Cookies escrita por StrawK


Capítulo 2
DOIS


Notas iniciais do capítulo

Assim como todas as minhas outras fics, essa não foi betada; mas continua dedicada à Hana Haruno Uchiha.

Capítulo 2 de 5



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Mesmo sem trânsito algum, o táxi que me levava à minha antiga casa, seguia lento, o que me irritava. E não era só pelo fato de o taxista ser o Gai, um antigo amigo de minha família, que não parava de tagarelar sobre como a cidadezinha de Konoha havia se desenvolvido em pouco tempo, e como todos sentiam minha falta; não, a verdade era que eu não gostava nem um pouco de rever detalhadamente aquelas ruas arborizadas, com casas graciosamente saídas de filmes sobre vizinhanças felizes, onde passei minha infância.

Naquele tempo, até os meus nove anos, Kushina não insistia para que eu a chamasse de ‘mãe’ e Naruto não era meu irmão. Ela era simplesmente a ‘tia Kushina’, melhor amiga de minha mãe biológica; e Naruto era apenas aquele amiguinho em quem eu gostava de dar uns cascudos de vem em quando.

Talvez por isso eu não tenha ficado, mas nunca gostei muito de pensar à respeito. Eu me convencia que saí daquele estado apenas para estudar e me tornar uma médica de renome, porém aquela vozinha que sussurrava em minha mente, convencia-me pouco a pouco que o real motivo era outro.

Por mais que Kushina, Minato e Naruto tivessem amor de sobra, capaz de envolver a mim de maneiras que nem eu mesma entendia, toda vez que voltava à Konoha, me sentia deslocada. A médica séria e competente que eu era longe dali, era engolida pela adolescente desastrada e impetuosa que fui. Até mesmo minha mente parecia mudar, quando o assunto era meu passado; eu me via tendo pensamentos estúpidos e imaturos, e agia pior ainda. 

Muitas vezes me senti uma porca-ingrata – tanto por não conseguir até hoje chamar Minato e Kushina de ‘pais’, em voz alta – quanto por querer me distanciar daquele lugar, que me trazia tantas lembranças anteriores aos meus nove anos, e me fazia sentir aquelas dores emocionais ridículas. Eu sabia que eles não mereciam isso; mas eu também não.

Não era ainda hora do almoço, e parecia que eu chegaria a tempo para a refeição pela primeira vez em anos, o que deixaria minha mãe extremamente feliz. Quase sorri ao pensar na expressão dela quando me visse entrando por aquela porta, mas logo estremeci ao lembrar que teria que passar pelo ritual “minha filha precisa se casar”, em que me apresentava rapazes, com quem eu geralmente tinha conversas desastrosas.

À medida que me aproximava da rua da casa de minha família e as pessoas nas ruas pareciam cada vez mais familiares, eu me sentia gradativamente infantil; estava pronta para ser recebida com cuidados exagerados e observações que me deixariam pouco à vontade. E ao contrário do que eu estava acostumada, não teria a resposta elegante na ponta da língua para rebatê-las, mas diria algo idiota, o que faria meu pai, sempre desligado, finalmente se manifestar e me provocar, dizendo que garotas bem-educadas não responderiam daquele jeito. Às vezes, achava que na verdade ele prestava a atenção em tudo, mais do que qualquer outra pessoa, e fingia essa calma somente para irritar.

Desci do táxi, me despedindo de Gai e já respirando fundo. O feriado prolongado geralmente enchia a casa da família Uzumaki e já estava com medo do que encontraria, mesmo não sendo sociopata.

Antes mesmo que pudesse dar o segundo passo para dentro da casa, ouvi Naruto gritar:

- Mãe! A Sakura-chan já chegou! - Ele correu até mim e tirou-me do chão com facilidade e eu não pude evitar sorrir e bagunçar seus cabelos loiros naquele afetuoso abraço. – Como você engordou desde a última vez que esteve aqui!

E como não poderia deixar de ser, esmurrei seu braço, descontando a afronta.

Meus pais apareceram à porta da cozinha, sorridentes, e logo se juntaram à nós naquele vergonhoso abraço coletivo. Logo depois, me encheram de perguntas sobre meu apartamento, meu trabalho no hospital e claro, minha catastrófica vida amorosa.

Mal me davam tempo para as respostas e me arrastaram para o aconchegante sofá daquela sala de estar com decoração vitoriana; só depois me dei conta que a casa não estava tão barulhenta como de costume. Parentes, amigos e vizinhos não estavam por ali e soltei um meio suspiro de alívio pela constatação.

Foi então que o vi. 

Ele estava parado aos pés da escada que levava ao segundo andar e tinha nas mãos uma barra de cereais pela metade. Os mesmos cabelos e olhos negros, a calça jeans, a camisa com batom no colarinho.

Eu quase tive uma síncope ao imaginar que aquele desgraçado ladrão de revistas, assassino em potencial e afanador de cookies que sabia meu nome pudesse ter me seguido e planejava sequestrar ou chacinar a família toda. E por quê? Céus, por quê?

Por todos esses pensamentos desesperados, não tive alternativa a não ser jogar a minha pesada bolsa que ainda estava em meu ombro na cara do sujeito e gritar para a minha família correr. Ouvi um resmungo de dor por parte dele, mas logo depois me senti uma idiota, pois enquanto eu estava ofegando no jardim, parecia que todos se divertiam lá dentro às minhas custas.

Enquanto voltava de mansinho para dentro, pude ouvir a mesma voz do assassino, no mesmo tom de deboche velado das outras vezes, mesmo que agora tivesse acrescentado um pouco de espanto.

- Eu não sei, mas foi a mesma coisa que fez quando a encontrei no saguão do aeroporto. Arregalou os olhos para mim quando fui tentar uma conversa e saiu correndo feito louca.

