Quando eu e Meg finalmente chegamos ao topo da Colina, os outros já não estavam visíveis. Olhei para trás, mas a van do Acampamento já tinha sumido, meu pai e Afrodite com ela.

                Meg olhou para Peleu e depois para mim, e sorriu. Ela se aproximou do dragão devagar e estendendo a mão. Ele pareceu impaciente e empurrou a cabeça na direção da mão de Meg e ela o acariciou, fascinada.

                - Oi, Peleu. – sussurrou. Ele grunhiu como que em concordância.

                Ela olhou por trás do dragão e observou o pinheiro de Thalia. Meg tirou a mão da cabeça de Peleu e foi até a árvore. Ela a acariciou da mesma forma que havia feito com Peleu, como se fosse algo vivo.

                Ela examinou impressionada cada pedaço que pudesse alcançar da árvore e sorriu para mim outra vez. Sorri de volta. Ela veio sorrindo em silêncio até mim e pegou minha mão.

                Me assustei com o susto e puxei a mão de volta. Meg me olhou zangada e a pegou outra vez. Ela me puxou delicadamente até o Pinheiro e encostou minha mão sob a sua no tronco grosso e áspero.

                Olhei nossas mãos unidas. Eu sentia apenas o toque macio de sua palma. Mas então eu senti algo diferente. Uma... batida? Como uma pulsação. Um pulsação muito lenta, não como a de um coração. Mas obviamente uma pulsação. Olhei para Meg assustado.

                Ela riu de leve. Então riu de verdade e olhou para Peleu. Ela falou:

                - É a pulsação do dragão, seu bobo! Ah, você caiu feito um patinho! – ela caiu na gargalhada. E eu processei sua resposta. Isso, Nico, seja idiota, ache mesmo que a árvore tem um coração pulsando.

                - Rá, rá, muito engraçado! – resmunguei.

                Ela parou de rir e me puxou pela Colina, descendo em direção ao Acampamento. ela ria. E atraía todas as atenções. E estou falando todas, todas mesmo. Até o sr D. interrompeu seu jogo com Quíron para observar a maluca que arrastava o filho de Hades Colina abaixo.

                Então Meg parou de repente e eu quase me estatelei no chão. Ela olhou para mim e me puxou pela mão, levantando-me bruscamente. Olhei pela varanda da Casa Grande. O sr. D ria e aplaudia para Meg, e Quíron me olhava reprovadoramente. Ei, qualé? Eu não fiz nada!

                Então a garota soltou minha mão e seu queixo caiu. Ela olhou Dioniso atentamente, e ele cessou os aplausos, mas ainda sorria. E o mais impressionante: não era um sorriso de deboche ou sei lá o que. Ele estava sorrindo para ela.

                Meg ainda olhava boquiaberta o deus. Ele corou de leve e disse:

                - Ah, olá, querida! Você deve ser a semideusa que Hades foi buscar. Acredite ou não, ele fez questão de te conhecer. Já posso ver o porquê. Bom trabalho você fez aí com o Tico. Seja bem vinda, meu bem.

                Quíron e eu olhamos para ele como se ele tivesse feito um discurso de boas vindas para um semideus. Ah, espere! Ele fez um discurso de boas vindas para um semideus! Essa não! Cronos vai voltar! O mundo acabou!

                Olhei para Meg. Seu sorriso voltara, e ela se aproximou de Dioniso.

                - Ah, senhor Dioniso, que enorme prazer é conhecê-lo! Obrigada pela hospitalidade! Meu nome é Meg Simpson. Sabia que o senhor não era tão antipático quanto Percy disse. – ela falou, apertando a mão do deus.

                - Claro que não sou! Ora, que absurdo! – sr. D protestou, embora sorrisse radiante – Ah, querida, receio que você tenha que ter o costumeiro tour pelo Acampamento, não? Aposto que o Tico pode ajudá-la. Mas não se preocupe, querida, por favor, volte quando terminar, sim? Talvez possamos jogar um pouco de pinochle. Ou até mesmo pacman! O que acha?

                Meg sorriu ainda mais.

                - Ah, senhor Dioniso, seria uma imensa honra! Com certeza voltarei! Ah, senhor Dioniso, o nome dele é Nico, ok? – ela falou.

                - Ah, sim, certo, Nico. Irei me lembrar. Você é bem vinda aqui quando quiser! Não me chame de “senhor Dioniso”, me faz soar velho! Chame-me apenas de Dioniso! – ele disse sorridente.

