The Evil Angels escrita por Missfic


Capítulo 12
Capítulo 11 - Promessas de vingança




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Ao finalmente decidir dormir, após os ataques de histeria de Matew, a morte de Mag e o chororô infindável de minha irmã de criação, a última coisa que eu queria era me deitar ao lado de Dark e esperar o inesperado; eu não sabia se ele iria querer sexo, me tratar como uma irmã ou fingir que não me conhecia e, melhor do que me frustrar quanto aos cuidados do Moreno de Olhos Vermelhos, desisti de entrar em seu quarto e passar por sabem os anjos lá o quê. Mas o real problema era: onde eu dormiria? Talia estava com Pedro, Lady Silipovick com seus escravos, eu não ficaria sozinha num quarto com Matew Coker, Susaj e Gitié estavam no calabouço, como sempre. A única pessoa que havia me restado era a Celéstica, que eu não sabia se estava chorando ou se apreciava seu décimo quarto sono.

Mesmo com uma escolha não muito agradável, optei por recolher parte de meu aconchego, como minhas cobertas e travesseiro, e comecei a vagar pelos corredores daquela mansão, que eram ocupados com os quadros cujos quais fiquei fascinada quando vi e, por um instante, lembrei-me de tudo: de quando eu era pequena e vim aqui pela primeira vez. De quando fui treinada pelo meu chefe, que agora estava morto, e que por acaso, era o pai da minha quase-irmã. E parei em frente do mesmo quadro em que eu tinha ficado fissurada da última vez - o menino dos olhos vermelhos e do cabelo liso, fitando a coroa de poder, a sala do trono escura e vazia. Agora eu podia entender o que significava aquela imagem.

Bati na porta do quarto de Celéstica, e ela abriu. Parecia cansada, e vi que ela estava bebendo, pois o quarto estava com cheiro de Orloff. Nem falei nada, só vi que tinha uma cama sobrando, deitei ali mesmo e adormeci.

Passado algumas horas, acordei com o som da voz de Celéstica. Vi que Matew estava na porta e conversava com ela segurando algo nas mãos. De repente, vi que a porta tinha se fechado, e que Celéstica havia me empurrado da cama.

_ FICOU LOUCA? - indaguei passando a mão na cabeça que por acaso tinha batido na cabeceira da cama.

_ Chihad, não é mesmo, Emmy? - ela perguntava desesperada, passava a mão pelos cabelos e começou a tacar o abajur na parede, o que me lembrou Matew.

_ Foi uma ordem, Cel. Uma ordem. Seu pai pela minha liberdade. Justo. - eu já tinha me levantado, e dessa vez, estávamos gritando uma com a outra.

_ Depois de tudo que fizemos por você... nós a acolhemos, lhe ensinamos tudo que um anjo maligno poderia aprender, te protegemos, te livramos das missões de resgate, nunca deixamos que roubassem qualquer dom que você possui, e você retribui obedecendo uma ordem que culminou na morte do meu pai? Inacreditável.

_ Seu noivo me fez a oferta, Celéstica. Como eu já disse antes, acho melhor você calar essa sua boca.

_ Não acredito que ele acreditou na profecia - ela encostou na parede e foi escorregando lentamente, como nas cenas de filmes americanos. Apoiou a cabeça entre os joelhos, se abraçou e balançava para frente e para trás. Tudo o que eu ouvia eram as lágrimas dela pingando no chão. Fora isso, nada recebi além de um profundo silêncio.

Fiquei observando Celéstica chorar feito uma criança, e depois de cinco minutos, resolvi continuar a conversa.

_ Que profecia? - eu agachei para ficar do lado dela.

_ Há alguns anos que a mãe de Bê profetizou isso pro meu pai - olhei para ela e pedi que continuasse -, e a antiga profecia falava "Eis que acontecerá grande perda para o mundo dos anjos. Tua prole amada te sacrificará em nome de honra. Os nove se levantarão contra ti e tua prometida." Tudo faz sentido agora.

_ É. Aconteceu.

_ Como eu pude ter confiado em você?

_ Eu matei seu pai. Certo. Mas você matou os meus pais. Tirou o meu direito de viver como uma humana normal. Bateu na minha cara, me acusou de ter seduzido seu noivo, me privou da liberdade de ter uma família que me amava. É pra jogar os erros na cara? Aposto que eu ganho.

_ Vai ter vingança, Emil. Vai ter vingança.

