O Passado de Um Uchiha escrita por lekation


Capítulo 9
Capítulo 9 - A escuridão de Akemi


Notas iniciais do capítulo

Todas as informações contidas neste capítulo devem ser muito bem gravadas pelos leitores, pois futuramente, será necessário que todos tenham muita atenção e se lembrem do que já foi tratado anteriormente.

"Aqui, em todas as letras, dedico todo o meu amor, em cada letra, ao meu querido e idolatrado herdeiro Uchiha..."



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O estado climático do país do Trovão não estava como de costume. Há alguns anos atrás, nesta época do ano, os dias costumavam ser ensolarados como em qualquer verão: o céu era claro e límpido como as águas cristalinas das cachoeiras dos vales, os brotinhos de flores começavam a reaparecer nas copas das árvores e nas margens dos rios, as brisas traziam com sua suavidade o cheiro do orvalho pós-neve junto com um ar quente e abafado. Os sinais da chegada dessa atmosfera tropical e da despedida do ar úmido deixavam os moradores um pouco mais entusiasmados para suas atividades rotineiras e, principalmente, para os comerciantes que poderiam investir mais nos seus negócios tendo em vista que os fregueses não ficariam enfurnados em suas casas e procurariam por recreação.

Contudo, o iminente verão que deveria predominar naquela estação do ano foi substituído e, por conseguinte, isso deixou a população muito intrigada, vez que as chuvas torrenciais precedidas de trovoadas barulhentas e calamitosas não são esperadas por um povo crédulo de céu aberto e Sol radiante.

Em todas as aldeias do mencionado território, as pessoas comentavam sobre a mudança climática e tentavam encontrar razões para tal acontecimento anômalo. Muitas pessoas, principalmente os camponeses, diziam que a inversão das estações do ano eram sinais do fim do mundo. Outras diziam que o roubo do artefato do templo dos sacerdotes desencadeou uma maldição e agora, um dilúvio inundaria todo o país do Trovão pela negligência e imprudência ante ao território sagrado dos homens que dedicaram suas vidas a Deus. Cada pessoa que habitava esse país inventava alguma resposta para aquela raridade, mas por outro lado, suas preocupações também estavam direcionadas a outros assuntos.

Em todas as casas, todos os cantos, todos os bares e em todo o comércio, as pessoas estavam afoitas e ansiosas pelo grande torneio ninja que o Hokage celebraria no país, como anfitrião, a todos os outros demais que, dentro de pouco tempo, adentrariam no território do elemento do Trovão para participar do referido evento.

Apesar das situações climáticas desfavoráveis para as construções dos estádios e das acomodações dos convidados, os preparativos para o evento estavam com bons andamentos e indicavam que os resultados seriam satisfatórios. Se considerarmos as anormalidades e as desventuras que eles estavam obrigados a se submeter, é possível dizer que estavam encarando a situação com muita facilidade e otimismo, pois muitos agricultores estavam à beira da falência em virtude das lavouras afetadas pela carência dos raios solares, e mesmo assim, eles aparentavam eufóricos em relação ao torneio shinobi. Outrossim, os comerciantes estavam com suas prateleiras vazias em razão da supressão da produção nas lavouras, mas nada disso afetava o ânimo para começar as apostas entre seus companheiros. O povoado dos vilarejos poderia estar apreensivo pelos acontecimentos extraordinários, mas a aflição pela chegada do dia do torneio preponderava ou, talvez, equilibrava o emocional de todos.

Considerando que, muitos ninjas dos países vizinhos já estavam preparados para participar do torneio, sendo a grande maioria deles pertencentes a clãs famosos ou que alguns detinham poderes inacreditáveis, e que o vencedor receberia um prêmio avaliado em cem mil ienes e um valioso pergaminho contendo ensinamentos de um jutsu secreto do país do Trovão, é de se esperar que todas as aldeias ficassem lotadas de pessoas em histeria e que, muito provavelmente, tudo isso gerasse muitas confusões. Sendo assim, há de concordar que o Hokage estava muito atarefado e que suas equipes de ninjas não estavam conseguindo cumprir outra missão senão manter a ordem e a segurança no país. Em outras palavras, o exército do Hokage não estava dando conta do recado e precisava de reforços para algumas missões mais simples.

Como se não bastasse, o país fora vítima de um furto de um artefato valioso do templo dos sacerdotes, eis que o problema já fora transmitido ao país do Fogo, especificamente à Konoha, para ajudá-los na recuperação do item de tal valia ao Hokage. No intuito de manter a paz entre as nações, o Hokage de Konoha aceitou a missão e se comprometeu a ajudar o seu 'colega' na medida de sua circunscrição. E se já não é cediço, vale ressaltar que a equipe sete já estava a caminho, mas que ainda, não conseguira chegar ao local do cumprimento da missão. Por ora, a única coisa a se fazer era permanecer no aguardo e rezar pelo sucesso da equipe de ninjas responsável pela missão.

Não há como negar que o furto já não era novidade para ninguém no país do Trovão, pois, afinal, não importa aonde quer que vá, as manias de espalhar fofocas – especialmente aquelas que envolvem o governo – sempre acompanham as pessoas como cães fiéis ao dono. Em vista disso, fica muito simples de acreditar que todos os habitantes cochichavam sobre o furto e inventavam muitas histórias mirabolantes vinculadas ao primeiro para dar um pouco mais de 'emoção'. Evidentemente, tal fato jamais acontecia ou aconteceria perante ás autoridades, pois caso contrário, não haveria qualquer alma viva para rezar o fim da Bíblia.

Raras são as vezes que informações sigilosas envolvendo o governo japonês conseguem vazar, porém, desta vez, o Hokage não obteve êxito; alguns clãs da aldeia da Nuvem descobriram a importância do artefato furtado e a notícia acabou se espalhando até as fronteiras entre o país do Fogo e do Trovão. Destarte, muitos rumores viajavam de boca em boca nas aldeias e vales, mas nenhum deles verdadeiro o suficiente para completar a história. Em detrimento disto, a notícia chegou aos ouvidos de pessoas perigosas que não titubearam quando decidiram invadir território alheio e cometer o furto.

Ocorre que o segredo deveria ser abafado em virtude do envolvimento do templo dos sacerdotes com o clã Matsuyama, vez que só a menção do nome da família 'traidora' era proibida por qualquer um dos habitantes ou visitantes no país, sob pena de prisão. No entanto, é cediço que as pessoas quebravam algumas regras às escondidas e que todos ainda comentavam sobre o clã, e muito embora este tenha sido extinto há muitos anos atrás, os seus feitos ainda permaneciam vivos.

Os moradores mais antigos ou com idade mais avançada guardavam um grande segredo que a divulgação pública era alocada pela pena de morte. Normalmente, as pessoas dessa faixa etária eram obrigadas a morar em casas de repouso vigiadas pelo governo, com fulcro de garantir que em nenhuma hipótese o segredo fosse revelado. Em sentido lato, o governo decretou uma lei que todos os idosos devem residir em asilos, propriedades públicas, onde equipes de ninjas de elite cuidavam da segurança para que não houvesse um possível seqüestro de um dos abrigados ou que um dos velhinhos desse a língua nos dentes. Isso é claro, se for possível para os pobres idosos desdentados.

Diante disso, é possível afirmar que o país do Trovão vivia em uma ditadura camuflada e enrustida, mas se pararmos para pensar e se olharmos por um ponto de vista genérico, todos os outros países aplicavam a mesma pena ou outra forma de punição. Castigo ou não, um estilo de governo como esse se torna uma ditadura ao caracterizar a presença da censura da expressão do pensamento. E infelizmente, não há maneiras ou recursos para criar uma força da oposição tendo em vista que os shinobis mais hábeis e mais fortes servem ao Hokage. Logo, travar confronto com uma massa de ninjas formidáveis como eles seria inútil e um ato suicida. Mister se faz mencionar o ditado: se não pode com o inimigo, junte-se a ele.

Como já narrado no texto supra, o país do Trovão navegava em uma maré turbulenta, cheia de mistérios e sob uma vibe tensa e concomitantemente de exaltação; os dias eram deveras estranhos e banhados por uma neblina de enigmas, uma dimensão cabalística, e havia momentos de histerismo devido ao torneio, mas o que ainda não oscilava era a quietude diante da ambigüidade. Por quê? Esta é outra incógnita a que se soma junto com as demais.

Enquanto esse período rondava em torno desse povo, alguns ninjas que estavam a par da situação preocupavam-se em tomar algumas medidas em relação a essa falsa ficção de anomalias e segredos. Poucos seriam os que alcançariam os seus objetivos e teriam sorte em seus planos tão bem esquematizados, pois há de convir que a inexistência de fatores favoráveis e auspiciosos era indubitável para quem quisesse mergulhar nesse poço despido de quaisquer garantias de retorno. Não obstante, havia ninjas suficientemente arrojados para topar de frente com a morte e um deles já estava convicto de que tinha meios assaz eficazes para inverter aquela sorte impossível a seu favor, conquanto um deles estivesse prestes a esvair de suas mãos como a fumaça escapa entre os dedos. Tais características são familiares para quem é bom observador, mas para a sorte dos que não são blasonadores de visão apurada, eis a dica para adivinhar quem é o ninja equipado para enfrentar essa jornada e o que é a ferramenta infalível e 'escorregadia': um anel não possui qualquer atrativo sem alguma pedra preciosa, e ainda que tenha alguma, nada o fará mais valioso sem o cintilar do brilho do âmbar.

