O Olhar de Um Inimigo escrita por Bellah102


Capítulo 8
Capítulo 8




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Jamie me vendou assim que começamos à chegar perto da luz e me guiou pela mão enquanto eu não podia ver nada. Vou deixar aqui registrado, que pelo bem da nossa amizade, fiz questão de ignorar as vezes que tropecei e/ou bati de cara em uma parede de pedra pontuda.

            -Chegamos.

            Ele disse tirando minha venda, puxando alguns fios do meu cabelo ruivo sem querer. Eu me vi olhado para a imensidão do deserto e ao meu lado, estava meu telescópio. Estava bem sujo e detonado, mas ainda era o meu bebezinho.

            -Meu bebê!

            Exclamei para examinar se ainda estava regulado e funcionando.

            -Sofreu maus bocados aqui fora. Sabe você escolheu um péssimo lugar para observar as estrelas. Com risco de desabamento, tempestades de areia, e um ninho de humanos sedentos de sangue.

            -Há há.

            Eu disse olhando para ele com um olhar sarcástico. E voltei a olhar meu telescópio.

            -De qualquer modo, achei melhor vir por aqui e devolve-lo para a sua... Mamãe.

            -Você não consegue parar de zoar um segundo não é? – A palavra zoar era uma das muitas que eu aprendera com os humanos. Algumas eram tão feias que só podiam ser usadas em discussões sobre quem pegou o último ovo da panela – Tanto faz. Voltamos aqui depois. Aonde vamos passear?

            -Vou te mostrar um lugar bem bacana.

            Ele disse. Andamos lado a lado pelos rochedos afora. O boné de beisebol, as mãos nos bolsos e o assobio faziam a semelhança de Jamie e Jeb ser realmente bizarra. É claro, Jeb usa uma bandana vermelha na cabeça e não um boné, e seu assobio era uma oitava mais grave. Os dois eram como Mac Tasty e Bob’s X Picanha (Todos os direitos reservados às lanchonetes Mc Donald’s e Bob’s, respectivamente.) sabores parecidos, com o mesmo hambúrguer, mas nunca são iguais... O Mc Tasty sempre terá aquele molho azedo enquanto o Bob’s X Picanha será por opção...

            Eu não devia fazer exemplos de estômago vazio, mas Jamie veio me ver antes que eu tomasse meu café-da-manhã. Continuei à pensar na semelhança entre Jeb e Jamie que eu não notava em Melanie. Talvez fosse o pai deles que era muito parecido com Jeb, ou talvez fosse a convivência. Talvez agora eu estivesse parecendo mais humana.

            Estávamos no topo da cordilheira que cercava o deserto. Jamie olhou para um buraco como se dissesse “as damas primeiro”. Eu neguei com a cabeça. Ele revirou os olhos e pulou no buraco.

            -É escuro aí?

            -Não!

            -Tem algum bicho?

            -Só eu!

            -Você me segura se eu cair? – Ele demorou à responder e eu fiquei preocupada que estivesse chegando a parte ruim do teste. – Jamie? Você pega?

            -Pego.

            Eu tive certeza que quando pulasse no buraco um dos seus sorrisos convencidos estaria no seu rosto, mas eu aprendera a ignorá-los. Entrei no buraco e antes de chegar ao chão, as mãos firmes e delicadas de Jamie envolveram minha cintura, me impedindo de cair.

            Quando abri os olhos, lá estava seu sorriso convencido. Revirei os olhos, não era nada demais eu pedir para ele não me deixar cair. Olhei em volta, enquanto ele tirava as mãos da minha cintura, meio desconcertado. Estávamos numa espécie de galeria natural, era como uma sala quadrado-arredondada, sem uma das paredes e a outra pela metade. A que faltava, era substituída pela imagem maravilhosa do areial do deserto que se estendia até onde o sol estava subindo.

            A que estava pela metade, pelo que entendi daria para outra sala quase exatamente igual. Sentamos na beira da abertura grande, com os pés balançando no vazio. Se eu ou Jamie caíssemos seria morte certa, então confiamos que nenhum ia empurrar o outro.

            -Tem razão, aqui é bem legal...

            Eu disse.

            -Sabia que você é a primeira pessoa que eu trago aqui? – Olhei para ele com uma sobrancelha levantada. – É verdade! Não sei se você percebeu, mas não tem mais adolescentes nas cavernas. Ninguém para quebrar coisas, ou fazer bobagem às vezes.

            -Eu não quebro coisas!

            Eu disse tentando parecer inocentemente ofendida.

            -Mas faz bobagens.

            -É...

            Eu disse pesando a cabeça de um lado para o outro. Ele riu,

            -Então... Sua parte humana é mais forte não é? Afinal as almas sempre assumem.

            Meu sorriso sumiu na mesma hora, não sei se ele percebeu, mas não era uma coisa que eu gostasse de falar. Minha parte humana gostava da atenção, mas a minha parte alma se sentia humilhada de ser exposta daquele jeito.

            -Não é uma questão de força, é de quem eu deixo agir... É... Complicado e... Horrível, por isso... Não falemos nisso. Falemos de você.         Já contei a minha vida de cabo à rabo e não sei nadinha de você, Jamie. Se é que esse é o seu nome.

            -Minha vida não é das mais interessantes e sim, meu nome é mesmo Jamie. Nasci e cresci por essas bandas do Arizona. Fujo das almas desde que consigo me lembrar com Melanie, estou nas cavernas à três anos, sou de peixes e meus números da sorte são 22, 32 e 43.        - Sorrimos juntos. Então ele fez uma cara como se uma ficha tivesse caído de repente. – Ei, você tem catorze não é?

            -Quase quinze.

            -Então como é que você nasceu. Que eu saiba as almas só invadiram...

            -Opa parceiro. Cartão vermelho na parada. Vocês humanos não tem ideia de quando começou a invasão exatamente. Poucas das almas sabem. Foi gradativamente, em cada aparição que vocês julgava inofensivas e feitas em programas de computador eram uma leva de almas sendo deixada. Minha mãe teve um caso com meu pai logo nas primeiras levas.

            Ele ficou pensativo por alguns minutos. 


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