Everybody Loves The Marauders escrita por N_blackie


Capítulo 5
Episode IV




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Episode IV

“Treinamento Forçado”

Narrado por: Sirius Black

Filme do Momento: Na verdade é um, erm, musical. O Médico e o Monstro.

"Sirius Black!" a secretária, que parecia muito entediada, me chamou, e ergui os olhos para a figura ruminante (francamente, o que ela estava fazendo com aquele chiclete não se enquadra na mastigação humana!) e sorri amarelo. Meu pai e eu nos levantamos, e entramos no consultório do Doutor Stuart sem pressa.

Esse cara é meu médico desde que minha rinite atingiu os patamares se precisar do spray, e só agora resolveu me passar algum remédio mais inovador, dando a desculpa de que estou grande o suficiente para cuidar sozinho de administrar as doses. Não reclamo muito dele, não é um mau doutor, o único problema é que ele se irrita muito fácil, especialmente comigo. Assim que nos viu chegando, olhou para mim de um jeito cansado, e sentei diante dele me sentindo com cinco anos de novo.

"Olá, Black. O que tem de errado com o remédio hoje?"

Sorri amarelo para o Doutor Stuart, e percebi que meu pai parecia querer rir, mas não podia. Fiz menção de falar, temendo que espécie de agressão física o médico estaria planejando caso eu começasse a questioná-lo de novo. Meu pai me interrompeu com a mão, provavelmente imaginando a mesma coisa, e explicou o motivo da nossa consulta usando a voz séria (e falsa, devo adicionar) que ele usa com pessoas que ele respeita (ou finge que respeita, como acho que é o caso aqui).

"Sirius precisa alterar a dose do remédio da rinite, Doutor."

Ao invés de olhar para o meu pai, o médico me encarou profundamente, e pude ver um lampejo de quero-matar-você nos olhos dele. Continuei sorrindo, e tirei o spray do bolso, colocando em cima da mesa dele discretamente. Sem nem se dar ao trabalho de disfarçar, ele suspirou pesado e voltou-se para o meu pai, ajeitando os óculos:

"Mas por quê? Em dois meses estará tudo bem..."

"É uma atividade da escola que ele tem de comparecer." meu pai passou os braços nos meus ombros, os olhos tristes de pesar (isso é outra das milhões de coisas que meu pai podia ter feito ao invés de economia: ator).

"Será uma tarefa difícil, Senhor Black."

Mentiroso! Eu li a bula do remédio inteiro antes de vir, e sei muito bem que nada do que tem ali poderia me fazer mal se ele aumentasse na dose certa. Olhei contrariado para ele, e me inclinei para frente, tentando usar a voz falsa séria do meu pai:

"Doutor Stuart, eu li a bula e a fórmula do remédio e vi-"

Ele começou a ficar vermelho, e tirou os óculos enquanto suspirava de novo. Acho que vou virar persona non grata por aqui...

"Já entendi, Black." ele me interrompeu, puxando um receituário e rabiscando sem parar ali. "Vamos dobrar a dose, trocar o horário e aqui, outro remédio um pouco mais forte, uma vez a cada dois dias."

Sorri satisfeito, e meu pai tratou de me levar para fora daqui antes que o Doutor Stuart tirasse um rifle das gavetas da mesa para acabar comigo de uma vez. Saímos do consultório para dar de cara com a secretária ruminante, que ainda parecia entediada, e meu pai piscou charmosamente para ela. A mulher se sobressaltou, e ficou mais vermelha do que o esmalte que usava enquanto balbuciava qualquer adeus para nós dois.

Fico imaginando como meu pai faz isso com as mulheres, essa coisa de piscar e de repente todo mundo te ama. Como estou na política de “treinamento para ser um cara bacana”, resolvi que podia perguntar sobre técnicas sociais dessa categoria, e quando entramos no carro, gaguejei meio sem jeito:

"Pai, eu posso perguntar como você faz isso?"

"Faço o que?" ele franziu a testa, ajeitando os cabelos para longe dos olhos no espelho antes de dar a partida.

"Isso com o olho, essa piscada." olhei no espelho do passageiro, fazendo uma careta horrível tentando imitar o gesto dele. "Que faz as mulheres tipo... Sei lá."

