Projeto D escrita por anyonedmcg


Capítulo 2
Capítulo 1 — O Sonho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/105584/chapter/2


Acordei naquele dia deitado no chão, perto do sofá e com uma almofada servindo como travesseiro. Tentei olhar em minha volta para saber onde estava. Percebi o quanto minha vista estava embaçada e minha cabeça doía, devia ter bebido além da conta na noite passada. Consegui distinguir apenas pelo sofá que dormi na sala de minha casa.

Fui me lembrando do que aconteceu e me veio à cabeça a tal festa que fui naquela noite, deve ter sido mesmo muito boa! Afinal, minha cabeça doía muito quando eu tentava lembrar alguma coisa, mas fui me esforçando. Lembrei no começo que Dakota — a dona da festa — havia me convidado. A festa foi na boate do pai dela que comprou o lugar mais por um capricho para a filha, ele queria segurança nas festas dela e nada melhor como ser dono do lugar e poder vigiá-la.

Ela é uma loira muito atraente, na festa vestia roupas justas e sapatos de salto alto. Tinha olhos azuis e não sei por que parecia ter uma pele um pouco bronzeada demais, eu acho que ela deve ter exagerado no bronzeamento artificial daquela semana. Todos os garotos babam por ela, menos eu, por conhecer o jeito dela. Ela tem uma família muito mais rica do que a minha. Seu pai é dono da corporação e meu pai é um dos seus braços direitos. Eles fazem questão da amizade entre mim e Dakota e que eu freqüente algumas das festas que ela dá pela confiança deles, porém, eu a acho muito esnobe. Dakota parece ter nojo de ver as pessoas que ela mesma convidou do colégio comendo e bebendo tudo que ela mandou servir.

Lembrei-me também de ter ido com meus amigos. Victor e Matt.

Victor tem descendência oriental. Ele mantém o cabelo negro, curto e um pouco espetado. É o mais baixo dos três e está sempre sorrindo, é o nerd do trio. Matt é bem alto e muito magro, tem o cabelo também escuro e longo, dividido no meio e com uma das partes dele sempre cobrindo o rosto. Sempre zombávamos dele por ter um cabelo que inveja os das garotas que foi o motivo principal de eles terem ido à festa.

Nós três temos uma banda juntos. — Tocamos desde quando Matt ganhou uma guitarra do irmão dele antes do ensino médio. Victor aprendeu bateria e logo depois eu aprendi a tocar contrabaixo e a cantar, então assim a banda foi formada. Dakota até nos chamou para tocarmos nessa festa, mas recusamos. Dissemos que ainda não estávamos preparados. Na verdade, o meu motivo foi porque eu não gosto nem um pouco do jeito dela e de boa parte dos convidados que não eram do nosso colégio. O motivo de Victor e Matt, eu acho que foi pela timidez. Uma festa daquela era mesmo uma grande diversão para os estudantes e daria o que falar no dia seguinte, mas não me arrependi de não ter tocado com a banda. Eu não ligava muito, fui mais pelos meus amigos. Achei que talvez precisassem de alguma ajuda — ou não — com as garotas. E como em todas as festas que eu vou, não consegui me controlar e acabei bebendo demais, nem pude sequer perguntar a eles se precisavam de alguma ajuda.

Desde que larguei minha vida de estudante dedicado, acabei virando um festeiro que não se importava se o copo estava meio vazio. Eu sabia que era errado. Sempre acontecia algo ruim comigo — eu falava demais depois que bebia, brigava ou acabava chegando a minha casa quase dois dias depois, dessa vez bebi pra não prestar atenção em todas aquelas pessoas que eu estava odiando ver e para poder continuar na festa.

Lembrei também de ter visto Stephenie me olhando com os olhos arregalados quando esbarrei com ela e disse “oi”. Eu já devia estar com o hálito ruim pelas bebidas e por isso ela nem disse nada, apenas me olhou e continuou andando pela festa. Ela também é uma das garotas que muitos babam. A “beleza” de Dakota não se compara com a dela — pelo menos para mim.

Ela tem a pele bem clara, cabelos lisos e de cor castanhos um pouco claro, estava usando uma franja na testa quase encobrindo os olhos que eram de um verde bem escuro. Acho que é uma garota tímida porque nunca falou comigo antes.

Quando comecei a me lembrar dela ouvi passos e o som de teclas de celular vindo em direção à sala. Parecia que meu pai estava saindo atrasado para o trabalho.

