Passei o resto do meu dia limpando meu apartamento como uma tentativa de não pensar em nada relacionado a King e muito menos a Luzt.

Devia ser piada que Gabrielle estaria noiva dele, justo dele.

Não sei nem porque estou pensando nesse noivado ridículo.

Ela quis se amarrar a ele, não é. Assim ela que agüente tudo. Apesar dele estar em uma perdição sem tamanho.

Joguei as roupas sujas no balde irritada. Não queria ficar pensando em nada relacionado a ele e muito menos nela também. Olhei para o relógio.

Quase sete horas.

Talvez fosse uma boa dar uma olá para Shin.

Fechei meu closet num rompante caminhei para o banheiro tirando minha roupa pelo caminho. Entrei no Box e deixei a água fria descer por todo meu corpo que ainda mantinha-se escultural, apesar de algumas cicatrizes nas costas provenientes de algumas ações que cometi tempos atrás.

Sai do banheiro enxugando meu cabelo com os pés descalços sentindo a maciez do carpete bege que havia em meu quarto. Optei por usar uma roupa sóbria sem nada de chamativo. Tenho aquele ar de alguém mais velho.

Uma blusa de gola alta verde-escura, uma saia longa e uma sandália de salto alto. Como acessórios apenas brincos em formato de argolas e um colar com um pingente em formato de clave de sol.

Maquilagem simples e um perfume suave.

Peguei minha bolsa depois meu celular e a chave do carro no criado-mudo da sala e sai do apartamento não encontrando ninguém até chegar ao elevador de onde saia um casal meio desarrumado e com risinhos safados.

Nem precisa se imaginar o que ocorreu dentro do elevador.

Entrei e apertei o botão para o térreo quando o vizinho da minha frente colocou a mão impedindo que as portas se fechassem.

-Boa-noite, Hale – me cumprimentou ele ao ver que eu não diria nada.

-Boa-noite, Jason – retribui seca ao segundo que meu celular começava a tocar.

O peguei, levando-o logo em seguida ao ouvido.

-Será que não tem nenhuma novidade para nos contar hoje? – indagou Russel com um pouco de ironia na voz

-Tenho sim – confirmei – Mais agora, hoje na verdade, não contarei. Apesar de saber que você já sabe tudo.

-Eu não sei o que você sabe – rebateu ela com um suspiro – Sandro não está aqui.

-E? – indaguei me encostando-se à parede atrás de mim

-Estou receosa de sair e deixar Zafira sozinha com Irian – respondeu ela quase sussurrando

Tentei controlar o riso, mas não deu.

Russel preocupada?

Não acreditava nem um pouco nisso.

-Me diz o que você quer – pedi vendo a porta do elevador se abrir – Sei que tem coisa errada nessa sua preocupação.

-Não posso ficar temerosa em deixar dois adolescentes sozinhos? – indagou ela dando ênfase na ultima palavra

-Vindo de você, não – disse saindo do elevador – O que quer, Russel?

-Preciso da ajuda do Irian – respondeu ela a contra-gosto – Só que ele está entretido demais nu jogo idiota e Zafira, não falo com aquela leoa.

-Aham – disse saindo do prédio – Se resolva sozinha.

-Claer...

-Assuntos de vocês – a cortei – Não me envolvo nisso á não ser que extrapolem os limites que acredito que não serão doidos de fazer isso, certo?

-Vou contar a eles sobre a Rider – disse ela solene

-Estará me adiantando um assunto – disse seria – Fale ainda hoje de preferência.

Ouvi ela trincar os dentes.

-Tchau – disse antes de desligar.

Entrei em meu Mercedes e coloquei um CD da Enya enquanto me deslocava para praticamente o outro lado da cidade rumo a casa de Shin.

Onde morei por mais de cinco anos, onde vivi com ele e a Camyla.

Puxei o ar novamente para meus pulmões, pensar nela me trazia de volta as lembranças desde seus ataques histéricos em relação aos Lins como também os momentos em que foi uma verdadeira amiga que não acharia em outro lugar.

Enquanto mergulhava novamente atrás dessas lembranças o toque do meu celular me puxou de volta para superfície.

Franzi a testa enquanto diminua a velocidade.

Não gostava quando isso acontecia.

Peguei meu celular colocando no viva-voz.

-Sei que vai querer me matar – disse uma voz brincalhona mais receosa – Só que estou preocupado que você não tem aparecido na faculdade por essas semanas. O que houve?

-Oi pra você também Emmett – debochei – Ainda não pude ir por conta de problemas de ultima hora.

-Trabalho? – arriscou ele mexendo em algo ao que pude ouvir.

-Ainda no bar? – mudei de assunto enquanto fazia uma curva

-Sabe que sim – disse ele oco – Agora que o movimento começou.

-E você me liga enquanto está trabalhando – o critiquei – Não tem medo de perder o emprego, não?

-Sabia que iria querer me matar por conta disso – disse ele sorrindo – Vai aparecer amanhã na faculdade?

-Humm –murmurei pensando – Não tenho assunto para resolver que não sei quanto tempo irá durar.

-Está livre pelo menos no sábado? – indagou ele com certeza esperando um não da minha parte.

-Te ligo até lá, está bem? – sugeri enquanto parando em um sinal

-Shelle está com saudades, Lucia, Lins...

-Sua chantagem possa surtir o efeito uma outra hora, Emm – o cortei – Só que por esses dias as coisas estão completamente atribuladas para mim.

-Imagino – disse ele meio duro – Se tiver tempo, me liga para te dizer aonde iremos sábado.

-Farei o possível para ir – disse mais parecendo uma promessa do que qualquer outra coisa.

-Esperamos você – disse ele desligando em seguida.

Suspirei enquanto o sinal abria.

Os velhos amigos estavam querendo minha atenção.

Quanta nostalgia.