- Nii-san! Aonde você vai? Você prometeu que me ensinaria uma técnica nova!

- Desculpe, Sasuke. Isso vai ficar para uma próxima vez.

O Itachi é o meu onii-san (irmão mais velho). Ele é muito forte e meus pais tem muito orgulho dele.

Ele se formou como chunnin aos dez anos e já desenvolveu o Sharingan com oito anos de idade! O meu clã diz que ele é o prodígio da família. E é por isso que eu quero treinar muito para conseguir supera-lo!

O único problema é que fica muito difícil conseguir alcançar o meu nii-san, porque ainda faltam dois dias para entrar na academia e o Itachi nunca quer treinar comigo.

Ás vezes, eu acho que o atrapalho.

Sempre que eu fico enfurecido porque meu Nii-san não quer treinar comigo, ele gesticula com a mão para eu me aproximar e quando eu chego perto, ele bate na minha testa e diz: "Desculpe, Sasuke. Vai ficar para próxima vez!"

Eu nunca entendi porque ele faz isso. Eu já perguntei e ele nunca me respondeu.

Bem, acho que o Itachi é esquisito de nascença mesmo, porque depois que ele me deixou falando sozinho, eu conversei com meu pai e ele disse que também nunca entendeu o jeito do próprio filho.

- Não fique assim, Sasuke! Se quiser, eu vou treinar com você!

- Ah, mãe, tudo bem. Eu vou sozinho. Já me acostumei com isso.

- Por que você não chama a Akemi? Eu sei que ela irá adorar o seu convite, querido!

- Hunf, eu não!

- Por quê? Akemi é tão gentil com você!

- Mas ela é uma menina, mãe!

A minha mãe, Mikoto, é a pessoa mais bondosa do mundo e eu a amo mais do que qualquer outra coisa. Acho que ela ficou preocupada com a minha cara de quem está aborrecido porque foi abandonado por um irmão esquisito, e tentou me animar com uma idéia mirabolante.

Eu não entendi porque meus pais começaram a rir quando eu disse que eu não queria treinar com a Akemi porque ela era uma menina. Aliás, não entendo nada do que essas pessoas falam nessa casa!

O fato dos meus pais acharem graça em uma coisa que não entendi me deixou ainda mais irritado do que antes, e quando isso acontece, eu começo a ficar vermelho. Principalmente quando o assunto é a Akemi.

Quem é Akemi? É a minha prima. Na verdade, ela nem parece ser da família Uchiha, porque ela é totalmente diferente nos aspectos físicos!

A Akemi é um pouco mais baixa que eu, tem cabelos compridos e a cor deles é um azul bem escuro. Os olhos dela até que são bonitos, sabe? A cor é bonita...acho que é um amarelo âmbar, ou sei lá. A maioria do clã Uchiha tem cabelos negros e olhos da mesma cor. E ela não se parece nada com meus tios ou com meus avós. Quem será que ela puxou, hein?

Todos na vila acham que ela parece uma boneca de porcelana ou dizem que meu tio vai ter muita dor de cabeça quando ela crescer. O que isso quer dizer, hein? Eu já perguntei para as pessoas e elas me respondem que eu serei o primeiro a saber. Como assim? Eu não entendi nada! Ai, chega! Cansei de tentar entender essas pessoas!

Eu tenho que admitir que para uma menina baixinha e magricela feito ela, os treinos com ela são bem produtivos e ela é uma boa adversária. Por mais que eu bata nela, ela sempre levanta e continua com a luta. O meu Nii-san diz que eu deveria treinar mais com ela, porque ao contrário do que eu acho, ele diz que a Akemi é muito forte e tem grandes habilidades. E sim, isso me deixa muito furioso! O meu onii-san presta atenção na prima, mas não quer saber do próprio irmão. Só sabe bater na minha testa!

Depois da cena que enfrentei com meus pais, eu saí para treinar, bem nervoso, é claro. Não gosto que as pessoas fiquem rindo de mim! Muito menos quando eu não sei do que estão rindo!

Quando eu estava perto da casa da Akemi, eu resolvi não passar na frente da calçada, porque aquela menina tem uma audição sobre-humana! Toda vez que eu estou passando em frente a casa dela, eu acabo recebendo um abraço sufocante que quase quebra as minhas costelas. Por que ela faz isso, hein?

Enfim, eu resolvi pegar um atalho pelo quintal do vizinho e contornar o quarteirão para que ela não me visse.