"A piscadela?" ele riu. Assenti com a cabeça, desistindo de tentar para as câmeras do prédio não pegarem esse momento em que a minha cara estava mais feia do que o normal. "O segredo, Sirius, não é olho que pisca. Você tem que sorrir junto, acompanhar o rosto. E você tem o meu sorriso, não vai ser difícil copiar."

Olhei de novo para o espelho á minha frente, duvidando seriamente do que meu pai tinha acabado de falar. Tentei sorrir junto com a piscada, mas tudo o que consegui ver foi um frango de nariz escorrendo com um sorriso estúpido no rosto. Talvez a Wikipédia tenha algum artigo que diga como sorrir sem parecer um idiota.

"James ligou." Regulus resmungou assim que entrei em casa, e olhei para o relógio na mesma hora, notando que esse era justamente o horário em que ele devia estar ajudando Lily.

"Que foi?" – perguntei assim que James atendeu.

"Preciso da sua ajuda, mestre da química. Lily me pediu ajuda com moléculas, e acho que você é melhor do que eu para lidar com isso."

"Tá legal, eu resolvo isso." revirei os olhos. "Mas você me deve essa."

"Tá, que seja. Mantenha sua espada afiada."

"Sim, senhor." desliguei e chamei meu pai, que apareceu já sem camisa e de chinelos, confuso.

"De novo pra escola hoje? Não acha que está estudando de mais, garoto?"

"Não é pra estudar, pai, uma amiga de James que está precisando de ajuda em química."

"Amiga, é?" ele riu, abrindo a geladeira distraidamente. Eu ri também, querendo entrar na brincadeira, mas ainda esperei para ver se ele me levaria. Ao invés de pegar as chaves do carro, ele me jogou outro chaveiro, dando um sorrisinho para mim:

"Aqui, vai de moto."

"Que? Mas pai, a sua moto tá velha-"

"Vem comigo." ele puxou uma camisa que estava secando e vestiu, quase saltitando para o elevador.

Descemos para a garagem, e só então reparei que tinha algo escondido atrás do monstro preto que é o carro do meu pai. Ele tirou a lona que estava cobrindo, e meu queixo caiu no chão quando vi na minha frente o veículo mais legal que a humanidade havia colocado em produção desde a Segunda Revolução Industrial. Uma motocicleta.

"A sua moto!" exclamei, correndo para ver o trabalho que algum mecânico muito bom tinha feito na antiga ducati do meu pai.

"Estava pensando em vendê-la, mas achei que seu novo eu merecia um presente mais veloz que um patinete motorizado. E como você já tem dezesseis anos e autorização pra dirigir isso aí, né... "– ele sorriu, me entregando as chaves. Subi meio desajeitado na moto, alisando o guidão com carinho. James vai ficar com tanta inveja! Agora não preciso mais de carona para as convenções, e vou poder simplesmente por as fantasias na mochila e ir pra casa do Pete!

"Obrigado, Pai!"

"Tome cuidado na rua, e pode ir." meu pai gritou do elevador, piscando para mim. "Só não ronque o motor muito alto, se não as velhinhas do prédio vão encher o meu saco."

Coloquei o capacete que estava ao lado, me sentindo super poderoso em cima daquele bicho, e sai na direção da escola.

Estava tudo deserto quando estacionei ao lado do colégio, e não foi muito difícil achar James e Lily me esperando na frente da porta, os olhos arregalados diante da minha belezinha parada na vaga de moto.

"De quem você roubou esse negócio?" James riu nasalmente, e sorri enquanto desmontava.

"Era do meu pai, agora é minha." expliquei, segurando o capacete com orgulho. Me virei para Lily, que não tinha dito nada ainda. "Qual o problema com química?"

Narrado por: James Potter

Meta Atual: Saber por que Sirius não pegou a motocicleta antes.

Ouvindo: Os ecos do ronco daquela moto

Enquanto andávamos na direção da sala, Sirius ficou explicando a história de como tinha ganhado a moto e de como ele confundiu o médico para ter os remédios alterados, e Lily começou a rir. Acho que alguém deve ter colocado um chip no cérebro dela, não é possível que andar com a gente seja realmente divertido para alguém acostumado a Emmeline Vance e Cia.

"Você confundiu um médico? Seria muito útil conseguir isso..."

Helen tinha me entregado as chaves da biblioteca para aquela tarde, então nos sentamos sozinhos em uma das mesas e peguei o caderno de Sirius (que tem uma letra bem melhor que a minha) e deixei que ele assumisse o controle.

