Saga Sillentya: Lágrimas da Alma escrita por Sunshine girl


Capítulo 16
XV - Fora de Controle


Notas iniciais do capítulo

Enfim apareço por aqui!

Sentiram minha falta?

Queria pedir desculpas pelo atraso dessa vez, mas vcs entendem meus motivos né, formatura, vestibular, e eu agora tenho dois caps. de Sillentya prontinhos para postar! E para compensar a demora, um cap. gigantesco com muitas reviravoltas e surpresas!

Enfim, sem mais enrolação...

Boa Leitura!



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Capítulo XV – Fora de Controle

“Apenas uma vez em minha vida

Eu pensei que seria agradável

Perder o controle, apenas uma vez,

Perder o controle". 

(Evanescence – Lose Control)

Entrei no ginásio da escola já vestida apropriadamente para a atividade que teria de realizar. Não que eu gostasse de fazer aquilo, mas que opção restava-me?

O treinador foram bem claro, como ainda estava nevando naquele inicio de tarde melancólica, ele achou que seria legal ceder a piscina que só era utilizada pela equipe de natação do colégio para os demais alunos.

E era por isso que nós nos dirigíamos até o esquecido e largado às moscas ginásio do colégio. Eu ainda hesitava em retirar a toalha que envolvia meu corpo. A idéia de permanecer apenas de maiô preto perto de garotos fazia-me estremecer como nenhuma outra coisa seria capaz.

Tamara prendeu o cabelo em um coque no alto da cabeça, ela estava vestida como eu, de maiô. Soltei um alto suspiro, o que logo fez com que ela percebesse o meu constrangimento. Ela sorriu para mim e colocou uma mão em meu ombro.

- Deixe de ser boba! – repreendeu-me ela, pela décima vez desde que saímos do vestiário – Até parece que você vai cruzar com um tarado obcecado que irá te perseguir até o fim do ano letivo. E seu corpo é lindo, então deixe de frescura!

Dei a ela um sorriso amarelo, unindo minhas sobrancelhas.

- Não fico a vontade em trajes de banho.

Ela revirou os olhos, depois fincou seus dedos na toalha que eu usava para esconder meu corpo e a puxou, revelando-me por inteira.

Os demais alunos já se preparavam na borda da piscina olímpica. Uma imensidão azul e funda. Pelo menos a água estaria aquecida.

Ignorei a platéia que começara a focalizar a sua atenção em mim. Era por esse motivo que eu odiava a natação. Nada era mais estranho do que eu em um maiô. Tenho certeza de que se Max estivesse ali, ele certamente teria rido da minha cara até que perdesse o fôlego ou tivesse um infarto, qualquer um dos dois.

Peguei a toca preta e prendi meus cabelos, colocando-a, enfiando as mechas teimosas dentro dela e coloquei os óculos de natação.

Aproximei-me da plataforma da piscina. Tamara estava ao meu lado. Claro que eu sabia nadar, até muito bem, depois de escapulir muitas vezes depois das aulas para aquele pequeno riacho de águas cristalinas que uma vez quase virara meu túmulo com Max, nadar para eu era um hábito.

Claro que depois de quase me afogar, eu ficara um bom tempo sem afundar meu corpo em uma grande quantidade de água como aquela. Mas meu trauma parecia superado, agora que eu encarava a superfície cristalina e calma da piscina.

O treinador pegou o pequeno apito branco pendurado em um cordão negro e o levou aos lábios, dando o primeiro sinal de partida. Curvei-me na plataforma, e então veio o segundo.

Mergulhei, chocando-me contra a água morna e comecei a nadar. Assim que alcancei a outra borda da piscina, preparei-me para virar. Meus olhos tinham consciência do fundo da piscina, uma fileira de azulejos azul-claros, meus ouvidos captavam o som da água agitando-se ao meu redor, as demais garotas espelhavam meus movimentos.

Eu respirava a cada braçada, colocando metade da face para fora da água, era de certa forma, uma terapia relaxante. Fazia com que eu esquecesse os problemas, tudo o que estivera preenchendo meus pensamentos nos últimos dois dias, quando Christian partira, prometendo pensar em seus sentimentos em relação a mim.

Eu imaginava o que ele estaria fazendo nesse exato momento. No quê estava pensando...

Estava tão absorta em meus próprios pensamentos que nem mesmo notei quando uma incomoda ardência começou a irradiar de minha marca de nascença, em meu ombro esquerdo. Parei no meio do trajeto, retirando os óculos e muito cuidadosamente toquei minha marca de nascença. Estremeci, estava sensível.

Vi o olhar preocupado do treinador, enquanto as demais meninas continuavam nadando em suas raias. Ofeguei, já sentindo que a dor se intensificaria a seguir. E não estava enganada.

Levei minha mão até meu ombro, cobrindo-o e trinquei meus dentes com a maior força que consegui naquele momento. Eu não queria gritar, não agora.

- Agatha? – olhei para meu lado direito, era Tamara, ela parecia preocupada comigo.

Mesmo respirando aos arquejos, consegui sussurrar um “ajude-me” a ela. Depois, não consegui mais me sustentar na superfície da piscina e afundei.

A dor era intensa demais, maior do que da outra vez que a senti. Cerrei meus lábios, e vi a figura de Tamara afundar na água atrás da minha. Ela pegou-me pelos ombros e levou-me de volta a superfície.

- Ajudem-me! – ela gritou, ainda me segurando.

O treinador Kyle tirou sua jaqueta esportiva e o boné que usava na cabeça e pulou na água. Não tive consciência de muito mais depois disso. Mas podia sentir os olhares preocupados todos direcionados a mim.

- Afastem-se, deixem-na respirar! – pediu o treinador, estendendo seus braços. Uma mão pequena segurava na minha, eu não tinha muita certeza de quem era, deveria estar alucinando então.

E um grito de pavor ecoou em meus ouvidos. Um falatório dos infernos iniciou-se então, todos pareciam estar imersos em um clima diferente do qual eu encontrava-me. Pareciam assustados, perplexos. Eu não entendia absolutamente nada.

Havia um... som diferente, de água corrente, na verdade, de uma grande quantidade de água movimentando-se. Mas eu não podia ter certeza de nada.

Então o treinador Kyle gritou para as meninas novamente.

- Voltem para a sala de aula imediatamente!

E depois murmurou em uma voz suave e gentil para aquela pessoa que segurava em minha mão.

- Venha comigo, Tamara, precisamos levá-la até a enfermaria.

Eu sentia meus cabelos pingando no chão do ginásio, meu corpo estava estranhamente quente. E eu ainda não tinha forças para raciocinar corretamente ou dizer alguma coisa que fizesse sentido.

Os braços do treinador envolveram meu corpo e ele carregou-me até a enfermaria. Eu senti quando meu corpo repousou na única maca dela, molhando a longa tira de papel que a recobria.

Não sei ao certo se perdi a consciência, tudo era indistinto, borrado, parecia distante de mim. Eu mais parecia estar em transe. Ao menos, a dor em meu ombro já havia cessado.

Com o passar dos minutos silenciosos, eu parecia estar emergindo daquele estado de semiconsciência. Senti que aquela mãozinha pequenina ainda não havia soltado a minha.

