Os dias seguiram tristes. Eu estava mais calado que nunca e passava a maior parte do meu tempo desenhando coisas fúnebres e tenebrosas. Julie tentava me animar de todas as formas possíveis, mas nada adiantava. Às vezes ela passava a noite em minha casa, me vendo dormir e ter pesadelos com toda aquela explosão. Eu sentia que algo ruim ia acontecer, só não pensei que passaria por tudo aquilo novamente em tão pouco tempo.

Numa manhã de outono, nós estávamos conversando na escadaria que tinha em frente à minha casa. Um dia que nunca irei esquecer.
- você precisa se animar, Gee! A vida continua mesmo sem ele aqui.
- mas eu não quero ficar sem ele!! Ele era tudo pra mim, Julie! Era o meu chão, minha fortaleza!
- você disse bem. Ele ERA. Seu pai não está mais aqui, Gerard. Não em vida, mas você precisa entender que ele sempre estará com você dentro do seu coração. – ela pôs a mão no meu peito quente e pôde sentir que meu coração batia mais rápido.
- eu não sei o que faria sem você aqui comigo pra me dar todo esse apoio. Você é tudo pra mim, Julie. – eu a olhava por inteiro, apesar de jovem ela era uma mulher perfeita.
- ah Gee pára com isso. – ela sorriu e corou, deixando suas fofas bochechas da cor da minha camisa. - Você é forte, tenho certeza que superará qualquer obstáculo na vida. – eu a olhei com ternura. – agora eu preciso ir. Já tá ficando tarde e minha mãe vai reclamar se eu ficar mais uma vez até anoitecer.
- ahh ainda tá cedo, Julie! Fica! – eu a puxei pela mão.
- não posso, Gee. É sério. Beijo. – ela beijou minha bochecha, quase no canto da boca como sempre fazia, caminhou até o meio da rua e se virou. – ahh Gee, minha mãe vai fazer um bolo amanhã pra comemorar meu aniversário. Não vá faltar hein?
- claro que não! Eu te amo sua boba! – gritei como sempre fazia antes dela ir, até que ouvi uma buzina alta e me assustei. – cuidado Julieeeeeee!!!!
Quando gritei já era tarde. Um carro a pegou em cheio e ela caiu inconsciente no asfalto. Junto com ela, outra parte do meu coração ia embora mais uma vez.

[...]