Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 18
XVII - Acerto de Contas


Notas iniciais do capítulo

Ok, não me matem, por favor!

Eu sei que demorei um bocado dessa vez, masssss eu tenho meus motivos...

1º motivo: como eu passei na facul, tive que correr atrás de uma penca de documentos que eu nem sonhava em ter ainda! Consequentemente eu corri na 2ª feira como uma louca atrás deles, não parei em casa o dia inteiro, e na 3ª, justo na 3ª quando eu comecei a escrever esse cap., tive que ir fazer a matrícula na facul, isso pq eu fiquei devendo documentos!

2º motivo: eu estou começando uma outra fic, não ainda, mas minha mente já está fervilhando de ideias, então eu fiquei imprestável para escrever sobre Sillentya, pq não tinha cabeça para ela, massssss voltei!

E agora um pequeno lembrete para a Razi:

Ra, lembre-se do nosso concordo, não me mate, não me mate!!!! Pleaseeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Eu lhe imploro que não tire a minha vida!!!! *ajoelha na frente do pc* Ra, por favor, não me estrangule ao final desse cap.! Eu sou do bem, viu, posso não parecer às vezes, mas eu sou!


*foge das pedradas*

Boa Leitura!



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Capítulo XVII – Acerto de Contas

“Eu estou lá por você,

Não importa o que,

Eu estou lá por você

Nunca desistindo,

Eu estou lá por você

Por você”.

(The Calling – For You)

- Faz muito tempo que não me chamam assim. – repetiu ele, os olhos azuis ainda semicerrados, mas nos lábios, um sorriso de satisfação havia brotado.

Blake sorriu de canto e deixou um som de esgar escapar de seus lábios, enquanto seus olhos recaíam sobre minha face confusa e incrédula.

- Não acha irônico, Christian? Primeiro aconteceu com você e com a sua doce Caroline, e agora, veja só como o destino é, aconteceu o mesmo com o seu irmão! – ele explodiu em gargalhadas, sobressaltando-me, a maldade ecoava ao fundo em cada uma delas.

Christian levantou-se, deixando-me sem qualquer apoio pela primeira vez, mas eu já me encontrava um pouco melhor e era física e mentalmente capaz de suster meu próprio peso. Embora minhas forças ainda não estivessem em seu auge; eu não poderia fugir dali, como era de meu desejo naquele momento. Fugir, fugir para bem longe de todos e de todas aquelas mentiras.

Christian apontou para Stevan, que ainda ria ruidosamente, a fúria estava estampada em seus olhos, assim como enrijecia todos os seus músculos. Ele trincou os dentes e cuspiu as palavras ríspidas e raivosas através deles.

- Não ouse tocar no nome de Caroline! Ou então, arrancarei sua língua!

Stevan deu de ombros, cessando sua gargalhada maléfica, e novamente o sarcasmo modelou suas feições, projetando aquele sorrisinho irritante em seus lábios.

Ele ignorou a fúria que emanava de Christian, deu alguns passos em sua direção, e estendeu os braços, como se esperasse que a qualquer momento, Christian fosse abraçá-lo, como velhos amigos, grandes companheiros, que não se viam há muitos anos. Christian apenas o ignorou e cerrou seus punhos.

- Desculpe-me, não sabia que ainda era um assunto delicado para você falar dela. – ele riu um pouco e depois prosseguiu – Sabe, Christian, seguir o seu irmãozinho querido tem sido a minha tarefa desde aquele dia. Você lembra-se dele, não se lembra?

Fitei a face de Christian, vendo que ele recuou pela primeira vez. A fúria desapareceu de suas feições, dando lugar a uma dor imensurável, um sofrimento que parecia não ter fim. Os olhos azuis baixaram até a rocha, e eu vi o quanto ele sofria naquele momento, o quanto aquilo era doloroso para ele. Perdi o fôlego...

- Deve ter sido muito difícil para você, Christian. Ver a mulher que ama ser torturada e morta bem na sua frente, você já passou por muita coisa, eu nem mesmo consigo imaginar-me no seu lugar.

Christian não o respondeu, apenas... Permaneceu calado. Ele parecia estar remoendo algo dentro de si mesmo, revivendo amargas lembranças, então a voz de Blake ressoou mais uma vez.

- Poupe a si mesmo de mais sofrimento, Christian, entregue-me a garota, prometo dar a ela uma morte rápida e indolor, ela não sentirá absolutamente nada. Será muito melhor do que se ela for levada até as Sete Tristezas. Pense nisso, Christian, você gostaria que essa garota passasse pelo mesmo que sua amada Caroline?

Eu desesperei-me pela idéia. Blake parecia estar disposto a tudo para me matar ali mesmo. Mas... o que Christian decidiria?

Fitei sua face mais uma vez, mais apreensiva e receosa; eu temia o que ele poderia decidir. Afinal, que vínculo nós dois possuíamos? O que afinal havia entre nós dois? Talvez eu jamais soubesse a resposta.

Os olhos azuis de Christian elevaram-se, enquanto ele sustentava sua face novamente, encarando Stevan incisivamente. Eles estreitaram-se suavemente, e eu vi um breve lampejo de sua decisão. Meus lábios escancaram-se instintivamente.

- Você a quer, Blake? – perguntou ele, apontando para minha figura atordoada no chão.

Blake sorriu de canto novamente, e Christian o imitou. Eu não conseguia esboçar absolutamente nada, nem mesmo pânico. Talvez não tivesse forças para tal. Na verdade eu desejava gritar naquele momento. Somente isso.

- Você está certo, Blake, eu não preciso de mais essa dor de cabeça. Eu já passei por isso quando perdi Caroline, não quero ter de repetir aquilo mais uma vez. Venha buscá-la, se a quiser realmente, Stevan.