Então, por reflexo, eu devolvi o aperto suavemente, demonstrando que já estava bem. Tombei minha face de lado no colchão da maca e vi o rosto de Tamara iluminar-se.

- Ei, você voltou... – ela sussurrou, abrindo um singelo sorriso.

Assenti com a cabeça, eu sentia-me estranhamente fraca e com as forças exauridas.

- Você deu um grande susto em todo mundo. – reclamou ela – Principalmente em mim.

- Desculpe...

Ela soltou um longo suspiro, rendendo-se.

- Ah, esqueça! Tudo o que importa é que você está bem!

Dei a ela um meio sorriso e ergui minha face, fitando o ambiente calmo e silencioso da enfermaria.

- O treinador pensou em ligar para a sua mãe. – murmurou ela e eu arregalei meus olhos instantaneamente, desesperada pelo desespero que minha mãe poderia estar naquele exato momento. Ameacei levantar-me do colchão, mas as mãos de Tamara detiveram-me – Ei, calma! É claro que eu disse para ele não fazer isso, sua mãe certamente teria um infarto.

Tamara tombou sua cabeça para trás, encarando o relógio redondo fixado à parede branca da enfermaria.

- Olha, Agatha, eu preciso voltar para a sala de aula, senão provavelmente o professor Blake arrancará minha alma de meu corpo, mas você ficará bem, não ficará?

Revirei meus olhos teatralmente.

- Eu não sou uma criança de cinco anos, ficarei bem. – garanti a ela.

Ela abriu-me um último sorriso, depois baixou seus olhos para as suas vestimentas. Ela usava um roupão por cima do maiô preto, que ainda estava molhado.

- Claro que primeiro terei que dar uma passada no vestiário. E você, mocinha, fique aqui até uma das enfermeiras virem te ver!

- Falando nisso, Tamara, onde elas estão? – era estranho que nenhuma delas estivesse ali naquele exato momento. Muito estranho, na verdade.

Tamara bufou, jogando um de seus cachos para trás.

- Essa escola está um caos hoje, fora o fato de você ter quase surtado na piscina, logo depois houve... algo sinistro com ela.

- Sinistro como? – perguntei-lhe, aturdida.

Tamara espalmou as mãos e esbugalhou os olhos dramaticamente.

- Sinistro tipo toda a água dela explodir para fora da piscina, como se tivessem colocado uma bomba ou sei lá o quê!

O choque e a confusão atravessaram meu rosto naquele momento. O que raios estava havendo? Tamara exigiu minha atenção uma última vez, levantando-se da banqueta onde estava sentada.

- Eu já lhe disse que essa cidade tem algo sinistro, de qualquer maneira. – ela acenou para mim, dirigindo-se até a porta – Ei, te vejo mais tarde! Cuide-se!

- Tudo bem. – assenti, vendo sua figura logo desaparecer pela porta e cruzar o corredor estreito.

Não demorou muito para que uma enfermeira viesse fazer alguns exames em mim. Ela verificou minha pressão, minha temperatura, mas como eu garanti a ela que estava perfeitamente bem, ela liberou-me algum tempo depois.

Enrolei-me no roupão e parti para o vestiário. Estava silencioso, como a escola inteira. Aliás, tudo ali parecia estar envolto em uma bolha de silêncio. Era assustador.

Tomei um banho antes, livrando-me do cloro que havia impregnado em minha pele e em meu cabelo. Vesti minhas roupas e sequei meus cabelos com a toalha.

Estava preste a pegar minha mochila e sair dali o mais depressa possível, quando algo chamou minha atenção. Aproximei-me da ponta do longo banco emborrachado que ficava no vestiário, entre as duas fileiras de armários presos à parede.

Pensei que pudesse estar alucinando, mas não, era a mochila de Tamara. Mas, o que ela estava fazendo ali? Ela não deveria ter ido para a aula de História Européia?

Aquilo era realmente muito estranho.

O sinal ressoou distante, despertando-me de meus devaneios. Agarrei a alça da mochila de Tamara e saí à procura de Peter, talvez ele soubesse onde ela estava.

Parti em direção aos corredores apinhados, aquilo estava ficando ainda mais estranho e sinistro, o período não havia terminado ainda.

Vi a figura dos inspetores, gritando a plenos pulmões no corredor, acenando para que todos os alunos saíssem e deixassem o prédio.

Logo encontrei uma cabeça ruiva, movendo-se juntamente com a multidão de alunos.

- Peter! – eu o chamei ao longe, erguendo-me na ponta dos pés para não perdê-lo. – Peter!

Quando ele notou que alguém o chamava, virou-se para trás e eu corri até ele, abrindo caminho entre os demais alunos. Estaquei diante de sua figura.

- O que está havendo? – perguntei-lhe, confusa.

- E eu é que sei? – ele devolveu com outra pergunta – Essa escola está cada vez mais estranha. Foi somente o inspetor chegar na sala e conversar com o professor que ele logo nos mandaram guardar todo o material e deixar o prédio.

- Você sabe onde Tamara está?

Ele deu de ombros.

- Não, não a vejo há um bom tempo, ela deveria ter voltado para a aula de História Européia, mas nem mesmo deu sinal de vida. A propósito, como você está?

- Estou ótima, mas esqueça de mim, precisamos encontrar Tamara.

Ergui a alça da mochila que carregava em uma das mãos.

- Encontrei no vestiário, ela nem mesmo trocou de roupa.

Peter pegou em minha mão e guiou-me através do corredor movimentado.

- Aonde vamos? – perguntei-lhe, aturdida.

- Saber o que raios está havendo nessa escola.

Corremos até a porta de vidro, estacando no gramado, onde uma multidão de curiosos já se aglomerava. Todos pareciam perplexos e pasmados demais para o meu gosto.

Só então, meus olhos focalizaram as viaturas da polícia e a ambulância. O delegado Percy e alguns outros policiais continham a multidão, deixando que os legistas atravessassem o gramado com uma pequena maca, um corpo estava sobre ela, dentro de um saco branco.

- O que houve? – perguntei a Peter, mas ele parecia saber tanto quanto eu. Então, puxou-me novamente até a figura de uma garota que se encontrava mais à frente. Se não me falhava a memória, o nome dela é Lizie, Lizandra, tanto fazia.

Ele a cutucou no ombro e a menina virou-se para ele, seus olhos cor de mel encheram-se de expectativa ao constatar que era Peter, o quarterback do time de futebol.

Ela enrolou uma mecha de cabelo marrom-chocolate no dedo e olhou-me com desprezo, medindo-me da cabeça aos pés.

- Oi, Peter.

- Liza, sabe o que houve aqui? – perguntou ele, sério. Então eu estava enganada, o nome da garota era Liza.

Ela estreitou seus olhos, depois me olhou com desprezo novamente, prestando muita atenção ao fato de que Peter segurava minha mão direita.

Mas ela dirigiu-se somente a Peter quando falou, passando a língua nos lábios.

- Encontraram o corpo da bibliotecária, sabe, a senhora Alisson, parece que ela cometeu suicídio dentro da biblioteca, o corpo dela estava banhado no próprio sangue.

