Não Sei mais Viver sem Você escrita por Dumpling


Capítulo 2
Te recordando




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Revirei os olhos, dos cantos ao teto, me sentia confusa e com todos os sentimentos passados a virem à tona. Que importava se ele tinha voltado? Eu iria continuar minha vida, certo? Nada me fazia sair tudo aquilo da mente naquele momento. Nem os berros de Rini ao abrir o presente dos meus pais, nem mesmo ela me chamando para a ver em cima do triciclo rosa da hello kitty que ela tanto pedira para eles. Nada. E em tanto tempo eu só queria saber dela e nada, nada, nada mais importava. Criara imensa expectativa em três longos anos acerca da sua vinda, nos primeiros meses então… céus… em cada segundo eu alucinava com minha mãe gritando ‘Mamoru chegou!’ e não passava disso mesmo… de uma ilusão criada estúpida e irracional na minha mente. Mas pedir o quê? Era apenas uma menina imatura de 17 anos, grávida e aflita, sabia que ele era responsável e sabia que iria poder contar com ele… Tinha estado um mês sabendo o que se passava comigo, notando cada diferença em meu corpo, resultado de um jantar à luz das velas e, não lhe consegui dizer nada durante um mês! E tinha sido confuso para mim… Estava melhorando as notas na escola e nesse mês, as minhas notas 15 se tornaram num 9, e de novo, entrava na pressão de saber que minhas más notas iam voltar… mas pior! Que era Dezembro e toda a gente na escola ia descobrir. Mas que estupidez engravidar numa época turbulenta na escola! Ora tinha engravidado em Novembro, descoberto no inicio de Dezembro e lhe decidira contar no Natal, como presente… Até lá, podia preparar um discurso… Mas foi inútil. Todos os meus planos caíram nos meus pés no momento em que ele me dizia que ia para a América. Sabe aqueles momentos em que parece que tudo cai aos seus pés? Foi isso que senti. E não o queria ouvir mais… Tinha de planejar toda a minha vida desde ali, sozinha e com um filho nos braços. Que iria eu fazer?!

        Aos poucos tudo passou. Tive uma gravidez sempre muito nervosa, no inicio pensando que dizer aos meus pais, depois porque o médico me dizia que ia ser uma gravidez complicada e que tinha de repousar muito e relaxar. Lembro-me de gritar ao médico nesse dia ‘quer que eu lhe ponha o nenê na sua barriga, lhe diga que está só e que vai ter que contar aos seus pais, e aí tem de se arranjar sozinho porque ninguém mais vai querer saber?!’ mas eu errei. Quando contei à minha mãe parecia que tinha sido o dia mais feliz do dia dela, meu pai não reagiu bem assim mas aos poucos aceitou, e Shingo ria e pulava por ser tio… Mas mamãe... Cheguei a arrepiar por ela não ter feito cara de fúria. Sorriu e começou logo fazendo planos para adaptar o meu quarto, pensou mesmo em mudar-me para o quarto deles que era no andar de baixo, enfim, tudo isto depois de saber que Mamoru não estava mais ali... Chorei nos braços dela, como não tinha ainda tido oportunidade de chorar no ombro de alguém… rapidamente tratou de me dizer que não fazia mal eu ficar com o ano perdido, e podia fazer um gênero de ‘suplementar’ depois do bebê nascer em Agosto, um modo de começar o 12º mas terminar o 11º ao mesmo tempo, era uma questão de falar com o diretor. E aí tudo bem, sempre alguns nervos e saudade, mas tinha mais que pensar pela bebê… Até ao parto. Foi complicado, desmaiei a meio com dores e tiveram de forçar mais a saída da bebê, após umas duras 20 horas. Apesar disso, Rini nasceu saudável com 3.500 kg e 47 cms. Quando a pousaram nos meus braços foi tudo tão mágico… e lágrimas se misturavam na minha face. De alegria por a ter ali, e de tristeza por não o ter do meu lado, por não ele não a ver…

        Tudo voltara. Como uma tempestade repentina em bom tempo. Tinha-o tentado esquecer, mas quando ele se colocou na frente do carro… Pareceu-me ouvir um estrondo do meu coração a cair perto dos pedais. Estupidamente só pensei se ele tinha visto Rini, tinha medo, muito medo que ele a tivesse percebido… só pensava que ele podia ficar furioso e me tirar ela… foi tudo o que passou na minha mente desde a viagem do meu apartamento até a casa de meus pais. Arrepiava-me com a velocidade a que chegava e com os dois stops que tinha passado. Rini cantarolava algo da sua escolinha, e eu apenas me concentrava nos meus pensamentos. No porquê de ele ter voltado, como sabia onde eu estava, porque estariam seus olhos encharcados… nem sei… todas as palavras passavam na minha mente.

        Quando chegava a casa estava descontrolada e me fechava no quarto até àquela ligação…

        - Usako… não fuja de novo. Não sei mais viver sem você.

        Eu não conseguia dizer mais nada. Me encostei na parede deslizando minhas costas ouvindo-o ofegante. Não controlei mais e chorei, todas as lágrimas que evitara perante Rini, deixei a lucidez de parte e chorei, quase gritando.