Quando eu já estava chegando à orla da floresta, eu percebi um vulto um pouco mais adiante. Eu pensei que fosse o meu Nii-san, já que ele costuma treinar ali mesmo, e também por causa da rapidez que se moveu. Eu corri para ver se era ele mesmo e quando cheguei...

- Nii-san!

...era a Akemi.

- Akemi! Me deixe levantar! Sai de cima de mim! Eu não estou conseguindo respirar! Me solta!

- Gomen ne, Nii-san. Eu me empolguei quando te vi aqui!

- Eu já disse que é para você parar de me chamar de "Nii-san"! Não sou o seu Onii-san!

É sempre assim: toda vez que a Akemi me vê, ela pula em cima de mim e começa a gritar: "Nii-san! Nii-san!". Odeio isso! Bem, eu não gosto de muitas coisas, né. Ah, não é que eu não goste da Akemi, mas ela é uma menina, entende? É difícil para uma menina entender as coisas e esse jeitinho dela me deixa tímido! E se alguém me vê debaixo de uma menina no meio da floresta? Vão pensar que ela me venceu em uma luta!

O pior de tudo é que eu acho que fui meio grosso com ela, porque os olhos dela estão marejados de lágrimas. Não sei como ela consegue, mas eu começo a me sentir culpado e sinto remorso por ser tão frio com ela.

- Ah, você não vai começar a chorar agora, né?

Normalmente, ela cai em prantos, abre o maior berreiro e diz que o Sasuke-kun não gosta dela, e que ela não entende porque ele é assim e blábláblá!

Porém, ela olhou para mim com muita raiva, como nunca olhou antes, fechou os punhos e começou a gritar comigo!

- Quer saber? Eu já me cansei de você e das suas grosserias. Estou cheia das suas mancadas! Eu sempre tento ser legal com você e treino o dia inteiro para ficar forte e conseguir treinar com você! E o que você faz? Grita comigo! Você só sabe gritar comigo!

- Eu é que estou cheio de você! Você vive me agarrando, pulando em cima de mim e me trata como se fosse seu irmão mais velho, sendo que eu sou seu primo! Ah, esquece...você é uma menina boba! Não adianta falar com uma chorona! Você não entende!

O que esperavam? Ah é, eu ia ficar quieto? Ouvindo aquela monstrinha gritar comigo como se eu estivesse errado? Não, senhor! Eu fiz questão de retrucar e gritar mais alto, mas acho que não foi uma boa idéia. A Akemi apertou os lábios para não chorar, ficou super vermelha que eu cheguei a pensar que ela ia ter um treco! Eu sou orgulhoso como meu onii-san, e então também fiz uma cara de bravo para afronta-la, mas não deu certo...

- Sasuke, você é um tonto! Eu não quero mais falar com você!

Aquela monstrinha! Ela berrou comigo, me empurrou e desapareceu em um piscar de olhos! Como ela fez isso? Quando e como ela ficou tão rápida? Não sabia se ficava bravo ou assustado. Bravo: uma menina me bateu. Assustado: a tampinha é mais rápida que e...deixa para lá!

O empurrão não ia ficar barato! Então, eu fui atrás dela para dar o troco!

Eu detesto ter que contar a verdade, mas eu demorei mais do que eu imaginava para encontrar aquela coisinha de cabelos azuis! Quando eu a achei, vi um shinobi mascarado saindo de perto dela e logo em seguida, ele desapareceu no meio de um monte de fumaça. Acho que aquilo foi um jutsu de teletransporte.

Se não fosse a minha curiosidade gritante de saber quem era o shinobi, eu teria esperado o cara ir embora e atacado ela, já que ela tinha baixado a guarda. Hah! Aí ela ia ver só!

Porém, a cara que ela estava...nossa, eu nunca tinha a visto tão assustada e confusa. O olhar dela estava perdido e ela estava completamente paralisada que até parecia que estava começando a se camuflar no tronco da cerejeira onde ela estava sentada ao lado.

Eu posso achar que minha prima é uma chata e que o jeito dela animado me irrita, mas ela é uma Uchiha, né? Ela faz parte da minha família e me preocupo com ela.

Eu respirei fundo e andei na direção dela. Sentei atrás dela e toquei no ombro dela para saber o que tinha acontecido.

- Akemi-chan? Está tudo bem?

Ela não respondeu. Aquele shinobi tinha feito alguma coisa para que ela ficasse daquele jeito. Ela estava com os olhos arregalados, a boca semi-aberta, suando e torcendo a barra da camiseta. Eu comecei a ficar preocupado, e então a chacoalhei pelos ombros e virei seu rosto para mim:

- Akemi! Fala comigo! O que houve? O que fizeram com você?