"Qual a dúvida?" ele olhou para Lily, e ela mordeu o lábio enquanto pensava. Decidi levantar um pouco, sentindo que iria começar a ficar com ciúmes da minha aluna.

"Olha, o que eu não consigo entender é a teoria desse cara aqui... Calma, qual o nome dele? É Gay alguma coisa..."

Oh, Senhor, “Gay alguma coisa” é uma péssima frase pra se dizer na frente do Sirius...

"Mr. Gay – Lussac." ele corrigiu, aborrecido, e Lily assentiu com empolgação. "Sim, ele tem uma teoria muito válida sobre gases. Vamos começar aqui, na tabela. Coloque os mols aqui, os dados aqui..."

Enquanto Sirius desvendava cálculo estequiométrico para Lily, puxei um caderno extra que tenho enchido de anotações sobre experimentos novos (tenho ótimos projetos de dois raios laser, um lightsaber e alguns esquemas de fuga de locais estratégicos da escola) e comecei a rabiscar as expressões que ela fazia enquanto aprendia, para poder analisar enquanto estivesse ensinando física a ela.

"Entendido? Ótimo, agora uns exercícios." Sirius fechou o caderno e pegou algumas folhas de papel do armário de Helen (regalias de ser amigo de gente estratégica). Lily esperou pacientemente por ele, e como não tinha pra onde olhar (na verdade eu tinha, mas não seria aceitável passar todo o tempo encarando o rosto dela), puxei o celular e liguei nos tweets de Pete e Rem.

@lupirem: momentos de ócio antes da tempestade. Brace yourselves!

@luvthebeatles: comendo chocolates antes da derradeira despedida!

@lupinrem: aí, pessoal, seguidores pra curar a depressão do @luvthebeatles!

Sorri diante da boa vontade de Remus, pobre coitado, é mais fácil eu ganhar uma eleição no parlamento do que ele conseguir popularidade online. Sirius andando de moto já foi o suficiente para o dia todo sem ele ultrapassar essa linha do impossível.

"Hey, Rem está tentando arranjar uns seguidos pro Pete sair da depressão de saída do ócio." avisei, e Sirius ergueu a cabeça dos exercícios de Lily para balançar a cabeça com um sorriso irônico:

Ele mal consegue seguidores para si mesmo. Ninguém consegue seguidores sem as recomendações do Mestre.

"Mestre?" Lily franziu a testa, e fiquei chocado como mesmo assim ela continuava linda. Sirius continuou usando a cara de presunção dele, e revirei os olhos.

"Eu sou o mago, aquele que tudo sabe, o imperfeito que é perfeito, no mundo online. Posto alto na hierarquia de World of Warcraft,"

"World do que?"

"World of Warcraft." expliquei lentamente, querendo encerrar o assunto antes que ela se desviasse muito no nosso mundo de insanidade mental. "RPG. O nosso esporte."

"Remus está sendo presunçoso, vou comandar meus exércitos e destruir o que ele possui."

Lily pareceu meio confusa, e voltou a resolver os exercícios, para o meu alívio. Ainda ficamos em silêncio por alguns instantes, mas fiquei genuinamente preocupado com o perfil de Remus em WoW.

"Não faça isso, ele ainda está com raiva por aquela vez em que você corrompeu o save dele em Zelda."

Ele soltou um muxoxo emburrado, e senti o telefone tremer no meu bolso. @siriusthelord: @lupinrem não ouse desafiar a popularidade do Imperfeito. @lupinrem: oh, perdão por isso. #sarcasamsign

@siriusthelord: mantenha seu sarcasmo para si, orc.

"James?" Lily chamou, e parei de rir para a tela do celular, sorrindo amarelo enquanto avisava Sirius de que ele precisava corrigir os itens. "Como se joga isso?"

Olhei assustado para ela, me embolando todo para tentar fazê-la desistir. Sirius, que não está nem ai para o meu constrangimento, sorriu:

"É bem interessante, você pode ser uma criatura mágica, batalhar..."

"Parece mais legal do que jogos de fazenda que o Facebook tem... Me ensinariam a jogar?"

"James..." Sirius sorriu cheio de malícia para mim, e sorri para Lily enquanto assentia.

Se insiste... Ensino.

Narrado por: Peter Pettigrew

Primeira Impressão: Não posso jogar meu chocolate fora.

