Segredo Familiar. escrita por mokoli-me


Capítulo 6
Coração corrompido.


Notas iniciais do capítulo

Leiam devagar para ficar com mais emoção.



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Coração corrompido.

Acordo com uma tempestade que invade o céu lá fora, trovões atrás de trovões, escuto as gotas de chuva caindo sem parar nas janelas. O dia parece acompanhar o que se passa dentro de mim.

Aprendi que o silêncio é capaz de grandes coisas, mas nem sempre ele é feito por uma boa causa. Minha mente parece não estar no meu corpo, estou me sentindo deslocada, mas hoje tudo vai mudar, meu ritual já está começando.

Arrumo-me e desço até a sala. A surpresa é que Cláudia, Christian e Albert estão reunidos com grandes sorrisos no rosto.

Minha cara de indiferença é aparente, logo os sorrisos são desmanchados, dando lugar a um ar de preocupação. Cada passo que dou me aproxima mais da minha primeira escolha radical daquele dia.

─Filha amada, eu comprei um presente para você, abra. – ela tenta em vão me animar.

Abro o embrulho e vejo um pacote de folhas decoradas, algumas coloridas. Isso me será útil com certeza.

─Bela, abra o meu. – meu pai fala com certo entusiasmo.

É uma varinha de fada. Talvez eu faça parte de um conto de fadas mesmo, sendo apenas uma maçã envenenada.

─O tio comprou isso, eu já vou embora. – ele sempre se esforça para fingir que gosta de mim.

“Que legal você vai embora”, foi isso que tive vontade de dizer. Me contive e fingi gostar da caixinha de música.

─Obrigada gente, vou dormir.

Cláudia me fuzilou com os olhos, ela viria atrás de mim.

Dito e feito, ela estava muito furiosa.

─Isabela, me explica que falta de respeito foi essa. Fala logo, antes que eu bata em você mais ainda do que da última vez.

─Eu não vou te explicar nada Cláudia.

─Não me chame de Cláudia, você está louca?Agora sim eu vou te bater com vontade.

─Faz isso, faz isso e eu conto pro papai o que você faz no sótão com o Albert. Faz isso e eu conto para quem quiser ouvir o seu segredo, o que você fez sua louca.

─Cala a merda da sua boca menina.

─É melhor você me deixar em paz, se não eu revelo o segredo familiar.

─Monstro, eu te odeio.

Ela bateu a porta do meu quarto com força, em seguida eu a tranquei. O ódio estava me dominando, eu estava fora de mim, não sei como tive coragem de dizer aquilo.

Para me deixar mais nervosa, minha cabeça não parava de me mandar lembranças daquele dia terrível, o dia do meu aniversário.

Eu tento me soltar a qualquer custo dos nós apertados que estão amarrando meu corpo inteiro, não consigo me mover, estou com medo.

Eu não posso deixar isso acontecer de jeito algum, tento gritar, mesmo com a mordaça em minha boca, estou perdendo as forças.

─Isa socorro, Isa me ajude.

Bryan, eu estou dando o meu máximo, não consigo me soltar.

Grito:

─Eu não consigo me soltar – Pelo menos foi isso que eu tentei dizer.

Ele se debatia e tentava respirar a qualquer custo. Seus olhos já sem expressão, então juntou muita força para dizer:

─Isa eu te amo, socorro.

Essas foram as últimas palavras dele que eu ouvi, logo depois seu corpo parou de lutar e ele então foi abraçado pela morte.

Cada momento de agonia que ele passou, foi presenciado por mim. Meus olhos não queriam ver a cena dele lutando para sobreviver, mas eu não queria fechá-los para não desmaiar de cansaço. A crueldade feita contra ele, a brutalidade com que sua morte foi feita, cada detalhe está vivo em minha mente, eu me sinto um lixo. Não consegui salvá-lo.”

Esses pensamentos me assombraram naquele momento, entrei em pânico, tinha que fazer algo para me castigar de verdade pela minha incompetência.

Abri uma gaveta da escrivaninha, revirei-a até encontrar uma faca, a faca que usaram para me soltar das cordas naquele dia terrível.

Tomei coragem e entrei no banheiro. Olhei-me no espelho e senti uma raiva gigante sobre mim mesma. Comecei a me bater descontroladamente, até que olhei para minhas mãos e me lembrei de como elas foram inúteis naquele dia. Um pensamento obscuro me assombrou.

Peguei a faca, passei ela pelas linhas em minha mão. Me enchi de coragem e disse a mim mesma:

─Não tenha dó, você é mal, você consegue.

Estendi minha mão esquerda, e finquei a faca sobre a primeira linha, então rasguei até o fim da linha. Fiz isso nas outras linhas, sem dó. Tentava chorar e não conseguia, isso me deu mais raiva ainda, e então rasguei a minha mão direita, com mais força. Minhas mãos ardiam sem parar, o sangue não parava de jorrar e eu sentia uma dor imensa.

Minha mão tremia, mas eu continuava a cortar minhas mãos. Quando estava perdendo as forças de tanta dor, apontei a faca para o meu pulso e o cortei, cortei o outro, mas sem intensidade o bastante para me matar.

Meus pulsos esguichavam sangue sem parar, levei meus braços para baixo do chuveiro. Desliguei, e então passei álcool nos dois braços. Peguei uma bola de meia e coloquei na minha boca, era impossível não emitir um grito de dor. Joguei álcool em todas feridas e então joguei sal. Depois disso não vi mais nada.

Desmaiei, e quando acordei não sentia mais minhas mãos. Meus olhos ainda secos.

Andei até a sacada de meu quarto e tomei um banho de chuva com os braços abertos, eu me sentia livre finalmente.

Enrolei minhas mãos e os pulsos em um pano e coloquei luvas pretas. Peguei as fotos de meu irmão e senti uma dor maior do que tudo. Ele se foi, e eu não conseguia aceitar isso, no dia do meu aniversário uma maldição foi jogada sobre mim.

Segurei as fotos junto ao coração, e desejei por aquele momento que meu irmão voltasse e me abraçasse. Desejei poder ter poderes para desaparecer e nunca mais voltar, para que as pessoas não corrompessem mais meu coração ferido.

Neste dia, meu coração foi assassinado e o sangue negro invadiu as minhas veias. A partir daquele dia, o segredo familiar estava ameaçado, eu não vou conseguir me silenciar por mais tempo. Irei me vingar da pessoa que tirou a vida de meu irmão de forma cruel. Só a morte vai ser capaz de fazer com que eu não revele o que realmente aconteceu no meu aniversário de 7 anos.


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Notas finais do capítulo

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