Minhas mãos suaram frio naquele momento. Aquilo só podia ser um grande engano. Não, não, não, não, não! Então, o quarto sacrifício do Wayeb acabara de ser feito.

Nem mesmo importei-me se a garota tinha algo mais a falar, puxei Peter dali, passando através dos curiosos.

- Onde está me levando? – perguntou-me ele e eu estaquei apenas no estacionamento da escola.

- Peter, precisamos de ajuda. – murmurei, séria, o cenho franzido.

- Esse é o quarto sacrifício que você me falou, não é? – conjeturou ele.

Assenti, ainda séria.

- Isso significa que só resta mais um. – ele complementou e depois me puxou novamente.

Peter apanhou as chaves de sua caminhonete negra monstruosa e ordenou que eu entrasse. Abri a porta e deslizei para o banco do carona, ao lado dele, e fechei a porta. Peter colocou ambas as mãos no volante, parecendo-me tenso.

- Tudo bem, - ele começou – para onde vamos?

Abri o bolso da frente de minha mochila e apanhei o pequenino aparelho celular que John me dera há dois dias. Disquei o número de Tamara, esperançando que ela atendesse. Caiu na caixa postal.

- Tamara deixou o celular dela em casa? – perguntei a ele, ainda tensa demais, com os nervos à flor da pele.

- Não, - respondeu-me ele, prontamente – ela jamais se separa dele, ela adora ficar enviando declarações cafonas para o Bryan.

- Tudo bem, ela está com o celular, mas está desligado. É só isso.

- O que tem em mente? – perguntou-me ele, ainda tenso. Afundei no couro do assento, fechando meus olhos e soltei um longo e derrotado suspiro.

- Agatha? – Peter chamou-me de volta a terra. Apertei os olhos e tentei ignorá-lo, ainda estava tentando pensando com clareza – Agatha, o que faremos?

Abri meus olhos, inspirando lentamente pela boca. Uma decisão formou-se em minha cabeça.

- Precisamos de ajuda. – murmurei de má vontade para Peter, não seria fácil convencê-lo a ir até lá, principalmente se implicava pedir a ajuda de alguém que ele tanto odiava a desprezava. Ele levantou as mãos como se estivesse esperando por repostas mais objetivas.

- Tem algo programado para agora? – perguntei-lhe, não querendo roubar seu tempo em alguma atividade que ele já tivesse programado.

- Não, duvido que haverá treino do time hoje. Por quê? O que tem em mente?

- Precisamos ir até Hooksett.

- Para... – ele instigou-me.

Espalmei minhas mãos, batendo-as em minhas cochas.

- Olhe, eu seu que você não gosta muito do Christian, mas nesse momento, ele é a única pessoa que pode nos ajudar. Além do mais, Tamara resolveu sumir do mapa agora, e não estou com um bom pressentimento em relação a isso.

Deixei que meus olhos pousassem em seu semblante novamente, e vi a tensão emanar de seus músculos. Eu estava certa; ele não gostava nada, nada do Christian. Mas que opção tínhamos? Deixar que a cidade caísse nas garras de um sádico?

Muito relutantemente, Peter girou a chave na ignição, dando a partida na caminhonete negra. E logo deixávamos o estacionamento da escola para trás.

Estava uma tarde pálida, leitosa, naquele dia 26 de dezembro. Enquanto Peter pegava a rodovia que ladeava South Hooksett, seguindo em sentido norte, pus-me a tentar encontrar em contato com Tamara novamente, mas sem sucesso.

Ela parecia ter simplesmente evaporado.

Aquele seu sumiço estava despertando sensações horrorosas dentro de mim, e especulações que eu não queria ter de terminar.

Na estrada, uma fina camada de neblina ameaçava atrapalhar nosso percurso. Peter teve que ligar os faróis para que pudéssemos continuar seguindo viagem.

Encostei minha testa a janela e fiquei a observar as grandes árvores passarem por nós como meros borrões, imagens distorcidas, envoltas em uma névoa pungente e densa.

Pelo menos não estava nevando naquele dia. Fechei meus olhos e tentei esquecer os fatos ocorridos ainda naquela manhã. Mais uma vez, eu passara mal, mais uma vez, eu sentia-me estranha, como se algo dentro de mim estivesse lutando desesperadamente para se libertar. Algo, que embora eu soubesse que não devia temer, assustava-me.

Com o passar do tempo, tamborilei os dedos em meu jeans, contando cada segundo que passava dentro daquele carro. Mas, assim que avistei as primeiras casinhas de madeira avermelhada no melhor estilo europeu, senti-me aliviada, Christian estava em algum lugar por ali.

Ele dissera que estaria em uma hospedaria no subúrbio da cidade.

Pedi a Peter que tomasse as ruas que indicava, e logo encontramos a tal hospedaria. Uma placa de madeira desbotada gigante, com letras grandes e verdes dizia: Pousada de Hooksett Town.

Desci do carro como um furacão, abraçando-me quando um vento gelado soprou. Subi os poucos degraus de madeira, e abri a tela da porta, para enfim poder pegar a maçaneta e abri-la.

Um cheiro forte de tabaco e menta encheu minhas narinas. Havia dois ventiladores de teto circulando o ar na recepção. Algumas poltronas verdes com o assento rachado, um balcão de carvalho, uma estante logo atrás, repleta de chaves e pertences de outros hóspedes.

Um homem magricela estava atrás do balcão, lendo tediosamente uma revista de artigos esportivos. Ele bocejou e seus dedos viraram mais uma página.

Aproximei-me do balcão, nem mesmo olhando para trás para verificar se Peter seguia-me. Eu tinha meus motivos para acreditar que ele não ia querer dar de cara com Christian. Mas, estava errada, logo ele postou-se ao meu lado no balcão.

Olhei para ele, erguendo minhas sobrancelhas, mas Peter deu de ombros.

Tive que pigarrear para desviar a atenção do recepcionista da revista que ele lia com tanta avidez. Dois olhos castanhos saltaram por sobre a borda superior da revista, juntamente com uns óculos redondos e bregas.

Ele baixou a revista até o balcão de carvalho e cruzou as mãos sobre ele. Em seguida, deu-nos seu melhor sorriso de “bem-vindos, em que posso ajudá-los?”.

- Posso ajudar o casal? – perguntou-nos ele com um estranho toque malicioso na voz, um que eu não gostei nada. Sacudi a cabeça, e recuei, exasperada.

- Não, quero dizer, acho que sim...

O homem virou de costas, indo fuxicar numa das várias divisões da estante de madeira, e apanhou uma pequenina chave dourada e pendurada a ela, um número: 63.

- Ah, eu já entendi perfeitamente, casais jovens como vocês adoram vir até aqui para “namorar” um pouco, isolar-se do caos das cidades grandes. Tenho o quarto 63 vago, com cama de casal e banheira de hidromassagem. Então, vão querê-lo, ou preferem algo mais luxuoso?

Essa sua última frase veio acompanhada de uma piscadela safada. Eu arquei minha sobrancelha, completamente enojada. Abri a boca para dizer a aquele homem o real motivo de ter vindo ali, mas para a minha sorte, Peter intrometeu-se, melhor mesmo que ele o tivesse feito, de preferência antes que ele começasse a empurrar outras coisas para nós dois.