Ouvindo: I’m so Tired – The Beatles

I’m sooooooo tired, I haven’t slept a wink…. I’m soooooo Tired…

Suspirei pesado olhando para o teto do meu quarto. Foi muito generoso da parte de Remus tentar usar a popularidade inexistente dele para me arranjar seguidores, e mais generoso da parte de Sirius avisar que isso seria impossível sem a ajuda dele. Fico comovido. Já estava me distraindo o suficiente com a visão de Roger vestindo fantasias cada vez mais humilhantes, e pode-se dizer que a perspectiva de me vingar causando muito constrangimento já estava me deixando mais calmo, até a campainha soar e minha mãe avisar que Remus havia chegado.

Ela mesma me disse que era um exagero eu me livrar de todos assim, mas depois de uma conversa séria acompanhada de um juramento inquebrável feito com espadas junto de Roger, chegamos à

conclusão de que esse vício deveria parar. Só vou poder voltar a comer meus preciosos (sim, precioso, nós precisar dar um tempo...) depois da Comic-Con, e isso é só no verão.

Remus, sendo a boa alma que é, se ofereceu para me ajudar com a “limpeza”, já que eu mesmo admiti que não conseguiria fazer isso sozinho. Roger se ofereceu também, mas ele seria capaz de pulverizar barra por barra com uma crueldade e agressividade que eu não aguentaria. Sirius tem de onde puxar o jeito dele, acreditem.

"I’m so tired? Cara, você está tão mal assim?" Remus abriu minha porta com uma expressão preocupada, erguendo uma sobrancelha na minha direção.

"Claro que sim, e você entende por que." resmunguei, me arrependendo de cada molécula de ar que inalei enquanto fazia a minha promessa. "Além do mais, seria uma ofenda se escutasse Twist and Shout num momento como esse."

Remus deu de ombros, e desisti de esclarecer os motivos da minha tristeza. Meu humor é, e sempre foi, basicamente medido por músicas dos Beatles, e “I’m so Tired” é um dos meus hinos pessoas nos momentos de tristeza (nota: se o meu biógrafo estiver lendo isso, pode usar a frase acima sem pudor), e “Twist and Shout” eu só uso em momentos de profunda alegria. Não posso trocar uma pela outra, por mais que a razão pela qual me desfaço dos meus chocolates no momento posteriormente possa ser razão para uma comemoração. Me arrastei até o armário, tirando a sacola na qual eu tinha enfiado todos os doces que encontrei em casa, e entreguei para ele com os olhos semifechados.

"Vamos, acabe logo com isso. Odeio despedidas." choraminguei, e Remus balançou a cabeça, levando aquilo para longe de mim. Fiquei algum tempo parado, de olhos fechados, esperando ele voltar. Como Rem estava demorando demais, abri apenas um olho, e me vi sozinho no quarto.

Em pânico, desci as escadas correndo, e quase tropecei quando vi entregando meu pacote para a minha mãe, que estava com a lata de lixo meio aberta.

"Não vai jogar fora, certo?" gaguejei, e os dois me olharam como se estivessem sendo pegos cometendo um homicídio.

"Hum, acho que não." Mamãe sorriu, e sussurrou algo para Remus, que sorriu.

"Acho justo. Vamos, Pete, sua mãe deu uma boa sugestão."

Começamos a andar pela rua, carregando aquela sacola juntos na direção da casa de James, que não fica muito longe dali."

"Vou deixar na casa de Sirius, as velinhas do prédio dele estão envolvidas em vários projetos com crianças!" Remus sorria como se fosse a Madre Teresa em pessoa, olhando orgulhoso para os chocolates. "Só gostaria que James emprestasse a segway, assim não vamos carregar essa carga toda na mão até lá."

"Mas nós vamos a pé?" – murmurei aterrorizado, imaginando como sobreviveria à caminhada do meu bairro até o prédio de Sirius.

"Claro, teoricamente estamos nos adequando ao programa, certo?" – ele sorriu, mas percebi que pensar na distancia também deixou marcas psicológicas. "E pode ser que Roger fique com pena e nos dê carona de volta... Espero que sim."

O carro da mãe de James estava na frente do jardim, e assim que conseguimos repousar a sacola com destreza (talvez nem tanto, mas houve tentativas com boa vontade) no tapete de boas – vindas, Remus bateu na porta, e gritamos juntos:

"Dona Meredith!"

