A viagem de avião foi aborrecida e extremamente quente, tanto que Angélica teve a impressão de ter chegado ao Inferno. Apesar de tudo, a viagem não foi muito longa, sendo que Angélica chegou ao aeroporto de Berlim ao início da noite.
- Finalmente! – Exclamou ela, espreguiçando-se, o que fez com que a pessoa que ia ao seu lado olhasse, censurando-a.
Angélica deu um salto do seu lugar, empolgada, e dirigiu-se para a saída, não escondendo a alegria que sentia. Ela estava em Berlim!
Correu apressadamente indo buscar a sua bagagem, já pensando em todas as actividades que iria fazer no dia seguinte. Visitar a cidade, compras, procurar sítios interessantes a frequentar, fazer mais compras, jantar num sítio muito especial…
-Mein Gott, só consigo pensar em compras…. – Pensou ela, rindo-se de si mesma.
Nesse instante alguém a chama. Angélica nem queria acreditar no que via.
-Tia Michelle !! – Gritou ela, fazendo muita gente olhar em redor. - Continuas na mesma! – E correu, indo abraçar a sua tia.
-Oh minha querida, como senti a tua falta.
Michelle Witgenstein era uma mulher de já 45 anos que nada se notavam na sua pessoa. Era uma pessoa energética e de espírito jovem que adorava a vida, e acima de tudo, de aventuras. Era baixa e elegante, mostrando um à vontade na sua postura. Tinha uns olhos castanhos-escuros muito expressivos que contrastavam com o seu cabelo loiro platinado, e tais olhos tinham sido aquilo que encantaram Hans Witgenstein, seu falecido marido com quem viera viver para a Alemanha à mais de 20 anos, e onde se havia dedicado à profissão de professora de inglês. Nunca tivera filhos e por isso considerava Angélica, sua sobrinha e afilhada, a filha que nunca teve, e a única coisa que odiava em viver em Alemanha era estar longe da sua querida sobrinha, que infelizmente já não via à 5 anos.
Nesse preciso momento, Michelle olhava Angélica atentamente, comparando a imagem que tinha dela de à 5 anos.
- Anjinha, meu Deus, como cresceste! Já estás maior que eu! A última vez que te vi tinhas 13 anos.
- Pois tia, o tempo passa não é? Não nos víamos à bastante tempo… Senti a tua falta.
- Também eu querida, também eu…. – Disse Michelle, embevecida.
Michelle agarrou na mão de Angélica e levou-a para fora do aeroporto, dirigindo-se para os táxis.
-Anda, minha querida, deves estar cansada, sem falar que se dispensa os olhares alheios que nos observam. – Explicou-lhe Michelle. – Até parece que esta gente nunca viu o reencontro de familiares. – Gritou ela, de propósito, para que todos ouvissem.
Entraram num táxi em que o condutor lia o jornal e Michelle disse-lhe a morada.
- Muito bem, e agora conta-me porque decidiu a minha sobrinha vir à Alemanha, durante o período lectivo do último ano do secundário, deixando o sei pai à nora, como um barco perdido à deriva no mar? – Perguntou ela, muito séria. Angélica olhou a sua tia nos olhos. Não sabia bem se devia contar à sua tia sobre a chamada que tinha recebido e aquilo que planeava. Incapaz de decidir o que fazer, decidiu mudar de assunto.
- Então, falaste com o meu pai?
- Mas é claro que falei, logo depois de me ligares. O teu pai estava preocupadíssimo contigo. E não mudes de assunto, o que aconteceu?
- … Tia, não estou preparada para falar disso agora. Um dia, não muito longe, eu prometo, explicar-te-ei e tu compreenderás. Entretanto, por favor não perguntes nada.
Michelle mirou a sua sobrinha tentado desvendar o segredo nos seus olhos. Por fim, suspirou.
- Tudo bem Anjinha, não te perguntarei mais. Mas quero que saibas que, aconteça o que acontecer, tens aqui a tua tia para te apoiar.
- Eu sei tia. Se não soubesse, não estaria aqui. Precisava estar com a minha titi amada. – Contou Angélica e Michelle sorriu.
- Chegámos. – Disse o condutor.
Angélica olhou pela janela. Era um grande edifício, que parecia antigo mas em bom estado, com grandes janelas e vastas varandas.
Michelle pagou ao taxista, ajudou Angélica com a mala, e entraram no prédio. O prédio por dentro era muito fresco, e o papel de parede cor-de-rosa encantou Angélica, que se apaixonou pelo prédio. Apanharam o elevador e foram até o 10º andar, o último andar, entrando na única porta que havia nesse andar. “Antigamente, o edifício fora um hotel e essa era a suite” dissera-lhe a tia. A casa encontrava-se muito bem mobilada, toda em tons pastel. A tia mostrou-lhe a casa toda mas Angélica, já cansada, não tomava atenção. Sabia apenas que o apartamento tinha uma grande sala, vários quartos, um escritório, 2 casas de banho, uma cozinha com uma grande janela que ela relembrava vagamente de a tia dizer para nunca deixar aberta durante muito tempo a não ser que quisesse a companhia de uma família inteira de pombos.
- Pois bem Anjinha, esta é a minha casa, espero que te sintas à vontade. Tens fome? Queres que te prepare algo?
- Não é preciso, não tenho fome nenhuma, comi no avião. Estou é cansada Vou já dormir, amanhã falamos melhor tia. – Disse Angélica, beijando o rosto da tia.
- Boa noite querida.
Angélica foi para o quarto que a tia lhe mostrou ser o seu. Era um quarto cor-de-laranja e castanho, bem ao estilo da sua tia. Era muito simples, tinha apenas uma cama, um armário, uma mesa cabeceira, uma secretária com uma cadeira de executivo, uma televisão e uma estante. Angélica meteu a mala sobre a secretária, cansada demais para fazer seja o que for, e deitou-se na cama, ainda vestida, adormecendo assim que caiu na cama. Mas antes de adormecer,
ela murmurou:
-Amanhã começa a minha nova vida…