Um sorriso de triunfo emoldurou os lábios carnudos de Stevan e ele aproximou-se de minha figura, aos pés de Christian, medindo cada passo, parecia meio relutante no inicio, mas sejam quais tenham sido as suas suspeitas e desconfianças, elas logo se dissolveram uma a uma.

A lâmina que ele tentara cravar em meu coração ainda cintilava em uma de suas mãos. Mas o choque e a decepção impediam-me de registrar qualquer outra coisa que não fosse o sorriso que ainda emoldurava os lábios de Christian. Ele realmente tinha me traído. Ele ia realmente me entregar para um demônio como Blake. Eu estivera enganada sobre ele, todo esse tempo.

Eu ri internamente, o que mais eu podia esperar de alguém como ele? Alguém que não se importa com mais ninguém além de si mesmo. Alguém que não enxerga mais nada, além de seus próprios objetivos e interesses. Esse era um lado de Christian que eu ainda não conhecia, ou talvez estivesse enganada, eu já conhecia esse seu lado, só não quisera aceitá-lo desde o principio, porque eu tentava mudá-lo, tentava fazer dele uma pessoa melhor. Um herói, como o meu amado Aidan.

Alguém com quem pudesse contar vinte e quatro horas por dia. Alguém que me amasse incondicionalmente. Alguém em quem pudesse depositar a minha total confiança. Porque, durante todo esse tempo, eu tentara enxergar em Christian, as mesmas qualidades que um dia, eu enxerguei em Aidan. Mas era inútil; mesmo sendo irmãos, mesmo tendo correndo em seus corpos o mesmo sangue, eles eram diferentes. Diferentes até demais.

Blake estacou no meio do trajeto, os ombros relaxados, a guarda baixa. Ele contava que já havia ganhado essa batalha. Mas seria realmente isso?

- Sabe, Christian, isso até parece uma maldição, não é mesmo? A maldição dos irmãos Satoya.

- Pretende continuar com essa conversa fiada, Blake, ou virá pegar o prêmio pessoalmente? – desafiou-o, Christian.

Ele bufou, revirando seus olhos verdes como a mata, que naquele momento, eram apenas dois círculos finos em volta dos olhos escuros. Aqueles olhos esboçavam apenas maldade, e mais nada.

- Ducian adorou tomar conhecimento de cada detalhe do que o seu irmão andou aprontando por aqui nos últimos meses. – ele tombou a cabeça para um lado, fechando seus olhos, e deixou que o prazer inundasse seu semblante, eu era realmente algum tipo de prêmio na visão dele – Aidan em breve será desmascarado, e as conseqüências de todos os seus atos recairão sobre ele, como um jugo de traidor.

Agora foi a vez de Christian gargalhar, um riso mais suave e baixo, não havia maldade em seu riso, mas havia a ameaça eminente e um ressentimento enorme.

- Não sonhe com isso, Blake, se existe alguém que algum dia irá matar Aidan Satoya, esse alguém serei eu.

- Tocante – debochou Stevan –, mas nem tanto assim. Já se passaram oitenta anos e você ainda nem se deu ao trabalho de procurá-lo.

- É porque não tenho pressa para me vingar dele - ele deu de ombros -, eu quero que ele sinta tudo o que eu senti, quero que ele sofra assim como eu sofri. Eu serei como uma maldição na vida dele.

- Ah, agora eu compreendo! É por isso que veio atrás da garota. Você quer que ele sofra o mesmo que você. Christian, Christian, você pretendia matar a namorada do seu irmão para que ele sentisse o mesmo quando traiu você e o entregou a Ducian? Você e a sua doce Caroline, aliás. Isso até me lembra outro ditado dos humanos, olho por olho, dente por dente.

- Você acertou na mosca, Blake, estou impressionado.

- Você sempre foi uma pessoa previsível. – ele deu de ombros – E agora, se não se importa, o prêmio é todo meu.

Stevan caminhou em passos apressados até mim, preparou-se para abaixar, agarrar meu braço e tirar-me à força dali, porém, Christian foi mais rápido, deteve-o, segurando-o, enquanto um sorriso quase cruel brotava nos lábios dele.

- E você também é tão previsível, Blake, achou mesmo que eu fosse entregá-la?

A confiança recuou de seu rosto no mesmo instante. Seus olhos foram tomados pela incredulidade, arregalaram-se, enquanto os de Christian permaneceram semicerrados. E então ele finalmente reagiu... Blake franziu o cenho no mesmo instante, uma fúria assustadora dominou suas íris esverdeadas, queimando como um fogaréu indomável.

Em um movimento abrupto, Stevan elevou a mão que continha o punhal prateado. A lâmina afiada e achatada rasgou o ar em um guincho metálico, zunindo em meus ouvidos. Blake a apontou diretamente para mim, mas Christian o deteve, segurou em seu pulso, enquanto sua outra mão envolveu o ombro esquerdo de Stevan.

Christian grunhiu furiosamente, trincando os dentes com um som audível, e então, ambos ficaram face a face, olho no olho.

- Vai se arrepender disso, traidor! – cuspiu Stevan, enraivecido.

- Vá para o inferno! – retrucou Christian, e em seguida apertou sua mão nos ombros de Stevan, empurrando-o com todas as suas forças para trás.

Stevan estranhamente não conseguia resistir à força que Christian empregava, e pouco antes de ser definitivamente lançado para trás, um lampejo de surpresa, pânico e depois certeza faiscou em seus olhos verdes. Christian forçou-o ainda mais, e Blake cedeu a sua força avassaladora.

Houve uma grande explosão de energia próxima à margem do rio, originando-se do próprio Christian e expandindo-se ao seu redor, até estourar, como uma bexiga cheia de ar.