Logo após o encontro com Sasuke, Kaid voltou para a arena onde havia deixado sua pupila, Akemi. Quando chegou ao local, ele a encontrou desfalecida e submetida a uma suave garoa insistente e intolerável. Ele pensou, naquele mesmíssimo momento, se deveria socorrê-la ou prestar qualquer auxílio depois da grosseria que teve de aturar de uma criança ingrata, porém, a lembrança da sua promessa ao pai de Akemi fizera com que a honra preponderasse face ao seu orgulho, decidindo então que deveria cumprir com sua palavra por mais rude que a herdeira do clã viesse a ser.

Ele se aproximou em passos sorrateiros ao corpo inerte da kunoichi, observando ao redor e - enquanto encurtava a distância entre eles – concomitantemente certificando que estavam sozinhos; e em seguida, se agachou para tentar acordá-la ou fazer com que recuperasse a consciência. Este último era o que ele menos queria que fosse.

Em contra partida, Akemi ainda estava sob os efeitos do poder do espírito de Inazuma e não conseguia reunir forças para acordar. Ela própria sentia o seu corpo pesado, inconsciente e inapto para realizar qualquer movimento, ao passo que também suspeitava que aquelas sensações eram provenientes de um sonho ou de uma alucinação. É muito estranho imaginar uma situação como essas, pois é deveras complicado acreditar que uma alma pudesse ter razão própria e ser capaz de verificar que, mesmo inconsciente, o corpo o qual pertence está debilitado. Como se fossem dois corpos totalmente distintos, separados e independentes.

A kunoichi não conseguia compreender como era possível saber que o seu próprio corpo estava fraco sendo que ela própria estava inconsciente para perceber o que estava acontecendo consigo mesma. Referida situação é muito surreal para meros olhos de seres humanos, mas para quem fora treinado por ilustres mestres, como Kaid, ainda havia a possibilidade de perceber que a mente de Akemi, naquele momento, abrigava algo relutante, embora o shinobi não soubesse justificar adequadamente qual era a razão de sua inconsciência e simultaneamente a consciência e lucidez.

Simplificadamente, a alma de Akemi estava acordada, embora o corpo não respondesse, e desta forma, ela podia sentir como se estivesse "fora" do seu corpo. Na verdade, Akemi chegou a pensar que era um sonho, pois ela sentia que estava flutuando em um lugar em que não havia chão, onde as paredes não existiam, um espaço em que as dimensões pareciam ser infinitas como o universo. A jovem não entendia como era possível existir um lugar como tal, um espaço escuro, rodeado por uma neblina esverdeada, onde o único ruído era de fagulhas invisíveis, vez que não tinha mais nada naquele espaço ao não ser a própria Akemi.

É evidente que qualquer pessoa ficaria preocupada por estar em um local totalmente desconhecido, e ainda, por não saber o motivo de estar ali. Akemi nunca gostou de conviver com o benefício da dúvida, ou aceitou que suas perguntas não tivessem respostas viáveis, mas em um plano que não havia mais ninguém ao não ser ela mesma, quem poderia ajudá-la? Embora nunca tenha desistido de nada, ela estava pronta para aceitar a primeira vez e entregar os pontos para aqueles acontecimentos bizarros e incomuns, mas de repente, quando estava à beira de se conformar com tantas dúvidas, ela escutou a voz de Inazuma ecoando de algum lugar bem distante.

[Inazuma] – A minha criança tem muitas perguntas na cabeça. Sempre que nos encontramos, embora responda todas as suas dúvidas, você não se sente satisfeita e vem com um longo interrogatório. Qual o problema, Akemi? O que há na sua mente insaciável por respostas?

[Akemi] – Ora, eu pensei que você era capaz de ler meus pensamentos.

[Inazuma] – A minha capacidade de ler seus pensamentos não funciona quando estivermos aqui.

[Akemi] – Entendo. E falando nisso, onde estamos? Que lugar é esse?

[Inazuma] – É um lugar que você mesma criou.

[Akemi] – Eu estou sonhando ou isso é real?

[Inazuma] – Um pouco dos dois. O que está acontecendo com você é uma surpresa bem maior para mim do que para você, Akemi.

[Akemi] – Eu acho difícil, mas o que é esse lugar? É um sonho ou realidade? Sou eu mesma? É o meu corpo que está aqui? Que barulho é esse? E para ond...

[Inazuma] – A ansiedade é um vício que deve ser controlado, minha querida criança.

[Akemi] – "Querida"? Cadê aquela marra toda para cima de mim?

[Inazuma] – Eu serei severo e gentil com você quando for preciso, mas independente disso, nada muda a afeição que tenho por você. Porém, isso levará tempo para que você entenda quais são os meus propósitos.

[Akemi] – Heh. Você tem que gostar de mim porque depende do meu corpo. Isso não é motivo.

[Inazuma] – É uma revelação lastimável a que você acabou de me dizer. Entretanto, se quer acreditar nisso, não a impedirei.

[Akemi] – São fatos. Nada pode mudar.

[Inazuma] – Você pode aparentar a doçura de uma flor que desabrocha na primavera, mas suas atitudes são tempestuosas como um trovão.

[Akemi] – E você está reclamando? Ao menos eu tenho alguma característica em comum com você, não é? Ou sou só eu que produzo alguns efeitos 'catastróficos'?

[Inazuma] – Que seja. Ainda bem que você tocou nesse assunto porque eu estou aqui para lhe dizer algumas coisas antes que acorde.

[Akemi] – Ah, agora entendi! É você que não está me deixando acordar? Então, pára com isso. E...opa! Espera aí, como é que eu sei que não consigo acordar? Nossa, quê isso? O que está acontecendo comigo?

[Inazuma] – Se você parar de me interromper, talvez, mas só talvez, eu consiga esclarecer essas caraminholas que você está alimentando na cabeça. De qualquer forma, você não está louca e não sou eu quem está te impedindo de acordar. Eu vou te explicar.

[Akemi] – Ok. Primeiro, eu quero saber por que eu sei que não consigo acordar e como sei que meu corpo real está debilitado. Aliás, eu sei que estou inconsciente! Como é possível?

[Inazuma] – Você se recorda do nosso último encontro?

[Akemi] – Sim. Eu me lembro de tudo, mas não sei o que aconteceu após aquele clarão que você produziu.

[Inazuma] – O clarão que você viu foi o momento em que eu retirei todos os seus sentimentos referentes ao seu passado. Era só uma luz produzida em virtude do uso dos meus poderes naquela hora. Porém, de alguma forma, quando eu fiz isso, parte do meu espírito foi absorvido pela sua alma e agora está permanentemente unido ao seu. É claro que isso não foi intencional, mas aconteceu e eu não sei bem qual é a razão para que tenha ocorrido essa união.

[Akemi] – Não foi intencional? Hm, uma parte?

[Inazuma] - É uma parte muito pequena que é quase insignificante, mas é o bastante para fazer algumas diferenças. Por exemplo, agora você tem o controle do seu espírito e parte do meu, e por esta razão, é que você consegue ver e sentir como um ser separado do seu corpo. Em outras palavras, digamos que você é, nesse exato momento, uma 'cópia' de si mesma, mas para falar a verdade, eu estou falando com a sua alma e não com o seu corpo real. Ou então, entenda que seu espírito tem uma vida própria ou capacidade suficiente que não é tão dependente da carne do seu corpo. Isso não significa que você pode viver sem a alma ou que a alma possa viver sem o corpo. Um depende do outro como qualquer outro ser humano. O que está acontecendo com você é a manifestação dos efeitos colaterais da absorção do meu espírito, a nova habilidade descoberta por você: tornar sua alma subsistente como um corpo físico e real que só pode viver dentro dessa dimensão em que estamos agora. Logo, não há possibilidade de optar por viver somente com alma ou somente com o corpo; os meus poderes jamais a tornarão imortal e em relação a algumas leis da natureza com o homem, pois eles devem sucumbir perante o simulacro da vida. É claro que terá muitas ocasiões que as habilidades adquiridas do meu espírito se demonstrarão como um inimigo público da Natureza ou como se desafiassem a realidade, distorcendo-a de tal modo que desbancará todas as fundamentações e teorias ontológicas. Contudo, você sempre será uma mortal e isso a limita de depender da alma para permanecer com vida, embora haja essa possibilidade de coexistir com o seu espírito.

[Akemi] – Coexistir como espírito? Então, o que acontece é como se fosse um jutsu de troca de mentes? Eu fico desacordada, me desligo do meu corpo, como se estivesse dormindo, em seguida, meu espírito acorda e vem para esse espaço vazio que é o único lugar que ele pode ter vida própria? É lógico que eu sei que não é idêntico ao jutsu, mas a sensação é bem parecida.