Ao ouvir aquelas palavras que foram vociferadas com uma angústia que eu não era capaz de mensurar, percebi que Celéstica realmente tinha tomado um choque de realidade. Não conseguia acreditar que qualquer um que fosse pensaria em fazer mal a ela, direta ou indiretamente. Fora criada sobre circunstâncias tão bruscas (apesar de ser mimada e bastante inconsequente, e um tanto ingênua), fora tão protegida desde quando começou a andar, que acabou se esquecendo de observar a malícia por trás dos olhos das pessoas. Embora possuísse todo aquele ódio no olhar, os punhos cerrados, os pés ansiosos e os cabelos um bocado desarrumados, eu ainda assim não conseguia sentir que ela seria capaz de trair quem a traiu.

Talvez eu a estivesse subestimando. Não sei.

Ela me deixou sozinha no quarto; assim que pisou os pés para fora do recinto, dirigi-me para o quarto de Dark que, por acaso, estava conversando animadamente com Matew Coker, o boca grande mais safado de todos os séculos.

_ Dark, acho que você deveria escolher melhor as suas amizades... - e cravei minha concentração no homem de cabelos azuis.

_ Coker, do que ela está falando? - Dark olhou para traidor com uma inocência que juro nunca mais ter visto em seus olhos.

Fiquei tão enojada que empurrei Matt em direção à parede e agarrei com força seu pescoço. Não o mataria, mas aliviaria minha raiva, então ainda assim era útil.

_ Ele, Dark. Ele contou tudo pra Celéstica. Pegou a amostra de chihad. Que desgraçado!

Dark tirou lentamente minhas mãos do pescoço daquele anjo ridículo. Em vez do que eu havia feito, segurou-o pela gola da camisa e se dirigiu até a porta do calabouço. Ainda com Matew sufocando aos poucos por causa de sua vestimenta, descemos a longa escada espiral que nos guiava até aquele lugar obscuro e sombrio. Eu nunca tinha me dado conta do quão fundo era aquele lugar - a escada era enorme, e as paredes, muito distantes, com marcas do tempo que as envelheceram, cheiravam a mofo. O local era repleto de teias de aranhas e de alguns brinquedos quebrados, inclusive, possuía algumas roupas de criança também (que eu acredito terem pertencido a Dark algum dia).

Quando pusemos nosso pé no último degrau, vi uma cena que eu deseja poder ser desvista: Susaj, nua, e ao seu lado os farrapos de sua roupa; masturbava-se e chorava ao mesmo tempo – como se sentisse saudades do parceiro sexual e lamentasse sua perda ao mesmo tempo. Estava com as pernas bem abertas, massageando os seios com a outra mão, e chorava como se sua alma estivesse esvaindo do corpo. Já Gitié, escondida atrás dos degraus da escada, tampava os ouvidos para que não escutasse os gemidos sofridos da mãe. Ela ainda possuía suas roupas, mas fedia muito e estava suja de fuligem. Quando me viu, correu e me abraçou muito forte. Susaj não percebeu nossa presença e nem parou de se dar prazer; Matew a encarava com desejo.

_ Aproveite, Coker, e vê se sacia o cio dessa vadia – e jogou-o em cima da mulher que se masturbava. Gitié tapou os olhos e começou a me puxar para subir a escada. Os gemidos de Susaj tinham ficado mais altos.

_ Dark, vamos... – segurei seus braços e implorei. Já não aguentava mais ver a loirinha passando por aquela situação tão horrível.

Enquanto subíamos as escadas, Gitié aos tropeços, Dark na frente e com uma expressão dura, e eu, apenas sendo a mediadora da situação, o barulho da relação entre Susaj e Matew ficava mais distante, apesar de ainda assim estar bastante alto. Quando finalmente vimos a luz que brilhava por entre as frestas da porta, conseguíamos escutar ainda os gritos longínquos.

Gitié ficou aliviada e beijou o carpete do corredor.

Reuni todos do clã em três minutos. Até mesmo Clea veio, e ela veio acompanhada de Zanum, o seu filho de 17 anos. Quando viu Pedro e Talia aos beijos, nem se importou. Ela já sabia que isso tinha acontecido. Aliás, Talia e Pedro estavam se agarrando por todo canto daquela mansão; achei um absurdo, mas a vida nem é minha, portanto, deixei pra lá.

_ O que nos traz aqui? – Lady Silipovick, com a voz serena como uma noite de lua cheia, aparentava não estar muito a vontade.