- Na verdade, estamos procurando por uma pessoa que está hospedada aqui. – murmurou ele, seco para o homem, cortando qualquer possibilidade dele tentar iniciar aquele assunto constrangedor novamente.

A face dele desmoronou um pouco, ele deu de ombros.

- Eu prezo pelos meus clientes, inclusive pela privacidade deles, sinto muito, mas nesse caso não posso ajudá-los.

- Não pretendemos incomodá-lo. – insistiu Peter.

O homem o encarou desconfiado, depois se rendeu com um longo suspiro, apanhou em uma prateleira embaixo do balcão, um caderno grosso de capa dura vermelha.

- Digam o nome dele. – pediu ele, molhando o dedo indicador na língua e começando a folhear as páginas amareladas dos registros de hóspedes.

- Christian McGonagall. – respondi-lhe, objetiva.

Os olhos castanhos do homem franzino percorreram apenas algumas linhas, seu dedo indicador parou em um nome e ele pareceu conferi-lo umas três vezes antes de voltar sua atenção para mim e para Peter.

- Sim, sim, o senhor McGonagall está hospedado aqui, mas lamento informar-lhes de que ele não se encontra no momento.

A decepção inundou-me como uma onda gigantesca. Mas, quem respondeu ao homem foi Peter.

- Não sabe onde ele pode estar agora?

O homem coçou o queixo, torceu o nariz, mas ergueu os ombros ao final.

- Não, não sei. Sinto muito, se tiver algo que possa fazer pelo dois...

- Não, era apenas isso. – murmurou Peter, um pouco gentil demais e em seguida puxou-me para fora daquele lugar.

Paramos perto da caminhonete, eu de braços cruzados, tentando apaziguar o frio que estava sentindo e Peter com as mãos nos bolsos. Ele chutou de leve a roda gigante traseira da caminhonete e pareceu-me tão desolado quanto eu.

- O que faremos agora? – ele indagou, parecendo esperar que eu tivesse a resolução para aquele grande problema. Mas esse era justamente o problema, eu não tinha nenhuma solução.

Mordi o lábio inferior e olhei em derredor, procurando pela figura de Christian. Seria fácil encontrá-lo, seu ar superior sempre o denunciava.

Nos arredores não havia nada mais do que uma lanchonete cafona, com garçonetes em vestidos curtos e coloridos demais, andando de patins e carregando bandejas e mais bandejas.

Uma loja de suvenires e lembranças e artigos de pescas, com dois senhores de idade conversando de forma civilizada e amigável em frente.

E mais ao sul, um bar velho e assustador que colocaria medo em qualquer um. Havia muitas motos estacionadas em fileira em frente a ele, alguns homens enormes, metidos em jaquetas de couros pretas e desgastadas brindavam com garrafas de cerveja espumante. E usavam óculos de sol pretos, com os cabelos longos repuxados em rabos de cavalo na nuca.

Eles estavam encostados em suas motos reluzentes, em algum tipo de ritual de exibicionismo. Desviei meus olhos, enojada. E então Peter tocou em meu ombro.

- Mais alguma idéia?

Lancei-lhe um olhar de desculpas, eu o havia arrastado até ali e aquela viagem nem mesmo obtivera resultados. Soltei um longo suspiro, mas Peter sorriu de canto, ignorando meu desânimo.

- Ei, podemos dar mais uma olhada pela cidade para ver se o encontramos, o que acha?

- Tudo bem. – concordei imediatamente.

Peter apontou para a lanchonete colorida atrás da caminhonete, a alguns poucos metros da pousada.

- Comprarei algo para que possamos comer, já que pelo visto não voltaremos tão cedo.

Assenti com a cabeça e Peter partiu, rumando na direção da lanchonete cafona.

Encostei-me a caminhonete, deixando que meus olhos vagassem de forma tediosa. Por mero instinto, ou quem sabe coincidência, ou melhor ainda, talvez fosse o meu sexto sentido que até agora não falhara uma vez, eu deixei que eles repousassem sobre os motoqueiros que brindavam alegres na frente do bar detonado.

Um deles agarrou uma loura artificial pela cintura, puxando-a para si. A garota usava uma calça jeans apertada demais em suas coxas, uma blusa que mal passava de seu umbigo e botas negras de couro de bico longo.

Mas, algo demoveu minha atenção do “casal perfeito” na frente daquele bar, uma moto negra, reluzente, sue design gritava para mim: velocidade, adrenalina.

Ela não podia misturar-se com as outras, dava um banho em todas elas na realidade. E eu podia jurar que aquela fora a moto com que eu andara com Christian naquela noite!

Coloquei-me ereta com um salto, forçando meus olhos a observar a máquina da morte mais detalhadamente, mas não havia dúvida, era a mesma moto que Christian pilotara. Então ele devia estar ali no bar.

Meu pé direito hesitou no asfalto. Meus pensamentos disparavam para o que exatamente podia estar acontecendo dentro daquele honesto e bonito estabelecimento. Mordi meu lábio inferior – aquilo era uma mania minha sempre quando eu tentava tomar uma decisão rápida e arriscada –, optei por ao menos tentar procurá-lo lá dentro, se algo desse errado ou fugisse do controle, eu bateria em retirada.

Caminhei duramente até o bar, descendo o terreno um pouco íngreme. Minhas mãos colaram-se a lateral de meu corpo e minhas unhas enterraram-se nas palmas suadas e escorregadias.

Passei reto pelos dois motoqueiros e pela loira avantajada, ignorando os assobios e as cantadas baratas, acompanhadas de um bafo de álcool dos infernos.

Empurrei a porta estreita e uma baforada de cigarro atingiu em cheio a minha face, tossi algumas vezes, espanando o ar ao meu redor. Apertei os olhos, eles lacrimejavam, mas assim que visualizei o ambiente no qual havia adentrado, preferi ter arrancado meus olhos das órbitas e dado no pé.

Se por fora o bar já era pavoroso, por dentro é que não poderia melhorar. Havia mesas de sinuca nos cantos leste e oeste do imenso salão, próximas às paredes dos fundos. E muitos homens barbudos e cheirando mal disputavam alguns trocados nela.

O papel de parede camurça e vermelho desbotava nas paredes, descascando nas extremidades do teto.

Os ventiladores estavam quebrados, então o ar não circulava ali dentro, para o meu pavor completo.

Pequenas mesas de madeira estavam enfileiradas, recostas às paredes, e os assentos eram de couro vermelho e estavam completamente rachados.

Engoli em seco e entrei, recebendo olhares estranhos por parte dos homens barbudos e tatuados que bebiam alegremente no balcão.

Um grupo em um dos cantos ria ruidosamente, um homem com uma mulher sentada em seu colo, apalpava suas pernas grossas e cacarejava incessantemente, irritando meus ouvidos. Devia ser alguma piada suja e desbocada.

O barman preparava alguns drinques baratos e era de longe a pessoa mais cheirosa e bem arrumada dali.

