Retornado para casa correndo contra o relógio para estar no restaurante na hora. Tomei um rápido banho, peguei uma blusa de gola alta lilás colocando sobre ela meu casaco preto, uma calça jeans de lavagem escura e minha bota preta de salto agulha.

Não é o melhor look para um jantar em um restaurante antiquado, mas na pressa peguei qualquer coisa que caísse bem em mim.

Deixei meu cabelo negro cair por meus olhos, terminei de me aprontar.

Logo depois passei pela sala pegando a chave do meu carro e meu celular.

Fiz o trajeto para o restaurante em tempo recorde para qualquer um dirigindo um Mercedes-Benz SLR McLaren prata.

Estacionei em frente ao restaurante quando desci um manobrista veio ao meu encontro pedindo a chave para estacioná-lo em outro lugar.

Arqueei uma sobrancelha antes de lhe entregar a chave, depois ajeitei meu casaco e entrei no restaurante me deparando com um ar clássico contemporâneo. Procurei por Cassie em meio às pessoas que ali estavam.

Encaminhei-me para a mesa onde ela estava acabei por ficar surpresa com seu estado.

Ela parecia bem mais velha do que me lembrava e sua fisionomia não era mais a mesma.

O cabelo de preto passou para castanho ondulado que cai descuidadamente por seus ombros, os olhos azulados detinham uma expressão mais seria, perdera o bronzeado que tinha ganhando uma pele largada para o pardo, apenas suas curvas continuavam as mesmas.

Ela se levantou quando cheguei à mesa.

-Pensei que não iria vir – disse ela enquanto me abraçava

-Tive apenas um contra-tempo – me expliquei enquanto nos sentávamos – Agora qual o motivo de querer falar comigo?

Ela esfregou as mãos de maneira impaciente.

-Tem haver com Kisuke – respondeu ela receosa, fiz uma careta enquanto cruzava os braços – Pare com isso, Hale. Deveria esquecer o que aconteceu.

-Já tentei – disse seca – Mais o que houve com ele?

-Ele está sofrendo muita pressão por esses meses, anos para ser mais clara – respondeu ela fitando a mesa.

-E eu com isso? – repliquei severa – Ele deveria saber como lidar com seu próprio comportamento e suas responsabilidades.

Ela riu sem humor antes de erguer seu olhar para mim.

-Precisa entender que as coisas já não são mais as mesmas na King – murmurou ela – Muita coisa vem acontecendo nesses últimos anos.

Encostei-me na cadeira esperando que ela continuasse.

-Isso tudo começou a cerca de um ano e meio – começou ela – Temos tido muitos trabalhos desde então que temos usar os calouros nisso e é ai que as coisas desandaram.

-Como assim? – perguntei curiosa voltando meu olhar para o garçom que se aproximava.

-Você não tem problemas com seus subordinados? – indagou ela voltando seu olhar para o homem que lhe estendia o cardápio – Quer beber algo ou comer?

-Qualquer coisa serve – respondi rapidamente

Ela pediu e depois ele saiu depositando seu olhar em mim antes de se afastar.

-Eles me causam problemas – respondi depois de alguns segundos – Mais nada relacionado a trabalho que alias parando para ver agora é muito.

-Isso está acontecendo com todos da organização não importando o cargo que ocupe – disse ela – Estamos ficando sobrecarregados demais é como se quisessem nos matar de trabalhar.

-E o que Luzt está fazendo sobre isso? – perguntei seria pronunciando seu nome com dificuldade

-Ele é o que mais está sobrecarregado de todos nós – respondeu ela deixando a tristeza aparecer em seu olhar – Ele está sendo pressionado por uma dúzia de presidentes que não querem mais ver erros de nossos companheiros.

-Isso está tão comum assim? – indaguei receosa

-Mais do que imagina – disse ela pesarosa – Não sei o que iremos fazer, Hale. Isso é uma crise que nunca tivemos antes.

-Não desde que entramos – discordei com um olhar vago – Quer me dizer, que todos não estão dando conta dos trabalhos que estamos recebendo?

-Dar conta dão, mas estão cada vez mais ficando sobrecarregados – explicou ela – Sabe que uma vez dentro não tem como sair, assim os resultados desse excesso estão sendo devastadores.

Franzia minha testa enquanto respirei fundo.

-O que está havendo? – perguntei sussurrante

-Alguns se suicidaram, outros foram pegos e agora estão na cadeia, não podemos fazer nada – respondeu ela amargurada – Alguns estão sendo transferidos para outras organizações...

-Opa – a interrompi – O que está dizendo?

-Alguns estão sendo transferidos para outras organizações do mundo pelos próprios presidentes, já não está nas mãos de Kisuke.

Passei a mão no meu cabelo impaciente.

O que diabos significa isso?

-Hale, tive que te contar isso para que fique precavida –retomou ela – Se não recebeu cartas de nenhuma organização ainda, acredite vai receber e não sei que rumo você terá depois disso.

Passei as mãos em meu rosto tentando assimilar o que ela disse.

Minha noite estava ficando cada vez melhor.

-Tem algo que possa fazer para reverter essa situação? – indaguei erguendo meu olhar para ela

-Não vejo nenhum – disse ela triste quase podia ver desespero em seus olhos – A King está desmoronando aos poucos, está indo água abaixo.

-E isso te deixa desesperada – conclui me endireitando na cadeira

-Talvez- concordou ela vaga – Já pensou na sua vida se ela acabar? Se tudo que vivi num segundo desaparecesse, fosse destruído?

Suspirei enquanto minha mente ordenava o que ela acabava de dizer.

Sobrecarregada. Transferência. Agencias. Desespero. Destruição.

E então tudo pareceu se encaixar como se fossem atraídos um pelo outro.

-Cassie acho que as coisas estão mais piores e perigosas do que se presumi – comentei ficando seria

Ela me olhou confusa.

-Shin ainda mora na mesma casa? – indaguei

-Sim, Kellan também ainda está com ele – assegurou ela ainda me olhando confusa – O que está havendo?

-Bem, acho que teremos que arregaçar ainda mais as mangas – disse me levantando – Posso me encontrar com você amanhã as dez?

-Claro. Me explica – pediu ela quase suplicando

-Depois – disse – Reúna todos os capitães e os altos escalões na sala de Advocacia de Dante. Sem falta.

-Hale – disse ela enquanto me afastava – Até amanhã então.

Sai do restaurante procurando pelo manobrista que já estacionava na minha frente.

Dei-lhe uma saudável gorjeta e depois sai de perto do restaurante.

Tinha que chegar em casa.

Ainda precisava verificar algumas coisas antes de falar algo errado amanhã.