— Droga! — murmurei bem baixo e fui me levantando meio desajeitado para me sentar no sofá. Não consegui disfarçar a cara de quem havia dormido ali mesmo e naquele horário que eu deveria estar no colégio.

Meu pai já estava vestido para o trabalho, ele usava um terno cinza escuro e levava uma maleta marrom de couro numa das mãos. Parecia que tinha se esquecido de pentear os cabelos que já tinham alguns fios brancos entre os fios pretos e estavam bagunçados. Antes sempre imaginei que meu pai ficaria careca como Homer Simpson, quando ele ainda usava uma camisa branca com gravata, um crachá. O seu cargo na grande corporação onde trabalha antes não era tão bom quanto é agora.

Não sei bem o que a corporação faz, mas sempre me lembrou uma usina nuclear. Meu pai foi promovido para chefe geral não sei como, mas está ganhando muito melhor do que antes. Eu sempre o considerei um gênio, era meu maior exemplo antes de eu virar um “rebelde”.

Meu pai estava concentrado numa ligação enquanto caminhava até a porta, quando me viu murmurou ao telefone encerrando a conversa:

— Está bem, está bem. Conversamos mais tarde sobre... “Isso”. Já estou indo para aí, até mais. — Ele olhou para mim, achei que fosse ficar irritado, mas ele fechou os olhos e respirou fundo, novamente me olhou e falou tentando parecer calmo.

— Outra vez, Chris?

— Me desculpa de novo, pai. — Tentei falar normalmente, mas até isso estava difícil por causa da ressaca. - Não sabe como me senti no meio daquelas pessoas na festa de ontem da Dakota, mas não falei nada demais dessa vez, não que eu me lembre... — ele não pareceu se importar e me interrompeu já abrindo a porta.

— Tudo bem, nós conversamos depois sobre isso. Tenho um assunto muito importante para resolver no trabalho, espero te ver mais tarde.

— Ok, pai. Bom trabalho.

— Obrigado. — ele disse, logo depois sorriu e saiu pela porta. Levei as mãos ao rosto esfregando-o e suspirei aliviado. Achei muito estranho eu ter escapado sem nenhum sermão dele.

Olhei pro relógio e tentei relaxar no sofá, percebi meu estômago irritado. Eu me levantei rapidamente e corri em direção ao banheiro, vomitar era tudo o que eu precisava no momento.

Lavei o rosto e me olhei no espelho. Eu estava meio abatido, minhas olheiras denunciavam minha ressaca. Pelo menos conseguia abrir meus olhos, não conseguia ver a cor castanha deles, mas conseguia perceber que estavam abertos. Meus cabelos pretos estavam mais bagunçados do que antes, mas acho que estava da mesma forma que eu o arrumei para ir à festa. Gostava de usar ele como se estivesse amassado e penteado para frente, seguindo a uma moda de penteados que ficava ao lado de alguns estilos musicais. Sorri pro meu reflexo no espelho com certa ironia, como se dissesse “eu sei”, escovei os dentes e fui para cozinha. Não estava com fome, mas precisava de algum sal de frutas.

Encontrei com minha mãe ainda sonolenta comendo seu café da manhã. Estava ainda com um hobbie e os cabelos despenteados nos lados do rosto. Ela ficou surpresa por me ver naquele horário.

— Bom dia, mãe. — me dirige até uma dos armários da cozinha para encontrar o sal de frutas.

— Por que não foi à aula hoje? — ela disse enquanto eu colocava o sal de frutas num copo com água.

— Fui a uma festa ontem, acabei bebendo demais e perdi a noção de que era Quarta-Feira.

Sentei-me na cadeira no lado oposto ao que ela estava e bebi rapidamente o sal de frutas. Ela comia torrada, me olhou balançando a cabeça em sinal negativo para si mesma e disse:

— Por que você mudou tanto assim de uma hora para outra? Você costumava ser responsável e hoje só quer saber de festas, bebidas e... Ah! - ela suspirou - O que está acontecendo com você? - Seus olhos fitavam meu rosto, analisando-o.

Eu suspirei e respondi:

— Mãe, eu sei que eu mudei muito, mas sei o que estou fazendo, ok? — ela continuou balançando a cabeça negativamente logo depois de me ouvir, ainda me observando. Ela parecia desapontada.