Cobri meu rosto com meu braço, querendo desesperadamente proteger-me.

A explosão causou um imenso estrondo no rio atrás de mim, agitando a superfície antes calma das águas. A última coisa que pude ver fora o corpo de Blake ser lançado violentamente para trás, desaparecendo em meio à mata que circulava o rio.

Ele chocou-se contra o grosso tronco de uma árvore, partindo-o em dois, pela metade. O corpo de Stevan tombou no chão de terra fofa, de bruços, a face comprimida contras as folhas secas.

A árvore que se partira ao meio tombara juntamente com ele, caindo por cima de seu corpo. Ousei olhar através das frestas de meus dedos, vendo o estrago que a explosão fizera.

Eu jamais havia visto algo assim antes, nem mesmo quando Aidan lutara bem diante de mim. Um imenso rastro de destruição fora deixado pelo trajeto feito pelo corpo de Blake. Permaneci completamente estarrecida e chocada, com os olhos esbugalhados, os lábios escancarados e a respiração entrecortada.

Apoiei-me melhor para poder ver o que realmente havia acontecido. A figura de Blake permanecia inerte em meio à terra úmida. Houve um leve farfalhar das folhas secas que o rodeavam, depois, um movimento sutil, um gemido de dor, e outro movimento, enquanto Blake levantava-se do chão, pondo-se de pé vagarosamente, como se todos os seus ossos reclamassem do imenso esforço que estava fazendo.

Os olhos verdes apenas demonstravam incredulidade, e um certo temor pela figura que o havia lançado com tamanha violência em direção ao bosque: Christian.

- Co-como você...

Christian deu de ombros, interrompendo-o, os olhos azuis estavam debochados novamente e um sorriso de satisfação brotou em seus lábios mais uma vez.

- Eu possuo os meus próprios segredos.

Stevan apontou Christian, o rosto deformado pelo pavor. Ele recuou um passo, depois dois, mais um, até estacar na metade do tronco da árvore que permanecera de pé.

- Solomon O’Grady! Aquele desgraçado, ele treinou você! Ele... Ele ensinou você!

Christian avançou um passo em direção a Blake, circulando meu corpo e vindo postar-se diante de mim, protetoramente.

- Ora, o que há com você, Blake? Não está com medo de mim, está? Não me diga que já está pensando em bater em retirada, eu nem mesmo comecei a me aquecer.

Blake trincou os dentes e franziu o cenho novamente. Sua mão voltou a empunhar a adaga reluzente, e um novo sentimento explodiu em seus olhos, um novo objetivo formou-se em sua mente: auto-sacrifício.

- Eu não temo um pirralho como você! Jamais temerei!

Christian soltou uma risada baixa, como se discordasse do que Stevan dizia. Colocou as mãos nos bolsos, despreocupadamente e o desafiou mais uma vez.

- Então o que está esperando, Blake?

Foi o que bastou para ele. Em uma velocidade surpreendente, ele lançou-se na direção de Christian, como um míssil. Christian reagiu, como uma flecha sendo graciosamente disparada de um arco, ele jogou-se na direção de Blake, movendo-se com a velocidade de um projétil, desaparecendo por alguns meros segundos, e ambos reapareceram depois, em pleno ar, a mais de dez metros do solo.

Blake segurou nos ombros de Christian, e este, repetiu seus movimentos, movendo-se com tanta precisão e cautela quanto ele. E a gravidade finalmente decidiu intervir na luta, puxando-os para baixo, em queda-livre, enquanto seus pés pousavam com graça e sutileza na rocha na margem do rio.

Vi que Stevan tentava a qualquer custo acertar Christian, porém não obtinha resultados. O golpe de outrora parecia cobrar seus efeitos posteriores agora, dando-lhe uma enorme desvantagem na briga.

Christian venceu a defesa de Blake várias vezes, conseguindo acertar diversos socos em sua face, em seu estômago.

E então, Christian agarrou a camisa de Blake, erguendo-o pelo colarinho, somente para atirá-lo nas águas tórpidas do rio depois. Stevan afundou como se uma imensa rocha tivesse sido lançada nele, desaparecendo na imensidão azul.

Sentei-me sobre a imensa rocha, meus olhos percorriam toda a extensão do rio, vasculhando cada pedaço dele a procura da figura de Blake, mas não havia nada.

E então, ele saiu, rastejando-se do meio do leito do rio, completamente molhado, o cabelo escuro pingando água. O semblante cansado, exausto, suas forças haviam atingido seu limite, o seu auge, elas estavam todas exauridas.

Stevan deixou a margem do rio ainda ofegante. Levantou-se, ainda um pouco zonzo, mas Christian não lhe deu tempo suficiente para se recuperar. A lâmina deixada por ele ali mesmo, naquela grande rocha, foi apanhada por Christian. Ele a girou nos dedos algumas vezes, demonstrando extrema habilidade e afinidade com a arma. Eu estremeci.

Stevan ainda encontrava-se um pouco zonzo após receber tantos golpes. E parecia não ser mais capaz de lutar com Christian. Ele apenas observou enquanto Christian caminhava tranqüilamente em sua direção.

Seus olhos verdes apertaram-se e ele riu baixo, parecendo divertir-se com sua própria derrota. Christian estacou a apenas alguns metros de sua figura, observando-o minuciosamente. A adaga ainda cintilava em suas mãos.

- Agora eu compreendo tudo... – sussurrou Blake, o fôlego quase no fim – Você... Você também se apaixonou por ela. – ele riu novamente, dessa vez mais alto, como se tivesse acabado de ouvir uma piada muitíssimo engraçada – Você está apaixonado pela namorada do seu próprio irmão!