Sério, eu estava quase telefonando para o Gai me levar de volta ao aeroporto.

Quando meu olhar desconfiado encontrou os olhos azuis de Naruto, tão parecidos com os de Minato, não tive dúvidas; eu havia, mais uma vez, agido como uma adolescente com retardo mental. 

- Ah, Sakura-chan... Por que você saiu correndo do Sasuke? Está com medo de homem? – Naruto riu.

Sasuke.

Oh, droga. Sasuke.

Sasuke, Sasuke, Sasuke. Uchiha Sasuke.

Me diz, como é que eu ia saber que aquele cara alto, forte, seguro de si era aquele garotinho magricelo que vivia escondendo o rosto com a franja e não falava com quase ninguém?

Como é que eu ia saber que aquele adolescente pálido e sisudo por que eu tive uma quedinha durante um tempo desenvolveria aquele rosto másculo, um discreto bronzeado e vivesse a soltar frases acompanhadas de sorrisinhos satíricos?

E por que raios eu nunca o havia encontrado na casa dos meus pais, já que ele parecia bem à vontade com eles?

.::oOo::.

Faltava pouco para às treze horas e praticamente todos os convidados já sabiam do meu arroubo de idiotice, instantes atrás.

Hinata, a noiva de Naruto, foi a única que me perguntou o motivo de minhas ações antes de rir; e mesmo assim, foi muito discreta. Sempre gostei dela e até tenho pena de que vá se casar com o escandaloso do meu irmão.

Quando lhe disse isso, ela sorriu e disse que nós dois puxamos a Kushina, mesmo que eu não tenha o mesmo sangue. Essas palavras me enterneceram, ao mesmo tempo em que me deixaram frustrada. 

O engraçado, é que mesmo todos sabendo de toda a história – sim, eu contei desde o roubo da revista até o arremesso da bolsa, menos a parte em que fingi estar grávida e mais alguns outros detalhes infames -, ninguém chamou o Uchiha de ladrão, mas sobraram piadinhas sobre minha histeria.

Cansada dos gracejos repetidos, dei a volta na casa e levantei os olhos para o alto do belo carvalho que Naruto e eu batizamos de Hashirama, na infância. Em seu topo, estava a velha casa da árvore que Minato construiu para nós. 

A casa da árvore não era muito grande, e provavelmente, depois de anos, estivesse com algumas madeiras podres, mas ainda assim, conservava ares de sonhos singelos e infantis. O formato triangular do telhado ainda possuía alguns vestígios da tinta vermelha e a pequena sacada também pareceu segurar com carinho as pequenas fitas coloridas – agora, desbotadas - que amarrei em suas barras.

Me arrisquei a subir, mesmo tremendo a cada rangido dos degraus pregados no tronco.

Lá em cima, limpei o assoalho o máximo que consegui e sentei-me. Era estranho estar ali.

De repente eu era uma mulher bem-sucedida que só aparecia em reuniões de família no natal, e depois, uma adolescente se escondendo do mundo em uma velha casa da árvore, desejando à contra-gosto, que talvez pudesse voltar à infância, quando eu costumava não me importar com a opinião dos outros.

Com os olhos fechados, quase em transe, só despertei quando ouvi o barulho de alguém sentar-se a meu lado.

- Então quer dizer que EU sou um ladrão de biscoitos...

Encarei Sasuke à minha esquerda; ele trocara de camisa.

- Olha, este não é o melhor dia da minha vida, então, será que dá para não ser tão sádico com a piada que irá fazer?

- Não vim fazer piada alguma – ele disse. É, mas aquele maldito sorriso de canto permanecia intacto. – Só queria sabe porquê, exatamente, achou que eu iria fazer algum mal à você ou à sua família.

Me pegou desprevenida, devo confessar; não estava disposta a revelar meus pensamentos absurdos e ridículos. Mas de repente, mandei às favas qualquer resto de dignidade que aquele lugar me roubava e praticamente vomitei as palavras.

- Bem, eu tenho trabalhado demais. Terminei um relacionamento de quase dois anos por isso. Ou melhor, ele terminou. Eu não queria voltar aqui, realmente não queria... Kushina vive insistindo que devo passar mais tempo com a família e que devo me casar antes dos trinta. Mas detesto esse lugar. Detesto as pessoas daqui, que sempre acham que sabem tudo da minha vida e brincam com tal liberdade que nunca dei à elas, mas julgam ter, por saber o mínimo do meu passado... Aquela história da garotinha órfã. Céus, como detesto isso. Tudo isso me estressa demais e eu acabo virando uma adolescente paranóica, que destrói a imagem de seriedade e competência que venho construindo desde os dezoito anos, quando fui embora, mas que ninguém daqui conhece. Então, de repente, eu ouço você conversar ao celular naquele saguão, e falar de uma arma. Eu achei que poderia ser algum criminoso, oras. Depois, eu nem lembrava de você direito e quando disse meu nome, achei que fosse um psicopata que investigou a minha vida e queria me matar.

Os olhos negros brigavam com a boca dele, para ver quem obteria o direito de permanecer com a expressão de reprimido divertimento.

- Você não veio aqui me matar, veio? – ainda completei, pois a história da arma ainda não fora desvendada.

- Talvez – dessa vez, Sasuke estava sério, e isso me incomodou a ponto de me fazer estremecer.

- O-o que você quer dizer com... Talvez?

- Que talvez eu tenha vindo aqui para te matar, mesmo. Mas só se você deixar, Sakura.


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Notas finais do capítulo

CONTINUA...

Ah, eu sei, esse capítulo ficou chatinho de ler, mas prometo que compenso com um pouco mais de comédia no próximo.

Digam o que acharam, deixando reviews. ;D

Besitows,

StrawK.