_ Matt contou para Celéstica que Emil envenenou seu pai; pegou as amostras de chihad, contou nosso plano de cumprir a profecia e disse que fora uma ordem minha – O Moreno de Olhos Vermelhos sentou em uma cadeira e massageou as têmporas.

_ Por que não pedimos pela ajuda de Edgard? – sugeri.

_ E o que o faxineiro tem a ver com isto, Wayne? – perguntei-me como Zanum sabia meu sobrenome, aliás, como ele sabia o nome do faxineiro daquela casa. Pelo que eu ouvira, era a primeira vez que pisava em território estrangeiro. Para quem morava na província egípcia, estava com os conhecimentos bem avançados a nosso respeito.

_ Edgard já foi preso por crimes de guerra. Fora do exército alemão durante a Segunda Guerra. Penso eu que tem cacife para dar um susto na Celéstica, pelo menos por enquanto. Então, decidimos o que faremos depois.

_ Que seja feito – disse Lady Silipovick, sempre com o leque nas mãos.

Logo chamei Edgard. Conversei com o mesmo e lhe ofereci uma grande quantia em dinheiro para que ele se comprometesse em nos ajudar. Foi fácil convencê-lo.

Eu observei tudo o que ele fez pelo teto de vidro. Ele parecia ser bom no que fazia.

Edgard POV

Sempre trabalhei naquela casa me perguntando o quão sujo seriam os negócios que acometiam meus patrões – e um deles havia morrido recentemente. Agora, Emil me pedia para silenciar uma moça. Os parentescos dessa casa são meio assustadores.

O jeito impiedoso do meu antigo chefe me lembrava um pouco as peculiaridades de Hitler. Pelo visto, seu filho havia seguido seus mesmos passos; infelizmente, acabou em morte.

Nunca haviam me pagado tamanho capital para empreender um serviço desse tipo; não reclamei.

Foi quando Celéstica saiu do banho que entrei em ação. Tapei seus olhos, sua boca, e a amarrei. A lancei dentro da sala do zelador, e usei um modificador de voz (servia de vez em quando).

_ Me solte, por favor, me solte! - ela gritava desesperada. O pano que tapava seus olhos estava molhado, de tanto que ela chorava. As palavras saíam abafadas e quase impossíveis de se entender.

Gosto assim.

_ Siga as instruções se quiser sair viva.. – eu disse com uma voz grossa e estridente, alternando gradativamente entre os pontos da frase; ainda bem que o dinheiro era suficiente para comprar o aparelho que modificava a voz – Primeiro, você terá de esquecer tudo o que viu e ouviu de Matew Coker. Segundo, eu posso te matar a qualquer momento se abrir a boca. Cuidado.

_ Emmy? - Celéstica tentava proferir as palavras, mas só se ouviam gemidos. Queimei um cigarro no pescoço dela, o que a fez gritar. Sorri.

_ Você é uma completa idiota - e saí do quarto do zelador, deixando-a sozinha.

Perdi a conta das horas que a deixei trancafiada e amordaçada dentro daquele almoxarifado. Quando voltei, parecia exausta de tanto chorar. Estava toda roxa de tanto que se debateu para se soltar.

_ Celéstica, pelos anjos, quem fez isso com você? – fui em sua direção como um consolador e amigo, até porque ela não podia nem desconfiar de mim naquela situação; tirei o pano que a impedia de falar.

_ Eu... eu não posso falar nada... eu... eu... – estava tão histérica que tinha dificuldades em pronunciar as coisas. Pelo que observo, ela calaria a boca por um tempo.

Ao desamarrá-la, vi que queria tanto um amigo que se jogou em cima de mim, querendo um abraço. Levei-a até seu quarto e ela me agradeceu solenemente.

Era burra como uma porta.

Fui contactar ao clã que a missão havia sido bem sucedida.

Emil POV

Fiquei esperando ansiosamente por Edgard. Quando ele falou "tarefa cumprida", Celéstica apareceu atrás dele do nada, como se tivesse ouvido tudo. E ainda por cima, ela olhou para mim e disse "vingança", falando vagarosamente cada sílaba.

Como a noite havia sido longa, fui tomar banho e me deitar, dessa vez, no quarto de Dark, para me certificar de que Celéstica não me mataria depois.

Pela minha sorte, Dark dormiria na sala do trono. Ou seja...

Um quarto só pra mim.


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