[Inazuma] – É quase isso, mas o raciocínio está correto. Preste atenção, criança, o que aconteceu foi muito simples: a partir do momento que retirei os seus sentimentos referentes ao passado, uma pequena parte do meu espírito foi automaticamente absorvida pela sua alma e isso fez com que seu corpo não suportasse a carga porque não podemos nos esquecer que é um ser humano e ainda é muito jovem. É por esse motivo que seu corpo encontra-se debilitado e sem energias para deixá-la acordada. No entanto, isso não é falta de preparo físico e força mental para os abalos psicológicos da absorção, e é por isso que, em minha opinião, você está desfalecida por outra razão.

[Akemi] – Então, é por quê?

[Inazuma] – Se fosse há alguns anos atrás, eu até poderia engolir essa justificativa porque você tinha menos de dez anos, mas agora que já está mais crescida e passou por tantos treinamentos penosos, com a ajuda de Kaid, é muito óbvio que você esteja preparada, como ninja, para suportar cargas como esta e não se curve ao cansaço como o que ocorreu. Eu não tenho absoluta certeza, mas é garantido que há noventa e nove por cento de chances que não é a falta de condicionamento físico e mental. Muito embora, também é bastante provável que seja por outra razão que eu desconheço, mas por ora, eu acredito que essa pequena união dos nossos espíritos acordou um poder oculto dentro de você. Um poder que me causa muita estranheza, pois, aparentemente, possui um instinto e inteligência própria. Eu nunca vi em nenhum dos meus herdeiros algo assim acontecer; todos conseguiram o controle do espírito, mas jamais o tornaram tão vivo como o seu. Na maioria dos casos, os espíritos dos membros do Clã Matsuyama se manifestavam de forma repentina em sonhos, e isso acontecia em um ínfimo espaço de tempo.

[Akemi] – Eu desenvolvi, involuntariamente, um poder? É isso? Você fala como se fosse ruim. Se for um poder oculto e novo, pode ser uma coisa boa! Só porque foi diferente com a minha família, não significa que isso seja um problema e, ás vezes, isso só mostra que eu realmente sou a herdeira do seu espírito!

[Inazuma] – O fato de que é a minha herdeira é inconteste, minha criança. Jamais duvidei disso mesmo quando todas as circunstâncias mostravam o contrário, porque não há nada que me faça crer diferente disso. Eu manterei essa convicção até o fim desde que você mantenha a sua palavra.

[Akemi] – Eu não volto atrás com a minha palavra. Já tomei a minha decisão, certo? Agora, por que você tem tanta desconfiança quanto ao meu poder novo?

[Inazuma] – Ainda é muito cedo para dizer se esse poder é bom ou ruim. Eu não posso me dar ao luxo da dúvida e nem tenho esse benefício, porque eu nunca posso esquecer que devo proteger a sua vida a qualquer custo! Porém, eu ainda não sei se você ficou inconsciente em razão da carga do poder advindo da absorção ou porque ao acordar esse poder oculto, o próprio tomou a iniciativa de deixá-la inconsciente para criar esse lugar, vez que não seria possível se você estivesse acordada. Afinal, um lugar como esse exige que a mente seja inteiramente modificada. Talvez, essa dúvida que nós temos seja respondida com o decorrer da sua evolução, mas por ora, saiba que já está a caminho de completar a missão. O controle da alma era um passo muito complicado que até mesmo seu tetravô teve dificuldades, mas você o encarou muito bem, minha criança.

[Akemi] – Certo, eu já entendi o que aconteceu e apesar de achar essa história, de corpos separados, ser bem estranha, acho que quanto a isso está tudo bem. Só que faltou a informação principal que você ainda não esclareceu depois de toda essa aula de anatomia. O que você quer dizer com controle da minha alma? Como assim? Isso não justifica esse lugar estranho. O fato de controlar a minha alma não é razão para eu conseguir ver a mim mesma como outra pessoa, porque todo mundo tem controle sobre a alma! Isso não me torna diferente em nada!

[Inazuma] – Errado, criança. O que você quer dizer é que todos possuem alma, mas o controle dela é completamente diferente. A possibilidade de manipular o espírito é uma das etapas para obter sucesso e controlar os meus poderes. O seu corpo está alojando dois espíritos: o meu e o seu. O objetivo é tornarmos um só espírito e para isso é preciso ter controle dele. E como eu já disse, há algum poder oculto dentro de você que eu desconheço e que foi despertado com a nossa união parcial. Não fui eu e nem você quem criou esse lugar, e sim algum terceiro elemento que eu acredito que seja oriundo desse poder estranho.

[Akemi] – Manipular o espírito? Terceiro elemento? Nossa, cada vez que temos uma conversa, você consegue me deixar cheia de dúvidas! Antes eu tinha que controlar e agora também tenho que manipular?

[Inazuma] – Você não está se esquecendo de nada?

[Akemi] – O que?

[Inazuma] - Enji Matsuyama nomeou os poderes que ele herdara de mim como Seishingan-Ryuu...

[Akemi] – O Poder do Espírito do Dragão.

[Inazuma] – Exato. O nome é um tanto auto-explicativo, não acha?

[Akemi] – Eu já sei da história toda. O que eu quero saber é o que isso tem a ver com a esquisitice de poder subsistir com a minha alma de forma tão real, e por que controlar o espírito?

[Inazuma] – Veja, minha criança, eu sou um ser criado por um Deus que me concedeu poderes ilimitados e que podem controlar elementos relacionados com o céu, principalmente, o trovão. Se o meu espírito está alojado no seu corpo, mesmo que não fique unido ao seu, você acaba adquirindo paulatinamente os meus poderes, querendo ou não. Sendo assim, os poderes do seu clã provêm do meu espírito, porque sem eles não há nenhuma possibilidade disso acontecer. O Clã Matsuyama jamais poderia realizar jutsus do elemento trovão se eu não tivesse distribuído parte da minha energia a todos eles, porque do contrário, o elemento de chakra do seu clã seria o vento. Por isso, o nome do kekkei genkai do seu clã tem esse nome, porque vem do poder espiritual, o poder da minha alma. E como já disse várias vezes, o meu poderá será o seu poder quando nossas almas se fundirem; você precisa do meu espírito para usar toda a sua força e as minhas habilidades, mas para isso é necessário que você se una a mim. Desta forma, você poderá controlar o meu espírito e terá todos os meus poderes permanentemente, porque a absorção estará concluída e, por conseguinte, significa que o seu corpo é o meu corpo; eu sou você e você é Inazuma; tornaremos um só corpo, um só ser vivo; estaremos ligados por completo e eternamente.

[Akemi] – Eu sei disso. Eu sei que conseguindo controlar o seu espírito é possível ter os seus poderes e toda aquela história. Já entendi!

[Inazuma] – O meu espírito não é somente para ser controlado.

[Akemi] – Que conversa é essa, agora? Antes você tinha me dito...

[Inazuma] – Eu sei. Não fico à vontade em omitir os fatos para você, mas agora que já estamos unidos, posso revelar qual é a única forma para que possamos cumprir nossa missão.

[Akemi] – Heh. Por que eu desconfiei que tivesse sujeira nessa história?

[Inazuma] – O que vou lhe dizer não mudará nada, criança. Afinal, o controle e a absorção do meu espírito ocorrem simultaneamente. Olhe o que está acontecendo com você agora: está vendo e sentindo o seu próprio corpo, a si mesma, mas como se fosse uma outra pessoa. Antes, só eu conseguia vê-la desse jeito, mas agora que parte de nossas almas estão unidas, que é o mesmo que dizer que houve uma parcial absorção do meu espírito, você possui uma das minhas habilidades. Sendo assim, você absorveu parte do meu espírito e, como um "brinde", adquiriu uma das minhas habilidades natas; e isso torna possível dizer que você controla parte da minha alma. Entretanto, não podemos esquecer que você é humana e o seu corpo não é preparado para suportar cargas de forças sobrenaturais e que estão vinculadas ao poder divino. Por esta razão, você não está conseguindo acordar e está inconsciente porque ainda está sofrendo os efeitos da nossa união. Além também daquele outro fator estranho que já mencionei.

[Akemi] – Não dá para acreditar! Eu colaboro com você, tomei uma difícil decisão para fazer a coisa certa e no final das contas, eu tenho que pagar o pato? Eu nunca pedi isso! Eu estou abrindo mão da minha felicidade! Eu abandonei todos os meus sonhos! Eu jamais poderei usar uma bandana de Konoha! E também jamais terei uma família! Você não se importa com todo o sofrimento que me fez passar! Você acha que retirando todos os meus sentimentos de carinho e afeição pela minha família adotiva e pelo Sasuke bastará para me fazer acreditar que tudo isso está certo? Pois bem, eu já respondo que mesmo não sentindo mais nada, nunca me esquecerei do que já passei porque colaborei com você! Afinal, você não apagou a minha memória e ela continua intacta!

[Inazuma] – Vamos fazer o seguinte acordo...

[Akemi] – Como vou concordar em alguma coisa com alguém que mente para mim e só fica me pressionando com ordens e ambição? Você é um mentiroso! Eu não quero acordo nenhum!

[Inazuma] – JÁ CHEGA, AKEMI! Está na hora de saber que você também deve respeito a mim.