                Ok, ok, ok! Chega, Meg, libere-o desse terrível encantamento! Calma, Nico, respira... respira... respira... 1...2...3...4...5...6...7...8...9...10! Ok, pronto. Ele enlouqueceu. Pronto. A loucura virou-se contra o deus dela. Muito normal.

                Eu e Quíron os encarávamos, pasmos.

                - Muito obrigada, Dioniso! – Meg disse.

                - Agora vá, Meg. – sr. D disse, dando tapinhas no ombro dela e virando-se para mim. – E você, garoto, acompanhe-a. E não deixe que os filhos de Ares a perturbem, sim?

                Meg sorriu para mim e me puxou para fora da varanda da Casa Grande. Ainda pude ouvir o sr. D comentar com Quíron: “Aí está uma boa garota!”.

                Eu não via nada além de borrões coloridos, mas podia sentir que todos os olhares estavam em nós dois. Os borrões se tornaram maiores e eu percebi que Meg estava entrando na ala dos chalés. Então ela parou de repente e eu caí no chão. De novo.

                Com o resto da dignidade que restava a esse pobre filho de Hades que vos fala, me levantei tonto e tirei um pedaço de grama (estou falando sério) da minha camisa. Olhei para Meg e ela estava fitando algo a sua frente, boquiaberta. Segui seu olhar.

                Então estávamos os dois olhando para o chalé azul claro de Afrodite. Meg ainda boquiaberta. Então as meninas de dentro do chalé começaram a notar nossa presença e olhar pela janela. Elas sorriram amistosamente e a conselheira-chefe delas, Heather McGaw, saiu do chalé vindo em nossa direção.

Meg me olhou ansiosa. Eu fiz algo bem inteligente. Dei um passo para trás. Estou falando sério. Se eu tivesse que escolher um chalé para dar o prêmio de Chalé Mais Perigoso, minha escolha seria óbvia. O chalé de Afrodite. Heather veio até Meg e disse:

- Olá, querida, sou Heather. Heather McGaw, conselheira do chalé 10. Seja bem vinda. – Heather olhou para mim, atrás de Meg - Olá, Nico. Eu não mordo, sabia?

Corei inconscientemente e ouvi uma risadinha de Meg.

- Olá, Heather. Sou Meg Simpson. – Meg se apresentou.

Heather deu um grande sorriso.

- Ainda indeterminada, meu bem? – perguntou.

- Ah, sim...

- Não tem problema. Venha, nós vamos te ajudar, meu bem. – acrescentou com um sorriso, levando Meg para dentro do chalé. Antes de Heather fechar a porta, Meg acenou para mim.

É. Livre dela. Pensei, ainda que a idéia não me agradasse mais tanto. Fui andando sem rumo pela ala dos chalés. Quando me dei conta, estava na porta do chalé de Zeus. Bati na porta.

Alguns segundos depois, a porta se abriu milimetricamente e a voz de Thalia exigiu:

- Senha.

- O que? – respondi muito sabiamente.

- Você ouviu. – ela disse – Senha.

Pensei. Que senha Thalia poria no próprio chalé? Hum...

- Green Day? – chutei.

- Senha. – ela tornou a exigir.

- Olimpo?

- Senha.

- Zeus?

- Senha.

- Cheeseburguer – falei, de brincadeira.

Mas a porta se abriu. E uma Thalia sorridente entrou em foco falando:

- Oi, Nico! Tudo bem?

- Oi, Thalia. Por que sua senha é cheeseburguer? – perguntei, me sentando na cama.

- Não sei. Porque cheeseburgueres são bons. – ela respondeu, se sentando ao meu lado e olhando a TV. Segui seu olhar.

Estava passando The Big Bang Theory. Ficamos ali, assistindo e rindo juntos. De repente alguém bateu na porta. Thalia tirou o volume da TV e sorriu para mim. Sorri também, tendo a mesma idéia. Nos escondemos os dois atrás da porta a abrimos milimetricamente. Então falamos ao mesmo tempo, com uma voz sombria, meio rouca:

- Senha.

A voz de Annabeth reclamou do outro lado.

- Sinceramente, Thalia, isso é ridículo. E Nico, eu sei que você está aí. Seja como for, cheeseburguer.

Thalia abriu a porta e Annabeth entrou. Eu as olhei zangado.

- Ei! Thalia, por que a Annabeth já sabia a senha e eu não? – perguntei.

- Porque ela é mais importante que você. – Foi a resposta simpática de Thalia.

Annabeth riu e disse:

- Bom, eu vim só chamar vocês para o jantar.

Então ela olhou para a TV e seus olhos cinzentos brilharam de animação.

