The Evil Angels escrita por Missfic


Capítulo 11
Capítulo 10 - Sedução e sangue




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Se não me engano, ainda eram 5 horas da manhã quando me levantei. Dark estava dormindo, e eu não o acordaria. Fui ao banheiro tomar banho. Tirei cada peça de roupa lentamente, e me pus na frente do espelho. As minhas cicatrizes realmente tinham diminuído.

Coloquei a água fervendo, quase tirando minha pele, mas era assim que eu gostava de sua temperatura; parecia me ajudar a tirar o estresse. E não apenas isso: debaixo dela eu me sentia calma, protegida, sem medo, diferentemente do tempo em que eu passava fora do banho.

Enquanto eu sentia o vapor subindo no banheiro, meus cabelos grudaram em minhas costas e foi aí que realizei de como estavam grandes. As transformações acabavam com minha estética, mas desde que o Moreno começou a me tratar de maneira mais doce, minha fisionomia foi mudando - desde o cabelo até o corpo. Não que eu tivesse motivos para sorrir; eu era uma anja, órfã, com uma meia-irmã idiota, um agressor em potencial como projeto de "namorado", um sogro um tanto sombrio e uma cicatriz ridícula na cara. Mas meu sorriso estava mais bonito, minhas coxas engrossaram e eu obtive um olhar sedutor e misterioso, por mais que aquela marca rasgasse minha cara de cabo a rabo.

Ao sair do banho, vi que Dark me olhava enquanto eu estava debaixo d'água. Coloquei a toalha em volta do corpo rapidamente, e ralhei com o mesmo. Fiquei enfurecida e mandei ele sair de lá, e ele obedeceu, por incrível que pareça.

Já com a roupa no corpo, saí da suíte e fui para os corredores. Abri a porta do quarto de Talia e vi que Pedro estava deitado na cama com ela. Eu iria empurrá-lo e iria mandá-lo de volta para a província do Canadá, porém, eu lembrei do que Dark havia falado. Aquilo, no mundo dos nossos anjos, era normal.

Fechei a porta do quarto ainda tentando entender como aquilo poderia ser tão comum. Imaginei a vida inteira que casamentos eram baseados na fidelidade, e agora, meus ideais foram quebrados. Se eu me casasse com qualquer anjo, não poderia reclamar de ver meu marido nos braços de outra, de outras.

O cheiro das margaridas e das rosas invadiram minhas narinas assim que abri as janelas para me esquecer da cena quase-pornô que eu havia visto ontem a noite. Rosallio, nosso jardineiro, estava regando as flores. Decidi segui-lo sem que o mesmo percebesse.

_ Bom dia, Rosallio! - exclamei em alto e bom som. Ele se virou e aparentava estar aturdido.

_ Bom dia, Emil - e deu um sorriso confuso e preocupado.

_ Aconteceu alguma coisa? Você está pálido.

_ É a Celéstica, Emil. Eu a vi dentro do quarto da Cheffia hoje de manhã. Ela apareceu na janela. Quando me viu, saiu voando pela porta dos fundos - ele parecia ainda em estado de choque.

_ Mas a Cheffia dormiu na sala do trono...

_ Esse é o problema. O que ela estava fazendo lá, sendo que a Cheffia não estava presente? E se ela tiver mexido nos livros dele? Ah, Emmy... - ele se sentou na grama verde e passou a mão nos cabelos grisalhos. Seus olhos azuis pareciam realmente preocupados.

_ Volte ao trabalho, Rozz. Deixe que eu cuido disso.. Suas margaridas precisam mais de você, penso eu - sorri e entrei na mansão pela mesma porta pela qual Cel saiu.

Vi que Matew Coker já havia acordado e que estava no banheiro que ficava ao lado da sala de jogos, onde ele havia passado a noite. Ele me olhou com desdém assim que saiu de lá, e sussurrou "anjos mortos" no meu ouvido.

Susaj estava dormindo na porta do porão, esperando sua filha Gitié aparecer a qualquer hora. Só que isso nunca aconteceria. Dark deve tê-la matado ou abusado, e como ela é muito nova, seria dificílimo ter forças para sair dali.

_ Emmy, bom dia, querida - senti Dark falando atrás da minha nuca, o que me causou arrepios. Me virei de supetão e comecei a encará-lo, mas fui me afastando aos poucos, até que eu estivesse numa distância agradável.

_ Oi, Dark. Tudo pronto para hoje? - eu perguntei desviando os olhares dele que iam direto para as minhas cicatrizes.

_ Daqui a quinze minutos meu pai passará na cozinha. Ele sempre come nesse horário. Temos que ir trocar logo a poognafia por chahid.

Eu entendi o que ele quis dizer. Virei-me para a cozinha, e nem ao menos bati na porta, apenas entrei. Dark me olhou com aprovação, e me disse que iria chamar os outros do clã.

_ Hey, Duph! - eu disse entusiasmada. Ele nem desconfiou.