Em muitas histórias do Japão, a figura de um dragão é sempre vista com respeito e admiração ou com temor, tendo em vista que há contos em que esses seres eram muito cruéis com seus castigos.

Inazuma era muito parecido com Akemi em um aspecto inegável: a impiedade de manifestar sua fúria desastrosa. E diante de tanto desdém e insolência de Akemi, o espírito do dragão se encheu de ira e não hesitou para mostrar à garota que deveria receber um pouco de respeito. Ademais, há de concordar que Inazuma era um ser divino e não estava acostumado em lidar com gritos de seres humanos os quais o dragão alado considerava serem inferiores a ele.

A jovem sentiu um tremor intenso naquele infinito espaço que parecia ser uma outra dimensão. Ela não conseguira ver Inazuma, apenas escutava a voz dele como se fosse um eco que tivesse viajado pelo ar até ela como ondas de som em um lugar vazio.

Akemi não compreendeu muito bem o que aconteceu e também não notou nenhuma diferença, visto que ela esperava algum castigo ou qualquer outra coisa após o ataque de raiva do espírito do dragão.

[Akemi] – É isso? Um tremor?

[Inazuma] – Agora, você tem energias suficientes para acordar, embora abrir os olhos não fará muita diferença.

[Akemi] – O que? Como assim?

Antes que ela pudesse questionar mais ao espírito do dragão, a sua alma foi arremessada para o alto naquele espaço misterioso onde estava há pouco; era como se um gancho a estivesse puxando para cima com muita velocidade e força. Por alguma razão inexplicável, Akemi percebeu que estava recobrando a consciência e que não estava mais com aquela espécie de forma de antes, como uma alma – segundo as informações de Inazuma – ou cópia de si mesma, e sim, com o seu real corpo.

No entanto, algo estava muito estranho, pois ela conseguia escutar a voz de alguém chamando pelo seu nome, bem como sentir a água da garoa cair em cima do seu corpo, mas não conseguia enxergar absolutamente nada.

[Kaid] – Akemi? Ah, finalmente! Você voltou a si!

[Akemi] – Kaid? Onde estamos? Por que tudo está tão embaçado e claro? Não consigo enxergar nada!

[Kaid] – Como não consegue enxergar? Não está escuro e você...

[Akemi] – O que foi? Por que ficou mudo?

[Kaid] – O que houve com os seus olhos?

Durante todos esses anos de vivência com Kaid, Akemi jamais tinha presenciado um momento como aquele: o seu 'sensei', pela primeira vez, estava exaltado e transpareceu surpresa. Kaid sempre foi um homem frio e que se esforçava demasiadamente para não expressar qualquer tipo de sentimento, pois ele já fora um membro da ANBU e são treinados para serem como máquinas robóticas: sem sentimentos ou expressões emocionais na face. Afinal, a conduta shinobi diz que o verdadeiro ninja não demonstra fraquezas, ou seja, os sentimentos.

Todavia, Akemi se assustou com o timbre da voz do shinobi e suspeitou até que ele estava com certo pavor. Kaid sempre utilizava um timbre de voz calmo, com infinita frieza e objetividade, sendo raras as vezes que alterava para vociferar com sua pupila nos treinos. Logo, era uma grande surpresa para Akemi escutar o seu sensei usar uma voz rouca e com certa trepidação para falar com ela. Posto que Kaid parecesse assustado com alguma coisa que Akemi não conseguia entender e ver do que se tratava, a kunoichi deixou de se preocupar com o espanto de seu sensei e colocou em foco a questão que mais lhe afligia: o que tinha acontecido com a sua visão? Por que tudo estava sem cor e sem formas? Por que a sua visão proporcionava um campo embaçado e branco ao invés da face de Kaid a sua frente?

[Akemi] – Como é que vou saber? Eu estou mais confusa do que você! Não consigo ver absolutamente nada! O que você fez?

[Kaid] – Eu não fiz nada, sua inconseqüente! Eu acabei de chegar e a encontrei desmaiada, e por isso estou aqui, para tentar ajudá-la. Agora que você acordou é que estou vendo que...

[Akemi] – O que foi?

[Kaid] – Akemi, os seus olhos estão...

[Akemi] – O que há com eles? Pára de enrolar e fala logo!

[Kaid] – Seus olhos estão brancos como se você fosse...

[Akemi] – Cega? Do que você está falando? Deve ser a água da chuva ou alguma coisa que entrou nos meus olhos!

[Kaid] – Eu estou dizendo a verdade! Eles estão completamente brancos, como se tivesse uma película branca cobrindo a íris e o glóbulo ocular. Essa aparência é de olhos diagnosticados pela cegueira.

[Akemi] – Cega? Não, não, não! NÃO! Isso não pode estar acontecendo! É impossível? Cega? NÃO! Mas como é que...

Foi então que a garota se lembrou das últimas palavras de Inazuma e concluiu que a cegueira era a maneira que ele encontrou para puni-la pela falta de respeito e destrato. Akemi substituiu o sentimento de desespero por ódio e, consequentemente, em razão da alteração do humor da jovem, a chuva suave que antes era uma garoa se tornou em tempestades sucedidas de clarões e estouros de relâmpagos.

Kaid não sabia o que fazer e estava tão surpreso quanto Akemi, mas acabou notando que ficar no meio de uma floresta, em território desconhecido, e deixar se levar pelo desespero não resolveria ou adiantaria nada. Sendo assim, o shinobi tomou iniciativa e pegou sua pupila nos braços para levá-la a um lugar seguro.

[Akemi] – O que está fazendo?

[Kaid] – Você prefere ficar aqui, sozinha e apavorada? Ficar gritando e se desesperando não irão trazer a solução, Akemi! Vamos embora!

Sensei e pupila se apressaram para sair da arena - local onde a jovem derrotara o jounin da aldeia da Nuvem – e fugiram para a casa abandonada em que estavam morando, ou melhor, se escondendo. Aliás, é impreterível lembrar que Akemi e Kaid invadiram o país, pois eram ninjas desconhecidos e isto era como se fosse uma invasão para o País do Trovão. Vejamos: se um estranho entra em uma casa que não é a sua residência, que nenhum dos moradores o conhece e que também não foi convidado a adentrar, presume-se que é uma invasão. O mesmo raciocínio se dá para a presença de ambos no território de origem do clã Matsuyama. Vale lembrar também que a luta entre Akemi e o jounin foi oriunda da invasão deles, e mesmo que tenham vencido a disputa, nada poderá deter o exército do Hokage para persegui-los e expulsá-los do país.

Kaid se apressava para chegar ao abrigo em que estavam refugiados antes que alguém notasse a presença deles e as coisas ficassem ainda piores. Pela primeira vez, Akemi pôde sentir o forte e célere palpitar do coração do seu sensei, já que estava nos braços do mesmo e uma de suas têmporas estava escorada no peito dele. Ela sabia que sua cegueira acabou com todos os planos de Kaid e que era um fator prejudicial para a missão deles. Todavia, o shinobi permanecia calado e se movia o mais rápido que suas pernas suportariam, tentando manter sua concentração centrada ao redor, na hipótese de uma aparição de inimigos, porém, ele não podia deixar de se preocupar com a cegueira de Akemi e como isso era ruim. Fato esse que o deixava muito preocupado e inseguro, pela primeira vez depois de muitos anos.

Desde que Kaid era jovem, apenas um genin, treinava com um sensei especialista em muitos jutsus secretos, principalmente, envolvendo o taijutsu. Aliás, este sensei foi considerado o melhor mestre na arte do taijutsu. Portanto, é correto afirmar que Kaid, sendo pupilo de tal, é invencível quando se trata de taijutsu, embora também tenha uma inquestionável e respeitável perícia em ninjutsu e genjutsu. Foram essas razões que o tornaram tão atraente para a ANBU.

Não é à toa que Kaid é o sensei que é com Akemi, pois quando estava na fase de aprendizado das artes ninjas, o shinobi fora submetido a um treinamento cruel e de muito sacrifício pelo seu sensei. E apesar disso, ele se tornou muito forte e foi graças ao árduo treinamento que pôde atingir um nível tão elevado como ninja. Entretanto, é pouco provável que um dia ele consiga se esquecer de cada dia de seu treinamento, vez que as cicatrizes no seu corpo são permanentes e sempre estão visíveis para que ele as enxergue diante de seu reflexo. Por exemplo, quando Kaid não conseguia obter êxito em algum jutsu ou quando não tinha mais chakra para realizar qualquer jutsu, o seu sensei o torturava e o deixava sem comer. Isto posto, o shinobi concluiu que apesar de um treinamento laborioso e ermo de sensibilidade ou compaixão, este demonstra ser o rumo mais proveitoso e lacônico para a excelência da arte ninja. Destarte, Kaid pôde perceber que o estilo de ensinamentos do seu sensei era um caminho doloroso no percurso, mas satisfatório no final, pois o real objetivo do treinamento era alcançado seguindo essa forma de disciplinar um pupilo, e com essa orientação, o shinobi levou adiante essa idiossincrasia de seu sensei para Akemi, como sua pupila.

