The Evil Angels escrita por Missfic


Capítulo 14
Capítulo 13 - Tirando coroas e quebrando honras




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Mesmo tendo encerrado a visita, eu ainda conseguia lembrar do olhar cansativo e choroso de Celéstica, observando todos saindo da delegacia, proferindo xingamentos e mostrando o dedo do meio para quase todos daquele estabelecimento. Ela gritava a cada vez que um guarda insano olhava para o corpo dela, principalmente quando mandavam piadinhas indecentes.

Olhando profundamente nos meus olhos, ela sussurrou entre soluços algo que só eu ouvi. Algo que foi dito de verdade, não para ser uma despedida melosa e estranha, mas algo para que se fosse lembrado apesar de todas as borradas e frioleiras que carregava Celéstica. Seus lábios se mexeram calmamente para que eu entendesse o que ela estava dizendo. "Foi por amor".

Senti uma corrente elétrica percorrendo por toda a extensão do meu corpo. Eu sabia que era verdade. Mas não foi por amor a mim que ela falou isso. Foi por amor ao pai. Ao próprio chefe. Ao irmão que a desprezava. Ao seu prometido. A irmã de criação que a desobedecia a cada momento. Por amor a mãe que agora estava desaparecida. Por amor aos meus pais falecidos naquele acidente. Foi tudo por um motivo.

Quando parei de pensar na frase que ela me disse antes que eu fosse, vi toda a minha vida passando diante dos meus olhos, e vi como a tinha desperdiçado. E se eu não fosse um anjo maligno? Provável que eu nunca teria sido estuprada, espancada, ameaçada por um cara de dois metros de altura. Provável que Dark só fosse mais um irmão de Celéstica, e que fossemos amigos. Provável que Bê e sua mãe ainda estivessem juntas morando em um lugar longe, mandando notícias por email, e nos vendo por webcams. Eu teria estudado em uma escola normal, eu teria amigos normais, amigos que poderiam ficar comigo 24 horas por dia e nunca veriam eu me transformar. Poderia estar junto de meus pais, fazendo aula na faculdade. Poderia nunca ter sangue de um homem nas mãos.

Porém tudo acontece por algum motivo, e por algum motivo, eu sou uma anja maligna, que matou o próprio chefe, que foi abusada pelo próprio meio-irmão, que foi traída pela melhor amiga. Não faço a mínima ideia do meu destino. Minhas visões não me ajudam mais. Estou ficando sem saídas.

Olhei para a minha mão, e assim percebi que já fazia quase quinze minutos que eu estava voando de mãos dadas com Dark. As asas dele roçavam nas minhas, me causando certo desconforto. Eu só era um objeto dele por enquanto. Desentrelacei nossas mãos e fitei o chão por um tempo, até que chegamos a mansão.

Os clãs ainda não haviam ido embora, pois faltava ainda a cerimônia da coroação. Viriam todos os súditos, de todas as províncias. Eles se reuniriam no jardim e pela primeira vez, seria possível fazer uma corrente de poderes malignos. Este poder dos súditos seria distribuído entre todos os nove justos, e a coroa de poder maior ficaria com Dark.

_ Emil, no que tanto pensa? - Dark puxou meu rosto e me forçou a olhá-lo diretamente nos olhos, sem oportunidades para que eu desviasse. Nós já estávamos no jardim da mansão. Tirei suas mãos de meu rosto.

_ Não... não toque em mim - eu falei com rispidez. Meu coração pulsava forte, eu estava temerosa. Nunca sabia o que Dark poderia fazer.

_ Emmy... por favor... não faça assim - e se aproximou de meus lábios o suficiente para que conseguisse beijá-los. E me beijou com uma força incrível, como se não quisesse me perder nunca mais. Mas ele nunca me teve. Forçou tanto nossa aproximação, enfiou tanto meu passado pela minha goela que qualquer tipo de afeto que ainda é possível se ter por algum abusador era fora de cogitação. Assim que ele terminou de me beijar, eu olhei em seus olhos por alguns segundos, e nossos olhares se sustentaram no silêncio.

_ Dark, você já me machucou demais. Chega dessa história, certo? - e o beijei no canto da boca, como se fosse uma despedida (e eu esperava que realmente fosse). Ele apenas assentiu e encarou a porta.

Ele chutou a porta da mansão. O mais estranho foi que assim que ele abriu, começou a descer sangue pelas escadas e aquilo começou a escorrer para a grama do jardim. Olhei pela janela do quarto do meu falecido chefe. Rosallio estava lá dentro, batendo na janela, gritando, como se estivesse trancado, ou algo do tipo. Senti uma mão me puxando. Era Dark, me empurrando bruscamente. Fitei seus olhos vermelhos por alguns minutos, e o problema era que eles alternavam nas cores. Parei para ver o que ele tanto observava. Fiquei atordoada.

