Eram 15:30 numa tarde de Primavera que recordava que o Verão estava quase a chegar, com o se sol abrasador característico. O calor quase infernal que se sentia nas ruas avisava as multidões a não saírem à rua, na tentativa de escapar às altas temperaturas.
Angélica agradecia a si mesma por não estar lá fora, ideia que num dia normal não teria, visto que preferia estar no pátio do que naquela sala de aula aborrecida. Era tudo por causa do calor, que ela desprezava quando em demasia.
Angélica recostou-se melhor na cadeira, tentando encontrar uma posição em que apanhasse a leve brisa que vinha da janela.
- Anjinha, fica quieta e toma atenção! – falou a colega do lado, Marie, que era também a sua melhor amiga. – Esta matéria vai sair nos exames.
Angélica olhou-a aborrecida. Apesar de ambas serem boas alunas, apenas Marie tinha paixão pela sabedoria e uma vontade ávida de aprender. Angélica apenas via a escola como uma obrigação da sua parte para com os seus pais e para conseguir realizar o seu sonho – ser bióloga.
Virou-se para a janela e fitou o céu azul, pensando no seu futuro e nos seus sonhos.
- Angélica Dee, estás a tomar atenção? Eu sei que és boa aluna mas por amor de Deus, concentra-te nas aulas! – Disse-lhe a professora, olhando-a zangada.
- Desculpe professora. – Exclamou Angélica, suspirando.
- Eu avisei-te, não avisei? – Sussurrou-lhe Marie.
Angélica olhou para o quadro, copiando o que lá dizia, mas sua mente continuava a vaguear por outros assuntos. A separação dos seus pais, a ida da sua mãe com o namorado para algum lugar paradisíaco, deixando-a com o seu pai, que ela mal via por este estar sempre a trabalhar…. Essa situação provocara-lhe dores de cabeça e insónias, e o médico de família parecia preocupado…
“Tenho de continuar em frente, e tentar não me preocupar com isto” - Pensou ela.
Abanou a cabeça, como que querendo afastar essas ideias, enquanto Marie olhava-a interrogativamente. Angélica concentrou-se na aula, tentando preencher a sua cabeça com outras ideias.
Nesse momento, um telemóvel começou a tocar, pelo que Angélica reconheceu como seu pelo toque.
- Angélica, é regra desligar os telemóveis antes das aulas começarem, não sabia? – Silvou a Professora por entre os dentes, irritada.
- Mas professora – disse ela, olhando para o visor do telemóvel – a chamada é importante. Será que posso ir lá fora atender? – Pediu ela, fazendo olhinhos de cãozinho abandonado.
A professora olhou-a nos olhos, irritada.
-Podes, mas só hoje, e é porque eu sou simpática.
Angélica deu um pulo da cadeira e saiu da sala porta fora, cheia de pressa. Encostou-se à parede e atendeu a chamada. A pessoa do outro lado da linha falou bastante e o que ela ouviu deixou-a chocada. Fez-se um silêncio profundo até que ela se despediu e desligou.
Angélica entrou de rompante na sala e dirigiu-se para a sua mesa. Todos seus colegas a olhavam, surpresos com a sua entrada.
- A menina não sabe abrir a porta? Têm que entrar e fazer esse barulho todo? – gritou a professora.
Angélica olhou-a decidida e, com um sorriso na cara, começou a arrumar as suas coisas.
-Que se passa, Anjinha? – perguntou Marie.
Angélica sorriu e abanou a cabeça.
Por fim meteu a mala ao ombro, dirigindo-se outra vez para a porta.
- Onde pensas tu que vais? – perguntou a professora, chocada com o comportamento dela.
-Embora! Estou farta de si e desta escola! Bye bye.
E saiu da sala.
Ela percorreu o caminho até ao portão da escola a rir às gargalhadas.
-Finalmente... Finalmente tive coragem. – Disse ela a si própria.
O porteiro da escola olhou-a curiosamente, mas não disse nada, apesar de faltar 20 minutos para o toque de saída.
Angélica foi a correr para casa, que ficava a apenas 10 minutos daí. Ao chegar, pousou a mala da escola encima do sofá e dirigiu-se para o seu quarto. Agarrou na maior mala de viagem que tinha e enfiou apressadamente roupas e outras coisas que ela achava necessárias, sem esquecer o passaporte. Ao acabar, agarrou no telefone e pediu um táxi, o mais rápido possível.
Ela tremia por todo o corpo enquanto esperava, mas o sorriso não saía da sua cara, nem a felicidade do seu coração.
Ouviu uma buzina e ao olhar à janela viu que o táxi já tinha chegado. Desceu com a sua mala que o motorista ajudou-a a arrumá-la no porta-bagagem.
- Angélica… – alguém chamou.
Angélica virou-se e viu o seu pai, a olhá-la.
- Que se passa? Onde vais no táxi? – Perguntou ele, baralhado.
- Vou ser feliz. Não te preocupes comigo… – e ela entrou no táxi.
Pediu ao condutor que a levasse para o aeroporto. Aí começaria a sua jornada.
A viagem não foi muito longa. O condutor ajudou-a a retirar a mala do porta-bagagem e ela pagou-lhe, agradecendo.
Foi rapidamente para a fila que lá se encontrava para comprar um bilhete de avião, ela não conseguia esperar mais. Comprou um para o próximo voo e sentou-se, à espera.
Fez uma chamada de telemóvel enquanto esperava.
- Sim?... tia?... Adivinha, vou-te visitar!! – disse ela, olhando para o bilhete onde se lia “destino: Alemanha”.