Segredo Familiar. escrita por mokoli-me


Capítulo 7
Eu preciso de você.


Notas iniciais do capítulo

Foi um capítulo feito na corrida contra o tempo,mas eu acho que ficou muito bom,leiam.



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Eu preciso de você.

As horas passam no relógio devagar, é impossível dormir. Deitada na cama espero que o sono me domine.

Minhas mãos não estão bem. Não consigo senti-las por debaixo da luva e do pano. Não consigo movê-las, mas elas vão melhorar, assim espero.

Minha pele está pálida, meus olhos estão vermelhos, meu corpo adormece, mas minha mente não, eu continuo acordada.

Tique-taque, tique-taque, tique-taque, ti... O barulho do relógio é insuportável. A manhã se aproxima e minhas mãos não reagem, não vou conseguir abrir a porta. O que farei?

Meus pais vão arrombar a porta, com certeza. Me levarão para o hospital e eu vou ter que ficar sozinha. Não.

Não consigo ficar mais parada na cama, sem fazer nada. Tento me levantar, em vão, meus braços parecem que estão amarrados nos cantos da cama, não consigo mexê-los.

O ponteiro marca 06h30min, meu pai vai se levantar vai vim no meu quarto me perguntar se estava tudo bem, eu o conheço, pelo menos em parte.

15 minutos se passaram...

―Isabela, abra a porta.

―Não consigo, minhas mãos doem.

―Vou pegar a chave reserva.

Fiquei mais tranquila, não iria fazer barulho o suficiente para minha mãe acordar.

Esperei por pouco tempo, mas meus soluços começaram. Eu estava chorando por dentro.

―O que aconteceu?

―Minhas mãos.

―O que você fez?

―Cortei-as.

―O quê?

―Me cortei pai.

Ele tirou minhas luvas com cuidado, desenrolou o pano da mão esquerda.

―O que você fez? – gritou, olhando horrorizado para meus cortes, as lágrimas escorrendo no rosto.

―Eu já falei.

―Por que você fez isso? – ele não conseguia se conformar.

―Não vou falar.

Ele parecia chocado com o que via, me arrisquei e olhei para ver o que tinha de tão chocante, além do que fiz comigo mesma.

Luvas de boxe, minhas mãos estavam enormes, se posso chamar de mãos. Em volta dos cortes no pulso, havia grandes bolas, que pareciam conter pus. Minhas mãos roxas pareciam as mãos de um monstro.

Meu pai me pegou nos braços e me levou até o seu quarto. Minha mãe dormia e logo foi acordada por meu pai, que a sacudia.

O que eu esperava? Que eu me cortasse e iria para o balé no dia seguinte?Tola, eu sou uma tola.

O descer das escadas, o ligamento do carro, minha entrega aos braços de minha mãe, vi tudo isso e depois não vi mais nada.

Acordo e percebo que estou em um hospital, mas não estou sozinha, minha mãe segura minha mão, enquanto as lágrimas deslizam pelo seu rosto.

Olhei para minhas mãos, que agora estavam enroladas por faixas.

Meu olhar rodeou o quarto inteiro, pude ver cada detalhe antes de dizer minha primeira palavra.

―Oi. – foi a única coisa que me veio à cabeça.

―Filha, filha. – ela me chamava, passando a mão pelo meu rosto.

―Eu estou bem. – disse como para reconfortá-la, não sei ao certo porque disse isto.

―Não, não está, e eu não quero que você me deixe sozinha, como o Bryan me deixou. – ela não parecia saber o que estava falando.

―Cadê meu pai?

―Tomando uma medicação, desmaiou.

Dúvidas de que sou filha mesmo de meus pais, eu não tenho. Puxei o medo de ficar sozinha de minha mãe e a falta de força do meu pai. Ele sempre desmaia em situações aterrorizantes.

Estou pensando em coisas totalmente “desnaturais” para uma pessoa que se encontra em uma cama de hospital.

Voltei para a realidade. Observei a pessoa que não parava de chorar na minha frente. Logo me veio à cabeça o dia do meu aniversário de sete anos, de novo, só que dessa vez eu já estava livre das cordas.

[flashback on]

─Calma Cláudia – meu pai tentava consolar minha mãe.

─Christian, foi tudo culpa minha – minha mãe chorava sem parar.

─Não foi não, você fez o seu máximo.

─Christian, alguém matou ele.

─Não querida, ele se afogou.

─Christian, tinha alguém aqui.

─Como você sabe?

─A Isabela me falou, ela estava amarrada quando eu cheguei.

Escutei toda a conversa, e logo depois minha mãe bate na porta e entra.

─Isa, eu quero deixar bem claro, que tudo o que você viu hoje, e o que você me contou, não pode ser falado nunca para ninguém, esse vai ser o segredo da família, o segredo familiar.

Balancei a cabeça em sinal de confirmação, as palavras estavam entaladas em minha garganta.

[flashback off]

Na manhã seguinte, eu acordo e descubro que estou sozinha, mas não por muito tempo. Alguém entra, é a enfermeira, que se põe a falar:

─Garotinha, uma menina chamada Juliana quer falar com você, mas antes eu vou ter que te dar um banho e te colocar uma máscara, você topa?

─Sim. – fiquei surpresa por Juliana estar no mesmo hospital que eu.

Tomei um banho, e que banho!Eu acho que toda sujeira de mim foi tirada, menos a da minha mão, que ia continuar enfaixada até que as enfermeiras trocassem os curativos.

No banheiro, havia uma porta que dava saída para um corredor cheio de portas. Andamos por esse corredor até chegar à porta de número 5, do lado direito do corredor. A enfermeira bateu na porta e esperou que alguém a abrisse.