O ex-membro da ANBU guardava muitos segredos e poderia merecer um tratamento de desprezo recíproco igual ao que ele fornece a outrem, mas Akemi tinha o luxo do benefício de se sentir segura e salva nos braços de um shinobi com tanta destreza física. Kaid se movia, saltando de árvore em árvore, com muita velocidade e facilidade, provando que carregar um corpo nos braços não era um fator que poderia atrapalhá-lo em caso de um ataque surpresa ou um fator de atraso e de carência de agilidade, vez que era evidente que o shinobi não estava com a guarda baixa e diante de tal velocidade com as pernas, qualquer inimigo poderia notar que ele tinha competência para esquivar-se com muita rapidez, sem precisar derramar uma gota de suor. Muito embora a idade desse homem seja um tanto avançada, o seu desempenho físico e disposição de energia não condiziam com a retro afirmação.

Inazagi Haimai, o sensei de Kaid, sempre fora severo com o pupilo nos treinamentos para a desenvoltura muscular do corpo dele; o sensei obrigava Kaid a carregar pesos absurdos, usar caneleiras - que pesavam como chumbo – durante lutas e treinos somente de taijutsu, suspender barras carregadas de sacos cheios de pedaços de rochas de cachoeiras, e entre outros meios para aumentar a massa muscular e torná-lo veloz como uma onda sonora. Em face de uma revelação como esta, fica esclarecida a explicação para tanta facilidade de conduzir Akemi até o esconderijo onde ambos estavam alojados.

A chuva ainda continuava impetuosa, derramando incontáveis gotas de água por toda a região do país do Trovão, ao mesmo tempo em que Akemi permanecia num profundo desespero em razão da sua cegueira.

Por um momento, Kaid suspeitou que tivesse visto uma lágrima escorrer no rosto de sua pupila, mas levou em consideração que poderia ser uma gota da chuva que caíra sobre eles. Ademais, ele jamais a vira chorar e concluiu que era impossível acontecer em uma situação dessas, uma vez que ela sempre se demonstrou mais forte do que tudo, até mesmo diante das dores mais insuportáveis. Qualquer garota da idade de Akemi já teria derramado rios de lágrimas e não teria levado adiante a missão, contudo, a herdeira Matsuyama provou que o sangue de um dos ninjas mais lendários do mundo corre em suas veias. Por mais que fosse impressionante, Kaid não demonstraria admiração pela fibra e garra de sua pupila, pois ele estimava a figura de um professor que bate palmas para bons feitos do aluno; o simulacro da amizade entre sensei e aluno era uma piada para Kaid.

Logo que os dois ninjas chegaram ao tugúrio, - uma caverna atrás de uma cachoeira sucedida de uma depressão longa que dava acesso a um labirinto em uma floresta que levava até o fim a um casebre improvisado – Kaid conferiu a sua retaguarda para certificar se não foram seguidos até ali, e obtendo a certeza disso, ele se adiantou para se abrigar o mais breve possível; ele fez um pequeno corte no seu dedo polegar, desenhando com o seu próprio sangue um fac-símile na rocha à sua frente, e por fim, reproduziu selos por posições de mão, conjurando algum tipo de jutsu secreto para dar acesso ao esconderijo deles. A água da cachoeira parou instantaneamente, abrindo um feixe no centro como se fosse uma cortina, liberando a passagem para Kaid e Akemi.

[Kaid] – Ei, Akemi! Você está acordada?

[Akemi] – Sim.

[Kaid] – Muito bem. Você sabe onde estamos?

[Akemi] – Eu acredito que, pelo barulho da cachoeira e pelo cheiro de água parada de estalactites de rochas sedimentais calcárias, estamos no abrigo.

[Kaid] – Certo. Foi uma boa...foi uma boa escolha ao utilizar os outros sentidos para saber aonde você está.

[Akemi] – Você ia dizer "uma boa observação", não é?

[Kaid] – É melhor descermos até a casa para eu examinar os seus olhos adequadamente. Quanto mais rápido soubermos do que se trata, mais rápido podemos solucionar esse problema.

Akemi já não tinha ânimo para discutir com o seu sensei e se quer tinha coragem de contar a ele que sua cegueira poderia ser permanente, pois é difícil esquecer que ela e Inazuma eram os únicos que sabiam a verdadeira razão do que ocorrera com a sua visão. A kunoichi só sabia que estava cega por causa de um castigo do espírito da fera abrigada em seu corpo, mas ainda era um mistério como ou o que fazer para voltar a enxergar novamente.

[Kaid] – Você acha que pode fazer selos?

[Akemi] – Eu estou cega. Não estou aleijada. Está se esquecendo que estou mais veloz do que você nas posições de mão?

No segundo em que a garota terminou de pronunciar a última letra, sua voz sumiu e um grito de dor sai de seus lábios. O sensei de Akemi se assustou com aquela cena, vez que jamais vira sua pupila gritar daquela forma, e então, se apressou e a envolveu em seus braços como se quisesse protegê-la.

[Kaid] – O que foi, Akemi? O que houve?

[Akemi] – Faça parar! Essa dor...ugh!

[Kaid] – Onde está doendo?

[Akemi] – Parece que perfuraram a minha costela até o outro lado, com uma espada longa em brasa. Droga! E essa dor não passa!

Ela se esforçava até sua última gota de suor para suportar a dor, travando a mandíbula, cerrando os dentes, abafando o grito, mas não se atrevia a tocar com as mãos no local aonde vinha essa dor cruciante.

Kaid, por trás de sua máscara, franziu a testa, sentindo muita estranheza com o que acabara de ouvir.

[Kaid] – Resista à dor. Tire o braço da manga do seu kimono.

[Akemi] – É fácil falar! Não é você que está sentindo essa dor!

Naquele instante, a dor aumentou astronomicamente e concorreu com outro urro da jovem que não conseguia mais conter a reação exclamativa de sofrimento e de dor. Ajoelhada na pedra, com a mão direita trêmula e escorada a frente do corpo, enquanto a mão esquerda hesitava em torno da costela. O shinobi estava muito assustado com o que estava acontecendo com sua pupila, e se viu em grande espanto quando reparou que a quantidade de chakra dela estava diminuindo consideravelmente.

[Kaid] – Akemi, fique quieta! Não fale mais nada! Vamos logo.

[Akemi] – Não...

[Kaid] – Não se mova! Eu te levo até lá embaixo! Se você fizer algum movimento, pode ser pior! Você sabe que seu chakra está diminuindo! Não! Pára com isso, Akemi!

[Akemi] – Não. Eu não...

[Kaid] – Akemi...

Paulatinamente, com muita dificuldade, a jovem se erguia, podendo ficar ereta com o apoio das rochas, se escorando nessas para resistir aos efeitos vertiginosos da dor que ainda sentia.

Kaid se impressionou com a determinação de sua aluna, pois não conseguia imaginar de onde ela estava tirando forças para se manter em pé. Talvez, fosse a sua força de vontade ou um "empurrãozinho" do espírito do dragão, embora Kaid tivesse alguma suspeita de que não era a última opção. Por alguma razão, o ex-membro da ANBU não conseguia mais sentir a força espiritual que sempre sentia quando estava próximo de sua discípula. De fato, algo estava muito errado e Kaid sabia disso.

Em uma tentativa desesperadora para deter Akemi, Kaid se preparou para paralisá-la, mas foi impedido pelo espanto; bem diante dos seus olhos, sua pupila desprezou o apoio das rochas e se adiantara com os selos para conjurar o jutsu que a própria havia criado: Raiton, Michi amagumo, Caminho de nimbos. Contudo, o jutsu não foi conjurado, para a enorme surpresa da kunoichi e mais ainda de seu sensei.

[Akemi] – O que? Eu não estou ouvindo o barulho dos nimbos e nem dos relâmpagos!

[Kaid] – Você não está ouvindo porque não conseguiu realizar o jutsu. Esqueça. Eu cuido disso.

[Akemi] – De jeito nenhum! Nunca que vou deixar essa cegueira me atrapalhar! Eu não sou inválida!

O grito de Akemi ecoou com abrupto por toda a caverna, deixando o seu sensei ainda mais intrigado do que antes e também admirado com o desiderato dela a fim de demonstrar sua independência e seu poder. O shinobi, embora com o rosto coberto pela máscara, olhava para a jovem com orgulho e muita admiração, mas temia que tanto talento fosse prejudicado pela cegueira.

[Kaid] – Você está quase sem chakra, Akemi. Não seja teimosa e orgulhosa. Eu posso levar a nós d...

Antes que ele pudesse terminar o que queria dizer, a kunoichi se adiantou, invocando, por meio de inscrições gravadas nas ataduras de seus braços, dois leques de tamanho médio.

[Kaid] – Esse jutsu? Você nunca deu atenção para os treinos com o elemento do vento.

[Akemi] – É que uma vez, um cara insuportável, ex-membro da ANBU, me ensinou que o shinobi mais hábil é aquele que sabe guardar surpresas.

Entre alguns suspiros e grunhidos abafados, a jovem pronunciou essas palavras, com um meio sorriso de desdém nos lábios, que, de certa forma, provocaram certa e pequena comoção em Kaid.

