O Olhar de Um Inimigo escrita por Bellah102
Conversamos a tarde toda, e fico alegre em dizer que Jamie não me ameaçou com o revólver nem uma vez. Admito que algumas vezes vi a mão dele descansar por ali e fiquei um pouco desconcertada, mas ele não a sacou. Estávamos agora andando pelas outras salas da galeria, rindo e olhando enquanto o sol se punha no horizonte avermelhado.
-Quem está aí?! – Perguntou uma voz vinda do nada, que sobressaltou à nós dois. – Quem está aí?!
Jamie colocou-se a minha frente e olhou em volta, até parecia que estava farejando de tão alto que levantava o nariz para ouvir direito. Pegou minha mão e me guiou correndo por três salas. No canto da sala havia um buraco circular, com um metro e meio de profundidade mais ou menos. Pulamos lá dentro e ficamos apertados, ambos comprimidos pela pedra.
Tentei segurar minha respiração ofegante, mas estava assustada demais com o que haveria fora do buraco. Afinal eu estava em um ninho de humanos, o mais se haveria a temer. Foi então que eu me lembrei. Eu não era mais uma alma, era uma humana, e o que os humanos temem são as almas.
Passos do lado de fora do buraco, me comprimi mais contra Jamie e apoiei minha cabeça em seu ombro procurando apoio para que eu parasse de tremer, e fechei os olhos com força. Os passos pararam e tudo o que eu podia ouvir era meu sangue martelar nos meus ouvidos. Pensei na minha mãe. Devia ter sido ela que alertara os buscadores.
“-É minha culpa! Eu os trouxe aqui! Eu entreguei Jamie.”
Ainda nada de passos.
-Acho que já foi. Vou checar e você fica aqui tudo bem?
-Não. Jamie, não!
-Já deve ter ido embora – Ele sussurrou olhando para mim – Não devia ter saído com você, deixa eu me redimir.
Ele saiu do buraco e acho que minhas orelhas triplicaram de tamanho ao tentar ouvir algo além da sala. O barulho que ouvi, foi perto demais e me gelou até a espinha. Uma arma sendo encaixada e agora estava pronta para atirar, eu estava de costas para o buscador, mas podia ver Jamie e a sua expressão de medo e surpresa. Sua mão foi devagar ao bolso onde ele havia guardado o revólver, mas o volume da arma não estava ali.
-Por favor se entregue. – Disse a voz gentil do Buscador. – Somos amigos, só queremos o seu bem.
Olhei para baixo tendo um péssimo pressentimento e lá estava a arma, encostada em mim, me olhando, me desafiando a usá-la. Peguei-a entre as mãos e olhei mais uma vez para o rosto assustado de Jamie. Eu tinha uma escolha a fazer.
“-Você deve se entregar. Então o Buscador se distrairá com você e dará a Jamie a chance de fugir e avisar os outros.”
Disse a minha parte alma na minha mente.
“-Serry, a arma está na sua mão. Assim você consegue a confiança dos humanos e ainda fica com Jamie para sempre.”
E no sangue-quente do momento, no meio do desespero em que escolhas me deixavam, eu me levantei com a arma já encaixada e puxei o gatilho em direção ao Buscador. Ele nem teve tempo de ver o que o atingiu. Com um grito estrangulado e um olhar acusador, ele tombou no chão. A minha única reação foi jogar o revólver longe com asco e me jogar no buraco de novo.
Jamie, que olhava atônito de mim para a alma, se recuperou do choque. Pegou a arma e guardou no bolso. Pegou a minha mão e me puxou para fora do buraco. Eu não respondia à nenhum dos estímulos à minha volta. Minha voz, meu corpo, meus ouvidos e meu olhar estava tudo congelado, paralisados pela culpa e pelo horror.
Apenas uma parte inconscientemente conseguiu seguir por onde Jamie me puxava correndo, e essa parte não era grande o bastante para entender as palavras, provavelmente de estímulo que Jamie dizia para mim enquanto corríamos. Assim que pulamos buraco acima, ele se embolou todo para colocar a venda em mim.
A escuridão era tão boa... Redentora... Quieta... Era tudo o que eu precisava naquele momento. Me deixei levar pelas trevas.
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No próximo capítulo: POV. Jamie