Verdade e Consequências escrita por Lara Boger


Capítulo 22
Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

E aí está mais um capítulo. Infelizmente não tive muito tempo pra revisar. Lamento por isso, mas espero que o chapie valha pra alguma coisa.



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Os dias que se seguiram não foram fáceis para Adam. Sentia-se mais fraco, o tratamento parecia cada vez pior. Não sabia se era impressão sua, mas talvez estivesse mais debilitado, ou os remedia estavam mais fortes... quem sabe as duas coisas? Talvez fosse apenas um dos dias ruins.

Apesar disso, sentia alívio. Algo havia melhorado. Era estranho pensar que a pressão sobre ele diminuira, ainda que apenas uma pessoa soubesse do seu segredo.

Estranho, mas era bom de qualquer forma. Teve medo de que a verdade pudesse afastar Tanya. Não sabia explicar o que sentiu ao ver sua amiga sair correndo do quarto. Sentiu-se mal, temeu pelo que pudesse acontecer, não pode conter as lágrimas naquele momento ao pensar que poderia perder sua melhor amiga.

E quando ela voltou na manhã seguinte? Inexplicável! Foi como uma aparição, pois durante toda aquela noite tentou se conformar com a ideia de que não a veria de novo. Durante aquelas horas, fora capaz de aceitar que era mais um preço a pagar por seus atos... mas vê-la de novo e saber que não ia acontecer...

Tanya fizera questão de dizer com todas as letras que não o deixaria. Que eram amigos e isso não ia mudar. E nunca pensou que compartilhar aquele segredo poderia lhe fazer tão bem.

De qualquer modo, isso não aconteceria de novo. Ninguém mais saberia dessa história.

Em contrapartida não tinha mais tanta resistência. Sua fraqueza aumentara e disfarçar os efeitos colaterais estava cada vez mais inviável. De qualquer forma, nem adiantava fingir: seu organismo não conseguia conter os avanços da doença, e isso não era mais segredo pra ninguém. Os resultados dos exames eram vem claros nesse ponto. Adam apenas mostrava não se importar.

Se antes a ideia era parecer bem, agora precisava demonstrar força e não parecer triste. Fazer tudo aquilo parecer a coisa mais normal do mundo. Reagia aos estímulos daqueles que tentavam fazer daquele quarto um lugar tão confortável quanto sua casa. Era menos doloroso pra eles quando aceitava ajuda, e também podia fazer com que confiassem mais. Talvez assim pudesse fazer valer seus desejos de solidão.

Era estranho pensar que suas limitações tinham aumentado, porém sentia-se melhor e mais forte frente a isso. Talvez pelo fato de ter um porto-seguro. Tanya conseguira se tornar ainda mais importante em sua vida: alguém capaz de entender sua situação e enxergar as coisas da mesma forma. Isso era melhor do que podia pensar.

ooOOoo

- E então, como está o almoço? – perguntou Ling, sentada próxima ao filho.

- Sem gosto como sempre, mas está tudo bem.

Adam limpou a boa enquanto sua mãe preparava uma nova colherada. Era algo constrangedor, mas tentava não se incomodar. Seria pior se não aceitasse, pois era necessário e não poderia fugir disso. Sentia-se fraco demais e precisava de ajuda pra comer. Era melhor aceitar isso do que depender de alimentação intravenosa. Não era uma opção.

Comia sem reclamar, falava quando era pedido, ria quando esperado. Tentava fazer humor de si mesmo enquanto engolia a comida insossa do hospital. Leveza era algo importante para os que lhe acompanhavam, e queria que eles ficassem bem. facilitar a vida deles era como facilitar para si também.

Como sempre, alguém ficaria no hospital para lhe fazer companhia: seu pai ou sua mãe. Geralmente, era seu pai, e Adam não conseguia deixar de pensar que isso era uma perda de tempo de sua parte, pois o trabalho sempre fora sua prioridade. Era uma de suas primeiras lembranças. Nunca reclamara a esse respeito quando criança embora tivesse sentido sua falta. Agora, sentia-se estranho em ser o alvo de sua atenção, pois já havia se acostumado com a ausência de seu pai workaholic.

Era mais um dia para contar com a companhia paterna. Sua mãe precisava sair para uma reunião e só estava ali para lhe ver por uns poucos minutos. Já podia imaginar seu pai no corredor, chagando com meia hora de antecedência, tomando um gole de café, sustentando o vício por cafeína.

Um panorama banal. Rotineiro nos últimos tempos. Era estranho vê-lo sem sua pasta e o notebook. O celular era o último resquício do seu trabalho, mas que dificilmente se mostrava. Não ouvia o som do seu toque. Era como se o aparelho estivesse ali apenas para um desencargo de consciência, ou uma forma de se comunicar com o mundo que havia lá fora caso acontecesse algo.

Era estranho, mas tinha de aceitar aquela superproteção. Ele lhe tratava como uma criança, e tinha de admitir: era muito confortável.

Despediu-se da mãe e em questão de poucos minutos, seu pai já estava ali, perguntando como se sentia, se já tinha almoçado. Era o início de uma conversa desajeitada pela falta de assunto. Por mais ligações afetivas que tivessem, havia a falta de intimidade.