- Ah, essa é a temporada nova de The Big Bang Theory? – ela perguntou.

- Ah, é sim, eu comprei. Não é o máximo? – Thalia respondeu animada.

- Com certeza! Ah, vamos ficar aqui e fazer pipocas e assistir a temporada inteira! – Annabeth sugeriu. Thalia deu pulinhos de empolgação. Mas eu a olhei como se ela tivesse dito algo como ‘minha mãe gosta tanto de Percy que quer adotá-lo, não é legal?’.

Ainda assim, sentei na cama. Thalia deitou-se e Annabeth saiu, voltando alguns minutos depois com 3 potes de pipoca tão grandes que pareciam baldes. Entregou um a cada um e deitou-se ao lado de Thalia. Eu me deitei ao seu lado. Thalia deu play no DVD.

Sinceramente, quando se está assistindo algo sem noção como The Big Bang Theory, não se percebe muito do que está ao seu redor, mas eu captei algumas coisas. A cada vez que a música de entrada começava, Thalia e Annabeth cantavam junto. Thalia devorou em pouco tempo sua pipoca e roubou metade da minha. Annabeth cansou-se de sua pipoca e jogou sem autorização o resto dela no meu pote. Eu a devorei algum tempo depois, e Thalia brigou comigo por não ter deixado um pouco para ela.

Então, estava começando a música novamente, e Thalia e Annabeth cantaram, e dessa vez, eu as acompanhei. Bem nessa hora, a porta do chalé se abriu e Percy entrou em foco. Quando viu nós três deitados, cantando juntos,  fez uma cara que dizia algo entre: ‘o que vocês estão fazendo’, ‘vocês comeram toda a pipoca?’ e ‘Nico, por que você está deitado do lado da minha namorada?’. Então ele olhou para a TV e disse, animado:

- Isso é The Big Bang Theory? Eu quero!

Annabeth o respondeu:

- É sim, é da Thalia. Legal, não? Vem, amor!

Percy veio até a borda da cama e disse para eu sair para ele poder deitar ao lado da namorada.

- Não, obrigado, estou bem aqui. – respondi inocentemente.

- Sai, Nico! – ele falou entredentes.

- Ah, amor, deixa o Nico aqui, tadinho, ele tá bem. – Annabeth disse, passando o braço pelo meu ombro.

Fiz uma carinha de cachorro abandonado. Percy fez uma cara de ‘vou te matar depois, Nico’ e se sentou no chão ao pé da cama. Mais ou menos meia hora depois, alguém bateu na porta. Thalia pausou o DVD e nós todos nos entreolhamos sorrindo maldosamente.

Nos escondemos atrás da porta e abrimos um pouco a porta. Então falamos todos juntos na mesma voz rouca e sombria de antes:

- Senha.

Ouvimos um gritinho de medo de trás da porta. E um choramingo.

- Thalia? É você? – a voz de Meg perguntou chorosa.

- Senha. – exigimos de novo.

- Ah... tá, tá bom, seu monstro, eu vou falar, tá bom? – Meg disse. E ela não estava brincando. Ela estava realmente assustada.

- Senha.

- Ah... Hã... Deve ser algo relacionado à Thalia, certo? Hã... ai... Ah, claro, já sei! Como pude esquecer? Cheeseburguer! – ela disse vitoriosa.

Nós abrimos a porta e dissemos ao mesmo tempo:

- Como você sabia?

Meg deu um risinho e disse algo que eu não ouvi. Porque me perdi com ela. Pra começar, seu cabelo castanho estava solto, com uma pequena mecha segura por uma fivela dourada. Seus olhos brilhavam como estrelas naquele tom estranho que misturava estranhamente cinza, azul, dourado e um castanho avermelhado.

Sua pálpebra estava coberta por um tom que misturava rosa e branco. Ela usava um vestido tomara-que-caia florido e sapatos de salto cor de rosa. Ela estava deslumbrante, e eu percebia claramente que tinha sido arrumada pelo chalé de Afrodite.

Recuperei a consciência com Thalia estalando os dedos no meu rosto e dizendo:

- Ei, Nico, pensando na morte da bezerra?

Sacudi a cabeça e disse involuntariamente:

- Não, já lamentei demais por ela.

Todos riram. Meg entrou e nós nos sentamos na cama de novo. Seus olhos brilharam quando ela viu o Sheldon pausado na tela da TV e disse:

- Isso é a nova temporada de The Big Bang Theory?

Mas sua pergunta ficou no ar. Todos estavam estupefatos demais para responder. Porque no topo da cabeça de Meg brilhava o holograma mais estranho que eu já tinha visto.