel, assim como você, será recrutado para a guerra na quarta feira que vem. Tentou se esconder, tentou evitar, mas não pôde, tem certas coisas que realmente não entendemos. Mas eu não aguento, pai, será mais uma pessoa para se preocupar, mais uma para sentir falta se algo acontecer...

Mesmo eu tendo certeza de que você está bem, ainda sim temo a sua morte. Peço todos os dias para que você melhore. Falando em ‘pedir’, comecei a frequentar de verdade a igreja protestante, estou indo toda quarta e sexta desde semana... retrasada, eu acho...

Mas isso não vem ao caso. O fato é... Não vou aguentar mais uma perda no coração. Mesmo que só simbólica, não vou aguentar.

Por favor, por favor, por favor, eu lhe imploro: volt e para casa e traga Gabriel com você...! Ele vai – acho que já falei, mas não custa repetir – na quarta feira da semana antes do meu aniversário. Tomara que o Vietnã não esteja tão perigoso assim, não é...?

                                             Para sempre sua: Iss.”

Isabela fechou o caderno enquanto arrancava lentamente a folha escrita e toda úmida pelas lágrimas de tristeza. Dobrou a carta e colocou-a em um envelope, grudando o selo e enxugando a água de suas bochechas.

Deitou na cama, se cobrindo por inteiro – algo que nunca fazia, sempre deixava pelo menos a perna para fora, questão de hábito. Bárbara a olhou, mordendo o lábio inferior. Já fazia uma semana que sua irmã estava nesse estado depressivo e, por mais que tentasse, não conseguia pensar em uma palavra para trocar com ela e consolá-la.

“Isa, eu...” Parou, olhando a menina, que virou para o outro lado, escondendo os olhos encharcados.

“Não se preocupe, Baba.” Falou ela, a voz arrastada. “Eu estou bem.”

“Ham...” Ela insistiu, agora ficando em pé. “Deixe-me pelo menos levar a carta para o correio...” Foi do outro lado do colchão dela, pegando o envelope. Antes de sair agachou ao lado da garota, sorrindo um pouco e passando a mão por sua testa. “Ele vai receber, viu? E um dia, quando tiver tempo, vai responder.”

Isabela sorriu, abraçando-a. Pela primeira vez na semana agora se sentia melhor, um pouco da alegria de sempre voltando. Viu a irmã sair do quarto e fechou os olhos, querendo sumir desse mundo.

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