Adam tinha a sensação de que nessas ocasiões seu pai agia quase da mesma forma como faria no escritório: negociando. Era dessa forma que seu pai agia e não se incomodava. Achava engraçado, mas preferia deixa-lo a vontade. Queria apenas deixar a situação confortável para o seu pai e sabia que nesse caso, trabalho era sinônimo de conforto. Sempre fora assim e isso jamais mudaria. Era nisso que devia se concentrar.

- Está pretendendo ficar por quanto tempo?

- Que pergunta é essa? – Jin achou graça. – Você sabe que fico sempre por aqui.

- É por isso mesmo: você está sempre aqui. Vai continuar fazendo isso até quando?

- Até quando for necessário. – respondeu, num tom calmo, curioso com aquilo – Posso saber qual o motivo dessa pergunta?

- Seu trabalho. Há quanto tempo não vai ao escritório?

- Não preciso ir ao escritório todos os dias.

- E quando esteve lá pela última vez?

Seu pai ergueu a sobrancelha ao ouvir aquela pergunta. Na certa não esperava algo assim, e nem tinha uma resposta pronta.

- Posso saber a razão da pergunta agora?

- Não pode se afastar desse jeito.

- Não estou afastado. Estou sempre no telefone.

- Mas você sempre se recusou a ficar longe e depender de celular. Vivia dizendo que desse jeito os empregados se sentiriam no comando e deixariam de trabalhar.

- Não sou o único naquele escritório. Os sócios estão lá pra isso.

Era estranho ouvir seu pai falar assim. Durante sua infância, lembrava-se perfeitamente do quanto ele relutava em viajar durante as férias, não querendo se afastar do trabalho por temer encontrar tudo bagunçado quando voltasse. Suas folgas eram somente no fim de semana, quando trabalhava em casa sem se importar com horários e fazendo isso até altas horas. Adam podia contar nos dedos quantas vezes viajaram juntos durante o verão. Quando muito, Cassie e ele eram mandados para a casa dos avós ou um acampamento. Ao contrário da irmã, nunca reclamara, pois era como falar em vão. Era melhor poupar o tempo que seu pai levava pra dizer um não e justificar sua resposta com um projeto novo qualquer.

Mas agora isso pareceu ter mudado de forma dramática. Agora ele descartava veementemente todos os argumentos que sempre usou.

- Não precisa ficar aqui, pai.

- Tá, e quem fica aqui com você?

- Ninguém, oras. Posso muito bem ficar sozinho.

- Pode esquecer essa ideia.

- E vai deixar tudo nas mãos dos outros? O escritório vai estar uma bagunça quando voltar.

- Não vou me importar em arrumar a bagunça. Não é o mais importante. Não precisa se preocupar com isso.

- Isso não é desculpa pra ficar aqui sem fazer nada. Por que não traz o seu trabalho pra cá?

- Trabalhar? Aqui?

- Qual o problema? Você sempre trabalhou durante as férias.

- Mas estamos em um hospital. Não quero te aborrecer.

- Não vai me aborrecer. Se não me aborreci durante tantos anos, não será agora.

- Tem certeza?

- Tenho. Se for pra ficar aqui, que seja fazendo alguma coisa.

Viu seu pai menear a cabeça, concordando mesmo desconfiado. Ouviu dele que no dia seguinte faria isso, como era de sua vontade. Uma promessa cumprida: assim que chegou ao hospital, trazia consigo o celular e o notebook. Não parecia muito confortável com a ideia, mas o fez.

Se ele fosse capaz de se concentrar e trabalhar, seria mais fácil superar quando a hora chegasse. Sua mãe tinha o seu trabalho e não ficava o dia todo no hospital, e Cassie tinha trabalho suficiente como ranger. Eles tinham uma rotina fora dali, por mais que estivessem presentes. Era mais fácil assim, e queria garantir ao seu pai a mesma possibilidade, ainda que ele não fosse capaz de entender suas razões.

E Jin realmente não entendeu. Queria compreender o motivo daquela preocupação, mas percebeu que não obteria uma resposta. Mesmo sem ter uma explicação minimamente plausível, preparou os objetos que usaria caso trabalhasse fora do escritório, mesmo que não pretendesse sequer encostar em um relatório ou qualquer outra coisa relacionada ao trabalho.

Não pretendia trabalhar. Isso nem lhe passava pela cabeça. Estava no hospital, fazendo companhia ao filho internado. Seu trabalho era aborrecedor e não queria perder o foco. Preferia se concentrar em cuidar de Adam, dedicar-se somente a isso. Porém, ele parecia recusar seus cuidados. Manda-lo trabalhar?

Esperava que fosse somente uma fase, que esquecesse logo daquele assunto que lhe parecia sem propósito.

Conforme os dias se passaram, Jin começou a crer que aquilo estava durando tempo demais. Não era só uma fase. Adam lhe vigiava: não bastava ter os objetos ao seu alcance, e nem mesmo usa-los na sua frente. Ele lhe cobrava como se fosse um patrão atento ao empregado. Pior ainda: um patrão inflexível que não admitia distrações, e considerava a si mesmo uma distração.

Seu filho não lhe permitia desviar a atenção da tela do notebook, reduzindo suas chances de cuidar dele, reduzindo sua vigília a olhares de soslaio. Estava se colocando em segundo plano de forma deliberada.

Jin só queria entender aquela atitude.

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Notas finais do capítulo

Alguém?



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