- Isso não é totalmente válido – Christian retrucou, como se ele mesmo curtisse uma piada que eu não ouvira –, uma vez que não considero aquele monstro como meu irmão.

- O que eu não daria para levar a notícia de que o pirralho irmãozinho do amado filho dele está vivo, e melhor ainda, que se juntou àquela corja de Ephemera. Diga-me, Christian, Lucius o recebeu de braços abertos, mesmo sabendo o que fez no passado?

- Lucis é um homem de coração nobre, um homem de princípios, ele acredita no perdão e na segunda chance, muito ao contrário de você, Blake.

Ele riu novamente, perdendo o fôlego em meios aos próprios risos. Blake não duraria muito mais tempo.

- Como se eu realmente me importasse! – esbravejou ele, caindo em gargalhadas novamente.

E então, Christian moveu-se como um fantasma, com uma velocidade incrível, e em um momento, Stevan ria ruidosamente, gargalhava histericamente, no outro, seus olhos encontravam-se esbugalhados, seus lábios escancarados, enquanto gemidos escapavam deles; Christian havia o ferido com sua própria arma.

A adaga agora estava enterrada no abdome de Stevan. O sangue encharcou sua camisa branca, pingando na grande rocha à margem do rio. Christian puxou a adaga de seu corpo sem demonstrar a menor piedade ou clemência.

Stevan levou as mãos até o grande ferimento, apalpando-o. Seus olhos, assustados e suplicantes, encontraram a face de seu assassino mais uma vez, e de seus lábios, as últimas palavras eclodiram, em um inaudível sussurro.

- Isso ainda não... acabou.

Christian deixou que a adaga ensangüentada despencasse de suas mãos e quicasse na imensa rocha. Seus olhos eram frios, tão frios como eu jamais havia visto antes.

- É aí que se engana, Blake. – ele murmurou, e tornou a colocar as mãos dentro dos bolsos de seus jeans.

O corpo de Blake vacilou, seus pés recuando por reflexo, cambaleantes. E então ele tombou, suas costas chocaram-se contra a rocha, a face virada para o lado, as mãos jazidas sem qualquer sinal de vida ao lado de seu corpo. Estava acabado. A vida de um caçador terminava ali, de forma lastimável. Eu ofeguei de alívio. Tudo realmente tinha terminado? Eu simplesmente não conseguia acreditar.

Agora que o pânico deixava meu corpo, agora que meu desespero afundava em um oceano de alívio, eu senti o frio dominar-me. Estava gelada como a própria neve e meus dentes insistiam em baterem-se uns contra os outros. Depois, movendo-se como um fantasma novamente, e sem qualquer aviso prévio, Christian estava ao meu lado, seus braços envolveram-me, tentando de alguma forma acalentar-me, reconfortar-me.

Eu encontrei o par de olhos azuis, e eles realmente estavam arrependidos por deixar-me desamparada e sem qualquer auxílio e proteção. Eu recostei minha face em seu ombro, tentando aquecer meu corpo de qualquer forma.

- Eu sinto muito... – sussurrou ele em minha orelha – Não devia tê-la deixado tão desprotegida, fui negligente e isso quase custou a sua vida. Perdoe-me, Agatha, perdoe-me, por favor.

Aconcheguei-me mais em seu corpo quente, e Christian puxou-me para mais perto de si, pegou-me em seus braços e levantou-me do chão de uma só vez.

Uma outra figura pareceu aproximar-se de nós dois, só então me lembrei de Peter, ele devia ter despertado depois que Blake o nocauteara.

- Ela está bem? – perguntou ele para Christian, parecendo bastante preocupado.

- Ela precisa descansar. Eu a levarei para casa, não se preocupe.

Ele pareceu-me meio relutante, mas depois de alguns segundos, decidiu assentir. Peter não devia estar muito contente com aquela situação. Mas que opção ele tinha?

- Tudo bem, eu preciso encontrar Tamara de qualquer maneira. – ele deu de ombros e depois, não havia mais ninguém, a não ser, eu e Christian.

Ele abaixou sua face novamente, até que seus lábios roçaram minha orelha, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo.

- Descanse um pouco, você precisa. – sugeriu-me ele, e não decidi contestá-lo, eu ainda me sentia extremamente frágil e debilitada, como se tivesse apanhado uma forte gripe, só que pior. Eu não queria ter de repetir aquela experiência nunca mais.

Fechei meus olhos de deixei-me embalar por aquelas sensações de conforto e paz que a presença dele trazia-me. Eu estava protegida, parecia que nada poderia ser capaz de atingir-me naquele momento, então eu adormeci, enquanto Christian carregava-me de volta para a cidade em seus braços quentes e fortes...

Quando despertei, já estava em meu bairro. As casinhas que eu tanto via encheram minha visão, e a sensação de estar de volta ao lar dominou-me, trazendo-me sentimentos nostálgicos e lembranças nebulosas e indistintas. A viela estava vazia. O que não era nenhuma surpresa, já estava quase anoitecendo.

Christian percebeu que eu já me encontrava totalmente desperta, mas seus olhos permaneceram fixos no horizonte enquanto ele falava.

- Sua mãe está em casa? – perguntou-me ele, uma sobrancelha arqueada.

A confusão atravessou todo o meu rosto, por que isso devia ser importante para ele? Ah... A não ser que ele fosse entrar pela porta da frente, tendo a mim em seus braços. E o fato de que minhas roupas ainda permaneciam encharcadas não devia nos ajudar naquele momento.

- Não sei... – sussurrei, ainda fraca demais para pensar em algo que pudesse acrescentar – Por quê?

- Não sinto a presença dela na casa, embora seu carro esteja na garagem.

- Ela pode estar com John. – conjeturei, realmente desejando que fosse isso.