Era perceptível que Akemi estava reunindo as suas últimas forças para se manter erétil, e ainda movimentar seu corpo para realizar aquele jutsu, além de segurar aqueles leques que notavelmente se revelavam muito diferentes dos comuns.

Ao separar as pernas, deixando-as paralelas, flexionando suavemente os joelhos, Akemi jogou os dois leques para cima e se apressou com as posições de mão; Kaid se impressionou com a velocidade inalterada e absurda na reprodução dos selos feitos por ela, apesar da mesma estar indubitavelmente debilitada e submetida àquela dor estranha.

Para os ninjas mais hábeis, cuja visão já é treinada há muito tempo, era possível somente enxergar e visualizar alguns selos entre vultos das mãos da garota, tendo em vista que a velocidade em que realizava as posições de mão era fora do normal. Kaid apostava que nem mesmo com um sharingan era possível copiar os mesmos selos, quiçá simultaneamente com sua pupila. Diante do excelente desempenho, o shinobi percebeu que todos os seus esforços valeram a pena e que estava cumprindo a sua palavra conforme havia prometido ao pai de Akemi.

Provável seria o comentário de uma pessoa estranha, ao ver a cena, de que tudo não passava de um truque de Akemi, e que era impossível uma garota, de no máximo nível chunin, ser mais veloz na execução dos selos/ posições de mão do que um jounin ou um ninja de nível bem mais elevado, por exemplo, classe "S". Todavia, não era truque e sim resultado de muito treinamento, sofrimento, prática, determinação e talento. Sem dúvida, ela era filha legítima de um Matsuyama.

Os leques que haviam sido arremessados ao alto já estavam retornando ao ponto de partida, cedendo às leis da gravidade, e quando se aproximaram a, precisamente, 45 graus acima da cabeça de Akemi, ela os segurou no ar rapidamente e girou o seu tronco, resistindo à dor insistente na costela, iniciando um movimentando com todo o seu corpo, em que os braços moviam-se como se fossem hélices giratórias em sentido diagonal.

Com ímpeto, a kunoichi parou com o movimento, após criar uma corrente de ar de potencialidade média, e em seguida, concentrou um pouco do chakra que ainda restava nos objetos que tinha em suas mãos, o que era bem visível a olho nu devido a luz azul que os envolvia; e sem demora, soltou os leques que deveriam cair conforme as leis da física, mas inacreditavelmente, os mesmos permaneceram suspensos em pleno ar, flutuando como se estivessem no espaço sideral.

[Akemi] – Jutsu secreto. Ninjutsu, estilo Matsuyama. Elemento vento. Fuuton no jutsu.

Em um rápido movimento, Kaid saltou para fora do campo de ataque de sua pupila para não ser atingido pelo jutsu e aguardou o resultado com ansiedade, vez que da última tentativa de Akemi, há um ano atrás, o jutsu não havia sido bem sucedido. Ele estava muito curioso para ver o resultado de sua aluna, ainda com o plus daquela dor estranha para atrapalhar sua concentração em um jutsu tão preciso e fatal.

A jovem, em contrapartida, estava muito concentrada na execução do jutsu, e suas últimas palavras desencadearam mais potencialidade pela corrente de ar que havia criado, como se tivesse pronunciado a palavra-mágica. A corrente de ar tomou mais força e já era visível que o sentido em que percorria pelo ambiente se dividia em dois, reproduzindo mantos cinza carregados de potência do chakra da kunoichi por intermédio dos leques, concomitante em que numa visão clara e ampla, formavam um "x" de correntes de ar. Logo após o aumento da intensidade da corrente de ar, Akemi realizou o último selo do jutsu, promovendo uma ventania descomunal.

[Akemi] – Suwarü no akuma senpü, o redemoinho de leques demoníacos! Categoria...

[Kaid] ~ O quê? Um 'sub-jutsu'? Como isso é possível? ~ [Nota da autora: isso é um pensamento da personagem]

[Akemi] – Categoria Fuu Kaze Uchiwa, Ventania de leques, o manto cinza.

Na primeira fase do jutsu, os leques brandiram no ar junto com as correntes de ar, gerando um gigantesco redemoinho que provocaram um tremor dentro da caverna, cortando as estalactites do teto, afastando as impurezas do chão com súbito, mas na segunda fase, os leques paralisaram e tornaram a se movimentar de forma centrípeta, como se uma linha invisível os conduzisse pelo centro do eixo do redemoinho. Destarte, os ventos tomaram ainda mais força e se compactaram a um manto cinza, dispersando uma onda de ar para todos os lados como em um abalo sísmico.

Naquele momento, não havia mais correntes de ar ou qualquer vento forte, ao não ser uma leve brisa emanada pelo manto cinza criado pelo jutsu de Akemi.

A kunoichi, completamente exausta, segurou os leques que se soltaram das correntes, fazendo-os desaparecer quando chocou um ao outro; o sensei dela mal podia crer no que acabara de testemunhar: ainda com o pesaroso fator da cegueira, sua discípula conseguira executar um jutsu com perfeição, sem o benefício de enxergar e saber o que estava acontecendo – isto era prova suficiente que Inazuma era realmente sábio, pois tinha escolhido a pessoa certa para herdar seus poderes. Ao menos, era o que o sensei de Akemi pensava consigo mesmo, em um enfadonho silêncio enquanto observava sua pupila, do alto de uma rocha das paredes da caverna.

[Akemi] – Você ainda está aí?

[Kaid] – Sim. Você não deveria...

[Akemi] – Por que não? Quer dizer que só por causa dessa maldita cegueira, eu vou parar de lutar? O fato de estar cega significa que eu sou fraca? E que não posso ser uma ninja? DE JEITO NENHUM!

[Kaid] ~ Akemi...você está quase sem chakra e ainda está conseguindo se manter em pé. De onde é que vem essa sua força? Não é de Inazuma. É fora do normal! Eu não me recordo de ninguém da sua família ter a força que você tem e nem tanta destreza com jutsu. O que mais me impressiona é como você conseguiu realizar esse jutsu sem nem treinar com o elemento do vento. Até que ponto você pode evoluir, Akemi? E até quando você pode agüentar? ~

Os pensamentos de Kaid transformavam sua cabeça em uma caldeira de um trem. O shinobi tentava compreender o que acabara de ver e se convencer de que aquilo era pura realidade. Era difícil de crer que alguém cuja visão foi completamente danificada conseguiu obter sucesso em um jutsu que necessita de tanta precisão; como ela conseguiu pegar os dois leques no ar sem a visão? De onde veio tanto chakra? Que poder é esse que a faz manter de pé?

Todas essas questões vagavam pela mente do ex-membro da ANBU e por mais que ele elaborasse um raciocínio, não encontrava nenhuma resposta viável para nenhuma de suas dúvidas.

[Akemi] – Eu posso ter perdido a visão, mas o seu ensinamento ainda está na minha mente.

[Kaid] – Akemi, o treinamento de taijutsu Chokkan não servirá em todas as lutas. É uma técnica básica para lugares escuros ou para atacar o inimigo de surpresa.

[Akemi] – Eu tive que usar venda nos olhos na maioria dos treinamentos de taijutsu. Isso me deixou mais atenta aos outros sentidos.

[Kaid] – Eu não sou o sensei mais qualificado para ensiná-la sobre a arte ninja que poderá ajudá-la enquanto não descobrirmos como solucionar a sua cegueira.

[Akemi] – Tanto faz. É melhor você se apressar porque eu não posso suspender o manto por muito tempo.

Assim que os dois ninjas subiram naquela espécie de tapete transparente e flutuante, os ventos que formavam aquele véu cinzento rodopiaram embaixo dos pés de ambos, descendo os corpos paulatinamente. A depressão da caverna era longa e no fim da mesma havia rochas pontiagudas; é patente que sensei e pupila poderiam descer a caverna como quisesse, sem usar qualquer jutsu senão somente sua destreza física, mas em face da atual conjuntura de Akemi, a melhor opção era uma maneira mais segura de descer, evitando uma queda fatal sobre as tais rochas.

No momento em que os dois chegaram ao fim da depressão, ultrapassando todo aquele agrupamento de rochas, os ventos que compunham o manto se dissiparam como fumaça; as pernas de Akemi trepidaram e não deixaram escolha a ela senão ceder à exaustão física e a dor cruciante da costela. A jovem se ajoelhou no chão, tentando tomar fôlego para prosseguir o caminho, e tudo isso seria mais fácil se não sentisse que uma espada em brasa estava perfurando sua costela de ponta à ponta.

[Kaid] – Já chega, Akemi! Vamos logo para o abrigo.

[Akemi] – Não. Eu consigo andar! Eu consigo ir por conta própria!

[Kaid] – É melhor que poupe forças e energias. E você não vai conseguir ir tão rápido quanto eu. Você está muito debilitada.

[Akemi] – Você que pensa...

Sem rodeios, a jovem se preparava para realizar um grande salto e começar a corrida até o refúgio deles, porém, Kaid se antecipou e a pegou nos braços, tomando o cuidado de imobilizá-la. Afinal, ele já a conhecia muito bem para saber que ela não hesitaria em relutar.

Outra vez, o shinobi carregava sua pupila enquanto saltava de árvore em árvore, pelo labirinto da floresta, até aonde eles, pelo menos deveriam, chamariam de casa.