Não demorou muito para ela nos atender (a mãe de James passa tempo demais na sala...) e quando percebeu o esforço que tivemos para chegar até ali se sobressaltou com preocupação e nos ajudou a entrar, colocando os doces em cima da mesa de jantar.

"Sinto muito, queridos, James não está... Foi para a escola."

Remus e eu nos entreolhamos, e estava quase sugerindo que pedíssemos carona à Dona Meredith quando um ronco enorme ecoou na sala, vindo do lado de fora. Me assustei e soltei um guincho agudo, arregalando os olhos e quase correndo para me afogar nos chocolates de novo. Remus correu com a mãe de James para a janela, e ouvi Dona Meredith soltar uma exclamação revoltada enquanto abria a porta com indignação.

"É bom você ter uma ótima explicação para isso, James Potter." ela rosnou para um James que (pasme!) desmontava de uma motocicleta, com Lily na garupa.

"Calma, mãe, a moto é de Sirius, ele emprestou para voltarmos. Eu já explico melhor, só vou buscar ele no prédio..."

"Não vai subir nessa coisa!"

James revirou os olhos e continuou a sair, me deixando nervoso sobre a crise familiar que estava prevendo.

"James!" Dona Meredith ainda tentou, mas ele já estava subindo na moto e erguendo os braços.

"Eu tenho autorização!"

"E eu ligo se você tem ou não? Pode cair na metade do caminho, volta aqui!" ela choramingou quando ele deu a partida, e notei que Lily tinha se esgueirado para o nosso lado, vermelha de vergonha. Comecei a rir, e quando Dona Meredith se virou na nossa direção, torcia as mãos, preocupada.

"Meu menino nunca foi de responder assim, devo ter exagerado um pouco... Mas ainda assim, não faz mal ficar preocupada, eu sou mãe, afinal de contas! Ah, meninos, podem ficar à vontade, só preciso assar uns biscoitos..."

Quando ela nos deixou a sós, senti a tensão crescer, e esbocei meu melhor sorriso pacificamente amigável.

"Dona Meredith sempre faz isso, está tudo bem."

"Está mesmo?" ela esticou o pescoço para espiar dentro da cozinha. Meredith ainda estava resmungando um pouco, preocupada. "Ela parece legal, mas James me disse que ela talvez surtasse com a história da moto. Pelo jeito estava certo."

Remus sorriu nervoso, e se encostou de lado na parede, tentando parecer relaxado enquanto soltava uma risada automática.

"É, ele estava... O Nate não veio?" a pergunta súbita me fez querer esconder a cabeça em algum buraco, e Lily pareceu surpresa por um segundo, e sorriu de uma forma bem amável para a gente.

"Não, porque ele viria... James e Sirius prometeram me ensinar RPG, entende?"

Prometeram, eh? – guinchei, sem entender por que diabos esses dois se ofereceram para uma tarefa tão arriscada.

"Sim, eles prometeram." o sorriso dela ficou meio irônico, e me senti acanhado. "Porque, acham que moças não podem gostar de jogos assim?"

Ficamos em silêncio, e achei indelicado mencionar que não ligamos se meninas jogam videogames, só não achamos comum uma menina como Lily querer algo assim. Sabe, dançarina, linda, popular, são características que não combinam com o vocabulário dos jogadores de RPG...

"Tá, não vou dizer que estou cem por cento morrendo de vontade de jogar, ok?" ela pareceu desistir de nos enganar diante do nosso silêncio, e baixou a voz. Senti Remus baixando a cabeça para perto da minha, tentando escutar o que ela ia dizer:

"Eu só queria me enturmar. Com vocês."

Acho que iria preferir que ela estivesse querendo aprender a jogar. Quem iria querer se enturmar com a gente?

Narrado por: Remus Lupin

Camiseta do dia: I Appreciate the Muppets in a Depper Level Than You (Gosto dos Muppets num nível mais profundo que o seu)

Ouvindo: De novo aquele ronco infernal de moto!

Depois de Sirius educadamente (só que ao contrário) me expulsar da casa de James sob a alegação de que não sou qualificado para iniciar menina alguma em jogo algum (para citar a forma com que ele explicou a situação: “Sai daqui!”), decidi fazer uma visita ao grupo de estudos de história, que provavelmente estaria vazio naquela hora. Assim que cheguei perto da sala que Charlie sempre arrumava, percebi que as luzes estavam acessas, e abri com cuidado a porta, olhando para os lados. Parecia deserto, até que percebi alguém deixando uma cesta cheia de material de pintura cair no chão. Era Dorcas.