Christian aproximou-se da frente de minha casa, ele estava certo, o Grand Jeep Cherokee 1996 de minha mãe estava na garagem. Mas ele dizia não sentir sua presença na casa...

A porta da frente não estava trancada, apenas recostada. Christian empurrou-a sutilmente e a escuridão banhou meus olhos, preenchendo minha visão. Estava escuro; Um pequeno feixe de luz, oriundo da lua, penetrou pela porta agora semi-aberta, iluminando um pouco da sala.

Christian procurou pelo interruptor e as luzes acenderam todas, revelando o ambiente vazio e silencioso de minha casa. Com um dos pés, ele deu um peteleco na porta e ela fechou atrás de nós dois, seu baque surdo ecoando por toda a estrutura da casa.

Ele não esperou que eu iniciasse uma discussão para que ele colocasse no chão e libertasse-me de seu abraço protetor; ele nem mesmo esperou que eu inspirasse o ar de meu lar. Simplesmente lançou-se em direção às escadas, subindo os degraus com extrema agilidade e rapidez, e quando dei por mim, ele já invadia meu quarto, chutando a porta para que ela abrisse.

Ele caminhou até minha cama, depositando-me sobre o colchão. Observei o tão familiar ambiente. E uma sensação desoladora apanhou-me, uma sensação que eu tivera durante toda a minha vida, mas que hoje apenas provou-se ser verdadeira e não infundada como eu pensara; a sensação de que eu não pertencia a aquele lugar, a sensação de que eu não pertencia a talvez lugar algum.

Vi Christian fuçar nas gavetas de meu armário até encontrar uma toalha, mas ao invés de simplesmente estendê-la para mim, ele a abriu, e lançou-se aos meus pés, enxugando meu rosto, meu pescoço, meus ombros, meus cabelos.

A toalha escorregou através da extensão de meus braços, chegando até meus pulsos, alcançando a sua face interna. Ele pegou minhas mãos, prendendo-as entre as suas, e as aqueceu gentilmente.

Senti algo aflorando dentro de mim naquele instante, algo com o qual eu não havia lidado ainda, e nem mesmo sei se conseguiria algum dia lidar, a minha estranha conexão com Christian, nossa forte e desconhecida ligação.

Suspirei e tomei uma decisão: eu precisava de algum tempo a sós. Precisava colocar meus pensamentos em ordem, precisava pôr um fim à confusão caótica que agora era a minha mente.

Levantei-me do colchão, eu já parecia ser fisicamente capaz de permanecer em pé e sustentar o peso de meu próprio corpo. Christian levantou-se, postando-se atrás de mim, senti sua respiração quente em minha nuca e estremeci mais uma vez.

- Pode me deixar alguns minutos, sozinha? Acho que preciso de um banho quente.

- Estarei lá embaixo esperando por você. – sussurrou ele em minha orelha e deixou-me sozinha em meu quarto.

Seus passos logo desapareceram no corredor, descendo os degraus da escada. Não esperei nem mais um minuto, desabotoei os botões de minha blusa e a joguei de qualquer maneira no assoalho, descalcei os tênis, desajeitada, mais tarde, quando tivesse mais cabeça para isso, eu daria um jeito nisso.

Abri a gaveta de meu roupeiro novamente, apanhando uma leva de roupas limpas e secas. Peguei uma toalha e corri para o banheiro, nem me importando com o fato de estar com a parte de cima de minha lingerie a mostra.

Fechei a porta atrás de mim e terminei de me despir, abrindo o chuveiro e um vapor quente logo preencheu todo o pequeno cubículo de azulejos. E sem mais hesitação, meti-me debaixo do feixe de água quente, sentindo cada músculo de meu corpo reclamar do choque de temperaturas.

Deixei que a água quente banhasse todo o meu corpo, eliminando qualquer vestígio do frio que ainda pudesse haver nele. Passei as mãos nos cabelos, esfreguei freneticamente meu corpo, querendo de alguma forma, que aquela coisa saísse de dentro de mim, que ela fosse removida e descesse até o ralo. Esfreguei, esfreguei, esfreguei até não ter mais forças.

E então, desabei em lágrimas, chorando desesperadamente, querendo que aquilo tudo terminasse de alguma forma, de qualquer forma. Apertei meus olhos, levei as mãos à cabeça, e não lutei mais contra toda aquela dor.

Encostei minhas costas ao azulejo frio e escorreguei até me sentar no chão, sentindo a água quente deslizar por todo o meu corpo. Abracei-me, encolhendo-me ali, e escondi minha face em meus joelhos, enquanto soluços e gemidos agoniados escapavam de meus lábios e de meus dentes trincados.

E depois, de algum tempo, eu recostei minha cabeça à parede, fitando a torrente de água que desabava sobre mim, desejando afogar-me nela, desejando que ela me soterrasse, desejando que tudo aquilo tivesse um fim. Mas não teria, aquela era uma verdade inegável, um fato incontestável, e jamais mudaria, querendo eu ou não.

E meu grande desafio, seria agora, aceitar quem verdadeiramente eu sou e quem verdadeiramente o meu pai foi... Embora, talvez, eu jamais aceitasse de fato, e era essa suspeita que mais me incomodava naquele momento. Saber que eu nunca possa realmente me acostumar a essa verdade.

Depois de algum tempo, eu levantei-me do chão, já um pouco mais recomposta. Fechei o chuveiro, enrolei-me na toalha e estaquei em frente à pequena pia, fitando o reflexo distorcido pelo vapor quente no espelho acima dela.

Um pouco relutante, estendi minha mão, limpando o vapor e encontrando o rosto que eu nunca mais desejava ver em minha vida – o meu próprio. Mordi o lábio inferior e desviei o rosto, se permanecesse ali por mais um segundo sequer, cairia aos prantos novamente e eu precisava conversar com Christian, havia muita coisa que ainda precisava ser esclarecida entre nós dois. Embora tal conversa deixasse-me apreensiva.

