Cookies escrita por StrawK


Capítulo 1
UM


Notas iniciais do capítulo

Mais uma fic não betada. Rá!

TODOS OS 5 CAPÍTULOS DESTA SHORTFIC SÃO DEDICADOS À HANA HARUNO UCHIHA.
Por que ela fez aniversário e este é o meu singelo presente. :B



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Ao contrário do que minha mãe dizia, o hospital não estava me deixando maluca. Só por que gritei com ela quando me telefonou há três dias para saber se eu iria passar o feriado prolongado com a família, e depois chorado copiosamente me lamentando por não ter um namorado, não significava que estava pirando.

- Sakura! Venha já para a casa da mamãe! TODO MUNDO estará aqui! Estamos com saudades e você precisa mesmo descansar! – ela disse. E eu sabia, que se pudesse, ela completaria a frase com ‘e quem sabe, se casar antes dos trinta’.

Besteira; eu estava ótima.

Tenho trabalhado ininterruptamente há dois anos e nunca precisei de um psicólogo; mesmo quando Sai terminou nosso relacionamento de quase três anos - alegando que não tinha tempo para ele - permaneci firme e forte, sem nunca decepcionar minha chefe de plantão.

Certo, nas últimas semanas eu estava mesmo um pouco aérea, esquecendo o nome das pessoas - ou colocando a manteiga no lixo e o copo na geladeira -, mas nada que justificasse as férias que Tsunade me forçou a assinar.

E agora, eu realmente estava na sala de embarque daquele aeroporto à espera do voo que me levaria de volta à minha cidade natal, para passar três dias inteiros com a minha adorável família. Com ironia, por favor.

Enrijeci o corpo quase que instantaneamente ao lembrar-me, com relutância, daquela terra-de-ninguém; as mesmas ruas tediosas, os vizinhos fofoqueiros, a família nada discreta – todos, adormecidos em minha memória seletiva. 

Obviamente, a pequena cidade do interior também possuía boas lembranças a oferecer-me, mas só as desenterrava nos raros momentos em que vasculhava a caixa com meus álbuns de fotografias. Então, essas imagens - o gesso em minha perna, cheio de assinaturas e desenhos coloridos, da época em que costumava andar de skate; amigos do colégio, juntamente com seus pais puritanos e religiosos, em uma ocasião descontraída e incomum; e claro, minha família maluca, composta por uma mãe que insiste em me arranjar um marido, um pai totalmente alienado e um irmão que adora me envergonhar publicamente – acabavam perdendo força, toda vez que ponderava se devia voltar ou não.

Não havia nada lá que pudesse me prender; não era errado aparecer somente no Natal, era?

Afinal, eu era uma excelente médica, trabalhando em um grande hospital em uma das capitais mais movimentadas do mundo, e morreria de tédio se tivesse que ficar em um pequeno pronto-atendimento com apenas uma ocorrência banal a cada três dias.

Eles não precisavam de mim. Os pacientes que chegam com a cabeça estourada, por dirigirem bêbados em mais uma madrugada insana e agitada, sim.

Tudo bem, não desejava fazer essa viagem, e o fato de o próximo voo para aquele fim-de-mundo ainda demorar quase duas horas para sair, não ajudava a melhorar meu humor; então, resolvi entrar em uma das muitas revistarias que havia no aeroporto.

Se o propósito dessas férias forçadas era me fazer relaxar, devo dizer que não tive um bom começo, já que ao entrar no estabelecimento, pude visualizar no mínimo uma dúzia de pessoas se apertando no modesto espaço. Culpa do feriado prolongado, que assim como aeroportos, lotava também, hospitais. 

Resmunguei baixinho enquanto me dirigia à seção que eu imaginava conter o tipo de revista que me interessava; e lá estava ela. Tombada de lado, única, com o plástico de proteção um pouco rasgado e as letras garrafais em verde-musgo: New Medicine.

Satisfeita por encontrar minha publicação quinzenal preferida, estiquei o braço para pegá-la; entretanto, meus dedos se fecharam no ar.

Um engraçadinho de cabelo escuro e espetado, falava ao celular, tinha a minha revista nas mãos, e parecia não perceber a indelicadeza que acabara de cometer.

Atrevido! 

Quando perguntei ao funcionário da revistaria se ainda havia sobrado alguma New Medicine no estoque, ele respondeu:

- Sinto muito, era a última. E nem perca tempo em outros estabelecimentos, por que a distribuidora é a mesma, e a nova remessa só chegará amanhã.

Atrevido e ladrão de revista alheia! Nem tinha cara de médico!

Emburrada, peguei uma revista qualquer e entrei na fila, para pagar; estava atrás dele.

O abusado tinha ombros largos, usava calça jeans escura e uma camisa social com uma mancha de batom no colarinho; balançava o pé, provavelmente de acordo com a melodia que ouvia em seu Ipod

- Cartão ou dinheiro? – ouvi o desaforado perguntar, me forçando a desviar os olhos do ritmo constante de seus pés.

- Por que quer saber? – usei o meu melhor tom ‘não-converso-com-estranhos-ainda-mais-aqueles-que-roubam-minha-revista’.

Acho que eu não devia ter dado essa resposta, por que ele pareceu me avaliar - desde meus cabelos desarrumados, minha bata, até minha sapatilha roxa -, para depois pairar os olhos na revista que eu segurava.

Aliás, eu também não sabia qual era.