"Está sozinha por aqui?" corri para ajuda-la a reunir tudo, e ela sorriu por trás daquela franja, dando de ombros.

"É, vamos dizer que sim. Charlie e Tom saíram para comprar outro “manto” para a área pré-histórica, não sei se ainda vão voltar." ela virou os olhos, e sorri instantaneamente. Eu gosto de Dorcas, ela é uma apaixonada por tudo, e ainda assim não aguenta as improvisações que Charles faz. Levei suas coisas até uma bancada, e ela pegou uma miniatura de barco viking para pintar. Fiz um gesto para ajudar, e ela me deixou, sempre sorrindo.

"Sempre te encontro por aqui." observei, sentindo suas sapatilhas encostando levemente nos meus tênis por debaixo do tampo de plástico. Seus lábios estavam apertados por causa do esforço, e me peguei encarando-os distraidamente. Limpei a garganta, corando loucamente.

"Você joga alguma coisa?" perguntei subitamente, tentando não ser tão descarado nas minhas, digamos, atenções.

"Depende do momento." – ela puxou um DS branco do bolso do casaco, me mostrando. – "Por enquanto God of War e Worms."

Nos encaramos, e pude sentir meu coração acelerar dentro do peito, meus olhos presos aos dela. Não é possível que Dorcas exista.

"Eu adoro GOW." sorri. "Mitologia é uma paixão."

"Nada mal para um Remus, não?" – ela ergueu uma sobrancelha sugestivamente, e tive ganas de apertar a mão dela. Poucos se lembram (ou, o que é mais provável, não sabem) que Remus é um dos irmãos da lenda fundadora de Roma.

"MinHa mãe sempre achou esse nome bonito, desde que estudou sobre Roma na escola."

"Classicista?"

"Não, ela é médica. Não tenho pais na carreira de história. Os seus, o que fazem?"

"Papai é policial, mamãe é jornalista. Bem normal, na verdade."

Tínhamos parado de pintar, mas só me dei conta disso quando senti os dedos compridos dela brincarem com a palma da minha mão em cima da mesa, seus olhos percorrendo as linhas da palma com uma atenção desnecessária. Quando percebeu que eu tinha notado, ela arranhou a ponta de meu nariz com a unha, e senti todos os pelos do meu corpo arrepiar.

"Você é uma pessoa muito especial, Remus."

Fiquei com a respiração suspensa, meu estômago dando voltas só de pensar na reviravolta desse meu dia. Dorcas se levantou, soltando de mim, mas se sentou ao meu lado, me encarando sem dizer uma palavra.

"Nunca sei o que vai fazer em seguida." – ela riu, e pude contar cada um dos cílios dela. – "Não sei como iria responder..."

Ela estava próxima, muito próxima, e quando finalmente me beijou, senti meu corpo respondendo como se eu tivesse recebido uma injeção de adrenalina . Nunca senti nada tão bom, e ao mesmo tempo estranho, uma mistura do nervosismo de quando matei o faraó egípcio em Age of Empires na mesma noite, com um pouco da satisfação da primeira vez em que cheguei na fase do castelo. Ainda tremendo, peguei todas as minhas referências cinematográficas de beijos e passei as mãos pela cintura dela, trazendo Dorcas para perto. Quando nos separamos, procurei em pânico pela reação dela, e senti o alívio praticamente escorrer do meu rosto quando ela piscou.

"Primeiro beijo, hein." – ela riu, e senti que iria ter um acesso ali. Respirei fundo, contando até dez mentalmente, mas ela não pareceu desapontada. Pelo contrário, deu um beijo no meu rosto. "Foi bom, não se preocupe."

Sorri automaticamente, sem conseguir imaginar quais os parâmetros que ela usa para classificar beijos de alguém. Talvez uma tabela que relacione tempo de experiência com fatores padrão de felicidade proporcionada do resultado do beijo... Certamente algo a se pesquisar.

"Obrigado..." murmurei, e meu rosto esquentou um pouco. Dorcas se afastou, embrulhando o barco para poder guarda-lo no armário.

"Para casa, podemos terminar isso depois." ela sorriu, e me peguei imaginando como seria beijá-la de propósito. Impulsivamente, bloqueei seu caminho, e ela ergueu as sobrancelhas de surpresa quando enlacei sua cintura, puxando-a para mim.


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