Aproximei-me receosa do balcão, ainda recebendo olhares do homem que estava sentado de lado na banqueta alta. Ele pegou a sua garrafa de cerveja barata e deu um gole no gargalo, olhei para ele pelo canto do olho.

Seus braços, expostos pelo colete preto, estavam completamente tatuados, ele possuía um cabelo castanho-claro liso, que batia na altura de sua nuca e estava puxado em um rabo de cavalo baixo. Um bracelete negro de couro ocupava ambos os pulsos dele. E ele inclinou-se na minha direção.

Senti o cheiro de álcool misturada à goma de mascar de hortelã no mesmo instante. Eu congelei ali mesmo, incapaz até mesmo de respirar.

- Posso te pagar uma bebida, docinho?

Dei-lhe um sorriso amarelo, tremendo por dentro.

- Obrigada, mas não bebo.

Ele riu baixo, e eu notei os traços angulosos de seu rosto, como o nariz de falcão, a testa larga e o queixo arredondado, coberto por uma barba rala.

- Se não bebe, o que está fazendo em um bar? – ele riu, interrompendo-me antes mesmo que eu pudesse falar algo – Aliás, o que uma coisa linda e delicada como você faz em uma pocilga como essa?

Apertei minhas mãos que estavam sobre o balcão, eu estava nervosa, isso era óbvio.

- Estou procurando uma pessoa...

O homem coçou o queixo, olhando para o teto decadente do bar e depois seus olhos iluminaram-se.

- Por que não me diz quem é, talvez eu possa ajudá-la.

- Ah, é muita gentileza! – exclamei, surpresa e nervosa... E desconfiada.

O homem virou-se completamente para mim, seu cabelo brilhoso refletiu a luz das lâmpadas opacas e fracas daquele estabelecimento.

- Então, quem é ele?

- O nome dele é Christian, Christian McGonagall.

O rosto do homem iluminou-se, seus olhos lampejaram satisfação enquanto ele parecia se lembrar de alguém.

- Ah, claro! O Christian! Claro, eu o conheço e sei onde ele está.

- Pode me dizer o paradeiro dele?

- Sabe, o Christian arrasou alguns caras algumas noites atrás, eles só olharam feio para ele, mas foi o que bastou. Ah, aquele garoto briga como ninguém!

Dei outro sorriso amarelo, eu bem que podia imaginá-lo em uma briga de bar, Christian era esse tipo de sujeito. Pensar nele brigando com alguns motoqueiros quase me fez sorrir, eu sentira falta dele, isso eu tinha que admitir.

- Então... Pode me dizer onde ele está?

O homem levantou-se da banqueta alta, retirou uma nota de dez dólares da carteira preta de couro e colocou embaixo da garrafa de cerveja.

- Farei mais, garota, eu te levarei até ele. – murmurou o estranho homem com um sorriso no rosto.

- Ah, imagine só! Não quero ser um incomodo, basta que me diga onde ele está e eu mesma posso encontrar o caminho. – tentei de alguma forma livrar-me daquele homem, ele me dava arrepios.

- Não será incomodo nenhum, princesa, é só me seguir.

E ele partiu, caminhando através do bar decadente. Meus pés pareciam ter sido soldados no piso de linóleo daquele bar, eu não conseguia avançar, estava receosa e desconfiada demais. Afinal, como alguém como ele podia ser tão gentil comigo? Tinha algo muito errado ali.

O homem olhou para trás, e vendo que eu não o estava seguindo, acenou, indicando para que eu fosse atrás dele. Trinquei meus dentes e ignorei meu sexto sentido, inclusive a voz na minha cabeça que gritava que eu era louca e suicida por seguir uma figura tão sinistra quanto ele.

O homem me guiou até os fundos do bar, onde havia uma pequena cortina de miçangas, servindo como divisão para outro cômodo completamente desconhecido.

Estava mais escuro ali, talvez pela falta de lâmpadas. O cômodo era na verdade um estreito e curto corredor com alguns pufes de couro, onde casais agarravam-se de forma indecente.

Desviei meus olhos, ruborizada e o homem estacou diante de uma pequena porta de madeira. Ele a abriu, e estava tão escuro lá dentro quanto no corredorzinho.

O homem afastou-se para que eu entrasse, e eu assenti, ainda desconfiada e morrendo de medo. Era um cubículo minúsculo, com algumas poltronas largas demais para o meu gosto. As paredes ainda mantinham aquela decoração acabada pelo tempo, não havia janelas e eu só despertei quando a porta trás de mim fechou-se com um baque surdo.

Virei-me assustada, a expressão tomada pelo choque e pela confusão. O homem sorriu maliciosamente para mim e em seguida seus dedos voaram para a fivela grande e prateada de seu cinto de couro negro.

Recuei, estava sem saída. Havia caído em uma armadilha! Minhas mãos encostaram-se à parede bem atrás de mim e o homem avançou destemidamente na minha direção, seus braços cercaram-me, prensando-me entre o seu corpo repugnante e a parede fria.

- O que está fazendo? – sussurrei, ainda chocada demais para admitir que fora enganada por aquele sinistro sujeito.

Ele pegou uma mecha de meu cabelo e começou a cheirá-la, senti-me enojada com seu toque.

- Ora, não me diga que ainda não percebeu? – perguntou-me ele, como se a resposta fosse óbvia demais.

Tentei tirar meu cabelo de suas mãos nojentas, mas ele as deteve, segurando meus pulsos com apenas uma de suas mãos, que eram assustadoramente grandes.

Ele ergueu meus punhos acima da minha cabeça. Trinquei meus dentes, sentindo a pressão sobre o meu corpo aumentar cada vez mais.

- Não vai conseguir o que quer! – sibilei através dos dentes trincados.

Ele inspirou em meus cabelos mais uma vez, ignorando-me.

- Hmmmm, linda e perfumada. Nós dois iremos nos divertir muito!

Debati-me contra seu abraço, furiosa comigo mesma, por estar ali, encrencada até o último fio de cabelo, por ter confiado em um sujeito que praticamente gritava perigo, e por ter ido procurar por Christian.

Aquilo era culpa dele! Por que ele tivera que me deixar justo agora, quando mais precisava dele?

Cerrei os olhos com força, lutando contra as lágrimas raivosas que queriam despencar de meus olhos.

O homem prendeu minhas pernas com seu quadril para evitar um possível e provável chute na virilha.

Ele passou sua mão grande em meu pescoço, afagando a pele sensível, então seus dedos enroscaram na corrente fina e dourada que eu ainda usava; a corrente que Christian me dera, dizendo ser de sua amada Caroline, e que me daria sorte. Estranho, não surtiu muito efeito sobre mim.

O homem curvou sua face até meu pescoço, encaixando-a na base dele e eu preparei-me para receber seu beijo repugnante, quando de repente, algo puxou o homem, liberando meu corpo que estava prensado na parede.

A sensação de liberdade fluiu através das minhas veias, e minha chama esperançosa renasceu ao constatar quem viera acudir-me; Christian.

Ele puxou o homem pelo rabo de cavalo, seus olhos azuis estavam furiosos, como eu jamais os havia visto antes. Seus dentes estavam trincados e de seus músculos exalava tensão e raiva.

Christian era puro ódio naquele momento.