_ Duph? - ele riu absurdamente e depois parou - Que raios de apelido é esse, Emmy? - ele largou o pano de prato e começou a tamborilar os dedos em cima da mesa de metal.

_ Ok, Rudolph - eu coloquei minhas mãos em sinal de rendimento - Sabe, me pediram pra te falar que o Rosallio quer falar com você - eu inventei a pior mentira possível, mas quem sabe ele cairia.

_ O jardineiro?

_ Esse mesmo. Acho que é algo em relação as laranjas - essa caiu perfeitamente, porque eles tinham um mini-pomar na parte de trás da mansão, perto das margaridas.

_ Ah, sim. Tudo bem. Vigia a porta pra mim? - eu apenas assenti, e ele saiu.

Que idiota.

Tirei o chihad do meu bolso. Joguei em todos os alimentos que serviriam de café da manhã, do almoço e no resto da comida que havia naquela cozinha. Sorri vitoriosa, e peguei o pacotinho de poognafia e troquei por chihad também. O resto do pó eu coloquei dentro de um frasco, que serviria para aumentar as forças do clã por um tempinho.

Ouvi tinidos e voltei para o corredor. Fui para a sala de jantar, onde todos estariam reunidos e lhes contei como foi.

_ Seduziu o Rudolph? - Matew me encarava.

_ Não foi tão difícil. Falei que Rosallio tinha que falar com ele lá fora sobre a laranjeira, e ele foi em dois segundos. Não desconfiou de nada. E aqui - tirei o frasco do bolso - está a poognafia para que nossas forças aumentem. O chihad inteiro foi jogado na comida.

_ Ótimo trabalho, Emmy - disse Lady Silipovick, que estava se abanando com um leque.

Não sei exatamente o porquê, mas parei um minuto para observar como Lady Silipovick era uma dama de muita classe: a pele cor de chocolate, os olhos penetrantes, ora verdes ora mel, o cabelo completamente branco, armado e de um cacheado de tirar o fôlego, a boca apenas um pouco mais clara que o tom de pele, levemente retocada com um brilho bem fraco. Seu vestido, laranja, amarelo e branco, repleto de babados, caía de maneira sutil, deixando a mostra parte de seu colo e ombros, tão longo que não se podiam ver os sapatos. Atrás do leque que sempre carregava em suas mãos, esboçava um olhar quente e muito ameaçador; olhar aquele que fazia ou faria qualquer um se sentir digno de si mesmo. Qualquer uma das outras líderes gostaria de ser tão classuda e firme como Madame S.

Saí da sala de jantar e me deparei com a Cheffia entrando na cozinha, e ele estava conversando com o Rudolph. Abri uma das portas dos corredores - a que dava para o telhado, que por acaso, era feito de um vidro que só quem estava de fora poderia ver o que acontecia dentro da casa - e fui subindo as escadas. Quando cheguei ao telhado, vi que o resto do clã já tinha subido. Dark olhava pensativo, com dúvida se tinha mesmo feito a escolha certa.

A Cheffia provou a sopa que Rudolph serviria no almoço. Não bastou dois segundos para que ele caísse no chão e começasse a se contorcer. Sua boca começou a espumar... seus olhos vermelhos viraram olhos castanhos, como os de um humano. E aí eu comecei a entender o que o chahid fazia.

Anjos malignos obviamente nunca poderiam morrer. Se a trifásio já quase nos mata e ainda conseguimos ficar bem, um simples veneno nunca iria nos matar. Mas poderia nos matar se fossemos humanos.

Era estranho ver a aparência da Cheffia como um humano. Ele parecia muito com Dark, e eu nunca teria reparado nisso se eu o visse só como o chefe dos anjos. Foi bom ver metade da escuridão que existia naquela casa se espairecendo.

Celéstica ouviu os gritos de Rudolph, que estava desesperado. Ao entrar na cozinha e se deparar com o seu sogro como um humano, e não mais como o chefe dos anjos, ela chorou. Como nunca a vi chorar. Ela parecia sentir uma dor enorme. Pelo o que eu sabia, os demônios que existiam no corpo da Cheffia o mataram. Não aguentaram a pressão. E pelo jeito, essa era a intenção.

E do que adiantaria contaminar a Cheffia de novo, sendo que ele estava morto? Celéstica não teria mais o que fazer. Ela vivia para trabalhar para ele. Nosso falecido chefe. Cel observava aqueles olhos castanhos com tanta dor, tanto desespero. Segurava a mão do chefe como se ele ainda estivesse morrendo.

Eu não me compadeci de minha meia-irmã. Ela estava arrasada, mas isso não me comovia nem um pouquinho, até porque ela já me chamou de bastarda em alemão, me deu um tapa no rosto, e ainda por cima, me acusou de ter seduzido o noivo dela.

Desci do telhado pelas escadas, e assim que Celéstica me viu, foi me abraçar. Rudolph chorava dentro da cozinha, querendo saber onde foi que ele tinha errado. Senti vontade de contar que fui eu, mas eu não contei. Não mesmo.

