Quando voltei ao banheiro, Lexi já aparentava estar bem melhor, porém, estava muito machucada, e ainda precisava da minha ajuda. Dei banho nela, e observei bem as marcas que ela deixava no corpo. E ela tinha um sinal na mão, parecido com o meu. Quem será que a havia transformado?

Assim que terminei de lhe fazer os curativos, colocar-lhe uma roupa e lhe ajeitar os cabelos, ela se levantou e foi para a cozinha. Eu estava faminta, e ela que havia acabado de passar por uma transformação, deveria estar realmente com muita fome também.

Decidi fazer panquecas. Abri os armários - eu não poderia imaginar que elas paravam tanto em casa pra comer. Tinha tanta comida na dispensa! - Peguei os necessários, e comecei a preparar a massa. Lexi me olhava confusa.

_ Que aconteceu? - ela passava a mão na cabeça e olhava para os machucados que ela causou enquanto ainda se transformava.

_ Você começou a se transformar. Eu só não sabia que você se machucava tanto - e sorri sem graça. Ela retribuiu.

_ A Stormie... - ela me olhou com cara de dúvida, e respondi a pergunta não feita.

_ Não, ela não acordou.

_ Ótimo. Se não, ela tentaria roubar minha dor e não resistiria. Os demônios dela rejeitam toda a dor que recebem, ou seja, a Stormie sofre um pouco mais que o normal. Por isso eu a olhava daquele jeito ontem. Tive medo. Aliás... teve algum pesadelo ontem? - ela me olhou calmamente.

_ Não. Quer dizer... sim. Eu vi como eu fui transformada. Minha irmã de criação é uma filha da p... - fui interrompida pela campainha. Alexandra riu, e foi abrir a porta. Era o carteiro.

Eu me escondi um pouco atrás da mesa. Ainda não estava acostumada a olhar um homem e descobrir os seus anseios, e a última vez que descobri foi à força. Apenas olhei disfarçadamente.

O carteiro era magro, não era feio, mas tinha um ar simpático. Pelo jeito, Alexandra e ele já haviam namorado - ficavam completamente sem graça um perto do outro. Ele corava enquanto falava com ela. Pareciam se gostar.

Ela fechou a porta e soltou um suspiro. Jogou em cima da mesa a carta que o homem misterioso havia lhe dado.

_ Quem é ele? - olhei para ela com um olhar quase que maternal.

_ Ray - e sorriu.

_ Gosta dele, não é?

Ela não me respondeu. Olhou para a carta com uma cara de interrogação. Larguei a panqueca quase pronta - só faltava jogar o mel - em cima da pia e fui ao encontro dela. Ela me entregou a carta e me olhou.

_ É pra você, Emil - e a casa ficou num ar confuso.

Olhei o remetente. Era de Dark.

Espera, de Dark?

_ O que o filho da Cheffia quer com você, hein? - Alexandra me olhou desconfiada.

_ Não gosto de tocar muito nesse assunto.

_ Emil.. serei forçada a juntar as peças do quebra-cabeça? Ele não parou de te olhar o tempo inteiro. Fechou a porta em nossa cara antes que pudéssemos perguntar quem tinha feito aquilo a você. Celéstica e Dark são noivos, e eles nunca brigaram; bom, pelo menos, não até você aparecer na vida dele. Eu acho que vocês tiveram um caso.

_ Nunca tivemos um caso. Nós... transamos.

_ Então, tiveram um caso.

_ Lexi, se realmente quer saber o que aconteceu, Dark descontou em mim toda a brutalidade sexual que ele tem que a futura esposa dele não deixou ele praticar com ela. Eu estava na final da trifásio, indefesa e sozinha, enquanto Celéstica o traía com o próprio sogro. O que você viu ontem foi a prova de que eu não posso e nem devo falar nada a ninguém sobre este assunto. O que você ouviu aqui, morre aqui. Entendeu?

Lexi ficou com a boca entreaberta. Fiz uma cara de decepção. E comecei a ler a carta em voz alta.

"Querida Emil... não sei como devo te informar isso. Mas sabe que te perseguirei até quando você não quiser, não é? Não vou te pedir desculpas pelo quê aconteceu dentro do meu quarto aquele dia, e muito menos por não ter te dado nenhuma missão e, em vez disso, ter te espancado. Eu queria que você entendesse que eu queria você. Mas você nunca facilita o meu lado... Vou te dar uma ordem e espero que obedeça: quero que você venha até a minha casa hoje, porém sozinha. Espero que venha preparada com roupas e com suas roupas íntimas. Vai doer de novo, porque sei que você não vai querer. E se você não vir por sua livre espontânea pressão, eu mesmo vou aí te buscar. Sei aonde você está. E não me importo se estou noivo, não sou apaixonado pela Celéstica. Mas sou por você desde quando te vi pela primeira vez depois de sua transformação. Então, venha. E eu também espero que não se importe de perder sangue. Com amor, Dark."

Quando terminei de ler, vi que Tempestade estava encostada na porta da cozinha, olhando pro além, com a expressão horrorizada. Alexandra veio me abraçar, e chorava mais que eu.

_ Vai ter que ser forte, entendeu? Você ainda tem muito pra viver e - Stormie tentava enxugar as minhas lágrimas.

_ EU NÃO QUERO IR! NÃO QUERO! PORQUE ELE NÃO ME DEIXA EM PAZ? - eu comecei a me debater e a gritar.

Apenas saí da cozinha e bati a porta do quarto.

Precisava arrumar minhas coisas.