Sakura entrou no quarto e bateu a porta.

- Que abusado! Quem ele pensa que é para me falar tais absurdos?

Ela andava de um lado para o outro tentando dissipar a raiva que estava sentindo. Ao se aproximar da cama ela se jogou sobre o macio colchão e ficou em meio a penumbra do ambiente observando o teto.

Sakura tombou a cabeça para a lateral e viu a cômoda que costumava a ter um vaso com rosas vermelhas, mas este vaso não estava mais ali desde o dia em que Sasuke o havia jogado no chão; com o impacto o vaso se rompeu muitos pedaços que não puderam mais ser unidos. Ele havia quebrado o vaso assim como um dia ele também havia quebrado o coração dela. E enquanto olhava a cômoda a percanta se perguntou se seu coração, ao contrário do vaso, poderia ser consertado.

Repentinamente ela esboçou um sorriso bobo, pois lembrou-se de Sasuke jogando o vaso no chão dizendo que ela estava com o Naruto.

- Sente ciúmes de mim? – perguntou a si mesma – Será que ele ainda me ama?

As palavras de Tsunade lhe invadiram a mente.

“- Ele já a deixou uma vez, e poderá fazê-lo novamente...”

Sakura sentou-se na cama e ficou olhando o chão de taco do quarto. A luz que vinha da janela fez brilhar um pequeno ponto em meios as frestas do taco, inconscientemente ela pôs o dedo no pequeno ponto brilhante e sentiu uma picada. 

Sakura recolheu o dedo e viu uma pequena gota de sangue brotar na gema de seu dedo.

- Um caco de vidro do vaso... – deduziu ser aquele o tal ponto brilhante em meio as frestas do taco - Sasuke... Por que o seu amor sempre me machuca?

Lágrimas começaram a correr pelo rosto da jovem e caíram no taco molhando-o.

Sakura pôs-se de pé novamente e foi até a janela do quarto, de lá ficou observando as ruas cheias de homens embriagados e mulheres que riam e os acariciavam.

Ela abraçou seu próprio corpo.

- Estou presa a mundo ao qual não quero mais pertencer – desabafou – Não quero mais ser tocada pelas mãos sujas desses homens que todas as noites vêm aqui satisfazer seus próprios desejos e caprichos... Eu quero sair daqui!

Novamente as palavras de Tsunade mostravam-lhe a realidade. 

“- Ele a poderia levar ao altar. De dama da noite passaria a pertencer à alta sociedade e circularia entre as pessoas mais influentes de Buenos Aires.”

- Naruto... Ele pode me tirar daqui? – ela balançou a cabeça de um lado ao outro - Ser “ la cumparista”, renunciar a meus sentimentos... É isso que devo fazer.

A falta de certeza em suas decisões demonstrava claramente a incerteza que havia em seu coração.

Sakura começou a cantarolar os versos de “la cumparsita”.

- Ah, Sasuke... Se soubesse que ainda dentro da minha alma, conservo aquele carinho que tive para ti... uh uh uh ... Voltando ao seu passado, se lembrará de mim... – ela respirou fundo – É talvez se lembre de nós.

Sakura se afastou da janela e resolveu voltar a milonga. A noite já terminava e poucos homens sobravam na pista de dança, as concubinas já começavam a se recolher enquanto que as reas (prostitutas) embriagadas continuavam se divertindo com os homens que as acariciavam e lhe pagam mais bebidas.

- Não gostou de ser tocada por alguém de classe mais baixa – disse Ino num tom provocativo – está mal acostumada com os bacáns (homens de dinheiro). 

Ino estava atrás de Sakura. A garota virou para encarar a jovem companheira.

- Só gosto que me toquem quando dou permissão para isso – rebateu a garota altiva.

- Percanta briosa... Até onde conseguirá manter esse seu orgulho?

Ino girou os calcanhares e foi em direção as escadas que conduziam aos quartos. Sakura ficou pensando na maneira como a colega a chamara.

- Percanta (mulher) briosa... – repetiu num tom baixo de voz – Sasuke também me chamou assim... Percanta (mulher) briosa.

Sakura balançou a cabeça e percorreu com o olhar rapidamente a milonga. O homem que dançara com ela não estava mais lá.

- Aquele homem veio aqui só me provocar? Quem é ele afinal?

Sakura deu as costas para o salão e seguindo o caminho que Ino fizera, ela se dirigiu para os quartos.