Ao me abraçar, Cel começou a desabafar coisas sobre a nossa infância.

_ Ah, Emil. Me desculpa, me desculpa - ela escondia o rosto no meu pescoço -, se você soubesse como eu sou um monstro...

_ Por que você seria? - falei baixinho.

_ Emil... A Cheffia era meu pai. Minha mãe tinha casado com ele. Só que quando ele descobriu os poderes que ele tinha, ela se separou dele, falou que ele tinha ficado doido. Meu pai amava minha mãe, nunca quis machucá-la, porém, antes de pedir o divórcio, traiu mamãe com a mãe de Bê - ela tentava parar de chorar, e falava gaguejando - e eu só morei com minha mãe até meu pai me transformar em um anjo. Aí eu te mordi. Ele me explicou tudo. Ele me ensinou tudo. E aí, papai teve Dark. Quando vi Mag se transformando eu me apaixonei na mesma hora, e sim, eu sei que é desastroso eu me apaixonar pelo meu próprio pai - ela voltou a gaguejar um pouco mais -, só que foi inevitável. Contei pro meu pai e ele me disse que sentia a mesma coisa por mim. Foi a primeira vez que beijei alguém - eu a olhava incrédula e ela nem parecia se importar - e eu sabia que estávamos errados. A solução perfeita foi o Dark. Como ele nunca foi meu irmão de sangue, virou meu prometido desde que nasceu. Eu amava tanto meu pai, Emmy. Tanto. Tanto. Quero matar quem o matou - nessa hora eu engoli seco.

_ Celéstica... vá tomar um banho e descansar. Deixe que da morte dele cuido eu.

Ela me obedeceu e seguiu em frente. Enquanto os outros membros do clã iam embora, eu só maquinava o que ela tinha me dito mais cedo. Nunca fomos permitidos a falar o nome verdadeiro da Cheffia, somente quando ele falecesse. O nome dele era Miguel, porém, todos o chamavam de Mag desde pequeno.

Eu ainda não sentia a dor de Celéstica, mas pude imaginar o quão difícil deveria ser pra ela ter se apaixonado pelo próprio pai. Tudo tinha feito sentido. Agora eu sabia o porquê de ela ter o beijado. O porquê de ser tão ciumenta, tão próxima, o motivo de conhecer aqueles corredores tão bem.

Quando minha irmã de criação saiu do banho, entrei no quarto dela.

_ Que foi, Emmy? - ela parecia normal ao me ver entrando no quarto dela sem pedir licença. Que se dane também.

_ Onde foi parar sua mãe? A mãe de Bê? O que aconteceu com elas? - aquela pergunta parecia ter doído.

_ Minha mãe sumiu, Emmy. Sumiu. Foi embora depois que vim morar com você, Dark e meu falecido pai. Tentei encontrá-la, mas foi em vão. Eu nunca vou me perdoar por isso. Nunca mesmo. Só isso?

_ E a mãe de Bê, Celéstica? Ela tinha me comentado que a mãe dela tinha sido banid... - fui interrompida.

_ Não exatamente banida. Ela não era um anjo quando Mag a laçou - Celéstica fez cara de nojo - e quando ela descobriu sobre nós, Mag teve que a mandar para um lugar longe, e... tirar a memória dela. Ela esqueceu de tudo. Bê não sabe disso, pensa que sua mãe foi banida e que era um anjo.

Nem agradeci pelas respostas. Eu só saí do quarto e me deparei com um Dark encostado na parede dos quadros, olhando para mim.

_ Bom trabalho, pequena - e beijou minha testa -, agora, só temos que coroar os nove justos e tudo estará certo.

_ E quanto à minha liberdade? - respondi com ousadia.

_ Você a terá assim que todas as províncias estiverem coroadas. Boa noite, pequena Emil - lembrei do dia que ele me espancou. Ele proferiu as palavras "pequena Emil" do mesmo jeito.

De novo, me peguei pensando em como, COMO Dark conseguia ser tão inconstante, tão 8 ou 80, tão dissimulado. Ele conseguia me causar sensações muito boas - como quando ele tentava me proteger de todos - e outras muito ruins - como quando ele inventava de me violentar só por diversão. O modo como ele dizia "pequena Emil", com aquele rasgado na garganta, o aroma de cigarro saindo de sua boca e se envolvendo com o cheiro de meu perfume me deixavam completamente paralisada. Aquela frase sempre delimitava meu destino. Eu nunca sabia o que realmente esperar.

Matew Coker estava perambulando pelo corredor. Quando percebi, me dirigi até a ele.

_ Você ainda pensa em matar Dark, Matew? Acho que você está muito enganado.

_ Tudo com calma, Emmy - se virou e entrou na sala de jogos.

Comecei a ouvir gritos e objetos sendo jogados contra a parede.

Sorri.

Matew era um retardado...


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