Vesti-me, e corri até meu quarto, ligando o secador e secando meus cabelos. E só então, olhando novamente no espelho de minha penteadeira, foi que eu vi algo dourado e delicado cintilar em meu pescoço. Eu ainda usava o colar que ele me dera, o colar que um dia pertencera a Caroline, o grande amor de sua vida.

Desliguei o secador e meus dedos envolveram o pequeno pingente. Apertei os olhos e saí do quarto como um furacão, descendo os lances de escada aos pulos. Estaquei apenas quando vi sua figura, tão imóvel quanto uma estátua, no centro da sala.

Ele havia retirado sua jaqueta e permanecia apenas com a mesma camisa cinza-escura que usara outro dia. Ele notou minha chegada e virou-se para mim, os olhos azuis estavam de certa forma apreensivos e cautelosos, como se ele também temesse o rumo de nossa conversa.

Cruzei os braços e meu pé hesitou no último degrau. Ele moveu-se até mim, sua mão envolveu a minha e ele puxou-me dali, rebocando-me consigo.

Depois, seus olhos procuraram pelos meus mais uma vez, com a mesma necessidade devastadora de outrora. Como se o que o mantivesse vivo, estivesse ali, nas profundezas misteriosas das lagoas negras que eram os meus olhos.

- Como se sente? – perguntou-me ele, parecendo-me preocupado e ainda apreensivo.

Cruzei os braços novamente e baixei os olhos, incapaz de encará-lo face a face.

- Estou bem.

- Tem certeza? – certificou-se ele.

- Sim.

O silêncio instaurou-se sobre nós e eu não sabia como ia iniciar aquele assunto, eu temia sua reação, Christian parecia-me uma caixa de surpresas, dono de um comportamento imprevisível e definitivamente impossível de se prever.

Inspirei, forçando o oxigênio a chegar até meus pulmões. E finalmente sustentei meu olhar, encarando-o incisivamente. Meus lábios apertavam-se em uma linha rígida e meus dedos cravavam-se no tecido de minha blusa.

- Por que não me contou? – indaguei, despejando de uma vez por todas aquela pergunta que estivera entalada em minha garganta, quase me sufocando.

Christian ergueu as sobrancelhas e seu rosto parecia de certa forma confuso e surpreso.

- Por que eu não te contei o quê? – ele devolveu minha pergunta com outra, fazendo-se de desentendido.

Finquei pé e não deixei que ele me enganasse. Franzi o cenho e deixei minha voz o quão áspera fosse possível.

- Não se faça de tolo, você sabe perfeitamente do que estou falando.

- Acha que estou fazendo-me de tolo? – seu tom de voz denunciava que ele sentia-se ofendido por minhas acusações, mas não deixei que isso me abalasse – Ora, Agatha, por que eu faria isso?

- Por que não quer me contar a verdade talvez?

Seus olhos azuis fuzilaram-me, repreendendo-me com fúria e determinação. Eu sabia que estava preste a cutucar sua mais dolorosa ferida, mas precisava da verdade, precisava descobrir o que ele realmente havia escondido de mim desde que chegara a South Hokksett.

- Não sei do que está falando. – murmurou ele, querendo de uma vez por todas encerrar aquele assunto.

- Então nega que você é o irmão de Aidan Satoya? – indaguei, ainda determinada em arrancar a verdade dele custe o que custasse.

Ele soltou um som de escárnio, bufando e desviando seus olhos dos meus. Ele ameaçou afastar-se de mim, mas eu o segui, tocando em seu ombro.

- É a verdade, não é? Você é a segunda criança adotada por Lorde Ducian, você é o irmão mais novo de Aidan.

Ele virou-se para mim, os olhos furiosos, severos, intimidadores, sua face estava dominada pela raiva naquele momento e eu recuei, assustada.

- Não, não diga esses nomes na minha presença!

Ele notou meu pavor e que havia me assustado, levou ambas as mãos à cabeça, e recuou, afastando-se de mim novamente. Ele pareceu tentar refrear a própria raiva e eu me compadeci dele no mesmo instante.

- Desculpe, não queria assustá-la, eu só... não consigo conter a minha fúria quando ouço esse nome.

- O que houve para você odiá-lo tanto, Christian? Afinal, ele é seu irmão...

- Não, ele não é! – interrompeu-me ele, furioso novamente – Eu não tenho irmão, posso ter tido um dia, mas ele está morto para mim!

Aproximei-me de sua figura novamente, medindo cada reação sua, não pretendia assustá-lo, muito menos despertar a sua fúria indomável e assustadora.

Tornei a pousar minha mão em seu ombro e ele estremeceu sob o meu toque.

- Eu sei que... Ele te fez algo no passado, mas, Christian, ele mudou, acredite em mim, ele está arrependido e carrega uma culpa enorme por tê-lo prejudicado.

Christian virou-se novamente para mim, o rosto estava mais recomposto, e até mesmo um pouco debochado. Ele pegou minha mão que repousava em seu ombro e a segurou entre as suas.

- Agatha, monstros não sentem culpa, eles nunca se arrependem, eles nem mesmo se importam com os outros. E Aidan é assim, você sabe disso.

Eu tentei recuar mais uma vez, eu não gostava de algo no tom de sua voz, algo no modo como ele dissera-me aquilo me lembrou de um adulto explicando a uma criança ingênua a diferença entre pessoas boas e pessoas más. Então era assim que ele me via? Uma criança ingênua?

- Você está enganado sobre ele. – sussurrei e ele riu de mim! Uma gargalhada baixa, mas ainda assim sarcástica.