Ele jogou o homem contra a parede com violência, fazendo-o ofegar, depois o puxou novamente, dessa vez pelo colete, e o golpeou com um soco em sua face. Um que o fez urrar de dor.

O homem cobriu o nariz que agora sangrava e tentou revidar. Christian desviou com agilidade, como se os ataques e investidas do homem não fossem nada para ele, então golpeou seu estômago com uma forte joelhada.

O homem perdeu o fôlego, tombou no chão, curvando-se sobre o próprio ventre. Christian ainda não se dera por satisfeito, pegou a franja do homem e bateu sua cabeça no chão de linóleo. Um sorriso sarcástico surgiu em seus lábios, emoldurando-os.

- Eu lhe avisei para não se meter comigo de novo.

Seus olhos procuraram pelos meus, assustados como os de um felino acuado e ele lançou-se em minha direção, suas mãos segurando em minha face, certificando-se de que eu estava inteira e bem.

- Você está bem? Ele não te machucou, machucou?

Meneei a cabeça, não sabia se seria capaz de falar algo que pudesse fazer sentido. Depois, Christian segurou em minha mão e tirou-me daquele lugarzinho repugnante e sujo.

Corremos até a caminhonete negra de Peter, e ele já estava lá, possivelmente preocupado com meu sumiço repentino.

As lágrimas que eu tentara reprimir antes, agora despencavam livremente de meus olhos, embora eu sentisse-me completamente segura ao lado de Christian, seria difícil apagar aquelas lembranças horrorosas e repugnantes de minha mente.

Assim que me avistou, Peter levou as mãos à cabeça, reação exagerada por parte dele.

- Onde você estava? Eu quase enlouqueci imaginando o que poderia ter acontecido com você!

Sequei as lágrimas com as costas das mãos e tentei recompor-me, mas sem alcançar muito sucesso.

- Eu fui procurar por Christian... no bar.

Peter esbugalhou seus olhos esmeraldinos, fitando a fachada do bar ainda sem acreditar.

- Você foi sozinha a um bar como aquele? Poderia ter se machucado! Ou coisa pior...

Baixei meus olhos, cerrando-os, levar sermão do jeito como eu estava não era nada, nada bom. Peter até parecia meu irmão mais velho daquele jeito.

- Desculpe, eu sei que devia ter esperado por você.

Ele cruzou os braços, profundamente irritado por minha atitude impensada e insana.

- Tem razão, você devia – ele interrompeu-se, fitando a figura silenciosa de Christian ao meu lado –, ei, obrigada por tirá-la de lá em segurança.

Ele assentiu, mudo. E então tornou sua atenção novamente para mim.

- O que veio fazer aqui, Agatha? Eu não lhe disse que precisava de um tempo a sós?

Embora ele estivesse me repreendendo, sua voz era suave e gentil, ele não queria assustar-me mais do que eu já estava assustada. Limpei os últimos vestígios das lágrimas e o encarei, o mais decidida e severa que pude. Ele precisava me ouvir.

- Christian, escute-me, você precisava voltar conosco, o quarto sacrifício foi feito hoje pela manhã, e amanhã começa o Wayeb. Se você não voltar agora, eu não sei o que pode acontecer.

Ele desviou os olhos azuis como lápis dos meus, parecia hesitar tanto. Seus lábios apertaram-se em uma linha rígida, e ele suspirou por longos segundos.

- Agatha, eu não posso. – confessou-me ele, calmamente – Não posso voltar, pelo menos, não ainda.

O choque atravessou todo o meu rosto. E eu arfei.

- Por quê não?

- Simplesmente não posso, eu lhe disse que precisava ficar algum tempo sozinho, eu... eu preciso ter certeza do que sinto por você, Agatha, e o problema é que ainda não possuo essa certeza.

Segurei em seus ombros, ignorando o que ele ou Peter iam achar de minha atitude.

- Christian, escute-me, por favor, todos em South Hooksett estão correndo um grande risco, e somente você pode deter isso, você é o único que pode fazer algo a esse respeito. Christian volte, por favor, por mim...

Ele sacudiu a cabeça e suas mãos sobrepuseram-se as minhas, segurando em meus ombros, trazendo-me para mais perto de seu corpo quente e forte.

- Agatha, eu já lhe disse, não sou um herói, posso não ser o vilão nessa história toda, mas também não sou um herói. Quando você entenderá que tudo o que me motiva são os meus próprios interesses?

- Mas... – tentei insistir naquele assunto, mas ele cortou-me, não me dando a chance de retrucar seu comentário.

- Agatha, você precisa ir embora agora. Volte para a sua casa e não saia da cidade desse jeito novamente. Está me entendendo?

Fui incapaz de assentir, até mesmo de respirar naquele momento. Christian estava me deixando na mão? Ele estava se recusando a me ajudar? Justo agora? Quando eu mais precisava dele?

Christian afastou-me de si, parecendo ser dilacerado enquanto o fazia, seu rosto entregava o quanto ele sofria por negar-me ajuda daquela maneira. Mas ele estava certo. Ele jamais fora o herói nessa história. Ele simplesmente não se importava com o destino dos moradores de South Hooksett, ele não se importava com nada, eu o julgara mal. Eu... Eu pensei que ele pudesse ser como Aidan. Ao menos, ele jamais me deixou quando precisava de ajuda.

Senti como se uma faca tivesse sido cravada em meu coração, um golpe que me abalou tão intensamente, que me feriu tão profundamente, tão dolorosamente que eu nem mesmo conseguia sentir a dor por completo. Era demais para suportar.

- Peter, leve-a em segurança até South Hooksett novamente.

Peter assentiu, mas Christian continuou em seu discurso.

- Prometa-me que irá protegê-la custe o que custar, pelo menos, até que eu decida voltar.

Peter tocou meu ombro, eu estava tão petrificada naquele momento, parecia ter sido soldada naquele asfalto.

- Vamos, Agatha, não temos mais nada a fazer aqui e anoitecerá em algumas horas, precisamos ir.

Foi o que bastou para me convencer.

Entrei na caminhonete, batendo a porta com uma violência exagerada. E não olhei para trás, não olhei para Christian, simplesmente não queria.

Peter deu a partida no carro e arrancou, tirando-nos dali o mais depressa possível. Encostei a testa ao vidro da janela e tentei esquecer suas palavras tão dolorosas, suas palavras tão cortantes. Mas infelizmente, foi sem sucesso...

Durante a viagem de volta, devo ter adormecido, pois quando despertei, estava com o pescoço dolorido, e já nos aproximávamos de South Hooksett.

Apertei os olhos, tentando me livrar da sensação irritante que se apoderava de meus olhos. Fitei a figura de Peter ao volante, e depois a estrada ao nosso redor, parecia impressão minha, mas eu podia jurar que a névoa havia aumentado e se tornado mais densa.

Os faróis da caminhonete iluminavam nosso trajeto através da pista nevoenta. Endireitei-me no assento e Peter sorriu.

- Despertou? Você deveria mesmo estar cansada, dormiu a maior parte da viagem.

- Perdi alguma coisa? – perguntei, soltando um longo suspiro.