Lady Silipovick estava no chão, completamente machucada. Um pedaço de sua asa faltava e o leque que ela sempre carregava em uma de suas mãos estava encharcado de sangue, e jogado a alguns metros dela. O vestido dela estava rasgado. Logo do lado dela, com os pés amarrados e com o pescoço completamente arranhado e cortado, estava Pedro. Lágrimas desceram dos meus olhos. A situação estava pior do que eu pensava.

Susaj e sua filha estavam com as roupas sujas de sangue, com as mãos cortadas. Estavam quase nuas, e choravam. Gitié se agarrava aos braços da mãe, marcados de queimaduras e cortes. Clea estava pendurada na porta da sala de jogos, com Zanum em seu colo, e ambos com a garganta cortada. Luen estava jogada no chão, e agora, possuía um corte que ia de sua sobrancelha direita até o começo de seu ombro esquerdo. O sangue jorrava, e ainda para complementar, não tinha mais as asas. Não eram pedaços que faltavam. As duas asas haviam sido arrancadas brutalmente. Charice e Carmi estavam com móveis pesadíssimos em seus corpos, causando uma pressão impossível de ser controlada sobre a pele angelical que possuíamos.

Dark estava muito assustado vendo tudo aquilo, mas ele desabou quando fitou Bê. Ela estava com as pernas abertas, as roupas rasgadas, uma poça de sangue ao seu lado, e com um lençol envolvido na parte de cima do corpo, tapando seus seios. Ela chorava como um bebê. Seu estado era deplorável, aliás, o estado de todos ali era completamente deprimente.

Haviam fotos da infância de Dark espalhadas por cada canto dos corredores. O álbum queimava na lareira, enquanto nas fotos, haviam sátiras. Pelo jeito, todos os nove justos haviam tomado chihad, porque nunca poderiam ser mortos por simples cortes ou arranhões.

Meu coração doeu assim que vi todos daquele jeito. E se eu estivesse ali, naquele momento? Eu estaria morta também? Também teria sido envenenada?

Mas então, foi aí que eu lembrei que só havia uma pessoa naquele lugar que não havia sido morta - ou quase morta. Um jovem de cabelos azuis, ríspido, que jogava as coisas na parede e sempre se sentia atraído por algumas das chefes das províncias.

Matew Coker.

Não gastei tempo. Apenas chutei a porta da sala de jogos, onde Clea e Zanum estavam pendurados. Os coloquei no chão, e encontrei aquele idiota, sentado perto da mesa de ping-pong gargalhando feito um louco. Dark me seguiu.

_ Filho de uma... - eu nem ao menos precisei terminar. Dark mesmo tomou força, pegou uma mesa de sinuca e jogou contra a cabeça de Matew, fazendo-o voar e se chocar contra a parede.

Fez com que Matew ficasse ajoelhado no tapete vermelho, e começou um ciclo de chutes, pontapés, socos e xingamentos, assim como ele fazia comigo. Pegou-o pela gola da camisa, e começou a enforcá-lo.

Peguei o frasco de chihad e fui andando calmamente até onde se encontrava a boca de Matew, e derramei todo o conteúdo. Dark o soltou. Sentamos na mesa aonde o mesmo sentara, e ficamos observando a transformação de um anjo para um humano.

Era prazeroso ver Matew sofrer. Eu entendi o que ele quis dizer com "anjos mortos" agora. Ele quis atingir todos os nove justos primeiro. E conseguiu, porque todos os outros estavam em estados deprimentes, alguns a beira da morte, e outros já falecidos.

Lembrei que Rosallio estava trancado no quarto do pai de Dark. Abri uma das portas do corredor e subi as escadas. Avistei o quarto do pai de Dark. Chutei a porta e logo vi que Rosallio estava assustado. E não estava só ele lá: Edgard e Rudolph também estavam presos lá dentro.

Rosallio me abraçou num impulso e beijou minha testa. Me agradeceu umas cinquenta vezes e saiu correndo pelas escadas. Os outros só me agradeceram e fizeram a mesma coisa que Rozz havia feito alguns minutos atrás.

Em um ímpeto, adentrei nos aposentos de meu falecido chefe. O quarto dele era bem organizado em comparação ao do filho. Olhei no criado mudo, e havia uma foto de Miguel ainda humano, e Celéstica, sua filha, no seu colo. E haviam vários retratos deles pelo quarto. Nenhuma foto de Dark.

Achei um livro escondido debaixo do travesseiro. Era um livro pequeno, mas com muitas páginas. O guardei no bolso e saí do quarto. Quando cheguei nos corredores, Dark estava sentado chão, fumando, observando a fumaça sendo guiada pelo vento. Sentei ao seu lado. Por um ímpeto, coloquei a mão em seu rosto e o forcei a olhar para mim, assim como ele tinha feito comigo mais cedo. Encostei minha testa na sua.

_ Dark... não posso continuar mais aqui - e o fitei com cautela.

Ele olhou para mim por um longo tempo. E naquela hora fui calada pelo silêncio do olhar de Dark, que me passava mais dor a cada piscar.





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