        -Usa, por favor, não chore… não é minha intenção. Mas a amo tanto que não consigo mais – meu estômago revirava inteiro, doía e revirava de novo, meu coração apertava e as lágrimas eram cada vez mais, já soluçava e não conseguia dizer nada – quando a vi eu sequer quis crer, me perdoe me ter colocado na frente do carro… céus, você mudou tanto Usako. Eu a amo tanto, nunca a esqueci e meu coração diz que nunca vou ter forças suficientes para esquecer. E quando a vi, tive essa certeza.

        Conclui que não devia ter visto Rini, nesse caso, teria falado algo. Apenas continuava dizendo que sentia muito a minha falta até perguntar se me podia ver.

        Não emiti um som da minha boca que não fosse soluçar, chorava continuamente.

        - Usako, diga algo… por favor.

        Repetia isso constantemente, até que não aguentei mais e desliguei. Continuei chorando por uns segundos, depois, me levantei fui até ao banheiro e lavei a cara até ficar apenas ligeiramente inchada pelo choro.

        Então seguia para a sala, para a alegria da minha vida…

        Continuava abrindo os presentes e rapidamente a árvore de natal de meus pais vazava. Eles a mimavam demasiado, era bom por uma parte, mas por outra… céus, Rini nem podia ir comigo na rua que pedia um mundo e o outro, e se ouvisse ‘não’ rapidamente dizia que a vovó lhe daria. Nestas pequenas coisinhas eu sentia que necessitava dele para ter pulso firme, eu passava a maior vergonha por vezes quando ela chorava sem parar. Eu era a mamãe, mas muita vez me sentia incapaz de o ser…

        Os primeiros meses tinham sido fáceis, na prática claro, em coisas como amamentar, adormecê-la e algo que me julgava incapaz de conseguir, mudar fraldas. Porém, havia 2 anos que eu não dormia. Na gravidez era complicado, e depois do seu nascimento pior ainda. Minha mãe ajudava, por vezes me dizia para não acordar que ela resolvia, mas me sentia sempre com um peso na consciência de estar ainda tão dependente. Daí que, quando ela fez 2 anos eu resolvi comprar um apartamento. Minha mãe nem sonhava as dificuldades que eu por vezes passava para Rini apenas ter suas necessidades completas, o quanto eu me desleixava comigo mesma… Mas recusava-me sempre a aceitar uma moeda que fosse da minha mãe. Dai que na noite de natal ela tinha o plano dela todo bem armado. Eu abria os presentes um a um até ver uma carta, e muito dinheiro dentro. Ela simplesmente sorria.

        - É uma ajuda filha, não tome como ofensa. Mas desde que vive sozinha sei que fica complicado com as fraldas de Rini e tudo o mais.

        - Mamãe, peço desculpa mas não posso.

        - Deixe o orgulho de lado Usagi! É o meu presente e respeite isso apenas.

        - Obrigada mamãe. – Sabia que era impossível recusar e que a minha teimosia provinha dela – mas mais tarde eu lho devolvo.

        - Nada disso. Presente é presente, ponto. – Entretanto Rini caia do triciclo e rapidamente se levantava sorrindo – Rini, diga para sua mamãe que ela é tonta.

        - Mamãe você é tonta. – Elas sempre conseguiam isso. – Olha, quando pudemos ir para casa abrir os seus presentes?

        - Quando você me disser que presente já andou metendo o olho.

        - Ah mamãe. Eu apenas abri um pouquinho.

        Como era possível eu pensar nele quando tinha ela que me preenchia por completo? E me ocupava todo o pouco tempo que tinha.

        Mas… por muito que tentasse, não conseguia tirá-lo da minha mente, ele tinha voltado. Já não estava mais longe, estava bem perto e sabia onde eu vivia. Não julgo que tenha ali passado ocasionalmente, e tinha ainda de descobrir como ele sabia… Decidi então perguntar à Rei, passando em sua casa antes de finalmente ir para o meu aconchegante lar. Fazia 3 anos que o Natal não tinha o mesmo significado para mim…

        Mas ninguém atendeu a porta, nem insisti. Rini teimava em ir para casa por causa dos presentes e eu sequer ia negar mais um segundo.

        Subimos as escadas com o seu cantarolar baixinho, já era perto da meia noite e meu celular já tocava 7 vezes. Me surpreendi quando cheguei na porta… Tinha um embrulho enorme.

        - Uau mamãe, foi o papai Noel que trouxe para mim?

        - Não filha, penso que desta vez foi mesmo para sua mamãe.

        - Que sortuda!

        - Não tanto quanto você! – Sorri de leve. – Vá, pode abrir os seus presentes.

        Abri o embrulho, continha uma grande boneca da Sailor Moon. Tinha um bilhete: “Sailor Moon também chegou na América. Me doeu imenso quando a vi, lembrei você, te amo tanto… Me senti destroçado quando me deixou. Só queria desaparecer de uma vez. Mas voltei, e vou lutar de novo por você. Beijos. Do seu, Mamoru.”

        Voltei as atenções para a caixa de mensagens do celular… e então me assustei com uma em especial e completamente inesperada.

        Mas desta vez, não era nada de Mamoru.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Dedico o cap e agradeço à única review até agora: Darin.
E espero que alguém comente mais, não apenas passe e leia mas dê também uma opinião.



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