Ela piscou três vezes, sacudiu a cabeça, fazendo suas trancinhas balançar de um jeito engraçado, como de costume, e olhou para mim. Ufa, ela saiu daquele transe!

Por um minuto, nós dois nos olhamos no fundo dos olhos um do outro, sem dizer nada. E para a minha surpresa, ela começou a chorar, mas não como quando eu era grosso com ela...desta vez, ela estava chorando de tristeza. Nossa, eu juro que não fiz nada! Ela começou a chorar tão de repente!

Eu não entendi o que estava acontecendo e quando eu fui perguntar, mais uma vez, o que tinha acontecido de errado, ela me abraçou e chorou ainda mais.

Nunca, em todas as bilhões vezes que ela me abraçara, eu retribuí um abraço em toda a vida. Ela é uma menina, poxa! Mas, okay, aquela situação era diferente, né?

Eu não sei explicar, mas o jeito que ela estava chorando me pareceu que a coisa tinha sido séria...e eu fiquei com pena dela. É, eu abracei ela. Abracei uma menina! Ai, droga, espero que ninguém tenha visto!

- Sasuke...agora tudo faz sentido!

- O que faz sentido? Quem era aquele cara que estava falando com você? Ele te machucou? O que ele te fez?

- N-nada, Sasuke. Ele não fez nada. S-Só perguntou se eu estava bem e precisando de ajuda.

Por que alguma coisa me dizia que ela não estava me dizendo a verdade? Eu até contestei, disse que era mentira e para ela contar a verdade, mas a Akemi é astuta e sabe como "desconversar".

- Sasuke, você está me abraçando?

Ela disse com uma voz tão baixa que eu não conseguiria ouvir se não estivesse um silêncio naquela parte da floresta, mas quando eu percebi que ainda estava a abraçando e que nossas faces estavam bem próximas, eu senti meu estômago apertar e minhas bochechas queimarem.

É claro que eu a soltei na mesma hora! Já pensou? Eca!

No seu estado normal, a Akemi teria gritado e dado pulinhos de alegria, mas ela só deu um sorriso meio sem energia, abaixou a cabeça e encostou a testa no meu peito.

- Sasuke, você pode me prometer uma coisa?

- Ah, eu não sei...depende muito do que você quer que eu faça. Mas que história é essa, Akemi? Você está estranha e não respondeu o que aconteceu...

- Só prometa que você nunca vai deixar de ser quem é, que vai se tornar um grande shinobi, que irá superar o seu onii-san e que quando você conseguir o que quer, irá me procurar e...

- E..?

Ela ergueu a cabeça rapidamente, me encarou, olhando no fundo dos meus olhos e agora, eu conseguia enxergar cada detalhe do rosto dela. Ela estava tão perto de mim que eu senti minha respirar ficar mais rápida e meu coração começou a disparar. Eu nunca me senti assim...será que o obentô da minha mãe fez mal para o meu estômago?

Realmente, eu não estava entendendo nada e concluí que todos da minha família estavam me dizendo coisas sem sentido. A minha cabeça começou a processar o que ela tinha acabado de dizer e eu não encontrava nada para responder.

- E...e...também prometa que quando você conseguir tudo o que mais deseja, irá me procurar se...

Será que ela estava sob algum efeito de um jutsu? As bochechas da Akemi estavam ruborizadas como elas costumam ficar quando eu faço algum elogio a ela nos nossos treinos. E ela estava gaguejando tanto que eu não entendia nada com nada!

- Akemi, diz logo! Não estou entendendo nada do que você está querendo dizer!

- Prometa que irá me procurar se não se apaixonar por ninguém e que se achar outra garota para ser sua esposa, irá se lembrar de mim até o dia da sua vida! Me prometa, Sasuke! Jura para mim que irá cumprir com tudo isso que eu pedi! Por favor, Sasuke!

- Mas...o que está dizendo? Ai, Akemi...por que você está falando em casamento? Você ficou maluca? Nós ainda não temos idade para pensar nessas coisas e...

- PROMETA!

O grito da Akemi fez todos os pássaros voarem dos galhos das copas das árvores ao nosso redor, e em plena luz do dia e um Sol radiante, um relâmpago clareou o céu...assim, DO NADA! Aquele dia estava muito estranho!

