Quando Felipe Conheceu Johnnie escrita por Zoombie_Misora


Capítulo 10
Tiro


Notas iniciais do capítulo

Eu chorei escrevendo



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Johnnie entrou em casa e deixou o casaco no sofá. Não teria muito tempo para tomar banho e comer alguma coisa, se não estaria atrasado para a aula. Cursava administração para um dia ter seu próprio bar e não depender do seu pai.

Entrou de baixo da água, lavou os cabelos como pode, refrescou um pouco a pele e já saia dali colocando a cueca. Não gostava de ir arrumado para a faculdade, achava meio idiota isso. Sem contar de ter o prazer de ser o único menino menos arrumadinho e fazer o curso.

A semana sem Lipe estava passando e um aperto no seu peito o avisava da saudade. O loirinho já havia se declarado e ele não! Como poderia ser tão covarde? Nem pensou muito, apenas pegou dois comprimidos do remédio e tentou os engolir a seco.

Não conseguindo foi, sem camisa mesmo, para a cozinha. Chegou no cômodo e pode ver o pai com duas meninas que pareciam ter menos idade que ele, sentadas em cada perna do pai, o beijando no pescoço e rindo.

Por que teima em ver essa cena e ficar chocado? Sempre foi assim.

-Johnnie! –Disse Balthazar sorrindo. –Essas são as minhas amigas...

O moreno deu meio sorriso, pegou a água e quando saía do cômodo, avisou:

-As crianças vão chegar da escola ao meio-dia. –Falou Johnnie. –Espero que já tenha as mandado embora.

-Embora? –Perguntou uma com voz nasal. –Mas eu quero brincar de novo!

-É Johnnie... –Disse Balthazar as trazendo para mais perto do seu corpo. –Pegue uma delas e chega de stress!

-Não gosto de puta, pai. Sabe que eu acho um desperdício de dinheiro comer uma mulher cheia de doença e que ainda tá na fossa da vida.

As duas meninas sentiram-se ofendidas e falaram algo que o moreno não compreendeu. Balthazar deixou-as sentadas na mesa, foi até o filho, o pegou pelo braço e quase o jogou contra a parede.

-Qual o teu problema? –Perguntou o pai.

-Tu não tem vergonha na cara? –Perguntou Johnnie. –Trazendo esses tipos pra cá... Que exemplo quer pros teus filhos?

-Tu virou uma ótima pessoa.

-Sou diferente dos teus outros filhos, sabia? Pai, as crianças precisam de ti! Não de mim!

-Cuida delas porque quer.

-Tem certeza? Por que quando chego de madrugada, elas ainda tão morrendo fome, porque não jantaram. E tu tá aonde? No quarto!

-Cuido deles do jeito que eu quero!

-O conselho vai tirá-las de ti!

-Ótimo, daí não vou ter nenhum filho se metendo de pai pros meio-irmãos dele.

-Olha pai... Eu não me mato na faculdade e não fico praticamente 20 horas no bar pra isso. Um dia eles vão se meter em encrenca. Resultado de terem um pai como tu.

-Não preciso que um piá diga como criar meus filhos, entendeu? Vai cuidar dos teus quando tu ter. E cria vergonha na cara e compra um apartamento pra ti, não quero filho meu com mais de dezoito morando na minha casa.

Johnnie pegou o casaco e foi embora. Estava com fome, cansado, com o comprimido na sua garganta e quase atrasado pra aula. Se o pai não precisava dele, não iria fazer questão de voltar naquela noite para casa.

Charqueadas – à noite

Lucas, o primo de Lipe estava jantando na casa do parente. Apesar do menino ser um pouco tímido em alguns assuntos e não falar muito, conseguia ser mais sociável que o outro loirinho.

Quando estavam lavando a louça, Hans tomava seus remédios, quando Lucas disse.

-Encontrei um moreno há umas três semanas atrás que me confundiu contigo. –Disse o loiro sorrindo. –Ele ficou me encarando e se assusto quando eu chamei a minha namorada de amor.

-Sério? –Lipe disse. –Ele era como?

-Cabelo preto, alto, regata e coturno.

O loirinho quase derrubou um prato no chão. Hans percebeu o nervosismo do irmão ao continuar o assunto e sua cabeça começou a pipocar uma idéia. Seria Johnnie? Lipe estava com Johnnie?

-Tá com ele loira? –Perguntou Hans ao irmão.

-HANS! –Disse Lipe o repreendendo. –Porque eu estaria?

-Porque tu gosta de homens.

-Que bobagem. Só porque gosto, não é motivo pra eu ficar com qualquer um.

-Ainda bem, pois ele é um canalha. Fica com qualquer mulher, transa com todas e depois as joga no relento. Ele é igual ao pai dele, cafajeste que não tem nada além de um bando de bebuns em volta.

-HANS! –Felipe estava vermelho. –Ele é meu amigo. E não é assim. Talvez era um cafajeste, mas agora mudou! Eu sei!

Algo estava errado com o loirinho. Sentiu uma dor no estômago e um enjôo repentino que estava lhe tirando o sentido. Hans falava sem parar e ele não conseguia acompanhar o que a voz do outro dizia. Estava tudo ficando escuro...

Ele caiu sentado no chão e teve o tronco segurava pelo primo, que o chamava. Ele suava frio, Lipe estava tendo um colapso nervoso. Sentia que todos os nervos do seu corpo estavam tensos, uma dor de cabeça do cão lhe invadiu.