Dei de cara com Juliana, que estava em uma cadeira de rodas, com uma máscara mais resistente que a minha.

A enfermeira nos deixou a sós. Eu estava feliz por finalmente poder conversar com alguém.

─Oi Juliana.

─Oi...

─Isabela.

─Sim, me desculpe os medicamentos às vezes mexem com a minha cabeça.

─Não, tudo bem.

─Bom, fiquei sabendo que você estava aqui também e te chamei para fazer companhia para mim.

─Ah, entendi.

─Éh, daquela vez em que conversamos eu não perguntei sua idade. Quantos anos você tem?

─Oito, e você?

─14.

─Você quis conversar comigo aquele dia, eu achei que moças não conversavam com criancinhas.

─Eu estava sozinha e você era a única que não me olhava com ar de “coitadinha”.

─Entendi.

Demoramos muito nessa enrolação, eu confesso que fiquei meio tímida, porque ela era mais velha e não falava das mesmas coisas que eu.

Eu estava sem papo, e então decidi que tudo que eu precisava era de alguém com quem falar de meus problemas, e não de conversinhas sobre escola ou “amiguinhas”.

─Juliana, eu posso confiar em você?

─Sim, eu já estou morrendo mesmo. – me impressionei com a naturalidade que ela falava da própria morte, mas deixei de lado.

─Bom, é mais que um segredinho de mim mesma, é o segredo que envolve a minha família, apesar de meu pai não saber da história original.

─Eu acho que isso é muito confidencial, você não deveria guardar para si mesma?

─Juliana, eu já esperei demais, mas eu posso te contar não “o segredo” original, apenas algumas partes em que eu preciso de ajuda, pode ser?

─Sim, estou escutando.

Contei para ela o que aconteceu realmente no dia do meu aniversário de 7 anos. Contei tudo para ela, mesmo que eu já tivesse falado que não iria contar tudo, e falei que se eu morresse primeiro, ela deveria revelar tudo.

O que eu não tinha eram provas para colocar na cadeia a pessoa que matou meu irmão. Pedi ajuda a ela.

─Juliana, me dê uma ideia do que eu posso fazer, para que eu consiga fazer justiça pela morte de meu irmão.

─Eu não aconselho você a querer fazer isso Isa, você é muito jovem.

─Eu sei, mas eu preciso muito disso, se não eu posso fazer mais do que me cortar.

─Não fale uma coisa dessas de novo.

─Então me ajude.

─Você pode, sei lá, procurar na sua casa filmagens da sua casa antiga, documentos, alguma coisa, alguma coisa que o Bryan escreveu alguma coisa do tipo. Procura na sua casa.

─É mesmo, obrigada.

─Toma cuidado Isa, eu não quero que aconteça nada de mal com você.

─Ta bom Ju, eu vou me cuidar.

─Espero mesmo. – rimos.

Voltei ao meu quarto, porque deu a hora do almoço, mas depois eu iria rever a Juliana. Estava alegre.

Nada de meu pai, nem de minha mãe. Falando em mãe, eu senti pena dela ontem, ela parecia triste mesmo, suas palavras davam a impressão de serem sinceras.

Comi um prato enorme de comida, estava com o estômago vazio desde ontem, e precisava de forças para trocar os curativos, porque estava infeccionado e a anestesia não iria pegar direito, foi isso que a enfermeira Mariana falou.

As dores que eu senti no dia dos cortes, foram leves se comparada à dor que eu senti hoje. Parece que finalmente consegui sentir minhas mãos!

Minhas mãos enroladas pelas faixas novamente, foi isso que aconteceu, então fui para a sala de recreação do hospital.

Juliana parecia alegre. E eu estava alegre, com certeza.

─Voltei. – disse ao me aproximar.

─Que bom.

─Pois é.

─Isa, eu quero te dar uma coisa.

Ela me entregou uma corrente prata, com pedrinhas em formato de lua. Era linda, eu amei.

─Essa corrente é para você saber que eu sempre vou estar do seu lado, aconteça o que acontecer. Sempre que estiver longe de mim e precisar de ajuda, coloque a mão sobre uma dessas pedrinhas e faça um pedido, eu te ajudarei.

─Obrigada.

Eu recebi um presente de aniversário, o melhor de todos aqueles. Parece que o Bryan estava ali, parece que ele queria me ajudar através da Juliana.

Dei-lhe um abraço, sem jeito, sem aperto por causa de minhas mãos, mas foi um abraço do fundo do meu coração e disse para ela:

─Eu preciso de você.

E ela disse com os olhos cheios de lágrimas:

─Eu preciso muito de você.

Naquele dia, Juliana fez uma cirurgia para retirar um tumor da cabeça, não reagiu bem e entrou em coma, foi isso que a enfermeira Mariana me disse.

Fiz meu primeiro pedido, segurei uma das pedrinhas, e disse em voz alta:

─Juliana, não me deixe só, farei o possível para te ajudar. Nós precisamos uma da outra, não vá.

Senti-me como no dia da morte de Bryan, eu senti como se tivesse perdendo uma irmã.

Desejei poder abraçá-la mais uma vez, sentir nos braços dela a mesma sensação que eu sentia quando Bryan me abraçava. Eu sei que ele se foi e deixou uma parte dele com Juliana para que ela cuidasse de mim. Meu coração dizia que eu não podia perdê-la, uma parte de Bryan estava nela, e eu não iria perder as pessoas mais importantes da minha vida.

Senti meus olhos arderem, e uma lágrima escapou de meus olhos.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews.
Beijos by:mokoli-me.