[Kaid] – Você poderia muito bem ter criado só o manto. Por que conjurou como categoria? E como você conseguiu isso?

[Akemi] – Eu só quis tentar e arriscar se era possível.

[Kaid] – Quantas vezes eu tenho que repetir? Não se pode arriscar em campo de batalha. E olha o que aconteceu com você! Agora, se não fosse tão teimosa e inconseqüente, teria mais chakra.

[Akemi] – Eu já disse e vou repetir: não vou deixar essa cegueira me atrapalhar.

[Kaid] – É inútil falar com você, Akemi.

[Akemi] – Você não entende...

[Kaid] – Pela primeira vez, eu concordo com você. Eu não entendo, mas sabe o quê? Eu não entendo o porquê de ter se arriscado daquele jeito sendo que esse jutsu não tem nenhuma serventia em um campo de batalha.

[Akemi] – Então, todo esse treinamento foi perda de tempo.

[Kaid] – Do que está falando?

[Akemi] – Você mandou que eu estudasse aquele livro das teorias gerais do ninjutsu dos elementos: fogo, água, vento, trovão e terra. E também alguns sobre o kekkei genkai.

[Kaid] – Sim. E eles são de muita utilidade!

[Akemi] – Ah, então você deveria saber que em todos esses livros, em nenhuma parte diz que qualquer jutsu, por mais bobo que pareça, não irá ter utilidade para o ninja. Pelo contrário, os ensinamentos dos jutsus que provêm de um kekkei genkai mencionam que muitos ninjas criam alguns jutsus, como o meu Denshi Ame (Chuva de elétrons), que aparentam ser inofensivos, mas podem servir de ferramentas no campo de batalha, por mais que tudo indique que não terão serventia alguma. Afinal, nunca se sabe o que podemos encontrar à nossa frente.

[Kaid] – Não estou dizendo que o seu jutsu é inútil, mas conjurá-lo como uma categoria. Isso só consome mais chakra!

[Akemi] – Pode ser, mas eu não fiz isso à toa.

[Kaid] – Então?

[Akemi] – Pelo o que já foi me dito, o meu clã sempre foi adepto ao elemento do trovão por causa do espírito do dragão, mas assim como todos os ninjas, eles tinham outro elemento, certo?

[Kaid] – Certo. O Clã Matsuyama focava os jutsus no elemento do trovão, mas alguns tinham envolvimento com o elemento do vento, que é o original da família.

[Akemi] – É. Eu sei que só é possível por causa do espírito e que sem ele, não há como executar nenhum jutsu do elemento do trovão que provêm do "kekkei genkai". Eu lembro quando concentrei o meu chakra no papel da árvore e ele amassou, e ainda depois rasgou na ponta.

[Kaid] – Alguns ninjas possuem predisposição para jutsus de elementos diferentes. No caso, o seu clã com o trovão e o vento.

[Akemi] – Sim, mas você viu que eu não consegui realizar o meu jutsu do elemento do trovão.

[Kaid] – É, mas não significa que você não possa realizá-lo. Qualquer ninja pode efetuar um jutsu de qualquer elemento, mas a hereditariedade carrega, conforme as gerações nas famílias, uma tendência para certo elemento. Talvez, estava sem chakra suficiente para realizar um doujutsu.

[Akemi] – Sim. Eu sei disso. Eu não acredito que seja pela falta de chakra e sim por outro motivo. Porém, eu não posso permanecer de braços cruzados e esperar que a resposta venha na minha mão. Ainda que eu não encontre a solução para isso, eu não vou deixar de lutar, porque tenho força e poder suficiente para me adaptar ao elemento do vento.

[Kaid] – Bem, eu tenho uma boa e uma má notícia para você.

[Akemi] – A má?

[Kaid] – A partir de agora, eu não sou mais quem irá seguir com os seus treinos.

[Akemi] – Hã? Do que está falando?

[Kaid] – Eu não estou à altura de um sensei capaz de ensiná-la artes ninjas mais específicas. Está na hora de dar um passo à frente, Akemi.

No meio dessa conversa, o tempo pareceu passar depressa e a distância até o tugúrio se reduziu, visto que dentro de poucos minutos os dois ninjas já haviam chegado ao destino pretendido.

Kaid levou sua aluna para dentro do casebre, repousando o corpo da mesma sobre uma cama e em seguida, se apressou para fechar as janelas, trancar as portas como medida de segurança.

[Kaid] – A dor ainda continua?

[Akemi] – Não está doendo tanto quanto antes, mas ainda está persistindo e eu não sei por quê. Não recebi nenhum golpe.

[Kaid] – Eu vou buscar algumas velas para tentar solucionar o problema da sua visão, mas enquanto isso, vá ao outro cômodo para se trocar. Acha que consegue ir até lá sem ajuda?

[Akemi] – É estranho. Antes eu tinha uma visão embaçada e clara, mas agora está muito escuro.

[Kaid] – Consegue ver alguma coisa?

[Akemi] – Não. É como se tivesse uma lente espessa nos meus olhos, como se alguma venda branca estivesse cobrindo meus olhos e eu estivesse com eles abertos. Eu não sei explicar.

[Kaid] – Os sintomas são de cegueira, mas eu ainda não consigo compreender nada. Quando a deixei na arena, você estava se preparando para conversar com ele. O que aconteceu depois?

Por um momento, Akemi pensou que poderia dizer a verdade ao seu sensei e contar o que realmente aconteceu e por que estava cega. Entretanto, ela se lembrou de que o espírito da fera havia pedido sigilo da conversa e isso fez com que tivesse medo das conseqüências, tendo em vista os últimos e recentes acontecimentos.

[Akemi] – Nós conversamos sobre a missão.

[Kaid] – E por que o desmaio?

[Akemi] – Eu não sei. Não me lembro de como desmaiei. Aliás, não me lembro de muita coisa.

[Kaid] – Ah não?

[Akemi] – Não...

Durante todos esses anos de convivência, é manifestamente óbvio que o shinobi desconfiava da palavra de Akemi quanto às perguntas que fizera, pois não sentia muita convicção no tom de voz da jovem e nem mesmo conseguia acreditar que ela não lembrava de nada do que tinha acontecido. Afinal, não se faz despiciendo o fato de que Kaid conhecia sua aluna desde que ela era uma criança e não era muito difícil de perceber quando estava mentindo.

[Kaid] – Então, o espírito não tem nada a ver com a sua cegueira e nem com o seu desmaio?

[Akemi] – Não.

[Kaid] – Você viu mais alguém na arena?

[Akemi] – Não.

[Kaid] – Tem alguma suspeita?

[Akemi] – Pode ser o efeito colateral do Tsukuyomi do Itachi.

[Kaid] – Isso pode ser uma das razões, mas eu não acredito que o genjutsu do Uchiha possa ter concorrido com sua cegueira, a redução absurda do seu chakra e essa dor que sente da costela.

[Akemi] – Um genjutsu afeta a mente do adversário, atingindo um dos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. O Tsukuyomi pode ter atingido minha visão.

[Kaid] – Porém, os genjutsus são temporários porque consomem uma grande quantidade de chakra. Eu não creio que Itachi tenha essa disponibilidade para fazer com que sua visão seja afetada permanentemente.

[Akemi] – Tudo depende do nível da técnica.

[Kaid] – Itachi é forte, mas eu acho que ainda não é capaz de produzir um jutsu tão catastrófico.

[Akemi] – Pode ser que o dano mental causou algum abalo no meu sistema nervoso, e isso afetou a minha visão. Isso é bem possível.

[Kaid] – É, mas isso eu poderei saber quando analisar isso com mais cautela.

[Akemi] – Quando estava lutando com aquele jounin, eu senti uma dor forte na cabeça...

[Kaid] – Isso é porque você abusa do seu chakra. Não adianta saber manipulá-lo tão bem como você sabe que consegue.

[Akemi] – Eu não sei por que o meu chakra diminuiu.

[Kaid] – Logo que você trocar de roupa, eu tentarei examinar os seus olhos e procurar alguma coisa nos meus livros, mas algo me diz que teremos que procurar outra pessoa.

[Akemi] – Outra pessoa?

[Kaid] – Sim. E é aí que está a boa notícia.

[Akemi] – Você disse que a má notícia era que não seria mais o meu sensei. E a boa?

[Kaid] – Se a sua cegueira for permanente, ainda há jutsus que você poderá aprender e usar para se tornar uma ninja.

[Akemi] – Entendi, mas...

[Kaid] – A pessoa que será o meu sucessor poderá te treinar muito melhor do que eu. Na verdade, será essa pessoa que te guiará até os ensinamentos dos jutsus deixados pelo seu Clã.

[Akemi] – O quê? O Clã foi extinto! Os jutsus de um clã são secretos. Ninguém mais tem acesso! E não há nenhum membro do meu clã que esteja vivo para me ensinar qualquer coisa.

[Kaid] – Você está certa, mas quando o seu clã soube que haveria uma guerra contra o governo, eles transcreveram tudo para o papel, em centenas de pergaminhos e livros.

[Akemi] – E onde estão esses pergaminhos e livros?