— Eu espero que melhore porque ainda acredito em você, meu filho. Acredito que você ainda seja aquele garoto responsável pelos seus atos e que seguia os planos que os pais faziam para ele. Mas enfim, só queria saber o motivo, já que você não quer dizer... Ok. — ela sorriu de lado ainda parecendo insatisfeita. O que eu gostava em minha mãe era que ela não discutia o tempo todo, só tentava entender algumas situações. Mas com certeza ela discutiria isso com meu pai.

— Me desculpa mãe. Eu... Eu só estou tentando aproveitar a vida, sei que é a maneira errada, mas é a que eu escolhi no momento. — eu observei suas mãos, agora sobre a mesa.

— Eu espero realmente que melhore. — ela sorriu e levou a mão até meu rosto, acariciando minha bochecha. Eu sorri e fui me levantando.

— Com licença, mãe.

Saí da cozinha e fui pro meu quarto.

Eu era exatamente um nerd antes de começar a ir às festas. Assim que cheguei ao quarto fui diretamente pro computador, entrei no messenger por curiosidade e vi que Victor estava em casa. Assim como eu, achei que ele também tivesse ficado bêbado e havia ficado em casa, mas não imaginei que estaria “nerdiando”. Eu tive um sonho estranho enquanto estava apagado depois da noitada, precisava contar para alguém e também queria lembrar sobre o que aconteceu na festa, então o chamei para vir até minha casa.

Minha casa é bem grande, assim que Victor chegou lá eu o chamei para uma sala que deveria ser na verdade o meu escritório. Meu pai e minha mãe haviam planejado muitas coisas pra mim e eu desperdicei. Talvez minha rebeldia tivesse vindo um pouco mais tarde do que o comum, já que tudo estava pronto e eu resolvi mudar.

Eu havia transformado a sala num estúdio. Lá onde a nossa banda, ainda sem nome, ensaiava. Pensamos em ensaiar um pouco, tocamos algumas músicas e rimos um pouco enquanto cada um fazia uma graça com seu instrumento, tentando tocar algumas músicas de bandas que conhecemos, logo depois demos um tempo no ensaio e começamos a conversar.

— Cara, eu tive um sonho enquanto dormia e foi muito estranho.

— Hmm. Como foi? — Victor sempre sorria, acho que já esperava o que eu ia dizer.

— No sonho, eu assistia um noticiário local e ele falava sobre um ataque de animais raivosos numa grande cidade, não muito longe. Estava sendo testada uma espécie de vírus, algumas das cobaias haviam fugido e já estavam na nossa cidade. Quando parei para prestar atenção já fugia de um animal, um cachorro que mais parecia um cão-zumbi. Não havia escapatória e eu deixei que ele me mordesse. Eu sabia que ele ia me transformar numa espécie de vampiro e... — no meio da minha história ele interrompeu com uma risada que ele não conseguiu conter.

— Cara, como você conseguiu ser tão criativo? O Matt andou te emprestando alguns filmes dele, é? — eu ri junto com ele por ele citar os filmes do Matt. Sempre de terror ou de ficção científica com vampiros, lobisomens ou zumbis.

— É sério, cara. Eu sonhei com isso. O que será que eu bebi? Hein? Nem você deve saber, não é? — continuamos rindo e ele começou a falar sobre Matt.

— O Matt deve saber. Nossa aposta com ele foi boa, ele nos trouxe quase inteiros pra casa já que não pôde beber. — ainda sorrindo me lembrei que havia visto Stephenie na festa e contei pra ele.

— Ei! Vi aquela sua amiga, a Stephenie. Ela deve ter ficado com medo de que eu fosse beber ela também.

— É mesmo? Acho que não a vi. Ela é mais amiga do Matt, sabe? Parece uma daquelas vocalistas das bandas que o Matt ouve. Acho que por isso eles tiveram um rolo. - na hora eu parei de rir. Eu olhei Victor com os olhos estreitos e depois ergui as sobrancelhas, ele não deve ter percebido.

— Como é? Eles tiveram algo? Quando?

— Bom, parece que eles já se conhecem há tempos. Ele só me disse que tiveram o rolo, que foi tudo rápido e chato. Ele disse que ela era quieta demais e foi só isso que ele me contou.

— Hmm. — resolvi mudar de assunto continuando a conversar.

— Cara, como eu não reparei que ontem era Quarta? — voltamos a rir. Esquecemos do assunto sobre o sonho, já o assunto sobre Stephenie e Matt ficou apenas em minha cabeça, eu acho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Projeto D" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.