- Não, Agatha, se existe alguém que está sendo enganado aqui, aliás, se existe alguém aqui que está se iludindo, esse alguém é você, que não enxerga o verdadeiro monstro que Aidan é.

A fúria explodiu dentro de mim. Como ele ousava? Puxei minha mão da sua abruptamente e preparei-me para esbofeteá-lo bem forte na face esquerda, mas ele deteve-me, segurando em meu pulso, um aperto sutil, mas forte o suficiente para me deixar sem qualquer reação.

Tentei esbofeteá-lo com a outra, mas sem resultado. Ele agora cativava minhas duas mãos, e não parecia que nossa conversa terminaria amistosamente.

Ainda enraivecida e cega de ódio debati-me contra seu aperto, cuspindo xingamentos através de meus dentes trincados.

- Ora, seu, solte-me agora!

Christian não esboçou emoção alguma enquanto jogava-me para o outro lado, apertando-me contra seu corpo e empurrando-me, empurrando-me, empurrando-me para trás, até que minhas costas encontraram a estrutura fria e rígida de uma das paredes da sala.

Ele prensou-me contra ela, apertando-me ainda mais. Seus dedos longos ainda formavam algemas em meus pulsos, segurando-os acima de minha cabeça, e por algum motivo desconhecido e que eu não queria descobrir, minha respiração encontrava-se entrecortada, meu coração acelerado. Meu fôlego escapava-me, fluindo livremente através de meus lábios entreabertos, enquanto eu arfava descontroladamente.

Christian encostou sua testa a minha, ele ao contrário de mim estava bastante recomposto, calmo, sereno. Lenta e suavemente, seus dedos deslizaram de meus pulsos até as palmas de minhas mãos, entrelaçando-se aos meus dedos.

Arregalei meus olhos, deixando que a surpresa inundasse-me, como uma onda gigante, carregando consigo toda a minha razão, todos os meus pensamentos racionais, tudo o que pudesse fizer algum sentido. Tudo.

Minha mente esvaziou-se por completo e eu não conseguia pensar em mais absolutamente nada. Não com o corpo dele tão próximo ao meu, não com seu cheiro enchendo minhas narinas, não com seu calor aquecendo-me.

Eu ainda arfava, completamente desconcertada por nossa proximidade, então ele roçou a ponta de seu nariz ao meu, cerrando seus olhos enquanto o fazia, inspirando suavemente em minha pele, em meus cabelos.

- O que vai fazer? – sussurrei, completamente tomada por aquelas sensações estranhas. E o mais estranho para mim, era o fato de que eu, de alguma forma, ansiava por aquilo, almejava por aquilo.

A atração entre nós dois era algo evidente, desde o principio, e agora, parecia praticamente estar sendo esfregada em nossas faces.

Christian fitou-me nos olhos, seu olhar demorando-se em meu rosto, na base de meu pescoço, no pouco de meu colo exposto pelo modesto decote de minha blusa, e principalmente, na corrente dourada que o adornava.

Ele aproximou seus lábios dos meus, sem roçá-los, o que quase me enlouqueceu, eu devo confessar.

- Vou fazer o que venho desejando há muito tempo, Agatha.

Seu olhar espatifou-se em meu rosto então, acabando com qualquer defesa minha que ainda pudesse tentar resistir a ele. Qualquer força que desejava reprimir aquela avalanche de sentimentos veio a baixo, despencando, caindo por terra.

Eu encarei aquele oceano azul que eram os seus olhos uma última vez, antes de permitir que aquelas águas levassem-me, arrastassem-me, e que eu me perdesse nelas, afogasse-me nelas, embebedasse-me com elas.

E finalmente, ele curvou seus lábios até os meus, selando de uma vez por todas aquele momento definitivo para nós dois. Eu suspirei, sentindo-os roçar suavemente nos meus para depois aprofundar cada vez mais, com mais e mais necessidade.

Eu parecia, naquele momento, estar caindo em uma espécie de espiral de prazer e satisfação. Seus lábios eram macios, quentes, reconfortantes, era como encontrar o meu porto-seguro mais uma vez, o meu lugar de descanso, de refúgio das tormentas. Era como encontrar a paz que eu tanto buscava nos últimos meses, era como finalmente estar em segurança, completamente protegida e indubitavelmente inatingível.

E mesmo que eu o buscasse com necessidade e desespero, não parecia ser o suficiente para ele. De certa forma, seus lábios moldavam-se aos seus, como o encaixe perfeito de duas peças, como o encontro de duas metades. Era perfeito, era quente, seguro, prazeroso, indescritível e assustadoramente bom.

Christian libertou meus pulsos e eu não contive meus braços, passei-os ao redor de seu pescoço, enlaçando-o, e tentando diminuir a pouca distância ainda existente entre nossos corpos. Não demorou muito para que meus dedos encontrassem os fios de seu cabelo ondulado, e por Deus, eram tão macios... Não resisti em entrelaçá-los, puxando-o suavemente e Christian reagiu, envolveu-me pela cintura, suspendendo meu corpo do chão, deixando-me na ponta dos pés.

Parecia loucura que eu permitisse aquilo tudo, mas não naquele momento, não com Christian. Não quando eu encontrava-me sozinha há tantos meses, sem ninguém em quem pudesse apoiar-me, sem alguém com quem pudesse realmente contar. E ali estava ele, dizendo que possuía sentimentos verdadeiros por mim, salvando minha vida e oferecendo-me suporte e proteção.

Seu hálito era maravilhosamente envolvente, com uma certa doçura, algo que o tornasse único, talvez.

Senti a língua quente e ávida dele contornar meu lábio inferior, para então depois, sugá-lo com voracidade. Se ainda restava algum juízo em mim, ele acabava de esvair-se por completo.