De qualquer forma, ela estava me assustando, sabe? Eu nunca a vi daquele jeito...e o pior é que ela estava falando muito sério! Além do mais, ela nunca tinha gritado comigo daquele jeito e nem me olhado tão...tão...não sei, ela nunca olhou de um jeito tão fixo e profundo como agora.

Minha mente estava uma bagunça! Eu não conseguia raciocinar direito...

Vou recapitular para eu ver se entendi: eu devo prometer a ela que eu nunca irei mudar, que treinarei muito para ser mais forte que meu nii-san e que se eu não me apaixonar por ninguém, eu devo pedir ela em casamento? E que se eu me casar com outra devo sempre pensar nela até eu morrer? Ai, é muita informação!

- Eu não sei se posso prometer, Akemi...eu não sei o que está acontecendo com você! Por que está fazendo isso? Por que quer que eu prometa tudo isso?

Logo em seguida, ela se afastou de mim, com a cabeça baixa, enxugou as lágrimas do seu rosto e me entregou uma shuriken.

- Não a use até que você desenvolva o sharingan, tá? E quando ele desenvolver, eu quero que olhe para ela com muita atenção e então, entenderá o porquê pedi para que prometesse aquilo.

- Agora que eu fiquei confuso, Akemi! Me explica o que está havendo!

- Sasuke, eu tenho que ir embora da vila. Não posso mais ficar aqui, porque...

Minha prima está querendo ir embora da vila? Abandonar o clã? Hah, já entendi! Ela vai se juntar ao clã daquele cara mascarado, né? É uma traidora!

- Eu já entendi...

- O que?

- Você está indo embora da vila porque você é uma traidora!

- Como é que é? Não é nada disso, Sasuke!

- É isso mesmo! Você quer abandonar o nosso clã para se juntar àquele shinobi mascarado! Eu já entendi tudo! E para amenizar o seu remorso, quer que eu prometa fidelidade a uma traidora? Pelo mal que você vai causar no tio e na tia, e em toda a nossa família?

Akemi parecia apavorada com o que eu tinha acabado de dizer. Ela ia dizer alguma coisa, mas hesitou e se calou. Bem, é como minha mãe sempre disse: "Quem cala...consente!"

Então, o silêncio da Akemi foi o bastante para responder todas as minhas dúvidas. Eu estava tão furioso com ela que não queria mais olhar ou estar no mesmo lugar que ela.

Me levantei do chão, sacudi minha camiseta, virei as costas à ela e disse minhas últimas palavras:

- Eu nunca mais quero falar ou colocar os olhos em você, Akemi! Vá embora mesmo da vila dos Uchiha, porque você não é uma!

Eu não dei a chance à ela de dizer mais nada. Saí correndo, com um nó na garganta e de alguma forma, meus olhos começaram a arder e senti um peso no meu estômago.

Eu sabia o que estava sentindo, mas não queria admitir para mim mesmo.

Por mais que a Akemi fosse uma traidora, e por mais que eu tenha sido indiferente com ela, foi a única pessoa que me fez sentir menos sozinho no mundo. Eu não queria que ela fosse embora...hesitei por um momento e olhei para trás. Ela não estava mais lá.

O espaço vazio embaixo da cerejeira provocou um grande aperto no meu peito, mas era tarde demais e eu tinha que ser forte e superar.

Quando eu saí da floresta, de repente, o céu escureceu e chuva começou a cair.

Eu corri o mais depressa possível para chegar rápido em casa por dois motivos: minha mãe ficava muito brava quando eu sujava a minha roupa e também porque eu queria que meu pai ou o meu onii-san usassem o sharingan para ver o que tinha na shuriken.

Assim que eu cheguei em casa, encontrei o Itachi sentado no chão da sala. Eu tirei os sapatos, joguei minha mochila para o lado e corri até ele com a shuriken.

Nii-san! Nii-san! Por favor, você pode usar o sharingan e ver o que tem na shuriken?

Por que?

É importante, Nii-san! Por favor!

O meu Nii-san me olhou um pouco desconfiado. Ele era esquisito e frio, mas não era uma pessoa ruim.

Eu pedi insistentemente e ele, no final das contas, fez o que eu pedi.

- E então, Nii-san? O que é?

- A shuriken tem um jutsu.

- E que jutsu é esse?

- Um jutsu comum e amador. É só uma fumaça que tem uma frase...

- Uma frase?

- Sim. Foi a Akemi quem te deu, não é?

- É! Como você sabe?

- A frase que se forma na fumaça diz: "Eu te amo"