Ao encarar o item em minhas mãos, dei um muxoxo. Para que eu iria querer uma revista sobre bebês e gestantes?

- O atendente acabou de avisar que está sem sistema para passar cartões – o estranho apontou com a cabeça a pequena placa com o aviso que eu não prestara atenção. – Hei, pode ficar na minha frente, se quiser.

Ele pareceu captar a falsa mensagem que minha imagem passava e sorriu meio de lado.

Confesso que quase sorri junto, ao saber que ele imaginou que eu estava grávida. E sim, me apossei descaradamente e sem culpa do lugar dele; que pensasse o que quisesse. Alguns minutos a menos na fila era o mínimo que poderia me oferecer, diante da brutalidade com que pegou a revista antes de mim.

.:oOo:.

Depois que soquei a revista de bebês e gestantes em minha bolsa de mão, saí apressada da revistaria, dirigindo-me a qualquer lugar que houvesse a remota possibilidade de se encontrar cookies de chocolate que vinham em pacotes no formato de caixa de bombom – meus preferidos. Comprá-los não foi dificultoso, como achei que seria; os guardei na bolsa, também, enquanto procurava uma boa poltrona de couro para sentar e esperar por mais uma hora e meia.

Apesar de movimentada, a sala de embarque ainda disponibilizava algumas fileiras de poltronas desocupadas; sentei-me, um pouco afastada das outras pessoas. Retirei a revista da bolsa e passeava os olhos pelas páginas, um tanto desinteressada. 

Menos de cinco minutos depois, senti alguém sentar-se a meu lado. Atentei os ouvidos, quando a voz masculina começou sua conversa ao celular.

- Claro que eu trouxe minha arma. Você sabe muito bem que não vivo sem ela.

Gelei. E se agora eu estivesse ao lado de um criminoso psicopata? E se estivesse escutando uma conversa que não poderia ser ouvida, me tornando, assim, alguém que faria parte do programa de proteção à testemunha, tudo por culpa de uma viagem que eu não queria fazer?

Me odiava por ser curiosa, sério. Ao invés de sair correndo, desviei os olhos da revista para ver a fisionomia do criminoso, e acabei encarando o mesmo dono do par de olhos negros que roubou minha New Medicine.

Ele sorriu para mim, estreitando o olhar, como se fizesse um esforço para lembrar de onde me conhecia. Trocou mais algumas palavras com a pessoa do outro lado da linha – provavelmente seu cúmplice no assassinato – e guardou o aparelho.

Ainda com a mesma expressão simpática, o ladrão de revista e assassino em potencial mantinha os olhos fixos em mim, e parecia se divertir com alguma piada particular, diante de meu desconforto.

Claro que eu estaria desconfortável; não é todo dia que você tem um lindo psicopata simpatizando com você.

Quer dizer, eu ouvia muitas histórias macabras no hospital, sobre crimes passionais ou maníacos que atacam sem motivos aparentes – e eu, de fato, acabava atendendo as vítimas – mas tudo mudava de figura quando era minha pele em risco.

Ok, talvez o hospital e minha falta de férias estivessem mesmo me deixando maluca. E psicótica. Talvez o cara nem seja um assassino, e sim, um suicida; embora suicidas não costumem parecer tão felizes.

Tentando deixar esses pensamentos de lado, me ocupei em continuar folheando a revista e comer um dos cookies de chocolate que repousava na embalagem em cima do braço da poltrona.

Depois que levei o saboroso biscoito à boca, quase tive um ataque de indignação ao perceber o estranho ENFIAR A MÃO NO MEU PACOTE DE COOKIES NA MAIOR CARA DE PAU E COMER, SEM A MENOR CERIMÔNIA!

E ainda parecia rir internamente diante de meus olhos arregalados.

Ah, mais ele ia ouvir poucas e boas! Então, só porque tinha uma arma, se achava no direito de roubar revistas e cookies alheios?

É.

Engolindo meu orgulho – e também, por amor à minha vida -, simulei uma falsa distração, para deixar claro que não vi o roubo dos biscoitos; ou que não me importava com isso.

Agarrei outro cookie e quase o engoli inteiro - minha afobação mental começava a tomar conta de meus movimentos -; e droga, ele fez o mesmo.

A cena se repetiu até sobrar apenas um cookie no pacote. Cada vez que eu comia um biscoito, ele repetia meu gesto, com o mesmo sorriso irônico e sem dizer palavra alguma. Eu também não me atreveria a reclamar, por motivos óbvios, então apenas aceitei com despeito o fato de ter metade do pacote de minha guloseima predileta afanado.

O último cookie esperava seu fim; aguardava o momento de ser devorado, destacando-se no meio das míseras migalhas. Sim, o último biscoito do pacote é sempre mais gostoso.

Meu olhar deslizava do último cookie, ao rosto do indivíduo, e minha imaginação conseguiu até criar uma trilha sonora estilo filme de faroeste, tamanha a tensão. Quem pegaria o último?

Obviamente, aquele que porta uma arma.

Estava quase soltando um resmungo frustrado, quando me espantei com o gesto do salafrário bonitão. Ele se apossou sim, do meu último cookie, mas partiu-o ao meio e me ofereceu a metade.

Oh, que gesto gentil. E cara-de-pau.

Eu já disse que aquele cara tinha um sorriso sexy? Pois então... Foi esse sorriso que me deu, quando perguntou:

- E então, Sakura... Desde quando está grávida?


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Notas finais do capítulo

CONTINUA...

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