E então, pegando-me completamente desprevenida, Christian ergueu-me ainda mais do chão, suspendendo-me em seus braços e com uma velocidade espantosa, carregou-me consigo.

Tão rápido que eu nem mesmo tive tempo para registrar corretamente e assimilar os fatos, Christian depositava-me no sofá, ainda comigo em seus braços, sem desgrudar nossos corpos por nem mesmo um centímetro que fosse.

Minha cabeça repousou delicadamente nas almofadas macias e Christian interrompeu o contato em nossos lábios somente para prosseguir com seus beijos por todo o meu rosto, seguindo depois para o meu pescoço.

Eu estremeci ao sentir sua língua explorando minha pele, como se quisesse gravar o gosto que ela possuía. Como se o mundo pudesse acabar a qualquer momento, era exatamente assim que ele beijava-me, com desespero, com desejo e volúpia.

Não consegui mais conter minhas mãos, elas praticamente imploravam para sentir a textura, a maciez da pele dele, a rigidez dos músculos de seus braços, de seus ombros, de suas costas, de seu abdome. Eu nem mesmo conseguia controlar a minha respiração, que naquele momento encontrava-se um tanto constrangedora.

Então eu estremeci novamente, sentindo os dedos longos dele afastando um pouco da barra de minha blusa para entrar em contato com a pele de minha cintura. Ela arrepiou-se imediatamente.

Minhas mãos deslizavam sobre o tecido de sua camiseta, mas não bastava para mim, eu precisava tocá-lo... ainda mais. Desesperada, agarrei o tecido de sua camiseta, prendendo-o entre meus dedos, e no exato momento que seus lábios tornaram para os meus, eu afastei o tecido incômodo, tocando em sua pele, deixando que meus dedos deslizassem pela superfície plana e macia de suas costas.

Era quente, era perfeito, e de uma forma especial, era único. Sua pele parecia veludo sob o meu toque. Tão macia e irresistível.

Eles seguiram por seus ombros, deslizando por seus braços, sentindo a rigidez de seus bíceps. E eles detiveram-se ali.

Christian interrompeu nosso contato novamente, dessa vez para beijar um de meus ombros, afastando a quantidade de tecido que fosse necessária para tal.

Permaneci completamente inerte, sentindo a intensidade de seus beijos, a pressão de seus lábios em minha pele aumentar progressivamente para depois regredir, tornando-se suave e gentil. Até que ele cessou, sua respiração estava tão descontrolada quanto a minha e os olhos azuis buscaram pelos meus mais uma vez, penetrando-me com seu olhar, expondo ali todos os sentimentos, todas as sensações que eu estivera tentando negar para mim mesma.

Os olhos azuis como lápis jamais estiveram tão brilhantes, tão excitados, tão belos e profundos. Ele afagou a lateral de minha face, seus dedos escorregando com tanta delicadeza através de minha pele, até que se detiveram na corrente dourada que eu usava.

Tentei estabilizar a minha respiração e acalmar meus batimentos, e então, em um movimento abrupto, ele pegou em uma de minhas mãos, levando-a até o seu peito, repousando-a bem onde seu coração batia acelerado. Os batimentos pulsavam através de sua pele, de sua camiseta e refletiam na palma de minha mão. Entendi o que ele queria mostrar-me.

- Eu pensei que nunca mais fosse capaz de sentir isso... – sussurrou ele, com a voz um pouco entrecortada, devido ao seu fôlego quase extinto. – Mas estava errado.

- O que você quer dizer? – perguntei-lhe, incapaz de demover meus olhos dos seus.

Seus dedos tornaram a afagar meu rosto, enroscando-se em algumas mechas de meu cabelo. Eu jamais o havia visto com tamanha seriedade antes, ele falava sério daquela vez, em sua voz não havia o menor sinal de vacilo. Então ele já possuía total certeza de seus sentimentos por mim, apenas aguardei que ele prosseguisse, enquanto meu coração acelerava mais uma vez, meus lábios entreabriam-se, e meus olhos eram vincados pelo choque e pela surpresa de suas palavras, por sua intensidade e veracidade. Por ele estar finalmente abrindo seu coração para mim...

- Quero dizer que já não tenho mais nenhuma dúvida. – ele fez uma curta pausa, respirando fundo, buscando forças e então, finalmente confessou-se, causando o meu espanto e a minha admiração, atingindo-me em cheio como uma enorme onda de confusão – Eu te amo, Agatha, e quero que fique comigo.


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Notas finais do capítulo

Agora, alguns esclarecimentos:

1º: *com muita raiva* Alguém viuuu as minhas recomendações???? Elas sumiram!!! Aliás, não só as minhas, como a de todo mundo! Será que elas se rebelaram e resolveram fugir todas juntas???? Ou será que algum vilão malvado roubou todas elas???? Vou pôr um cartaz de procura-se recomendações, se encontrá-las, ligue para o meu celular (se eu tivesse um)... Mas enfim, ALGUÉM VIU AS MINHAS RECOMENDAÇÕES?????

E Ra, lembre-se do nosso acordo!

Agora, momento surto on...

Ohhhhhhhhhhhh My Gooooooooooooddddddddd!!!!! O Christian agarrou a Agathaaaaaaa! E quer que ela fique com ele!!! Alguém me segure!!!!! Alguém me acudaaaaa! E agora, gaja, o que vai ser? *morri*

*pigarro*

O que acharam das revelações desse cap??? Alguém já conseguiu juntar todas as pecinhas????

E o Blake não deu nem pro cheiro, Christian é fortinho hein... kkkkkkkkkkkkk' Tá parei!

Até o próximo...

Beijossss! *E que ninguém atente contra a minha vidinha, oh senhor, proteja-me dos ataques e das bombas nucleares!!!!*