[Kaid] – No templo dos sacerdotes.

[Akemi] – Você só pode estar brincando!

[Kaid] – Não. Na verdade, o seu avô é um dos homens mais inteligentes que já conheci. Ele era um verdadeiro gênio.

[Akemi] – Por quê?

[Kaid] – O seu avô selou todos os pergaminhos para que apenas o herdeiro legítimo, ou seja, você, possa ter acesso aos ensinamentos dos jutsus do clã. E, além disso, ele guardou tudo a que se referia sobre a sua família no templo, porque esse lugar é restrito e não são todos que podem adentrar ali.

[Akemi] – Quem são as pessoas que podem entrar no templo?

[Kaid] – Você é a única pessoa.

[Akemi] – Eu?

[Kaid] – O Clã Matsuyama protegeu os sacerdotes de um extermínio. Um grupo de ninjas, Mahouki, ladrões que sempre tentavam invadir o templo para roubar as coisas de valor que eles tinham.

[Akemi] – Os sacerdotes tinham coisas de valor?

[Kaid] – Sim. O Hokage sempre confiou suas relíquias aos sacerdotes porque eles eram muito astutos. Ninguém sem autorização deles poderia entrar no templo.

[Akemi] – Então, como eles roubaram a chave?

[Kaid] – Tudo o que eu sei é que o filho do último membro vivo do Mahouki acabou fundando um outro grupo de ninjas. Esse grupo é composto por shinobis de grande experiência de batalha e possuem habilidades formidáveis.

[Akemi] – Quem são eles?

[Kaid] – Eu ainda não sei direito, Akemi. Só sei que eles são muito fortes e pretendem roubar os pergaminhos do seu clã.

[Akemi] – Agora eu entendi. É por isso que você queria recuperar a chave de qualquer jeito.

[Kaid] – Não. O meu plano era outro.

[Akemi] – Qual era o seu plano?

[Kaid] – Eu pretendia fazer com que você se infiltrasse no grupo deles.

[Akemi] – Seu plano é falho. Jamais me deixariam fazer parte do grupo.

[Kaid] – Eles não precisam saber quem realmente você é e qual é o seu verdadeiro nome, certo? Se eles vissem as suas habilidades, era bem capaz de acharem que seria uma aliada forte e que traria muitas vantagens. Então, é lógico que eles fariam com que você participasse do torneio que está por vir.

[Akemi] – O torneio é só para shinobis, ou seja, quem tem graduação em uma academia ninja! E eu não tenho.

[Kaid] – Para quem conseguiu roubar a chave do templo mais inacessível que já existiu em toda a história japonesa, colocar uma ninja clandestina no torneio é como tirar doce de criança.

[Akemi] – Como você pretendia que eu me infiltrasse?

[Kaid] – Chamando a atenção deles com sua destreza física.

[Akemi] – Ok, mas como?

[Kaid] – Eu ainda tenho alguns contatos com membros da ANBU e eles toparam simular uma luta com você, enquanto todo o grupo dos ninjas assistiria ao seu excelente desempenho.

[Akemi] – Há muitas chances de dar errado.

[Kaid] – Você tem outra idéia?

[Akemi] – Ainda bem que perguntou. Eu preciso dessa chave para entrar?

[Kaid] – Não. Você escutou quando eu disse que é a única pessoa viva que tem permissão para entrar no templo?

[Akemi] – Sim, mas se existe uma chave...

[Kaid] – Você não precisa da chave, mas as outras pessoas sim.

[Akemi] – Por que existe uma chave se só uma pessoa pode entrar e que ainda, não precisa dela para nada?

[Kaid] – Bom, é muito difícil outra pessoa, sem ser você, que consiga entrar, mas não é impossível. Eu lembro que um membro da ANBU estava comentando que a chave estava enfeitiçada pelo último membro do grupo Mahouki, um feitiço que permitia outra pessoa que não estivesse autorizada pelos sacerdotes do templo.

[Akemi] – Quem é essa pessoa?

[Kaid] – Na verdade, não é uma pessoa em si, mas as características dela. A pessoa que detiver a chave, antes de se atrever a entrar no templo, deverá ter muito cuidado porque pode ser morta caso não tenha as características do feitiço alocado no objeto roubado.

[Akemi] – Quais são essas características?

[Kaid] – Deverá ter um coração puro e entrar no templo sem a intenção de roubar nada.

[Akemi] – Certo, eu já entendi. Então, é muito provável que eles procurem um bode expiatório.

[Kaid] – Sim, e eu pensei em você, afinal, não corre risco nenhum.

[Akemi] – O problema é que quando eu pegasse os meus pergaminhos, eu teria que voltar ao encontro deles. Eu imaginei que o seu plano era esse e é por isso que eu digo que ele é falho.

[Kaid] – Me diga você o seu. Não foi você que acabou de dizer que tinha um?

[Akemi] – Eu tenho. É mais fácil irmos até o templo, eu entro, pego o que é meu e o que me pertence, antes que eles tentem invadir.

[Kaid] – Neste estado?

[Akemi] – O fato de estar cega não vai me atrapalhar a entrar em um templo.

[Kaid] – Como você vai pegar os pergaminhos e tudo o que seu clã deixou sem olhar para onde está andando, em que lugar você está procurando?

[Akemi] – Eu não sei, mas não posso permitir que eles roubem o que é meu!

[Kaid] – Eu concordo, mas não há chances de dar certo, Akemi.

[Akemi] – Isso é tão injusto...

[Kaid] – A sua cegueira foi algo que ninguém poderia prever. Eu tinha planejado tudo, mas agora teremos que pensar em uma outra forma.

[Akemi] – Olha, não precisa jogar na minha cara que eu estraguei tudo!

[Kaid] – Ninguém está jogando na sua cara. Eu só estou dizendo a verdade. Você precisa se conformar com isso, Akemi.

[Akemi] – Eu não posso me conformar...

[Kaid] – E por que não?

[Akemi] – Eu não posso, eu não quero e não vou me conformar! Eu não cheguei aqui, depois de tudo que passei; tanto treinamento para nada? Não! Não vou permitir.

[Kaid] – Tenha calma. Não estou dizendo que é o fim. Aliás, é melhor eu dar uma olhada na sua costela. Ainda está doendo?

[Akemi] – A dor aumenta e diminui em intervalos de tempo. Não sei ao certo o espaço entre eles, mas não dá para entender o que está acontecendo.

[Kaid] – É melhor buscar as velas para poder enxergar se é algum tipo de jutsu. Enquanto não estou aqui, tire o braço da manga, no lado da costela que está doendo e se cubra com lençol que está dobrado, bem do seu lado direito.

O casebre que os ninjas construíram, embora deveras improvisado, foi feito com bastante cuidado com desabamentos e imprevistos, utilizando materiais resistentes como madeiras dos troncos das árvores. Portanto, os passos de Kaid causavam barulho quando a sola de seu sapato entrava em contato com o chão, permitindo que Akemi presumisse a sua distância e que, em um determinado momento, estava sozinha naquele cômodo.

Assim que o silêncio tomou conta de seus ouvidos, a jovem despiu o braço de uma manga, retirando a roupa que estava por baixo do kimono, deixando à mostra o local dolorido, na costela. Seguidamente, ela apalpou o seu lado esquerdo, encontrando o lençol que Kaid indicara há poucos instantes, e o usou para cobrir a frente de seu corpo.

Enquanto o retorno de seu sensei não era breve, Akemi fechou os olhos, sem muita diferença, obviamente, e ocupou sua mente com as recordações do seu encontro com Itachi. Dentre tantas cenas que passavam na sua cabeça, a jovem abriu os olhos, demonstrando facialmente uma expressão de preocupação e sussurrou para si mesma como se alguém fosse respondê-la.

[Akemi] – Itachi...o que você está tramando?


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Notas finais do capítulo

Olá a todos.

Enfim, meu Word deu a luz da graça e parou de dar problemas, e realmente espero que não esteja falando cedo demais!

Nessa última semana, eu revisei todos os capítulos e notei que mereço ser degolada. Na verdade, não sei explicar, mas não estou contente com o modo como estou narrando a minha história e há muitas passagens que dão a impressão que estou com pressa para escrever sobre uma determinada cena. Diante disso, eu prometo que irei despender todos os meus esforços e a minha energia para que nos próximos capítulos sejam bem melhores. Realmente, não estou nada satisfeita com isso! Peço desculpas aos meus leitores, mas saibam que não há mais ninguém que esteja me castigando mais do que eu mesma.

Crítica da autora à própria: Vai catar coquinho em um oásis de miragem no deserto do Saara e aprende a escrever e narrar direito! ._.

Resposta: Sim, senhora!

Pronto. Agora a autora ficou louca? É. Provavelmente.

Muito trabalho, provas na faculdade e problemas pessoais a serem resolvidos. Portanto, está aí a justificativa pela demora dos novos capítulos e da minha falta de atenção na narrativa. Porém, saibam que irei recompensar todos esses oito capítulos com este aqui, pois estou comprometida e determinada a fazer este capítulo o mais incrível de todos comparado aos anteriores. Eu acho que essa é a melhor forma de recompensá-los e pedir desculpas a todos os meus queridos leitores.



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