- Não muita, mas já estamos chegando.

Peter esticou sua mão até meu rosto, verificando se meu choro havia cessado de vez.

- Ei, você está bem?

- Estou sim. – respondi-lhe prontamente e então decidi complementar, não querendo parecer-lhe ríspida – Só não acredito que não podemos contar com a ajuda dele.

Peter deu de ombros, parecendo-me um pouco satisfeito por Christian ter caído vários pontos no meu conceito.

- Bem, se quiser, podemos fazer algo a respeito, como uma dupla dinâmica.

Arquei uma de minhas sobrancelhas, entrando em seu jogo.

- Tudo bem, Robin, acho que podemos bancar os super-heróis cabeças ocas e sair distribuindo um pouco de pancadaria por aí.

Peter riu, mas depois se deu conta do que eu havia dito.

- Espere, Robin? Não senhora, não serei simplesmente o ajudante do super-herói.

- Então quer ser quem? O Homem-aranha? – perguntei de braços cruzados.

- Não – ele respondeu-me, ainda rindo –, Super-Homem.

Espalmei minhas mãos no ar, batendo-as em minhas coxas.

- Então, eu sou a Super moça. – supus inocentemente, mas ele estalou sua língua e meneou a cabeça para os lados, discordando de mim. – Então, quem serei? – perguntei-lhe, confusa.

- Lois Lane.

Eu bufei, dando-lhe um soco de leve nos ombros. Era incrível, ele já havia conseguido afastar aquela nuvenzinha cinza e tempestuosa que estava encobrindo meu céu.

- A repórter, faz sentido. Eu sou mesmo muito curiosa e sempre meto o nariz onde não devo.

Peter deu de ombros novamente, tirando o foco de sua concentração da estrada pela qual seguíamos.

- Não, eu disse que era Lois Lane porque ela é o grande amor do super-herói corajoso e solitário.

Se eu pudesse, teria dado outro soco no ombro dele, um pouco mais forte, mas preferi deixar essa passar e encerrar aquele assunto ali.

Foquei-me na estrada novamente e meus olhos arregalaram-se instantaneamente.

- Cuidado, Peter! – gritei, mas já era tarde demais, a árvore imensa desabava em direção à pista, em direção a nós dois. Peter pareceu ter levado um choque de milhares de volts.

Seus dedos apertaram o volante e ele pisou no freio com toda a sua força. Os pneus da caminhonete cantaram no asfalto, produzindo muita fumaça.

Meu corpo moveu-se para trás instintivamente, meus órgãos foram esmagados por alguns meros segundos, enquanto o carro deslizava para frente, perdendo velocidade aos poucos, para depois de mais alguns segundos, parar completamente.

Meu corpo que antes se movia para trás, moveu-se com força para frente, e se não fosse pelo cinto, eu certamente teria batido a testa no pára-brisa. Minha respiração estava irregular, meu coração disparado martelava violentamente em meu peito, bombeando meu sangue a toda velocidade.

Muito lentamente, meus dedos soltaram o assento de couro do carro; eu os agarrara devido à tensão. Fechei meus olhos e voltei a me recostar no banco, afundando nele.

Peter parecia-me confuso, ele passou a mão nos cabelos desgrenhados, olhou para mim umas duas dezenas de vezes, certificando-se de que eu estava bem em todas elas e então olhou a imensa árvore caída, tombada, bloqueando as duas pistas. Era um gigantesco pinheiro, e nem mesmo parecia estar tão velho assim para cair daquela maneira.

- O que raios foi isso? – ladrou Peter, ainda com as mãos na cabeça.

Estabilizei minha respiração e o encarei, com a mesma confusão e as mesmas perguntas formando-se na cabeça.

- Eu queria poder saber. – sussurrei, inclinando-me no banco para ver melhor o tronco da árvore. Não haveria como passar, não mesmo.

Peter jogou-se contra o banco, parecendo-me muito irritado.

- Ótimo, e agora o que faremos?

Mordi meu lábio inferior, depois olhei em derredor. Estava tendo uma idéia – absurda e insana –, mas era a única solução que encontrava para que pudéssemos sair dali.

Baixei o vidro da janela e coloquei a face para fora, minha pele arrepiou-se com a névoa pungente e gélida. Mas eu estava certa, aquela trilha não estava longe.

Fechei a janela e voltei-me para Peter novamente.

- Existe uma trilha que passa próximo a essa rodovia e dá em uma ponte que leva diretamente a South Hooksett. Podemos pegá-la. – sugeri a ele.

Peter deu a partida no carro e fez a volta com a caminhonete, retrocedendo na pista.

- Acho que é melhor do que ter de esperar por alguém que possua uma serra elétrica.

Não demorou muito para que eu indicasse a ele a tal trilha. Eu sabia muito bem aonde ela iria dar; naquela ponte, naquele riacho, onde mais ou menos um ano atrás, eu tentei me suicidar. Ou melhor, fora manipulada por Laura Cornner a cometer tal ato.

A floresta mostrava-se igualmente silenciosa e envolta pela névoa, o motor da caminhonete foi forçado ao extremo em alguns trechos, alguns trechos que outro veículo certamente não conseguiria passar.

E de repente, lá estava ela, exatamente como eu me lembrava. A ponte que fazia a travessia entre as duas margens daquele riacho de águas cristalinas, e que nessa época do ano encontravam-se tão mortalmente geladas.

Peter diminuiu a velocidade, como se esperando que eu assentisse, ou disse alguma coisa, mas como eu me mantive em total silêncio ele simplesmente acelerou novamente e começou a cruzar a ponte.

Senti uma sensação estranha apoderando-se de mim, pouco a pouco, conquistando cada pedacinho de mim, vagarosamente. Não era uma sensação boa, muito pelo contrário, como se algo gélido e mortal tivesse sido colocado sobre minha cabeça. Como se o meu destino me aguardasse naquela ponte, naquela tarde nevoenta.

Ignorei essa sensação ruim e contentei-me em apertar o couro do assento ao meu lado. Peter já estava na metade da estrutura decadente da ponte, quando algo aconteceu.

O carro estranha e repentinamente morreu, parando simplesmente do nada. Olhei-o, aturdida e apavorada, sentindo aquela sensação consumir-me por inteira.

Peter girou a chave na ignição várias vezes, mas sem resultado algum. O motor apenas afogava miseravelmente.

- O que houve? – perguntei a ele, já desejando sair do carro de qualquer maneira.

- Eu não sei. – respondeu-me ele – Não há nada de errado, mas mesmo assim não quer pegar.

E então, outro fenômeno estranho e misterioso manifestou-se: o rádio que estivera desligado durante a viagem inteira, ligou sozinho, o volume no máximo, uma música de dar nos nervos de qualquer um sobrepôs-se ao silêncio de outrora.

Tapei os ouvidos, e Peter tentou desligar o rádio de qualquer maneira, mas sem sucesso. Então, os números das emissoras começaram a correr na tela, pulando de estação em estação, produzindo um ruído horroroso.

Mas nada disso era registrado pelo meu cérebro, o pânico estava assumindo o controle sobre mim. Porque eu sabia exatamente o que estava havendo ali.