Lucas virou sua cabeça para o lado e Felipe vomitou no chão, quase perdendo a consciência. Lágrimas brotavam de seus olhos e suas mãos tremiam. Ele não sabia o que estava acontecendo.

Apenas sabia que algo de ruim estava acontecendo.

Bar do Balthazar –Perto das duas da manhã.

Johnnie tomava mais dois comprimidos. Sabia que tomar rebite não era bom para a saúde, mas o que poderia fazer? Trabalhar como um escravo, fazer a faculdade e cuidar dos irmãos não era um tarefa fácil.

Ainda mais, que estava sozinho agora, conferindo as caixas das bebidas que haviam chegado. Tentava reduzir a vontade de dormir tomando um pouco de whisky. O problema era que já estava na metade da garrafa.

Pensou que veria Lipe naquele dia. Um sorriso se abriu e o fez acreditar finalmente que estava fazendo tudo aquilo por sua felicidade. Era um sacrifício, estavam sem ter uma noite descente à quase um ano. Mas valeria a pena.

Um barulho de batidas na porta.

-Estamos fechados. –Disse em voz alta.

A batida continuou. Johnnie bufou e quando foi atender, um revólver foi apontado para o seu rosto. Um cara de capuz o forçou para dentro do bar e fechou a porta no mesmo instante que passou.

-Cadê o dinheiro? –Perguntou o assaltante.

-Tá no caixa! –Disse Johnnie. –Eu te levo...

O moreno tinha a voz tremida. Nunca tinha ficado com tanto medo na vida. O homem apontava o cano para a sua nuca, sabia que um movimento em falso, e estava acabado. Chegou no caixa, o abriu e entregou todas as notas que estava ali.

-Mas que merda é essa? –Perguntou o assaltante.

-Cara, acabamos de pagar os funcionários e... só tem uns 200 pila aqui dentro, em troco. –Disse o moreno tentando se acalmar. –Desculpa, mas eu só devo ter uns 10 pila pro bus.

-Como assim tu não tem dinheiro?

-Cara, isso é um bar! O dinheiro tá nas garrafas! Uma caixa daquelas ali deve valer uns 1000 pila no mercado! Leva quantas caixas tu quiser!

-EU NÃO QUERO! QUERO DINHEIRO!

Ele pressionava a arma contra a nuca do moreno, que pode sentir a sua pele entrando dentro do cano.

-Cara, não faz uma merda. Eu... –Johnnie engoliu um seco. –Eu tenho um alguém que tá esperando por mim. Esse alguém é muito importante pra mim e tu também deve ter! Não faz uma besteira dessas!

-Me dá uma dessas caixas. AGORA!

O assaltante foi para perto da porta. Johnnie virou de costas e começou a arrumar uma caixa de Jack Daniels que tinha aberto a pouco. Pegou uma garrafa em separado e virou-se novamente para o meliante.

-Toma. –Disse o moreno alcançando a garrafa. –Pode pegar.

Quando o homem se aproximou, Johnnie jogou a garrafa na cabeça dele e escutou um barulho de tiro. Viu que sua mão havia sido atingida. Fechou o punho e partiu para cima do homem, socando a sua boca e batendo com sua cabeça no chão.

Tirou a arma para longe, pegou um dos durex das caixas e amarrou as mãos do homem.

-Idiota, bem feito pra você. –Falou o moreno. –As câmeras te gravaram e tu vai para a cadeia! Filho da puta.

A porta do bar se escancarou. Balthazar apareceu completamente branco.

-Eu escutei um tiro? –Disse ele vendo o homem no chão. –O que aconteceu?

-Ele tento roubar. –Disse Johnnie ofegante. –Mas tá tudo bem...

O moreno sentiu a pressão baixando. Deve estar assustado por causa do tiro. Sentiu um molhado na sua calça e uma ardência no peito e no lado do corpo. Começou uma dor sem explicação no seu lado esquerdo.

Sentiu o gosto de sangue na boca. Por alguma razão, cuspiu sangue e sentia a sua camiseta molhada. Escutou ao longe seu pai gritando seu nome. Olhou para baixo e viu sangue. Muito sangue.

Levantou a camisa e viu um buraco de bala. Saindo sangue e uma dor no peito lhe invadindo, o cheiro de pólvora, uma sensação que o fez desabar no chão. Seu pai o segurou e começou a chorar.

Não conseguia respirar. Era algo desumano.

Não fechou os olhos por um instante sequer. Viu o pai ligando, mas não conseguia escutar direito. Estava como se fosse num sonho. Não soube quanto tempo passou até que os médicos chegassem.

Estava no hospital, mas não lembrava como chegou lá. Estava chorando, sentia-se como não fosse acordar se fechasse aqueles olhos novamente. O seu braço estava dormente e seu pai tinha a camiseta branca cheia de sangue.

Quando o médico corria ao lado da sua maca, ele sentiu que o efeito do rebite estava querendo passar.

-Doutor. –Ele chamou com dificuldade para respirar. –Me cura agora... O rebite...

-Johnnie, não durma! –Disse o médico. –Respire com calma, seu pulmão foi perfurado.

-Doutor... O rebite...

Foram as algumas palavras dele. Seus olhos se fecharam num sono profundo. Balthazar caiu no chão aos prantos e um barulho chato lhe encheu os ouvidos.

Depois perdeu a consciência.


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Notas finais do capítulo

Cara, eu vou postar talvez até quinta, ok?