Na milonga a noite seguia tranqüila. Havia poucos clientes na casa, e os que haviam não gozavam de uma classe social que não lhes permitia muitos luxos com as concubinas.

Nenhum bacán (homem rico) havia comparecido ao salão já que estavam todos reunidos num evento político importante que aconteceria naquela noite. Aliás, tal reunião fora o assunto da semana entre os políticos e os mais abastados de Buenos Aires.

Sakura já estava entediada de ficar sentada no sofá apenas observando os homens dançando com as reas (prostitutas). Ao longe ela viu a amiga Ino dançando um tango com um homem que não gozava de muitas posses, e era conhecido na milonga como sendo um gavião (homem que explora mulheres).

Um homem que aparentava ter uns 30 anos se aproximou de Sakura, suas roupas mostravam que ele não era um dos abastados portenhos.

- Dança comigo um tango? – pediu o homem estendendo a mão para Sakura.

A percanta olhou-o briosa, mas por seu tédio em ficar ali sentada decidiu aceitar. Sendo conduzida pelo homem que esboçava um sorriso de vitória, ela foi para o meio do salão. 

Um tango começou a tocar, e Sakura deixou o homem conduzi-la.

Corrientes tres - cuatro – ocho

(Corrientes, três-quatro-oito)

Segundo piso, ascensor

(Segundo andar, elevador)

No hay porteros, ni vecinos,

(Não há porteiros, nem vizinhos)

Adentro cóctel de amor

(Dentro coctel de amor)

(Pisito que puso maple,)

Chão que é de maple

Piano, estera y velador,

(Piano, tapete e velador)

O homem não se sentia inibido em tocar o corpo de Sakura, abusado ele passava suas mãos pelos seios da moça e também em seu bumbum. Aquilo já estava começando a incomodá-la, e eles ainda estavam nos primeiros versos do tango.

Un telefón que contesta,

(Um telefone que responde)

Una vitrola que llora

(Uma vitrola que chora)

Viejos tangos de mi flor

(Velhos tangos de minha juventude)

Y un gato de porcelana

(E um gato de porcelana)

Pa' que no maúlle al amor.

(Para que não adoeça o amor)

- Está imaginando ele te tocar? – perguntou o homem de repente.

- O que está dizendo? – Sakura não havia entendido o porquê da pergunta. 

Y todo a media luz,

(E tudo a meia luz,)

A media luz los dos

(A meia luz os dois)

- Sasuke... – disse o homem quase que num sussurro.

O homem agarrou firme a cintura de Sakura, e esta esboçou uma cara de insatisfação.

A media luz los besos

(A meia luz os beijos)

A media luz los dos.

(A meia luz os dois)

- A meia luz os dois – cantou o homem junto com a música – Agora que ele não é mais um seco (pobre) pode pagar por você.

Y todo a media luz,

(E tudo a meia luz)

Que brujo es el amor

(Que buxo é o amor)

- Um seco (pobre) que soube com a quem se unir… Seu homem soube escolher bem os novos amigos.

Sakura permanecia indiferente aos comentários.

A media luz los besos

(A meia luz os beijos)

A media luz los dos.

(A meia luz os dois) 

O homem aproximou a boca do ouvido dela e lhe perguntou num tom baixo de voz.

- Uma dúvida, você dorme com Sasuke de graça ou ele te paga por isso?

Sakura o empurrou para longe dela.

- Não admito que fale uma coisa dessas! – ela esbravejou.

Alguns casais que dançavam ao lado deles os olharam espantados.

O homem não se incomodou com os olhares curiosos e deu um aviso a garota.

- Cuidado com algumas cobras, elas podem parecer dóceis, mas suas picadas são mortais.

- Eu sei me cuidar sozinha – rebateu Sakura que dando as costas para o homem saiu andando por entre os casais que continuavam dançando no salão.

O homem se dirigiu ao bar e sentou-se no balcão. Os últimos versos do tango estavam sendo executados.

- Eu quero um pernó (absinto).

O garçom encheu um copo com a forte bebida.

- Kabuto, é melhor ficar longe da Sakura.

- Agradeço o conselho, amigo Shikamaru, mas ela é a maneira que eu tenho de atingir o Uchiha.

- Pelo o que eu sei o Uchiha tem as costas quentes, e, bons novos amigos.

- O posto daquele bastardo deveria ser meu. Não vou deixar que ele fique com o que eu tanto lutei para conseguir.

- Põe no mate (cabeça) de uma vez que não tem como vencer o Uchiha. E não se meta com a percanta (mulher) dele. Além disso, essa concubina também tem o agrado do filho do ex-governador Minato.

- O Uzumaki?! Interessante. Uma disputa entre o Uzumaki e o Uchiha pelo amor de uma concubina. 

Saber daquilo agradou Kabuto.

- Se eu fosse você não me metia no meio dessa disputa – aconselhou Shikamaru.

- Pelo contrário, isso apenas acaba de tornar as coisas mais interessantes.

Para Kabuto a informação de que aquela percanta (mulher) briosa com quem ele dançara na milonga era o alvo da atenção amorosa de Sasuke e Naruto era de um valor imensurável. Finalmente ele tinha nas mãos as melhores cartas para serem jogadas.