E então, o rádio desligou, sozinho, novamente...

Peter permaneceu confuso, e eu ainda estava assustada demais. Mas, esse não era nem de longe o fim da manifestação dos fenômenos. Logo depois do rádio ter se auto-desligado, as travas das portas abaixaram todas sozinhas, simultaneamente, e os limpadores de pára-brisa funcionavam a todo vapor, movendo-se de um lado para o outro.

Eu ofeguei, chocada.

- O que infernos está acontecendo?

Destapei os ouvidos e apertei os olhos contra a ponte nevoenta, envolta pela névoa, e vi de relance apenas, algumas figuras sinistras, mantos gélidos e negros, mantos flutuantes, sinistros como a própria morte.

- Estão aqui... – sussurrei, já sendo dominada pelas lágrimas.

- O quê? – perguntou-me Peter, e então o carro sofreu um forte solavanco, como se algo muito grande tivesse batido em nós. A caminhonete tremeu, e depois estabilizou novamente.

Olhei pelo pára-brisa novamente, antes de outro forte golpe sacudir o carro. E depois, a caminhonete rodopiava sobre a estrutura de madeira da ponte, girando cerca de 45º, e estabilizando novamente.

Antes mesmo que eu pudesse me recuperar, os pneus cantaram novamente, dessa vez, estávamos dando a ré a toda velocidade.

Vi Peter inutilmente tentar pisar no freio, tentar deter o carro. Mas nós só paramos quando a traseira do carro bateu nas tábuas de contenção da ponte.

Olhei para ele apenas uma vez, antes de receber outra forte sacudida, que girou ainda mais o carro e nos colocou de frente para o outro lado da ponte. E então entendi o plano deles.

O desespero dominou-me. E eu sussurrei, ainda chocada demais.

- Vão nos jogar lá embaixo...

Os olhos de Peter arregalaram pelo menor dos segundos, e depois o carro partia a toda velocidade, os pneus sendo duramente castigados, a caminhonete ganhando velocidade, avançando, avançando, até bater contras tábuas de madeira de contenção da ponte, e espatifarem-nas.

Eu não tive tempo para fazer mais absolutamente nada, que não fosse observar, pasmada, a caminhonete ficar suspensa no ar por alguns milésimos de segundos e então bater contra a superfície plana e azul do riacho, mergulhando nas águas geladas e cristalinas.

A água foi lançada para todos os lados e nós boiamos por algum pouco tempo, antes de começarmos a afundar.

A essa altura, a água já se infiltrava por todos os orifícios que encontrava. Nós imergimos, e só paramos de afundar e afundar e afundar mais ainda, quando os pneus atingiram o solo lamacento do rio.

E a caminhonete estabilizou nas profundezas daquele riacho gelado e inóspito. Talvez ali fossem os nossos túmulos.

Soltei o cinto de segurança, vendo que Peter fazia o mesmo. A água subia, subia e subia e já alcançava meus tornozelos.

Lutei contra a maçaneta, mas era inútil, a pressão não nos permitiria sair dali, não enquanto a cabine da caminhonete não tivesse terminado de encher de água.

Uma mão gelada tocou meu ombro, tentando me acalmar.

- Acalme-se, Agatha, só precisamos esperar que termine de encher.

Ele tirou seu grosso casaco, e continuou falando, mesmo sem olhar para mim.

- Preciso que seja forte, Agatha, pânico agora não nos ajudará.

Vendo que eu não prestava muita atenção, e que o pânico ainda me dominava, ele agarrou meu pulso, fazendo-me encará-lo.

- Quando chegar a hora, quero que respire fundo, segure o fôlego pelo máximo que puder. O.k.?

Assenti, muda, não sabia se seria capaz de falar alguma coisa que fizesse sentido. E assim aguardamos por longos minutos, que ao meu ver, pareceram-me horas, arrastando-se até mim como animais agonizantes.

A água já estava quase no teto, e eu espremia minha face contra ele, buscando pelo pouco de oxigênio que ainda nos restava. Peter logo me deu o sinal, e eu inspirei fundo, armazenando o máximo de oxigênio que podia.

E eu imergi, ficando com o corpo completamente dentro da água, sentindo a gelidez dela penetrar minhas roupas, minha pele, meus ossos.

Peter forçou a maçaneta e enfim ela abriu. Ele pegou em minha mão, e guiou-me para fora da caminhonete. Nós apenas havíamos começado a nadar, para cima, para cima e para cima novamente, quando algo me deteve.

Minha mão soltou-se da de Peter, ao ouvir uma voz sussurrar meu nome ao longe. Permaneci envolta por tanta água, naquela imensidão azul, até que a voz voltou a se repetir. Parecia a voz de uma inocente e pura garotinha.

Ela chamava-me, desesperadamente.

Aguardei até que a voz se aproximasse mais, e quando a ouvi novamente, tive a certeza súbita de que quem quer que fosse, estava bem atrás de mim.

Virei-me, não vendo absolutamente nada, mas a voz ainda me chamava, quase sussurrando em meu ouvido.

“Agatha...”

Movi meus braços, mantendo-me ali pelo tempo que fosse suficiente, e então a voz falou-me novamente.

“Feche seus olhos, Agatha...”

“Não tema...”

“Apenas feche seus olhos...”

Por reflexo ou instinto, não sei bem, atrevi a fechar meus olhos e a imensidão azul sumiu de minha vista, dando espaço para a densa negridão.

De certa forma, eu quase me senti sendo transportada para outra dimensão, outro lugar, um vale desértico com uma forte ventania talvez?

- Abra seus olhos agora, Agatha.

E eu o fiz novamente, vendo que afinal, estivera certa o tempo todo. Eu estava mesmo em um vale desértico. Mas, nem mesmo tal visão deslumbrante e assustadora conseguiu prender a minha atenção.

Porque quem me chamava, estava bem a minha frente, naquele momento, bem ali.

Olhei para a figura inocente e doce da garotinha, ela sorria-me. As bochechas coradas, os cabelos em ondas douradas e belas, esvoaçando ao sabor do vento ríspido.

Ela estendeu sua mão para mim, claramente pedindo a minha confiança. Os olhinhos negros de repente lampejaram, algo sinistro, algo terrível, algo maligno.

Mas, mesmo assim, não me impediu de dar um passo hesitante em sua direção. Nada mais do que isso.

A garotinha encarou-me novamente, e sua voz terna e suave, como a de um arcanjo ressoou mais uma vez naquele vale de ossos secos.

- Não tema, Agatha, eu vim para lhe ajudar. Eu vim para lhe contar toda a verdade.


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Notas finais do capítulo

Ahhhhhhhhhhhhhh finalmente, finalmente!!!!!!

Finalmente a Agatha descobrirá tudo!Ahhhhhhhhhhhhhhh! *surto*Próximo cap, teremos muitas perguntas respondidas!

Are you guys ready for the truth? hehe...

E o sumiço da Tamara? Sinistro não...

E o que acharam da 4ª vítima ser a senhora Allison?

Mais uma vez, os Devoradores aparecem para contar a verdade para a Agatha, só que dessa vez, não teremos interrupções!

Até o próximo, meus queridos!

Reviews??

Beijos!